segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Desenvolver o pensamento crítico

No Brasil, o número de alunos por turma também é motivo de discussão. Publicamos um texto sobre um estudo que, apesar de ser de 2003, apresenta em nosso ver conclusões bem actuais, aplicáveis a qualquer sala de aula de qualquer país:

Excesso de alunos em sala de aula não combina com qualidade educacional

Profª. Verônica de Araújo Ozório
Bacharel em Letras - UERJ e pós-graduada em Dificuldades de Aprendizagem – UERJ

Atualmente, há uma busca pela qualidade na área educacional, e várias pessoas incluem nos seus discursos esta questão. O Brasil está numa campanha de ter todas as crianças dentro da escola, mas não podemos esquecer de que elas não devem estudar em unidades sem estrutura, ou colocadas como "a toque de caixa". Não é assim que teremos qualidade educacional: tendo excesso de alunos em sala, dificultando a participação dos alunos, gerando atrasos no desenvolvimento escolar.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, página 21) afirmam que o processo de aprendizagem de uma língua estrangeira é muito difícil nas escolas públicas, principalmente devido às classes superlotadas, posso acrescentar que isto é difícil para todas as outras disciplinas também.

Comenius expressou muito bem o sentido de ensinar nesta frase "A arte de ensinar é sublime, pois destina-se a formar o homem, é uma acção do professor no aluno, tornando-o diferente do que era antes." Célestin Freinet disse: "Tratando-se apenas de instruir crianças, talvez se pudesse aceitar, em certos casos, que elas fossem muitas."

Sabemos que hoje a escola não tem mais o papel de apenas instruir as crianças, vai muito além disso. A criança merece toda a atenção do professor e ele se sente perdido não tendo condições de utilizar as suas técnicas educacionais de forma satisfatória, a fim de que possa, assim, ajudar os seus alunos no crescimento e desenvolvimento dentro do processo de ensino-aprendizagem.

A escola sofre a exigência de desenvolver o pensamento crítico, o professor deve ensinar o aluno a pensar, como este processo primordial da educação pode ocorrer numa sala de aula que muitas vezes apresenta mais de quarenta alunos?! Como dar oportunidade a todos para se expressarem e ensinar aos alunos como transmitirem as suas ideias? Educação é um processo que pressupõe relação. Se a turma é muito grande, como o professor pode ter esta relação em uma turma com excesso de alunos?

Torna-se muito difícil para o professor atuar de forma satisfatória indo ao encontro dos anseios dos seus alunos, tirando as suas dúvidas e junto com eles pensarem em soluções.

Com excesso de alunos em sala de aula o professor não tem espaço para que ele possa dar uma atividade diferente, na qual os alunos possam movimentar-se, a configuração espacial das salas de aula parece um ônibus - todos os alunos sentados virados para o professor que dirige o ônibus. Esse tipo de arranjo espacial é estranho já que se busca uma educação de qualidade e o envolvimento diretamente dos alunos no processo da aprendizagem.

Quando o professor tem oportunidades para trabalhar com a turma em grupos ou em círculos, os alunos têm a chance de participar muito mais, tendo um espaço de debate e desta forma o professor pode fazer uma avaliação real dos seus alunos. Sabemos que o aluno não é mais passivo, receptáculo das informações, ele é ativo aprendiz, construtor do seu conhecimento.

Excesso de alunos em sala não gera qualidade, pelo contrário gera um aprendizado ineficiente. Tratar da qualidade educacional sem debatermos este problema em nossas escolas, é tentar tapar o sol com a peneira!

Obs: Alguns trechos deste texto foram retirados da monografia: "Qualidade na área Educacional" que realizei ao término da pós-graduação em Dificuldades de Aprendizagem, na UERJ.

Referências bibliográficas:

MEC. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira. Brasília, 1998.

ELIAS, Marisa Del Cioppo. Célestin Freinet, Uma pedagogia de atividade e cooperação. 5ª edição. Petrópolis: Vozes,1997.

Publicado na Revista Nova Escola. Junho/Julho de 2003.

Texto retirado daqui. Imagem daqui.

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