Nascido em Toronto, no Canadá, em 1948, Peter McLaren é considerado por muitos autores não só como o mais conceituado professor de ciências sociais da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), mas também como o mais polémico. Tem sido conferencista convidado em inúmeras universidades norte-americanas, latino-americanas e europeias, onde aborda de uma perspectiva transdisciplinar quatro áreas pelas quais ficou conhecido internacionalmente: a pedagogia crítica, a educação multicultural, a etnografia crítica e a teoria crítica.
Transcrevemos aqui um excerto da longa entrevista conduzida por Ricardo Jorge Costa, na Página da Educação
De que forma podem os professores tornar-se os “novos agentes da esperança”, para utilizar uma expressão sua?
Eu não estou optimista acerca do futuro, mas tenho esperança. A diferença entre o optimismo e a esperança é que o primeiro não se conjuga com luta, a esperança sim. A luta é um aspecto constitutivo da esperança. Nós lutamos por uma oportunidade de construir um mundo melhor e alguns de nós têm uma visão utópica abstracta do mundo que poucas ou nenhumas semelhanças tem com o mundo confuso das relações sociais em que vivemos. Para mim, a esperança está estreitamente relacionada com aquilo que designo por uma utopia concreta, com lutas reais que
ocorrem um pouco por todo o mundo, nomeadamente pela garantia do acesso público a bens básicos universais, como a água.
Mas como podem os professores no seu quotidiano serem agentes dessa esperança?
Eles têm necessariamente de sê-lo, porque têm de se envolver naquilo que se passa no mundo. Na minha universidade sou visto como um extremista. Todos os meus colegas são bons liberais, acreditam na justiça social. A maior parte dos professores que leccionam em escolas de educação acreditam habitualmente nesses valores. Querem um mundo menos racista, sem sexismo, onde as pessoas tenham acesso universal aos bens básicos. São todas boas pessoas nesse sentido. Mas ao mesmo tempo vivem uma espécie de amnésia social, uma grande recusa em interiorizar a relação entre os privilégios de que usufruímos nos Estados Unidos e o sofrimento de milhões de pessoas por esse mundo fora, que está na base de boa parte do nosso modo de vida, do nosso consumo exacerbado. Esquece-se facilmente como as grandes corporações, os nossos exércitos da noite, as nossas guerras imperialistas saquearam os recursos de outros países. Há uma grande recusa em olhar para a nossa história de sangue, fundada em violência, de extermínio dos povos indígenas, de conflito com as classes trabalhadoras, de privilégios para as classes dominantes à custa dos desfavorecidos nas escolas e nas universidades. E esta é uma perspectiva que precisamos de interiorizar se queremos ser cidadãos críticos. A pedagogia crítica procura precisamente criar as bases para a emergência de cidadãos críticos, que confrontam essa História de uma forma realista e honesta de forma a mudar o rumo do país, fazendo dos Estados Unidos um agente global para a paz e prosperidade por oposição ao seu papel de anjo da morte.
Transcrevemos aqui um excerto da longa entrevista conduzida por Ricardo Jorge Costa, na Página da Educação
De que forma podem os professores tornar-se os “novos agentes da esperança”, para utilizar uma expressão sua?
Eu não estou optimista acerca do futuro, mas tenho esperança. A diferença entre o optimismo e a esperança é que o primeiro não se conjuga com luta, a esperança sim. A luta é um aspecto constitutivo da esperança. Nós lutamos por uma oportunidade de construir um mundo melhor e alguns de nós têm uma visão utópica abstracta do mundo que poucas ou nenhumas semelhanças tem com o mundo confuso das relações sociais em que vivemos. Para mim, a esperança está estreitamente relacionada com aquilo que designo por uma utopia concreta, com lutas reais que
ocorrem um pouco por todo o mundo, nomeadamente pela garantia do acesso público a bens básicos universais, como a água.
Mas como podem os professores no seu quotidiano serem agentes dessa esperança?
Eles têm necessariamente de sê-lo, porque têm de se envolver naquilo que se passa no mundo. Na minha universidade sou visto como um extremista. Todos os meus colegas são bons liberais, acreditam na justiça social. A maior parte dos professores que leccionam em escolas de educação acreditam habitualmente nesses valores. Querem um mundo menos racista, sem sexismo, onde as pessoas tenham acesso universal aos bens básicos. São todas boas pessoas nesse sentido. Mas ao mesmo tempo vivem uma espécie de amnésia social, uma grande recusa em interiorizar a relação entre os privilégios de que usufruímos nos Estados Unidos e o sofrimento de milhões de pessoas por esse mundo fora, que está na base de boa parte do nosso modo de vida, do nosso consumo exacerbado. Esquece-se facilmente como as grandes corporações, os nossos exércitos da noite, as nossas guerras imperialistas saquearam os recursos de outros países. Há uma grande recusa em olhar para a nossa história de sangue, fundada em violência, de extermínio dos povos indígenas, de conflito com as classes trabalhadoras, de privilégios para as classes dominantes à custa dos desfavorecidos nas escolas e nas universidades. E esta é uma perspectiva que precisamos de interiorizar se queremos ser cidadãos críticos. A pedagogia crítica procura precisamente criar as bases para a emergência de cidadãos críticos, que confrontam essa História de uma forma realista e honesta de forma a mudar o rumo do país, fazendo dos Estados Unidos um agente global para a paz e prosperidade por oposição ao seu papel de anjo da morte.
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