terça-feira, 6 de outubro de 2009

António Nóvoa: Quatro ideias muito simples para valorizar os professores


A primeira: "é preciso passar a formação de professores para dentro da profissão", é preciso reforçar "a intervenção da profissão na formação dos seus profissionais".

A segunda: "é preciso promover novos modelos de organização da profissão". Nóvoa destacou a importância da cultura profissional e afirmou, a propósito, como exemplo, que a profissão integra mal os jovens profissionais na profissão ("por vezes, são para eles os piores horários, as piores turmas e as piores escolas"). Realçou a importância do trabalho de equipa, observando a dado passo:

"Grande parte dos discursos torna-se irrealizável se a profissão continuar marcada por fortes tradições individualistas ou por rígidas regulações externas, designadamente burocráticas, que se têm acentuado nos últimos anos. A colegialidade, a partilha e as culturas colaborativas não se impõem por via administrativa ou por decisão superior. Mas o exemplo de outras profissões, como os médicos, os engenheiros ou os arquitectos, pode inspirar os professores. O modo como construíram parcerias entre o mundo profissional e o mundo universitário, como criaram formas de integração dos mais jovens, como concederam uma grande centralidade aos profissionais mais prestigiados ou como se predispuseram a prestar contas públicas do seu trabalho são exemplos para os quais vale a pena olhar com atenção."

Segundo o Reitor da UL, há entre os professores portugueses "uma forte identidade sindical", mas a cultura profissional "é ainda frágil". Matérias fundamentais como a nova concepção de escola, a cultura colaborativa, capaz de introduzir dinâmicas de diferenciação, e as referências profissionais marcaram, nesta fase, a intervenção de António Nóvoa, atentamente seguida pelo auditório.

A terceira: é a avaliação, abordada na perspectiva de elemento central, pilar da afirmação das profissões, relacionado com os itens de confiança, credibilidade e prestígio. Nóvoa deixou, nesta matéria, uma crítica contundente às "práticas empobrecedoras" de avaliação. Depois de caracterizar três formas possíveis de avaliação (inter-pares, como sucede no Ensino Superior; externa, realizada pelos "experts"; e de mecanismos hierárquicos), o Reitor da Universidade de Lisboa manifestou-se a favor da primeira, afirmando a propósito: "Devem ser os professores a ocupar este espaço. Se não, serão outros a fazê-lo".

A quarta:é preciso reforçar a presença pessoal e pública dos professores. "Há que dinamizar a capacidade de intervir publicamente", sublinhou António Nóvoa. "É ainda frágil a intervençâo dos professores no debate sobre as questões da Educação". Depois, deu um exemplo significativo e deixou um desafio:

Nos jornais "fala-se muito das escolas e dos professores. Falam os jornalistas, os colunistas, os universitários, os especialistas. Mas há uma ausência dos professores, uma espécie de silêncio de uma profissão que perdeu visibilidade no espaço público. É necessário que os professores também marquem presença, é necessário que os professores também aqui intervenham mais".

A força de uma profissão define-se, em grande parte,
pela sua capacidade de comunicação com o público

"Hoje, impõe-se uma abertura dos professores ao exterior. Comunicar com a sociedade é também responder perante a sociedade. Possivelmente, a profissão tornar-se-á mais vulnerável, mas esta é a condição necessária para a afirmação do seu prestígio e do seu estatuto social. Nas sociedades contemporâneas, a força de uma profissão define-se, em grande parte, pela sua capacidade de comunicação com o público", observou.

Nos momentos finais da sua intervenção, Nóvoa associou a revalorização da cultura escolar e a redefinição de escola a uma visão de futuro e destacou que a cultura escolar tem que estar sempre em sintonia com a ideia de mobilidade social (a escola tem que assegurar essa mobilidade), alertando para a necessidade de construir uma escola centrada na aprendizagem: não basta estar na escola, é preciso que todos aprendam na escola!

"Os tempos actuais não são fáceis", as últimas décadas foram marcadas por políticas de regulação e de burocratização do trabalho docente, mas "vivemos um momento histórico". Em que devemos viver e intervir com dinamismo, frisou o Reitor António Nóvoa, recordando Paulo Freire e a pedagogia da esperança.

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1 comentário:

FQ"inquieta" disse...

gosto destas ieias, só precisava saber o que se entende, aí, por "mobilidade social"...