quinta-feira, 19 de junho de 2008

Teresa, Maria, com 12 anos em 2020

Foto de Ana Paula Guerra


Teresa Gaspar assinalou que todos os países estudados têm experiências em curso. O que a preocupa é que o nosso sistema não tenha experiências nem áreas de respiração.

"A Educação das Crianças dos 0 aos 12 anos" Relatório do Estudo encom. pelo Conselho Nacional de Educação (Maio 2008)

A professora cinquentenária, no seu reencontro com a realidade escolar, no acordar de um sonho muito acalentado, depara-se com o pesadelo de a missão destinada à escola vivida poder ser a de mera representação de uma farsa, em que
os designados professores simulam resultados escolares favoráveis e se submetem
a tudo para que os "clientes" não abandonem a escola. A missão da escola pública acabará por ser a exclusão dos capazes e interessados, que provavelmente se resguardarão no privado, qual ironia da falácia da escola inclusiva

Maria Helena Ramalho. Mais em educare.pr (17.06.2008)

Teresa e Maria Helena alertam, reflectem sobre a evolução que se adivinha, as abaladas que isto leva, o que fica e o que sobra da Missão da Escola Pública e dos sentidos de uma Profissão a que dedicou uma vida, como tantos e tantas. Escrevem, falam, publicam.
Dão-se ao cuidado e trabalho de atender às Teresas e às Marias (e aos Pedros e aos Joões) que agora estão nos 0 anos, e em 2020 terão 12. Respiram.
Por isso mais que reagir, querem agir na escola que hoje vivemos, e em que tantas coisas estão a acontecer, mas em que o que mais importa são as consequências do que vai acontecendo. Realmente, há que, por higiene cívica e mental, levantar a cabeça dos papéis, dos acontecimentos miúdos do dia-a-dia e olhar o horizonte, para perceber para onde nos leva a maré. Mesmo que seja difícil, é preciso criar uma distância e pensar nas antigas perguntas:

quem ganha? o que se ganha? quem perde? o que se perde?

Escola é apenas uma palavra, Escola Pública pode até ser uma tabuleta repetida em todos os muros, multiplicada até perder os sentidos, gastar o sentido. Que substância a ela corresponde? Que vida cresce à sua sombra?

Os sinais das práticas condicionadas a tal ponto, e de tais formas, que facilmente se reproduzirão como farsa, aquelas que Maria Helena bem identifica no seu texto, passam pelo olhar sem medo para o que se está a alterar nos modos de trabalhar nas escolas, para o que pode ainda resultar dos mecanismos de avaliação impostos pela tutela e dos modelos de formação e selecção de agentes educativos que são, verdadeiramente, a alma de tudo o que se fez, faz e fará na escola portuguesa, onde não existem, ou rareiam, as equipas multidisciplinares: os(as) professores(as) e educadores(as) de infância.
Aos que se conformam com o anúncio das inevitabilidades (tem de ser, tem de ser...), mais um exercício de pescoço: erguei a cabeça e percorrei os ecos de outros países. Só dois exemplos, e próximos geograficamente e em dimensão. Na Finlândia, há muitas horas de aprendizagem dentro da sala de aula, e a chave do sucesso é mesmo a aposta em professores de apoio nos primeiros quatro anos de escolaridade. Na Irlanda, o segredo do êxito na Educação está nos professores altamente qualificados e que gostam da profissão.
Cá, impõe-se, normaliza-se, cumpre-se, (dis)farça-se, bem nos avisa Maria Helena? Lá, experimenta-se, respira-se, como quer Teresa. Longe, demasiado longe. Estamos porém todos no mesmo tempo em crise, cada vez mais global, exigente, em veloz transformação. Perto, tão perto!
Naturalmente, 2020, cá e lá, será diferente. Os 12 anos das meninas e dos meninos colocá-los-ão em condições concretas desiguais. Não é preciso fazer exame de Lógica para entender porquê.

Maria José Vitorino

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