sexta-feira, 13 de março de 2009

Efeitos nem por isso muito colaterais



Efeitos das reformas na educação

Pedro S. Martins apresentou na Universidade de Londres um estudo sobre o impacto das reformas dos últimos três anos na aprendizagem dos alunos do ensino secundário em Portugal. Diz ele, no seu blog Economia das Pessoas:

Infelizmente as minhas análises indicam que este impacto é negativo.

O estudo baseia-se na informacao individual dos resultados dos exames em todas as escolas secundarias portuguesas desde o ano lectivo 2001-02 ate ao ultimo ano lectivo completo (2007-08). [...]

Em termos especificos, comparo a evolução dos resultados internos e externos (exames nacionais) nas escolas públicas do Continente com as escolas privadas e também com as escolas públicas das regiões autónomas. A motivação para esta escolha está no facto de os dois ultimos tipos de escolas não terem sido afectadas - pelo menos não com a mesma intensidade - pelas várias alterações introduzidas no estatuto da carreira docente. Nessa medida, tanto as escolas privadas como as escolas públicas das regiões autónomas podem servir como contrafactual ou grupo de controlo.
[...]
Os resultados indicam uma deterioração relativa de cerca de 5% em termos dos resultados dos alunos das escolas públicas do Continente em relacao tanto às escolas publicas da Madeira e Acores como às escolas privadas. A minha explicação para este resultado prende-se com efeitos negativos em termos da colaboração entre professores a partir do momento em que a sua avaliação prende-se essencialmente com o seu desempenho individual. Por outro lado, o aumento da carga burocrática associada à avaliação também poderá ter tido custos em termos da qualidade da preparação das aulas.

Por outro lado, verifiquei que a variação em termos dos resultados internos destes mesmos alunos é menor, embora também negativa - cerca de 2% (em contraponto a 5% nos exames nacionais). A diferença entre os dois resultados, que sugere aumento da inflação das notas, pode explicar-se pela ênfase colocada pelo ECD - pela menos nas suas primeiras versões - nos resultados dos alunos como item a ser considerado na avaliação dos professores.

[...]

Os resultados em si são preocupantes. Mas mais preocupante ainda será não aprender com erros e correr o risco de repeti-los no futuro.
Destaques meus. Mais pormenores na versão académica do estudo, publicada em versão "working paper" pelo Institute for the Study of Labor, aqui.


Maria José Vitorino (MEP)

Sem comentários: