Com os cortes cegos também na educação que o governo PSD/CDS se propõe concretizar na lógica do aluno zeloso das orientações impostos pela troika internacional, a formação profissional que já vinha sendo abruptamente desvalorizada, nomeadamente a vocacionada para os não docentes, fica agora ainda mais comprometida, com inegáveis prejuízos para a qualidade da escola pública.
Sem respostas efectivas às verdadeiras necessidades de formação para os trabalhadores que nas escolas mais tempo estão em contacto com os alunos, em que se inclui a falta de resposta por parte dos próprios agrupamentos de escolas. Ainda são os sindicatos que tentam corresponder a tal deficit, ainda que muitas vezes, tais acções sintam as dificuldades, não só da falta de apoios oficiais, mas também das inquietantes condições de pressão a que cada vez mais os trabalhadores estão sujeitos nos locais de trabalho, que só contribuem para afastarem e desmotivarem os não docentes das escassas oportunidades de formação para se valorizarem no trabalho público que desempenham junto das comunidades, pese embora cada vez mais o trabalho demasiado precário.
Em meio escolar, entre as múltiplas necessidades de formação sobre a relação, particularmente dos assistentes operacionais com os alunos, a temática do período da adolescência não pode ser deixada à mercê do desenrasque, como vem acontecendo lamentavelmente por parte dos assistentes operacionais que vão reagindo por conta própria e com as suas experiencias de vida, como membros das comunidades educativas que mais próximos estão no seio das escolas dos fenómenos da adolescência, “conforme cada infância, cada fase de maturação, cada família, cada época, cada cultura e classe social”.
Só valorizando os trabalhadores profissionalmente através da aposta na formação, se contribuirá para que, com as suas naturais diferentes experiências de adolescência, sejam sensibilizados a estarem despertos na relação com alunos, para os muitos “sinais” da adolescência, incluindo, “uma época da vida humana marcada por profundas transformações fisiológicas, psicológicas, pulsionais, afectivas, intelectuais e sociais vivenciadas num determinado contexto cultural” e encarar tal período, como, “um processo dinâmico de passagem entre a infância e a idade adulta” que nenhuma medida economicista pode desvalorizar, porque pode até ser justamente definida como, “um período de «tempestade» num tempo que pode ser imprevisível”.
A importância no investimento da formação, neste caso da temática da adolescência, tem ainda mais razão de ser, quando se trata de um período com grandes variabilidades de indivíduo para indivíduo. Uma ideia fundamental nos tempos que correm, em que na actual sociedade é difícil definir quando termina a adolescência, já que os jovens estão cada vez mais dependentes dos pais economicamente e quando entram no mercado de trabalho, acontece cada vez mais tarde e de forma precária.
Em tempo de grandes transformações na vida social e familiar, com inevitáveis reflexos nos espaços escolares, a formação em áreas tão sensíveis, que permitam uma maior familiarização com os comportamentos comuns dos jovens numa fase de um certo inconformismo e na busca de novas referencias, “abandonando tudo o que está relacionado com o universo dos adultos”, só pode ser um importante contributo para que os assistentes operacionais, cada vez mais arredados do exercício de cidadania activa que os deveriam caracterizar em meio escolar, possam ver dignificado o seu lugar no sector da Educação como elementos da comunidade escolar que mais de perto convivem com os processos de desenvolvimento pessoal dos adolescentes.
José Lopes
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