segunda-feira, 28 de julho de 2008

Eu cá sou bom

Não, não foi o meu ego que inchou ainda mais devido ao calor do verão. Também não é um desvario típico da silly season provocado pelo relaxamento. Nem sequer uma homenagem deslocada aos Xutos e Pontapés. Esta frase é apenas o culminar de uma outra silly season, mais duradoura, que foi este primeiro tempo da avaliação de professores. E a frase que sintetiza a “minha” “avaliação” não começa sequer a indicar a estupidez desta forma de avaliação “reduzida” que a ministra da educação insistiu que se fizesse em modelo diferente do que já acontecia, apenas para poder afirmar politicamente que mudou alguma coisa. Pois mudou. E para pior. Para menos sério.
Preenchida uma grelha com um conjunto de itens que não seriam avaliados, foram tomados em conta três pontos relativos ao serviço distribuído: serviço lectivo, outro serviço distribuído, apoio aos alunos. O resultado foi um sete numa escala até dez. Um resultado que é uma fraude. Na verdade, podia ter começado por escrever que todos os professores avaliados na escola onde leccionei este ano são bons. Porque fomos todos avaliados artificialmente com o mesmo número, aparentemente a pensar numas futuras quotas não sei do quê. Somos todos bons. Quem queria fazer hierarquias acabou por se contentar com uma tábua rasa que não tem processos de auto-verificação…
Mas não me chateei com este resultado da avaliação, nem com o seu “igualitarismo” (na escola em que leccionei, outras adoptaram outras regras). É o discurso ministerial da avaliação e do suposto rigor que me chateia. Esse rigor que é apenas uma grelha na cabeça de um burocrata.
Eu cá sou bom… Mas depois deste processo de avaliação e dos processos passados e futuros (se o modelo do governo realmente se impuser) não posso dizer que seja um professor melhor por ter sido e por ir ser avaliado. E uma avaliação só fazia sentido se não fosse uma farsa para governante lavar a cara, se não fosse um pretexto para reter pessoas na sua carreira, mas se fosse uma forma de nos compreendermos melhor como profissionais, de alterar práticas, de aprender e de ensinar melhor.

Carlos Carujo, Elvas

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