terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Empobrecimento do Currículo - mais uma machadada na Escola Pública

As várias formas de expressão artística são um elemento fundamental no desenvolvimento pessoal, social e cultural do indivíduo. Através destas é possível desenvolver a criatividade, a razão e expressar emoções, o que contribui para o seu equilíbrio. Permitem ampliar horizontes, já que abrem um leque muito alargado de possibilidades e pontos de vista.

Vivenciar as várias expressões de arte é marcar um encontro com a identidade de um povo. A sua cultura e tradições encontram-se inscritas na forma como individualmente ou de forma colectiva, se expressa a esse nível.

No segundo ciclo do ensino básico a Educação Visual encontra-se interligada com a Tecnológica e o seu currículo tem como finalidade, entre outras coisas, a promoção do “desenvolvimento integral do indivíduo, pondo em acção capacidades efectivas, cognitivas e cinestésicas, promovendo a interacção de múltiplas inteligências”.

A medida proposta pelo Governo para a organização do próximo ano lectivo, prevê a redução de dois docentes para um, a leccionar a referida área disciplinar. Tal medida irá comprometer de forma irremediável a finalidade para que esta disciplina foi criada, esvaziando de sentido o seu currículo, uma vez que inviabiliza a aplicação de um aparte muito significativa deste.

A disciplina de Educação Visual e Tecnológica surgiu no início da década de 90, tendo resultado da fusão dos antigos Trabalhos Manuais com a disciplina de Educação Visual. Dessa medida resultou a redução de 3 tempos lectivos para as áreas das expressões artísticas. Englobou assim duas componentes essenciais na formação dos alunos: desenvolver ferramentas mentais que assegurassem a compreensão de um mundo mais visual e a componente tecnológica, que assegurava o desenvolvimento de capacidades relacionadas com a execução e o manuseamento de diversas técnicas, materiais e utensílios, inerentes à vida quotidiana de qualquer indivíduo. Assim sendo, a disciplina de E.V.T pressupõe o primeiro e marcante contacto dos alunos com métodos de trabalho, ferramentas e técnicas.

A metodologia de trabalho da disciplina, mais prática que teórica, implica a presença de mais do que um professor para garantir um trabalho de qualidade, atendendo, não só ao grau de autonomia da faixa etária destes alunos mas também ao seu carácter manipulativo, que implica um acompanhamento bastante individualizado.

Uma vez que a implementação de várias técnicas e a utilização de materiais diversos como barro, madeiras, tecidos e outros, implica o manuseamento de ferramentas que requerem a supervisão directa do professor, devido ao seu grau de perigosidade, quando mal utilizadas, torna-se claro que a presença de um só docente é manifestamente insuficiente pelo que se prevê o abandono deste tipo de actividades a favor de outras, mais teóricas, expositivas ou mais inócuas.

A componente tecnológica da disciplina será inevitavelmente restringida a práticas redutoras. Desta medida do Governo, claramente economicista, resulta o empobrecimento do Ensino Público e compromete em larga medida o desenvolvimento pessoal das novas gerações, que serão cada vez mais afastadas das componentes tecnológicas que os dotavam de ferramentas úteis, no domínio do saber fazer.

Silvana Paulino e Maria João Nogueira (do Movimento Escola Pública)

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