segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Escola pública/escola privada

A farsa da avaliação docente

Razões substantivas de natureza pedagógica, organizacional e deontológica:


- a ausência de condições objectivas para uma avaliação séria, credível e imparcial, nomeadamente, falta de formação, treino e autoridade dos avaliadores, existência de conflitos de interesses e subjectividade/opacidade na avaliação de muitos dos parâmetros e itens;

- sobre-ocupação inútil e contraproducente dos professores, dado que nenhuma melhoria para as aprendizagens dos alunos resulta das preocupações e das rotinas dos professores com a sua própria avaliação, como as descidas nos resultados dos exames nacionais, nas escolas que aplicaram engomadamente o modelo, comprovam;

- introduz, na escola, processos, práticas e rotinas artificiais (uma realidade é a leccionação diária dos professores e outra coisa bem distinta é o ritual folclórico das aulas assistidas), além de que introduz estratégias de faz-de-conta (cópias de objectivos, de instrumentos, de grelhas, de relatórios, para não falar de gestões consensuais de atribuição das classificações mais elevadas, em função de necessidades de progressão), podendo levar também a uma dispersão caótica de objectivos na mesma organização-escola;

- instaura uma competição mal-sã e uma conflitualidade nas escolas que arruína o ambiente e as condições imprescindíveis a uma mobilização dos professores e das escolas para investimentos e empenhos extra no processo de ensino-aprendizagem;

- no limite, valora-se o irrisório, como mais uma ou duas faltas, para desempatar a atribuição das classificações mais elevadas, o que trivializa e ridiculariza todos os processos e informações inerentes à avaliação do desempenho;

- os resultados obtidos pelos alunos das escolas públicas, nos exames nacionais, aconselham uma aposta sistemática na exigência e num investimento, a horário inteiro, por parte dos professores, nas aprendizagens e nas dificuldades dos alunos, pois, só desta forma a escola pública dotará todos os alunos das ferramentas para uma efectiva inclusividade e mobilidade social, ao contrário do logro actual. Pelas razões também anteriormente apontadas, a dedicação obsessiva e conflitual dos professores à sua própria avaliação só atrapalha e prejudica a qualificação dos alunos e a imagem da escola pública.

Razões de circunstância política:

- as medidas de austeridade, mais uma vez caíram brutalmente em cima dos professores, implicando a protelação ad eternum do congelamento das progressões, acabam por esvaziar política e administrativamente a finalidade principal do modelo de avaliação, ou seja, limitar/retardar as progressões dos professores;

- a expectativa de progressiva desacreditação e degradação da governação socrática pré-anuncia o fim, a prazo, das condições políticas que suportam esta farsa de avaliação.


 Octávio V. Gonçalves do movimento ProMova

À Luta!!!


Um pouco por todo o país começaram a ressurgir focos de reacção, por parte dos professores, relacionadas com as novas medidas anunciadas pelo Governo, contra a Escola Pública. Desde o seu primeiro mandato esta tem sido alvo preferencial dos seus ataques.

Na Escola EB 2,3 Luísa Todi - Setúbal

Realizou-se no dia 28 último, no Agrupamento Vertical de Escolas Luísa Todi, em Setúbal, uma reunião informal de professores, na qual se debateram formas de luta. Os professores deste Agrupamento pretendem mobilizar os colegas das escolas locais e sensibilizar todos os professores para esta luta.


"De acordo com as novas medidas anunciadas, o Ministério da Educação pretende aniquilar a classe dos professores. Essa ambição será facilitada se os professores se mantiverem serenos e desunidos. A LUTA NÃO DEVERÁ SER APENAS DE PROFESSORES DO QUADRO OU DE PROFESSORES CONTRATADOS, MAS DOS PROFESSORES".

Caldas da Rainha

Nas Caldas da Rainha cerca de 100 professores concentraram-se para protestar contra os ataques à escola pública. Esta iniciativa correcta dinamizada por professores da APEDE, está na mesma linha reivindicativa dos colegas contratados que dinamizaram um protesto no dia da greve geral (24 Novembro) e do protesto das Vuvuzelas (dinamizada pelo movimento de professores 3R's) em Setembro de 2010 à frente do Ministério da Educação. Todos estes protestos de professores de base são importantes para tentar começar a mobilizar a classe e ajudar a travar os maiores ataques de sempre à escola pública e aos professores (no próximo ano lectivo o governo pretende despedir dezenas de milhares de professores ).

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Sala de Professores

A desinquietação é visível nas várias salas de professores, por todo o pais.
Os Professores questionam-se sobre o corte nos seus salários, uma medida que sentem muito injusta e ainda sobre o futuro das suas progressões na carreira que, para todos os efeitos, foram canceladas, não congeladas como aconteceu recentemente mas... CANCELADAS.
Questionam-se sobre o significado da avaliação do desempenho docente. Porquê fazer reuniões e entrevistas, preencher grelhas e relatórios, quando o tempo já é escasso para o que realmente interessa, para trabalhar para os aluno, com os alunos. Resulta num desgaste inútil, sem qualquer efeito positivo nas suas vidas.
Não se conseguiu demover o Governo das cotas de Muito Bom e Excelente, menos ainda do efeito disto para os concursos de colocação docente, facto que a médio/longo prazo irá criar mau ambiente nas escolas. Irá dividir ainda mais a já estraçalhada classe docente, como resultado de leis atrás de leis instantâneas que têm emanado a rodos do ME, desde há uns anos a esta parte, criando instabilidade permanente. Combalida dos, ainda frescos na memória, ataques irresponsáveis do Governo, ao seu brio profissional.
Seria bom que se pudesse depor "armas" e recuperar a tão necessária serenidade. Seria bom mas de momento impossível. Se se o fizerem neste momento, toda a sociedade terá muito a perder: os alunos e o futuro do país. Porque quem não vai à luta já perdeu.  Terá de se arranjar forças onde elas já não abundam, perdidas no desânimo geral, e partir para o segundo round.
No primeiro, ganhou-se a opinião pública. Pois há que a envolver de novo. Há que fazer um apelo a todos nós, não apenas aos professores, para que lutem. Para que cada vez mais gente perceba os verdadeiros propósitos destas políticas.
Que os nossos ordenados e impostos, não servem para continuar a engrossas as já chorudas contas dos  membros do Governo, Gestores Públicos e afins mas para proporcionar um conjunto de serviços públicos de qualidade, para todos nós.
Que todos os cortes efectuados nesses serviços definem claramente as prioridades deste Governo - patrocinar a banca.
Muitos se questionam o que fazer. Manifestações, mais greves? De pouco serviram no passado? Não é bem assim. Estaríamos muito piores se nada se tivesse feito. Não vamos deixar que bata no fundo.

Silvana Paulino (do Movimento Escola Pública)



terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Manifesto dos professores de EVT para todo o país

Do encontro de professores de EVT, em Aveiro, no dia 15 de Janeiro último, resultou um manifesto que só hoje nos foi possível publicar.

Documento Aqui

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O Meu Dever é falar, para não ser tomado por cúmplice

“Que patifes, as pessoas honestas” é uma citação atribuída ao escritor francês Émile Zola, que me revisita sempre que vejo os políticos justificarem com o manto diáfano da legalidade comportamentos que a ética e a moral rejeitam. E é ainda Zola que volta quando a incoerência desperta o meu desejo de falar, para não ser tomado por cúmplice.

Foi duplamente incoerente o apelo ao respeito e à valorização dos professores que Cavaco Silva fez há dias em Paredes de Coura. Incoerente quando confrontado com o passado recente e incoerente face ao que tem acontecido no decurso da própria campanha eleitoral. Em 2008 e 2009, os professores foram continuamente vexados sem que o Presidente da República usasse a decantada magistratura de influência para temperar o destempero. E foi directa e repetidas vezes solicitado a fazê-lo. Por omissão e acção suportou e promoveu políticas que desvalorizaram e desrespeitaram como nunca os professores e promulgou sem titubear legislação injusta e perniciosa para a educação dos jovens portugueses. Alguma ridícula e imprópria de um país civilizado, como aqui denunciei em artigo de 11.9.06. Já em plena campanha, Cavaco Silva disse num dia que jamais o viram ou veriam intrometer-se no que só ao Governo competia para, dias volvidos, aí intervir, com uma contundência surpreendente, a propósito dos cortes impostos ao ensino privado. Mas voltou a esconder-se atrás do silêncio conivente, agora que é a escola pública o alvo de acometidas sem critério e os professores voltam a ser tratados, aos milhares, como simples trastes descartáveis.

Imaginemos que o modelo surreal para avaliar professores se estendia a outras profissões da esfera pública. Que diria Cavaco Silva? Teríamos, por exemplo, juízes relatores a assistirem a três julgamentos por ano de juízes não relatores, com verificação de todos os passos processuais conducentes à sentença e análise detalhada do acórdão que a suportou. Teríamos médicos relatores a assistirem a três consultas por ano dos médicos de família não relatores; a verificarem todos os diagnósticos, todas as estratégias terapêuticas e todas as prescrições feitas a todos os doentes. Imaginemos que os juízes teriam que estabelecer, ano após ano, objectivos, tipo: número de arguidos a julgar, percentagem a condenar e contingente a inocentar. O mesmo para os médicos: doentes a ver, a declarar não doentes, a tratar directamente ou a enviar para outras especialidades, devidamente seriadas e previstas antes do decurso das observações clínicas. Imaginemos que o retorno ao crime por parte dos criminosos já julgados penalizaria os juízes; que a morte dos pacientes penalizaria os médicos, mesmo que a doença não tivesse cura. Imaginemos, ainda, que o modelo se mantinha o mesmo para os juízes dos tribunais cíveis, criminais, fiscais ou de família e indistinto para os otorrinolaringologistas, neurologistas ou ortopedistas. Imaginemos, agora, que um psiquiatra podia ser o relator e observador para fins classificativos do estomatologista ou do cirurgião cardíaco. Imaginemos, por fim, que os prémios prometidos para os melhores assim encontrados estavam suspensos por falta de meios e as progressões nas respectivas carreiras congeladas. Imaginemos que toda esta loucura kafkiana deixava milhares de doentes por curar (missão dos médicos) e muitos cidadãos por julgar (missão dos juízes). A sociedade revoltava-se e os profissionais não cumpririam. Mas este modelo, aplicado aos professores, está a deixá-los sem tempo para ensinar os alunos (missão dos professores), com a complacência de parte da sociedade e o aplauso de outra parte. E os professores cumprem. E Cavaco Silva sempre calou.

Ultrapassámos os limites do tolerável e do suportável. Ontem, o estudo acompanhado e a área-projecto eram indispensáveis e causa de sucesso. Hoje acabaram. Ontem, exigiram-se às escolas planos de acção. Hoje ordenam que os atirem ao lixo. Ontem Sócrates elogiou os directores. Hoje reduz-lhe o salário e esfrangalha-lhes as equipas e os propósitos com que se candidataram e foram eleitos. Ontem puseram dois professores nas aulas de EVT em nome da segurança e da pedagogia activa. Hoje dizem que tais conceitos são impróprios. Ontem sacralizava-se a escola a tempo inteiro. Hoje assinam o óbito do desporto escolar e exterminam as actividades extracurriculares. Ontem criaram a Parque Escolar para banquetear clientelas e desorçamentar 3 mil milhões de dívidas. Hoje deixaram as escolas sem dinheiro para manter o luxo pacóvio das construções ou sequer pagar as rendas aos novos senhores feudais. Ontem pagaram a formação de milhares de professores. Hoje despedem-nos sem critério, igualmente aos milhares.

Os portugueses politicamente mais esclarecidos poderão divergir na especialidade, mas certamente acordarão na generalidade: os 36 anos da escola democrática são marcados pela permanente instabilidade e pelo infeliz desconcerto político sobre o que é verdadeiramente importante num sistema de ensino. Durante estes 36 anos vivemos em constante cortejo de reformas e mudanças, ao sabor dos improvisos de dezenas de ministros, quando deveríamos ter sido capazes de estabelecer um pacto mínimo nacional de entendimento acerca do que é estruturante e incontornável para formar cidadãos livres. Sobre tudo isto, o silêncio de Cavaco Silva é preocupante e obviamente cúmplice.

Santana Castilho

sábado, 22 de janeiro de 2011

A cavalo emprestado olham-se os dentes: o empréstimo de livros escolares

O Jornal “Público” dá hoje conta de um estudo sobre o empréstimo de manuais escolares feito pelo “Observatório dos Recursos Educativos” , uma entidade financiada pela Porto Editora, a maior editora de livros escolares.

Aí, defende-se o “apoio directo progressivo e com discriminação positiva”, a ser aplicado “depois de passada a crise económica” o que significa na prática: um adiamento de qualquer legislação neste sentido para altura incerta fazendo suportar o preço dos manuais dos próximos anos novamente pelas famílias, uma oposição frontal ao sistema de empréstimos que a oposição parlamentar conseguiu aprovar no parlamento contra o governo, uma oposição ao sistema de financiamento de todos os alunos do ensino obrigatório para compra de manuais escolares defendido, entre outros, pelo PCP.

Os argumentos centrais deste estudo, retirados da comparação com a realidade espanhola, são dois: as famílias carenciadas seriam as mais prejudicadas pelo sistema de empréstimo (1) e o Estado gastaria muito (2) (a distinção entre argumentos centrais e adicionais parte da valoração a que a entrevista ao autor induz e da própria análise do argumentos).

O argumento 1 funda-se no pressuposto, retirado do caso espanhol, de que serão os mais pobres que perderão ou danificarão mais os livros. Assim, e já que na ideia de empréstimo está subjacente a ideia de uma caução em caso de estrago, aceitando que os mais pobres estragam/perdem mais caber-lhes-ia pagar mais.

Mesmo aceitando como válida e sólida a réplica deste fenómeno em Portugal, é importante perceber que dela não decorre imediatamente que se deva acabar com o sistema de empréstimos. Em primeiro lugar porque é necessário determinar de que custos estamos a falar, que tipo de cauções são pagas, como são pagas etc., ou seja que dada a réplica se pode intervir das mais variadas formas para contornar os problemas (o contra-argumento mais fraco). Em segundo lugar (o contra-argumento mais forte), mesmo aceitando que o fenómeno aconteça, tal não significa que aceitemos que ele é uma “condição ontológica” que leva a que os pobres percam/estraguem os manuais que lhe são emprestados por natureza e para sempre e em todas as situações sociais. Ou seja, tendo identificando um problema verificado num caso (o espanhol), em vez de propor soluções para este e formas de acção sobre as causas que lhe estão subjacentes, o estudo limita-se a concluir que se deve acabar com o sistema por inteiro e, assim, desistir.
Para além disto, introduz-se aqui no argumentário, como se fosse algo natural, a ideia que há uma injustiça quando ricos e pobres têm igualmente acesso não pago a determinado bem considerado fundamental (traduzindo: mesmo que os ricos não acabassem por pagar menos porque não vão perder/estragar os livros, não é justo que eles não paguem os livros). Esta é mesmíssima ideia de quem pretende acabar com o que resta do carácter “gratuito” da educação ou do serviço nacional de saúde através do argumento de que devem ser gratuitos não para todos mas só para os mais pobres, o que já sabemos é contrariado por quem pensa que isto é uma antecâmara da separação entre serviços para pobres e serviços para ricos, privatização da parte apetecível do bolo (a dos ricos), estigmatização de quem acede aos serviços dos pobres.

Quanto ao argumento 2, o do custo para o Estado, convém dizer que se parte aqui da ideia da compra inicial de todos os manuais por parte do Estado no primeiro ano do sistema (ao contrário dos projectos existentes que propõem uma entrada faseada do sistema de empréstimo). Para além deste custo, juntam-se os custos de reposição de manuais não devolvidos, de renovação periódica dos manuais e um cenário de previsão de um aumento (forte?) de custos burocráticos nas escolas e no Ministério.

Este argumento choca a necessidade de alteração do sistema actual que é insustentável. Dos argumentos a favor do empréstimo consta obviamente, em primeiro plano, o impacto da compra de manuais nos orçamentos familiares, ano após ano, um custo insuportável para muitos/as num país em que a acção social escolar continua a ser incipiente. Um argumento adicional forte, junta-se a este, constatando o desperdício de manuais no final de um ano escolar, usados e deitados fora, muitos em perfeito estado de conservação. Ou seja, há um argumento ecológico e de racionalização de recursos que o estudo do Observatório escolhe ignorar.

Voltando ao argumento do custo, o estudo não defende a manutenção da situação actual (até porque há um consenso social forte sobre a necessidade de mudança), nem ignora que qualquer intervenção para a alterar esta situação sairá cara ao Estado. Portanto, o argumento é, na realidade, que fica mais caro o empréstimo a todos que a solução defendida: a dádiva, finda a crise (?), a alguns. Seria, é claro, necessário rever com cuidado os dois cenários (empréstimo total/dádiva parcial) em termos de custos  e benefícios, mas o argumento da diferença de custos será insustentável a partir do momento em que se prove a existência de outras vantagens que não têm necessariamente de ser de âmbito economicista (as ambientais para alguns serão suficientes para os autores do estudo talvez não sejam suficientes, a igualdade de todos os estudantes num regime de escolaridade obrigatória perante o bem cultural “livro escolar” talvez também lhes valha essa diferença).

A justificação desta diferença de custos, passa em grande medida, para além das perdas expectáveis em termos estatísticos, pela utilização do argumento adicional de que no sistema de empréstimos aumenta-se o custo aumenta dada a existência de livros de reposição anual obrigatória (3), considerando-se neste caso os livros da escolaridade do primeiro ciclo (por exemplo, o projecto de lei apresentado pelo BE inclui esta excepção por motivos pedagógicos) e juntando-lhe os livros de línguas estrangeiras (aí no projecto de lei referido não há lugar a excepção e é-lhe aplicada a solução “caderno de exercícios destacáveis”). Portanto, em forte medida estes custos seriam evitados alterando a forma de construir os manuais escolares, o que implica uma discussão que, para além do dever e o haver, é pedagógica (de concepção racional e eficaz de instrumentos de ensino/aprendizagem). Restando pensar a solução a encontrar sobre os cadernos de exercícios ou a questão do fomento das fotocópias.

O outro argumento adicional é de teor económico: a ruína do sector livreiro (editoras e livrarias) (4). Diga-se que obviamente um sistema de empréstimo significaria uma redução de margem de lucros, tendo estas editoras de centrar a sua actividade, como outras farão noutros pontos do mundo, na edição de materiais de apoio. E ainda que, para além do mais, se preferíssemos um sistema de dádiva anual de livros, as livrarias só se mantinham em jogo mantivessem como intermediárias, o que não é óbvio.

Do ponto de vista pedagógico, pode-se ainda colocar o argumento do empréstimo colocar em causa as revisões de matérias já dadas (5) e um último argumento que será talvez o mais interessante: com a dádiva de manuais dá-se a possibilidade de ter algo como um livro, um bem cultural que pode ser escasso nas famílias desfavorecidas (6), o que faz toda a diferença. Só que a relevância de cada um destes dois argumentos para a conclusão defendida só funciona combinando algum dos outros argumentos de teor economicista. Uma vez aceites, apenas se aceitaria a superioridade da ideia de dádiva relativamente à ideia de empréstimo e não a superioridade da dádiva limitada aos mais pobres. Sem acreditar em algum dos argumentos económicos, a escolha seria entre dar a todos um bem cultural (que será certamente vivido de forma diferente consoante a classe social) e a construção colectiva de uma ideia de responsabilidade social e ecológica (reutilizar) através do empréstimo. A favor da primeira hipótese entra o facto simples de se fazer irromper definitivamente os livros em lugares onde ele possa ser vivido como excepcional, impondo possibilidades e relações futuras, em vez de fazer apenas entrar para depois sair o que pode ser algo único.
Só que aqui entram também outras dimensões, a simbólica, dos pré-conceitos herdados da sociedade e já vividos pelas crianças, a vivência e a construção de relações com os objectos em geral, com a escola e o livro em particular. A construção de categorias e o valor do ter e do partilhar, o ensinar a cuidar e a partilhar, o aprender o significado do “comum”.

É que, no fundo, estamos aqui a tratar de igualdade de oportunidades, da forma como se reflectem as relações de classe na escola e as suas relações diferenciadas com os bens culturais, as diferenças de expectativas e de motivação relativamente à promoção social ou à realização pessoal através do conhecimento e do sistema escola. Questões tão velhas, tão batidas mas que se recolocam a cada momento.

Carlos Carujo

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

SOS Escola Pública

Adensam-se nuvens negras sobre a Escola Pública. Em nome da contenção da despesa no sector da Educação, a Resolução do Conselho de Ministros nº 101-A de 2010, de 27 de Dezembro, e o Projecto de Despacho sobre a organização do Trabalho nos agrupamentos ou escolas não agrupadas vêm desregular a escola pública e acelerar o seu desmantelamento.

As medidas tomadas e previstas são dramáticas, socialmente insensíveis e de consequências absolutamente negativas para o sucesso escolar:

- Redução no já magro e apertado orçamento das escolas;

- Aumento do número de alunos por turma e por professor, em nome de uma “gestão mais eficaz na constituição de turmas e distribuição do serviço de docência”, que não tem em vista outra coisa senão diminuir os gastos com pessoal docente;

- Redução do número de funcionários não docentes, criando problemas ao nível do funcionamento de serviços essenciais, como a biblioteca, o bufete, a papelaria e outros, agravando inclusivamente as condições de segurança dos alunos;

- Insistência na constituição de mega-agrupamentos, envolvendo não só escolas afastadas e culturalmente diferenciadas, mas também um número desmedido de alunos, ao mesmo tempo que se introduzem restrições cegas nos quadros de gestão escolar;

- Eliminação da área de projecto e redução do estudo acompanhado sem alternativas para apoiar os alunos nas disciplinas com mais dificuldades;

- Fim dos pares pedagógicos a EVT, Educação Visual e Tecnológica, restringindo drasticamente a sua componente prática e artística, criando condições de insegurança na manipulação de materiais e ferramentas, por parte dos alunos, e prejudicando o enquadramento e acompanhamento dos alunos com necessidades educativas especiais numa disciplina que integra o seu currículo;

- Eliminação de horas na componente lectiva para o exercício de funções relacionadas com Bibliotecas Escolares, Desporto Escolar e desenvolvimento de clubes e projectos, e ainda com os apoios educativos e a generalidade dos planos de combate ao abandono e insucesso escolares, como o Plano de Acção da Matemática e as Tutorias, destruindo fecundas experiências de educação e formação dos alunos e comprometendo metas e objectivos definidos pelo próprio Governo até 2015.

Tudo isto se faz, obviamente, através da contracção absurda do número de horários, com um brutal agravamento de desemprego docente, que começará por tocar os professores contratados, mas que não vai desde logo deixar de fora professores afectos aos quadros, por inexistência forçada de horários nas suas escolas.

Sócrates e Alçada enchem a boca com o Estado Social e o papel estratégico da Educação, e com as metas para aumentar o sucesso escolar. Cortando a direito na escola pública, fazem o contrário do que apregoam.

O Movimento Escola Pública condena este ataque brutal contra o ensino público e a escola inclusiva. Ele vem agravar o insucesso e o abandono escolares e comprometer o desenvolvimento, os direitos e as expectativas de crianças e jovens, e das suas famílias.

Vai sendo tempo de acordar

Um dia disseram-me que iam despedir os professores provisórios. Não quis saber, não era comigo.
Mais tarde disseram-me que iam pôr 5000 professores de EVT no desemprego. Não quis saber, não era comigo.
Mais tarde disseram-me que iam pôr não sei quantos funcionários das escolas no desemprego. Não quis saber, não era comigo.
Depois soube que iam despedir os professores de EMRC. Não quis saber, não era comigo.
Depois soube que iam despedir todos os professores das artes. Não quis saber, não era comigo.
De seguida foram os professores de educação musical e educação física despedidos. Não quis saber, não era comigo.
Um dia disseram-me que iam acabar com as aulas de História e reduzir o Português, indicando-me a porta de saída. Senti-me mesmo mal e resolvi pedir ajuda aos colegas.Mas não tinha ninguém a quem pedir ajuda e lutar ao meu lado. Tinham sido despedidos debaixo da minha indiferença.

Parece-me que a situação da nossa classe está bem pior do que estava no tempo da D. Lurdes, anestesiados com as falinhas mansas da senhora que está como ministra apenas a colher material para escrever Uma Aventura no Ministério da Educação. Não sei o que vamos fazer, mas temos de fazer algo. Temos que começar a conversar e a lutar.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Quanto faltará para a derrocada final?

No quadro de cortes orçamentais que o Governo pretende efectuar no próximo ano lectivo constam as horas, até agora, atribuídas ao desporto escolar.

Se esta medida for para a frente, muitas das actividades que todos os anos se encontram inscritas nos Planos Anuais de Actividades dos Agrupamentos de Escolas e Escolas não agrupadas, serão inviabilizadas. Cai mais uma pedra da escola de todos nós, uma derrocada que a pouco e pouco está a transformar o Ensino Público num monte de escombros, com graves consequências para as novas gerações, o que comprometerá, em larga escala, o destino do nosso país.

O desinvestimento na prática desportiva implicará um recuo, tanto mais grave quanto o facto de já termos um significativo atraso, em relação à média europeia, no desenvolvimento de competências, no âmbito das diversas modalidades desportivas. Estar-se-á a jogar pela janela fora todo o esforço e empenho de uma década, para diminuir o fosso que nos manteve na cauda da Europa, também nesta área.

A disciplina de Educação Física compreende 3 tempos lectivos semanais de 45 minutos, ao nível do ensino básico, o que é manifestamente insuficiente para o desenvolvimento das competências que lhe são atribuídas: é a única alternativa escolar cujo foco principal é o corpo e a actividade física. O desporto Escolar funciona como um complemento a essa área, que em muito contribui para o crescimento harmonioso das crianças e jovens, já que a pratica de desporto e fundamental para a saúde e bem-estar individual. Ajuda os jovens a chegarem a uma integração segura, adequando o desenvolvimento da mente, do corpo e o equilíbrio;
Num país onde os hábitos de vida saudável ainda não entra nas preocupações de largas faixas da população, esta área influi na mudança de atitudes, cujos frutos se irão colher ao nível da promoção da saúde pública e na qualidade de vida de cada um. A média/longo prazo fará baixar a factura com as despesas médicas, entre outras coisas.

Impõe-se uma redefinição de prioridades, por parte do governo, relacionadas com o investimento público, sob pena de se estar a empenhar o progresso económico e social da nossa nação. As despesas com a educação merecem ser mais do que parcelas desagradáveis de uma equação, engendrada para servir interesses económicos imediatos de alguns. Cortar cegamente nas despesas com o ensino é um verdadeiro crime, tendo em conta que o desenvolvimento e a produtividade têm por base uma formação integral e de qualidade para todos os indivíduos.
Silvana Paulino do MEP

(Um agradecimento especial aos Professores de Educação Física que contribuiram para a elaboração deste Post) 

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Empobrecimento do Currículo - mais uma machadada na Escola Pública

As várias formas de expressão artística são um elemento fundamental no desenvolvimento pessoal, social e cultural do indivíduo. Através destas é possível desenvolver a criatividade, a razão e expressar emoções, o que contribui para o seu equilíbrio. Permitem ampliar horizontes, já que abrem um leque muito alargado de possibilidades e pontos de vista.

Vivenciar as várias expressões de arte é marcar um encontro com a identidade de um povo. A sua cultura e tradições encontram-se inscritas na forma como individualmente ou de forma colectiva, se expressa a esse nível.

No segundo ciclo do ensino básico a Educação Visual encontra-se interligada com a Tecnológica e o seu currículo tem como finalidade, entre outras coisas, a promoção do “desenvolvimento integral do indivíduo, pondo em acção capacidades efectivas, cognitivas e cinestésicas, promovendo a interacção de múltiplas inteligências”.

A medida proposta pelo Governo para a organização do próximo ano lectivo, prevê a redução de dois docentes para um, a leccionar a referida área disciplinar. Tal medida irá comprometer de forma irremediável a finalidade para que esta disciplina foi criada, esvaziando de sentido o seu currículo, uma vez que inviabiliza a aplicação de um aparte muito significativa deste.

A disciplina de Educação Visual e Tecnológica surgiu no início da década de 90, tendo resultado da fusão dos antigos Trabalhos Manuais com a disciplina de Educação Visual. Dessa medida resultou a redução de 3 tempos lectivos para as áreas das expressões artísticas. Englobou assim duas componentes essenciais na formação dos alunos: desenvolver ferramentas mentais que assegurassem a compreensão de um mundo mais visual e a componente tecnológica, que assegurava o desenvolvimento de capacidades relacionadas com a execução e o manuseamento de diversas técnicas, materiais e utensílios, inerentes à vida quotidiana de qualquer indivíduo. Assim sendo, a disciplina de E.V.T pressupõe o primeiro e marcante contacto dos alunos com métodos de trabalho, ferramentas e técnicas.

A metodologia de trabalho da disciplina, mais prática que teórica, implica a presença de mais do que um professor para garantir um trabalho de qualidade, atendendo, não só ao grau de autonomia da faixa etária destes alunos mas também ao seu carácter manipulativo, que implica um acompanhamento bastante individualizado.

Uma vez que a implementação de várias técnicas e a utilização de materiais diversos como barro, madeiras, tecidos e outros, implica o manuseamento de ferramentas que requerem a supervisão directa do professor, devido ao seu grau de perigosidade, quando mal utilizadas, torna-se claro que a presença de um só docente é manifestamente insuficiente pelo que se prevê o abandono deste tipo de actividades a favor de outras, mais teóricas, expositivas ou mais inócuas.

A componente tecnológica da disciplina será inevitavelmente restringida a práticas redutoras. Desta medida do Governo, claramente economicista, resulta o empobrecimento do Ensino Público e compromete em larga medida o desenvolvimento pessoal das novas gerações, que serão cada vez mais afastadas das componentes tecnológicas que os dotavam de ferramentas úteis, no domínio do saber fazer.

Silvana Paulino e Maria João Nogueira (do Movimento Escola Pública)

A Minha Indignação



Ver aqui Doc.
Proposta da FNE

Envio de carta dirigida aos Ministros das Finanças e Educação, manifestando indignação por algumas das medidas implementadas pelo Governo no quadro do PEC

São sempre os mesmos a fazer o sacrifício...

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

domingo, 16 de janeiro de 2011

Mais uma garantia... da Ministra da Educação.

Publicado por Ricardo Montes, Na Sala dos Professores. (Gostámos)
Desporto Escolar vai ser "integralmente mantido", garante ministra.

Comentário: Segundo Isabel Alçada, a interpretação da proposta de despacho de organização do ano lectivo 2011/2011, relativa ao Desporto Escolar foi errónea. A interpretação correcta é a que se segue: "A redução que existe é apenas uma optimização de recursos no quadro do horário do docente." Humm... Perceberam?

Não perceberam? A Ministra explica melhor: "(...)“o horário do docente tem uma componente não lectiva” e (...) essa poderá ser “reajustada para que sejam optimizados os recursos” e para que “o trabalho dos professores seja mais rentabilizado”."

Chegaram à conclusão que fizeram uma interpretação errónea? Eu cheguei... Mas cheguei à conclusão que mais do que errónea, a minha interpretação estava a ser optimista.

Fazendo uma análise do que se tem passado no ensino, em Portugal, nos últimos anos, muitas das tarefas outrora presentes na componente lectiva dos professores, como apoios, tutorial, projectos, clubes, (nelas os professores trabalham directamente com os alunos) já há muito que o deixaram de ser, tendo passado para a recentemente inventada componente não lectiva, com prejuízo para o tempo de trabalho individual dos professores. Paradoxalmente foram atribuídos aos professores mais funções burocráticas que estão a ser  cumpridas no tempo que corresponde a esse mesmo trabalho individual. Claramente a preparação de aulas foi totalmente desvalorizada, uma vez que não só não tem visibilidade como não é quantificável.
Preparam-se para fazer isso com o Desporto Escolar, possivelmente, desprezando os muitos fins-de-semana que muitos professores de Educação Física deram, da sua vida pessoal, para a prática desportiva dos seus alunos.

Encontro de Professores de EVT de 15 de Janeiro

"Vamos fazer o que ainda não foi feito"
O  Centro de Congressos de Aveiro foi pequeno para acolher os muitos Professores de Educação Visual e Tecnológica que aqui acorreram para uma analise e reflexão da proposta do Ministério da Educação, para a organização do próximo ano lectivo, estando em foco, principalmente, o aspecto que se refere ao desaparecimento do par pedagógico que até hoje existia nesta disciplina, que passará a ser ministrada apenas por um docente. 
 Estiveram presentes elementos de vários dos partido convidados: do Bloco de Esquerda, a Ana Drago, do Partido Comunista Português, a Rita Rato, do Partido Ecologista "Os Verdes", o Antero Resende, que também é representante do PEV no Conselho Nacional de Escolas, representantes de vários sindicatos: da  FENPROF, o Mário Nogueira, pela FNE, o Joaquim Messias e pela SIPE, a Júlia Azevedo e ainda representantes de Associações de Professores: pela APECV, a Teresa Eça, ANAPET, o Adérito Gomes, APEVT, o José Alberto Rodrigues. A ESE do Porto também esteve representada pelo António Silva e pela Susana Nogueira, tendo como moderadores da parte da manhã o Carlos Gomes, da APEVT e da parte da tarde a Maria Lurdes Cravo, da APEVT.
Todos foram unânimes em afirmar que estas propostas do ME só tem a ver com medidas economicistas do governo, sem qualquer fundamento e de grande impacto na desvalorização das aprendizagens dos alunos.
Foi afirmado por todos os intervenientes que se estas propostas forem avante, serão cerca de 40.000 horários a menos o que lançará para o desemprego cerca de 7.000 professores de EVT, entre outros, o grupo mais penalizado.
Neste encontro foram sugeridas várias acções de luta (vamos fazer o que ainda não foi feito) que serão tornadas públicas, conforme a situação e o momento, para que tenham o impacto necessário.
Também foi sugerido que se tragam os outros professores para a luta, que haja solidariedade entre a classe, porque como pano de fundo e que será aplicado em cartazes nas escolas o slogan: São 40.000 professores abrangidos, 7.000 de EVT e os outros? Porque nenhum grupo estará a salvo destas medidas e é preciso que haja união para se lutar, contra mais este ataque brutal à Escola Pública. .
Por último só de realçar que apesar de serem convidados o PS e o PSD não deram qualquer resposta. São partidos habituados a rodar nas cadeiras do poder e não querem qualquer comprometimento e no fundo até são capazes de estar de acordo. Assim poderão canalizar as verbas do orçamento para o que é o centro dos seus interesses que não é nem a educação, nem a saúde e muito menos a justiça e segurança dos cidadãos.

Vídio aqui

sábado, 15 de janeiro de 2011

Parecer do Conselho de Escolas sobre a organização do ano lectivo 2011/12

PARECER

PROJECTO DE DESPACHO

“Despacho de organização do trabalho nos agrupamentos ou escolas não agrupadas”

Por solicitação do Senhor Secretário de Estado da Educação e nos termos do disposto no nº 2 do Decreto Regulamentar nº 32/2007, de 29 de Março, o Conselho das Escolas aprovou o presente parecer sobre o projecto de despacho de organização do trabalho nos agrupamentos ou escolas não agrupadas.
 
Ver aqui todo o documento

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Cortar a direito

Todos os projectos, incluindo o desporto escolar, os clubes de Matemática ou Ciência, plano de acção para a Matemática, apoios e até aulas de substituição podem estar em risco se a proposta de despacho de organização do ano escolar for aprovada sem alterações, garantem docentes e directores.



quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Menos 10 mil horários/novo ataque à Escola Pública

As medidas que o governo pretende implementar no próximo ano lectivo, a serem aplicadas irão extinguir mais de 10 mil postos de trabalho
Estas medidas têm um só objectivo: poupar dinheiro, dispensando milhares de professores. O Governo persegue esse objectivo de forma absolutamente cega e irracional, desvalorizando em absoluto o impacto que tais medidas terão no funcionamento das escolas e na qualidade do ensino.

ME quer impor peça fundamental da política de redução de professores

O Ministério da Educação enviou à FENPROF, no final da tarde de sexta-feira (dia 7 de Janeiro), o projecto de organização do próximo ano escolar (2011/2012), “concedendo” cinco dias consecutivos (três dias úteis) para que lhe sejam enviados eventuais contributos. Brinca com o fogo a equipa de Isabel Alçada que pretende ir mais longe do que a sua antecessora, Lurdes Rodrigues, que, sobre esta matéria, reconheceu sempre o carácter obrigatório da negociação e subscreveu um memorando de entendimento, em Abril de 2008, contendo regras mínimas a observar na elaboração dos horários dos docentes. São essas regras que a actual ministra quer agora revogar para poder eliminar mais de 10.000 horários, de que resultará a supressão de milhares de postos de trabalho.A FENPROF não aceita que esta matéria seja apenas alvo de “consulta directa”, não só pela importância da mesma, mas porque a Lei 23/98, de 26 de Maio, prevê que sejam objecto de negociação colectiva as matérias relativas à fixação ou alteração “Da duração e horário de trabalho”.

Ora, este projecto pretende introduzir alterações relevantes na organização do horário de trabalho dos professores, designadamente no que respeita à componente não lectiva e à relação entre o trabalho individual e o de escola, e também implica alterações à componente lectiva, devido à eliminação das reduções previstas para o desempenho de cargos.

A FENPROF, sobre esta matéria, tem muito trabalho desenvolvido, baseado no conhecimento da realidade das escolas e agrupamentos, que permitiu que, em momentos anteriores, tivessem sido apresentadas propostas concretas ao Ministério da Educação a esse propósito.

É de destacar que a pressa do ME na aprovação deste despacho não se deve à proximidade do ano escolar 2011/2012, mas ao facto de a Resolução do Governo n.º 101-A/2010, de 27 de Dezembro, prever a sua aprovação até Dezembro passado.

Não há, no entanto, nenhuma Resolução que possa invocar interesses públicos ou privados para passar por cima da negociação de matérias que a obrigam. A FENPROF não abdica do direito de negociação e exigiu o início do processo negocial.

Este despacho é uma das peças fundamentais do ataque do Governo à Escola Pública e ao emprego dos professores, a par da constituição de um maior número de mega-agrupamentos, das alterações curriculares previstas e de um conjunto de outras medidas de matriz exclusivamente economicista que, no total, significarão uma devastadora eliminação de horários de trabalho, com a consequente redução do número de professores. Serão entre 30.000 e 40.000 os que ME e Governo pretendem remeter para o desemprego.

Do projecto do ME sobre organização do próximo escolar, destacam-se, pela negativa, as seguintes alterações propostas:

Eliminação de um número mínimo de horas para a componente não lectiva de trabalho individual dos docentes, sendo criado um quadro de discricionariedade na distribuição de serviço;

Eliminação das horas de redução do desporto escolar, o que se traduzirá na anulação de cerca de 1.000 horários;

Grande limitação dos cargos que implicam redução na componente lectiva de quem os exerce, o que significa uma sobrecarga de trabalho de alguns, com vista a eliminar milhares de horários;

Extinção de todas as horas autorizadas às escolas para o desenvolvimento de projectos específicos, nomeadamente de promoção do sucesso e combate ao abandono escolar;

Alteração profunda do cálculo do crédito global de horas que as escolas têm para se organizarem. De uma forma geral, as escolas passarão de mais de 100 horas para 8 ou, no caso da constituição de mega-agrupamentos, de mais de 200 horas para 4!

Se fossem aplicadas as regras que este projecto contém, a FENPROF calcula que cerca de 10.000 horários de trabalho fossem eliminados: 6.000 da alteração da fórmula de cálculo do crédito global de horas; 1.000 da eliminação das horas para o desporto escolar; 3.000 da transferência de inúmeras funções e desempenho de cargos para a componente não lectiva de estabelecimento.

Esse impacto será muito forte e gravíssimo, razão por que combater estas medidas será mais uma das prioridades da luta dos professores e de quantos defendem uma Escola Pública de qualidade!

in FENPROF

Providência cautelar entregue pelo SPZC em Coimbra

Sindicato contesta o ataque despudorado e brutal encetado pelo Governo contra os docentes e restantes trabalhadores da Administração Pública

O Sindicato dos Professores da Zona Centro (SPZC), que integra a Federação Nacional da Educação (FNE), na sequência das acções de contestação já anunciadas às medidas constantes do Orçamento do Estado (OE), nomeadamente as que se prendem com os cortes de salários da Administração Pública, e em representação dos docentes seus associados, entregou dia 11 de Janeiro, pelas 11 horas, no Tribunal Administrativo e Fiscal de Coimbra, uma Providência Cautelar.

Esta acção insere-se no conjunto das iniciativas que o SPZC/ FNE irá encetar e na sequência do que já tinha anunciado publicamente.

Desta forma, o SPZC/FNE irá dar corpo à sua indignação perante o ataque despudorado, brutal e insensível que o Governo se apresta para efectivar sobre os docentes, bodes expiatórios dos seus erros de política económica.

O SPZC e os docentes que representa recusam veementemente e não deixarão de denunciar a actuação de um Governo, que concomitantemente com as decisões anunciadas, continua a produzir legislação que permite a muitos sectores da sociedade portuguesa, nomeadamente dirigentes da Segurança Social, das forças militares e militarizadas, terem um tratamento exclusivo e fora das limitações do OE, no que concerne aos cortes de salários progressões e reposicionamento e carreira.

Numa situação de graves dificuldades económicas e financeiras, como a que hoje vivemos, o mínimo que se exige ao Governo é que trate todos os cidadãos de igual forma, para que todos sintam que embora abrangidos por decisões que os afectam gravemente, não são alvo de qualquer discriminação, porque “À mulher de César não basta ser séria, é preciso parecê-lo” e na opinião do SPZC, a confirmarem-se as notícias veiculadas, o Governo está a usar dois pesos e duas medidas.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Precariedade na primeira pessoa

"Comecei no que parecia ser o sonho de dar aulas de Inglês a crianças na escola de Telheiras. Tudo corria normalmente, para quem nunca tinha dado aulas. Contudo, o fim do mês chegava e não havia resposta por parte da entidade; os meses passaram até que depois de uma semana de "luta" íamos às aulas mas não as dávamos, apenas tomávamos conta das crianças. Conseguimos que nos pagassem em Novembro, metade de Setembro e Outubro. Mas, o acordo que havia sido falado (existência de contrato, etc) nunca apareceu, tal como os descontos na Segurança Social (valor que nos foi retirado da mensalidade paga). Estamos em Janeiro e dada à minha situação não pude mais comparecer nas aulas, pois já não tinha dinheiro para me deslocar. A situação continua, o contrato não existe e pagamento também não..."



segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Já que estamos em maré de requerimentos...

Vamos acabar com a exploração? Proposta de um professor.

Exmo. Senhor


Presidente do Conselho Executivo da

Escola …………………………………………….


Exmo. Senhor, antes de ser professor exerci três profissões: mecânico de automóveis, servente de pedreiro e jardineiro.

Na primeira, mecânico de automóveis, apesar do patrão ser uma pessoa áspera e agressiva, o salário não era uma miséria. Para além deste aspecto nunca tive de gastar “um tostão” na compra de qualquer ferramenta, fosse ela “chave de parafusos”, “chave inglesa” ou outro auxiliar qualquer. Todos os instrumentos de trabalho eram fornecidos pelo patrão, a que se juntava vestuário específico para o serviço, o vulgo “fato de macaco”, à média de um por ano.

Na segunda, servente de pedreiro, tudo o que tinha necessidade para trabalhar também me era fornecido pelo patrão: baldes para transportar o cimento misturado com a areia, pás, escadas, andaimes, etc. Aqui o patrão só não fornecia roupa, o que acarretava grande prejuízo, uma vez que a argamassa queimava calças e blusas com bastante frequência.

Na terceira, jardineiro, o patrão era uma autarquia. No entanto, e apesar da actividade ser desempenhada para o Estado, nunca aqui me faltaram com nada de essencial para o exercício do meu trabalho, a saber, tesouras, enxadas, vassouras, carrinhos de mão, etc. Assim, durante os oitos meses que prestei esta actividade nunca tive de levar qualquer ferramenta para o trabalho, o que só contribuiu para o meu bem-estar, especialmente para a saúde da minha coluna.

Assim sendo, enquanto representante do patrão no meu local de trabalho, solicito-lhe que me forneça os instrumentos de trabalho necessários ao cabal desempenho da minha profissão de professor.

Como sabe, lecciono vinte aulas por semana. Como gasto, em média, cinco folhas de papel para preparar cada aula, preciso de cem folhas / semana, ou seja, uma resma de papel por mês.

Como percebe, dada a minha idade, preparo as aulas e corrijo testes e trabalhos dos alunos com recurso a esferográfica e lápis. Nesta conformidade necessito de um apara-lápis por ano lectivo, uma borracha e um lápis por semestre e duas esferográficas (uma azul ou preta e outra vermelha) por trimestre.

Como também é do seu conhecimento, lecciono a disciplina de Matemática aos 7º, 8º e 9º anos, pelo que necessito de um exemplar de cada um dos livros adoptados pela escola, referente a cada um destes anos e os respectivos cadernos de exercícios.

Como também sabe, há uma pressão muito grande na escola no sentido de os materiais que sou obrigado a conceber (testes, fichas, planificações, etc.) serem produzidos com recurso a computador e, posteriormente, impressos e registados em suporte informático (CDs ou “pen”). Assim, solicito-lhe que me indique o dia ou os dias, bem como o horário, em que na escola poderei aceder aos citados instrumentos informáticos (computador, impressora com papel, CDs, “pen”).

Como calcula, o novo quadro económico em que o Estado se vai movimentar durante o ano de 2011, com repercussões no rendimento mensal das famílias, de que a diminuição do meu salário é um bom exemplo, obriga-me a cortar nas despesas supérfluas, à cabeça das quais se encontram, como é óbvio, a aquisição dos meus instrumentos de trabalho, obrigação da entidade patronal.

Pede Deferimento,

-----------, ____ de Janeiro de 11

O Professor,

-----------------------------------

IMPEDIMENTO dos AVALIADORES, ...

Minuta para preencherem de acordo com o vosso caso e entregarem na secretaria da vossa escola, suscitando o IMPEDIMENTO do avaliador.

Segundo o CPA - SECÇÃO IV - Das garantias de imparcialidade - Artigo 44º - Casos de impedimento

"Nenhum titular de órgão ou agente da Administração Pública pode intervir em procedimento administrativo ou em acto ou contrato de direito público ou privado da Administração Pública nos seguintes casos:

a) Quando nele tenha interesse, por si, como representante ou como gestor de negócios de outra pessoa;"


                                                              Exmo. Sr.

                                                            Director do Agrupamento………………….

----------------, Professor/a do grupo de recrutamento ---- desta Escola, residente --------- ----------, informado que o seu relator ou( coordenador, ou Presidente da Comissão Administrativa Provisória ou Director) avaliador, é, para o período de avaliação que ora se inicia o/a Professo/a …………………… e considerando a circunstância do professor em causa, uma vez que as quotas não estão definidas, quer o avaliado quanto o relator ou( coordenador, ou Presidente da Comissão Administrativa Provisória ou Director) integrarem a mesma quota, tal facto origina que se considere estar perante uma das razões de impedimento. Esta situação nos termos do disposto na alínea a) nº 1 do artigo 44º do Código de Procedimento Administrativo é passível de integrar a figura do impedimento, vem solicitar seja este declarado impedido de intervir no presente procedimento a que o processo de avaliação, no que a si concerne, se refere.

                                                                                  Espera Deferimento

                                                                                 O/A requerente
     Data………………………………….

domingo, 9 de janeiro de 2011

Uma Ovelha Negra Não Estraga o Rebanho

No meio da crise sócio/económica e do cinzentismo emocional instalado no país há vários meses, eis que o relatório PISA trouxe algumas boas evidências para Portugal. E a melhor de todas, a que considero verdadeiramente paradigmática, foi omitida pela maioria dos órgãos de comunicação social: Mais de 90% dos alunos portugueses afirmaram ter uma imagem positiva dos seus professores! O relatório conclui que os professores portugueses são os que têm a imagem mais positiva de entre os docentes dos 33 países da OCDE, tendo em 2006 aumentado 10 pontos percentuais O mesmo relatório conclui que os professores portugueses estão sempre disponíveis para as ajudas extras aos alunos e que mantêm com eles um excelente relacionamento.

Estas evidências são altamente abonatórias para os professores portugueses e deveriam ter sido amplamente divulgadas pelos órgãos de comunicação social ( e pelos habituais “fazedores de opinião” luxuosamente remunerados que escrevem para os jornais ou são comentadores na rádio e na televisão) que ostensivamente consideram que os professores do ensino básico e secundário uma classe pouco profissional, com imensos privilégios e luxuosas remunerações...

Uma classe profissional que deveria ser acarinhada e apoiada por todos, que deveria ter direito às melhores condições de trabalho (salas de aula, equipamento, formação, etc.) e que tem sido maltratada pelo poder político e por todos aqueles que tinham o dever de estar suficientemente informados para poder produzir uma opinião isenta para os demais membros da comunidade.

Ao conjunto destas evidências acresce outra, onde o papel do professor é determinante: a inclusão. O relatório revela-nos que Portugal é o sexto pais da OCDE cujo sistema educativo melhor compensa as assimetrias sócio/económicas! E ainda refere que o nosso país tem a maior percentagem de alunos carenciados com excelentes níveis de desempenho em leitura.

Nada acontece por acaso! Os professores portugueses são excelentes profissionais, pessoas que se dedicam de corpo e alma aos seus alunos, mesmo quando são vilipendiados e ofendidos por membros de classes profissionais tão corporativistas (ou mais!) que a dos professores! Como diz a quase totalidade dos alunos, os professores são excelentes pessoas que estão sempre disponíveis para ajudar os seus alunos. Esta é que é a realidade dos professores das escolas do ensino básico e secundário! Obviamente que, como em todas as demais classes profissionais, haverá excepções à regra, aqueles que não cumprem, não assumem as suas responsabilidades, não justificam o ordenado que recebem. Mas, assim como uma andorinha não faz a primavera, também uma ovelha negra não estraga um rebanho.

Pergunto: porque se escondem os arautos da desgraça, detentores da verdade absoluta, que estão sempre na linha da frente para achincalhar os professores do ensino básico e secundário. Estranha-se o silêncio.
Margarida Rufino in Jornal de Cascais

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Encontro Nacional de Professores de EVT

Mais informações aqui e aqui.