Os bons resultados do PISA 2009 levaram Sócrates à euforia na exaltação das suas políticas educativas. Mas quando tentou enunciar as medidas do sucesso enganou-se uma e duas vezes e até o admitiu. Afinal nem ele nem o Governo sabem explicar o que se passou.
Os testes PISA 2009 são aplicados a mais de seis mil alunos (no caso de Portugal) com 15 anos, seleccionados aleatoriamente, e incidem sobre competências gerais em leitura, ciências e matemática. Os resultados dos alunos portugueses melhoraram cerca de 4% em relação a 2006, o que permitiu subir alguns lugares no ranking educativo da OCDE. Não é um excelente resultado, mas é positivo e não deve ser desprezado. Uma das conclusões mais importantes, para desilusão da direita ultraliberal, é que os alunos das escolas privadas não atingem melhores resultados que os alunos das escolas públicas.
Num assunto tão sério como este, o que não se pode fazer é, por um lado, embandeirar em arco – este estudo tem um alcance limitado e Portugal continua na cauda da Europa em matéria de abandono e insucesso escolar – e por outro lado aproveitar estes resultados para justificar tudo o que o Governo fez, com explicações tão ridículas que são um atentado à inteligência de todos.
O mais estranho é que a própria OCDE se associa ao Governo no elogio a políticas logicamente impossíveis de terem contribuído para estes resultados. O Magalhães não chegou aos alunos agora com 16 anos, o Plano Nacional de Leitura também não. E a Escola a Tempo Inteiro idem, dado que é mais uma medida destinada ao 1º ciclo do ensino básico. É até hilariante ver como Sócrates, em entrevista ao Público, valoriza-a para logo a seguir ser obrigado a reconhecer que ela nada tem a ver com o caso, num acesso de euforia oportunista imediatamente desmascarado.
Como se não bastasse, OCDE e Governo juntam ao ramalhete o actual modelo de avaliação de desempenho dos docentes, ignorando que o sistema de avaliação só estabilizou no final de 2009, e que nos dois anos anteriores apenas trouxe revolta e instabilidade às escolas, acabando por se resumir, no essencial, à entrega de uma Ficha de Auto-Avaliação. Portanto, a reforma na avaliação só desajudou. Apenas nesse sentido Sócrates e Alçada podem transformar os professores em heróis: foi precisa uma grande dose de heroísmo para ao mesmo tempo puxar pelos alunos e combater com todas as forças um sistema de avaliação irresponsável e inoperante e do qual sobra uma inútil caricatura.
Pelos vistos, e descartando a hipótese conspirativa de outro cozinhado Governo-OCDE, ainda ninguém sabe o que terá contribuído para estes resultados. Falta por isso fazer uma análise muito cuidada e separar as medidas positivas (como até pode ser sido o Plano Nacional da Matemática), das medidas negativas. Isto para que a melhoria verificada possa ter continuidade e o sucesso real dos alunos possa aumentar. É pena que neste combate pelo futuro o governo não esteja seriamente empenhado, como o mostrou na forma infantil e maquineísta com que tratou um assunto tão importante.
Nada de espantar. É que este Governo não trata bem nem do futuro nem do presente quando corta no orçamento da Educação. Um corte que vem acompanhado de políticas claramente nefastas para o sucesso escolar. Enunciemos, tantas que são: redução do número de professores; cortes salariais e aposta na eternização da precariedade com consequente desmotivação docente; recusa em formar turmas para alunos com disciplinas em atraso; fim do Estudo Acompanhado, da Área de Projecto e de pares pedagógicos; dificuldades gritantes no Ensino Especial; ausência de contratação de psicólogos; cortes nas prestações sociais e na acção social escolar; escolas encerradas às três pancadas; suspensão da contratação de professores durante o mês de Dezembro; aumento do número de alunos por turma. Assim é certo que não vamos lá.
Miguel Reis
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