segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A farsa da avaliação docente

Razões substantivas de natureza pedagógica, organizacional e deontológica:


- a ausência de condições objectivas para uma avaliação séria, credível e imparcial, nomeadamente, falta de formação, treino e autoridade dos avaliadores, existência de conflitos de interesses e subjectividade/opacidade na avaliação de muitos dos parâmetros e itens;

- sobre-ocupação inútil e contraproducente dos professores, dado que nenhuma melhoria para as aprendizagens dos alunos resulta das preocupações e das rotinas dos professores com a sua própria avaliação, como as descidas nos resultados dos exames nacionais, nas escolas que aplicaram engomadamente o modelo, comprovam;

- introduz, na escola, processos, práticas e rotinas artificiais (uma realidade é a leccionação diária dos professores e outra coisa bem distinta é o ritual folclórico das aulas assistidas), além de que introduz estratégias de faz-de-conta (cópias de objectivos, de instrumentos, de grelhas, de relatórios, para não falar de gestões consensuais de atribuição das classificações mais elevadas, em função de necessidades de progressão), podendo levar também a uma dispersão caótica de objectivos na mesma organização-escola;

- instaura uma competição mal-sã e uma conflitualidade nas escolas que arruína o ambiente e as condições imprescindíveis a uma mobilização dos professores e das escolas para investimentos e empenhos extra no processo de ensino-aprendizagem;

- no limite, valora-se o irrisório, como mais uma ou duas faltas, para desempatar a atribuição das classificações mais elevadas, o que trivializa e ridiculariza todos os processos e informações inerentes à avaliação do desempenho;

- os resultados obtidos pelos alunos das escolas públicas, nos exames nacionais, aconselham uma aposta sistemática na exigência e num investimento, a horário inteiro, por parte dos professores, nas aprendizagens e nas dificuldades dos alunos, pois, só desta forma a escola pública dotará todos os alunos das ferramentas para uma efectiva inclusividade e mobilidade social, ao contrário do logro actual. Pelas razões também anteriormente apontadas, a dedicação obsessiva e conflitual dos professores à sua própria avaliação só atrapalha e prejudica a qualificação dos alunos e a imagem da escola pública.

Razões de circunstância política:

- as medidas de austeridade, mais uma vez caíram brutalmente em cima dos professores, implicando a protelação ad eternum do congelamento das progressões, acabam por esvaziar política e administrativamente a finalidade principal do modelo de avaliação, ou seja, limitar/retardar as progressões dos professores;

- a expectativa de progressiva desacreditação e degradação da governação socrática pré-anuncia o fim, a prazo, das condições políticas que suportam esta farsa de avaliação.


 Octávio V. Gonçalves do movimento ProMova

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