Posição do Movimento Escola Pública sobre o programa do Governo PSD/PP:
O Movimento Escola Pública considera que o programa do governo para a Educação apresenta desde já objectivos que, a serem concretizados, terão consequências graves na qualidade da escola pública e na igualdade de oportunidades que constitucionalmente esta deve assegurar.
Condenamos o corte de cerca de 400 milhões de euros previsto no memorando da Troika para 2011 e 2012, verba que será poupada através da criação de mais mega-agrupamentos e redução de pessoal, dando continuidade às políticas do anterior governo. A despersonalização da escola com uma pequena direcção cada vez mais afastada de uma grande comunidade de alunos(as), professores(as), famílias e funcionários(as) é uma tendência oposta às melhores práticas internacionais.
Recusamos frontalmente a “examocracia” patente em todo o documento programático. Através de “provas para o 4.º ano, provas finais de ciclo no 6.º e 9.º anos, com um peso na avaliação final e exames nacionais no 11.º e 12.º ano”, prevê-se que a introdução de exames com peso na avaliação final seja um mecanismo de selecção para definir prematuramente o percurso escolar dos alunos, transformando a escola num centro de treino para exames e alimentando ainda mais o negócio crescente das explicações privadas. Examinar para excluir é a solução mais facilitista que pode existir. Do que precisamos é de uma escola exigente que não desista dos(as) alunos(as), apostando no acompanhamento pedagógico individualizado sempre que necessário.
É ainda com grande preocupação que olhamos para:
- a possibilidade do peso das notas dos exames finais na avaliação dos professores, por ser um mecanismo aleatório, incapaz de avaliar o trabalho concreto desenvolvido pelos docentes devido à diversidade dos contextos económicos, culturais e sociais de crianças e jovens;
- a recusa em suspender o actual modelo de avaliação de professores, prolongando assim desnecessariamente conflitos e instabilidades prejudiciais a um ambiente pedagógico sereno;
- a “defesa da política de contratos de associação com estabelecimentos de ensino particular e cooperativo”, aparentemente sem condições, associada ao objectivo de “desenvolver progressivamente iniciativas de liberdade de escolha para as famílias em relação à oferta disponível pública ou privada”. Desenha-se aqui um objectivo antigo dos sectores mais conservadores da sociedade portuguesa: uma escola pública para os pobres e uma escola privada para as classes médias e altas, financiada pelo dinheiro do Estado, ou seja, de todos. Esta aposta do governo merecerá a nossa oposição total.
O Movimento Escola Pública considera que é urgente transformação da escola numa outra escola, mais exigente, contra os facilitismos e a passividade face às dificuldades, e que tal implica a adopção de medidas concretas, com impacto no desempenho de alunos e professores. Por isso, lamentamos a ausência de qualquer referência:
- à necessidade da redução do número de alunos por turma e por professor. Pelo contrário, com a redução drástica do número de docentes, o tamanho das turmas e do total de alunos a cargo de cada um tenderá a aumentar.
- ao número de elementos do pessoal não docente em cada estabelecimento - especialmente nos que acolhem crianças mais novas
- à introdução de equipas multidisciplinares nas escolas que garantam um acompanhamento eficaz de cada aluno(a).
Fácil é eliminar e seleccionar. Difícil é garantir um ensino de qualidade para todos e todas. O governo escolhe o facilitismo. Nós acreditamos que somos capazes, como sociedade, de não nos contentarmos com pouco, e escolher a exigência.
Julho 2011, Movimento Escola Pública.
3 comentários:
A propósito ... vejam esta, vale a pena publicar e passar. Excelente
http://psitasideo.blogspot.com/2011/07/add-carta-de-indignacao-aos-nossos.html
Sem dúvida que, no que toca a exames, este artigo "faz todo o sentido". A começar pela imagem que o ilustra, que caracteriza os estudantes portugueses como "animais".
Eu sou estudante universitário de Engenharia no Porto. Sei como funciona o sistema numa faculdade com prestígio como esta. E acreditem se quiserem, facilitismo é fugir aos exames. Quem me dera ter passado por um sistema de Exames muito mais cedo, pois a transição para o Ensino Superior (decente) é algo de aterrador. A educação no secundário é vergonhosa e é muito estranha esta antipatia aos exames. É mais difícil? É. É necessário? É.
Se eu nunca tivesse caído em miúdo, passaria a minha vida adulta a queixar-me sempre que tropessasse numa pedra. Aprendam a lidar com as dificuldades desde cedo.
O ensino superior é suposto ser para aqueles que mais vontade têm de aprender para, mais tarde, pôr as mãos à obra e comandar.
Não deveria ser nenhuma vergonha não ter um curso superior, pois há muitas pessoas que têm muito mais vontade e aptidão para pôr as mãos à obra mal saem do Secundário. Os exames deveriam avaliar isso... a vontade de aprender mais. Quem realmente tem vontade de aprender, continuará até onde essa vontade os levar. Quem não tiver vontade suficiente, fica pelo caminho e nesse ponto faz-se ao trabalho. Esse é o modelo certo, doa a quem doer. Não se trata de exclusão, trata-se de perceber o que podemos fazer pelo país e até que ponto temos o direito de usufruir do que nos é disponibilizado. E tem sido disponibilizado muito mais do que devia a muitos "estudantes", em Portugal. Há demasiados cursos e pouca verdadeira vontade de trabalhar (e de estudar).
O problema nunca serão os exames, se não são problema em países exemplares, não serão no nosso. O problema está nas mentalidades.
No comunicado afirma-se não se fala só de exames, mas é uma fatalidade: onde entra o exame, ofusca tudo o resto! Por exemplo:" lamentamos a ausência de qualquer referência:
- à necessidade da redução do número de alunos por turma e por professor. Pelo contrário, com a redução drástica do número de docentes, o tamanho das turmas e do total de alunos a cargo de cada um tenderá a aumentar.
- ao número de elementos do pessoal não docente em cada estabelecimento - especialmente nos que acolhem crianças mais novas
- à introdução de equipas multidisciplinares nas escolas que garantam um acompanhamento eficaz de cada aluno(a)."
Enfim, talvez com exames anuais, mensais ou semanais as leituras sejam mais completas? Se ainda houver alguém que escreva sem que ninguém lhe faça um questionário...
Não tenho raiva especial a exames, mas também não acredito que seja a overdose de exames que corrija o facilitismo e traga o rigor, e ainda menos a qualidade do que se aprende, que vive de muitas outras coisas.
Por outro lado, baterias de exames não são medidas exactamente baratas, mas enfim, cada um tem as suas prioridades.
Ha faculdades no ensino superior, e em universidades de prestígio, onde não há exames! Pasme-se! Mas como é que se aprende lá?
Evidentemente que quem nunca fez exames estranha, mas se tiver aprendido bem, depressa lhes corresponde. Já quem se "formatou" na examomania, tem mais dificuldade em organizar-se sem ser na clássica forma de estudar na véspera do exame...ou a pensar no exame... e atrapakha-se por exemplo se for chamado a resolver problemas, elaborar e desenvolver projectos, argumentar e contraargumentar, colaborar com outros, enfim... ninharias... o que é isso comparado com muitos e muitos exames, e exames que determinem o futuro de cada pessoa?
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