terça-feira, 5 de agosto de 2008

Educação é negócio?


O Ministério da Educação vai atribuir, já no próximo dia 12 de Setembro, um prémio de 500 euros aos melhores alunos do ensino secundário, numa iniciativa que implica um investimento global de meio milhão de euros.

"Tudo isto é uma deturpação dos valores que a escola deve passar e que devem ir no sentido de criar cidadãos conscientes e intervenientes na sociedade porque querem ser felizes. E isto não se faz pondo as crianças a cumprir tarefas a troco de dinheiro", considera a psicóloga Rita Xarepe, para quem "é errado pensar-se que os miúdos não são melhores alunos porque não querem e que passarão a sê-lo a troco de dinheiro".

O pedagogo Sérgio Niza também olha horrorizado para a remuneração do desempenho escolar. "É um truque ridículo que assenta na brutal ignorância dos governantes acerca das questões da Educação", qualifica este professor no Instituto de Psicologia Aplicada, lamentando que "as pessoas que gerem a Educação tenham esquecido que esta é um contrato de natureza social, onde adultos e jovens se comprometem entre si a atingir metas de conhecimento". Fundador da "Escola Moderna" - um movimento de professores que aposta na maior participação dos alunos na aprendizagem -, Sérgio Niza acrescenta em tom de alerta que "o comércio e o lucro não são os valores adequados para preservar e promover a responsabilidade".





Rui Trindade, professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, diz que "não é através de prémios financeiros que se resolve o problema da falta de sentido da escola". "Não me admiraria se os meninos começassem a viver na competição e se metessem a fazer batota ou a tomar drunfos para aguentar", antevê, insistindo que o desafio a não perder de vista é conseguir que a escola faça sentido para os alunos.
"Eu, como professor, tenho que ser capaz de imprimir um sentido àquilo que peço aos meus alunos e de lhes transmitir que o exercício que lhes estou a pedir lhes permitirá dar um salto em frente e que isso nem sempre é uma coisa lúdica, que implique recompensa imediata."


Sérgio Niza vai mais longe ao considerar que "não viria mal nenhum ao mundo se deixasse de haver atribuição de notas nas escolas". A quem o ouve com cepticismo, o pedagogo aponta o exemplo da Finlândia, país que obteve a melhor classificação nos três últimos Pisa - o programa de avaliação de alunos que abrange estudantes do ensino secundário de 57 países. "Na Finlândia, não há exames e os alunos progridem automaticamente, porque lá, em vez de se gastar brutalidades com alunos a repetir anos inteiros, o dinheiro é aplicado em professores auxiliares e assistentes que se vão encarregando dentro das salas de aula de não deixar atrasar os alunos."

Retirado daqui e daqui

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