terça-feira, 29 de julho de 2008

No blogue Anterozóide

Pedalar contra a “Má Educação” de Sócrates


António Morais, professor e dirigente do Sindicato de Professores da Região Centro (SPRC), escolheu percorrer 700 quilómetros de bicicleta em protesto contra as políticas de educação do Governo de Sócrates, na iniciativa «Trilhos de Esperança». Saiu esta segunda-feira da escola EB 2/3 de Melgaço e pretende chegar a Vila Real de Santo António no próximo dia 22 de Agosto.
[...]
O professor da região de Aveiro sugeriu à Fenprof o cicloturismo como forma de protesto. Não se importou de abdicar de um mês das suas férias para poder encabeçar, sozinho, o protesto pelos principais pontos do país em solidariedade com os colegas professores. «Abdico das minhas férias com alegria», acrescentou.
António Morais quer chamar a atenção para as condições de vida de exercício da profissão de professor e educador. «Existe um enorme esforço de adaptação que anteriormente era só nos primeiros anos de carreira mas, para quem começa agora, vai ser toda a vida a saltar de um lado para o outro», revelou ao PortugalDiário.
[...]
«Num momento em que as notícias sobre educação são postas em segundo plano é importante que as pessoas não se esqueçam. É neste período mais morno que tentamos fazer a ponte entre este ano que acabou e o próximo ano lectivo. Temos que manter as coisas em 'banho-maria'».

Vê mais sobre esta acção no site do SPRC

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Eu cá sou bom

Não, não foi o meu ego que inchou ainda mais devido ao calor do verão. Também não é um desvario típico da silly season provocado pelo relaxamento. Nem sequer uma homenagem deslocada aos Xutos e Pontapés. Esta frase é apenas o culminar de uma outra silly season, mais duradoura, que foi este primeiro tempo da avaliação de professores. E a frase que sintetiza a “minha” “avaliação” não começa sequer a indicar a estupidez desta forma de avaliação “reduzida” que a ministra da educação insistiu que se fizesse em modelo diferente do que já acontecia, apenas para poder afirmar politicamente que mudou alguma coisa. Pois mudou. E para pior. Para menos sério.
Preenchida uma grelha com um conjunto de itens que não seriam avaliados, foram tomados em conta três pontos relativos ao serviço distribuído: serviço lectivo, outro serviço distribuído, apoio aos alunos. O resultado foi um sete numa escala até dez. Um resultado que é uma fraude. Na verdade, podia ter começado por escrever que todos os professores avaliados na escola onde leccionei este ano são bons. Porque fomos todos avaliados artificialmente com o mesmo número, aparentemente a pensar numas futuras quotas não sei do quê. Somos todos bons. Quem queria fazer hierarquias acabou por se contentar com uma tábua rasa que não tem processos de auto-verificação…
Mas não me chateei com este resultado da avaliação, nem com o seu “igualitarismo” (na escola em que leccionei, outras adoptaram outras regras). É o discurso ministerial da avaliação e do suposto rigor que me chateia. Esse rigor que é apenas uma grelha na cabeça de um burocrata.
Eu cá sou bom… Mas depois deste processo de avaliação e dos processos passados e futuros (se o modelo do governo realmente se impuser) não posso dizer que seja um professor melhor por ter sido e por ir ser avaliado. E uma avaliação só fazia sentido se não fosse uma farsa para governante lavar a cara, se não fosse um pretexto para reter pessoas na sua carreira, mas se fosse uma forma de nos compreendermos melhor como profissionais, de alterar práticas, de aprender e de ensinar melhor.

Carlos Carujo, Elvas

Gelatina


Quando vamos para o jardim-de-infância dizem-nos: "A mãe já vem". E a mãe volta daí a sete horas. Na primária, ao fim de quatro anos, fazem-nos acreditar que sabemos fazer contas, ler e escrever, mas quando enviamos uma carta para a Ana Maria Magalhães e para a Isabel Alçada a dizer que queremos publicar um livro, elas dizem-nos que primeiro devemos praticar muito a escrita, tanto quanto um jogador de futebol que nunca falta aos treinos. Mudamos de escola.

Avançamos nos estudos. Temos um objectivo bem claro: ser finalista. Ser aluno do 9º ano, no colégio, significava ser monitor dos pequenos, fazer os trocos no bar e poder ir à FIL, à capital, descobrir a nossa vocação.

Com a descoberta da vocação vem um novo ciclo de estudos. Agora, o objectivo é chegar ao 12º ano com uma média boa. Sonha-se com a entrada na universidade: oxalá se ingresse naquela que foi a nossa primeira opção. E a faculdade traz-nos as ilusões de uma carreira vida fora. Evita-se a época de Setembro, compete-se, percebe-se que a nossa média nunca foi tão importante. Acredita-se que é uma décima a mais depois da vírgula que há-se garantir-nos emprego.

Decoramos, face à pauta, o nome inteiro dos nossos pares e rivais nem que tenham sete apelidos: Ana Catarina Paiva Pessoa Pires Ramos Pinheiro da Cunha. Voltamos a encontrar este nome, anos depois de fazer o estágio, nas listas provisórias e depois nas listas definitivas de colocação. Nesta altura, também já sabemos o nome completo de uma série de pessoas que não conhecemos nem nunca vimos. Há quem investigue um candidato dois ou três lugares acima ou abaixo de si e lhe conheça a data de nascimento, o número de anos de serviço e o grau de paixão que nutre pelo parceiro, paixão esta que será decisiva na escolha ou na exclusão do concelho da candidatura – onde o rapaz, ou a rapariga, tem casa em Odemira. Há quem conheça gravidezes de risco, filhos com síndromes feitos de nomes estrangeiros, sogros acamados ou pais definitivamente condenados e tenha, por isso, a certeza de que aquela escola no distrito de Coimbra há-de apresentar uma vaga que, se Deus quiser, há-de ser preenchida por si.

Aos 22 anos acredita-se que aos 30 se estará efectivo e que a docência é a síntese do que pode ser uma colónia de férias com uma missão em África. Aos 32 anos, ainda contratados, sabe-se que dificilmente chegaremos ao topo da carreira, coloca-se a hipótese de um dia abandonar o Ensino e acredita-se na possibilidade de uma vida paradisíaca longe de uma profissão onde cada vez mais se deixa de ensinar e se passa a preencher papéis e onde as promessas dão lugar às advertências. A única certeza que se tem é que, na cantina da nossa escola, às terças, há gelatina.
Mas ainda assim se insiste porque estamos irremediavelmente apaixonados por tudo isto… mas não sabemos.

Almerinda Pereira

Artigo publicado em Escola.Info, no site do SPGL

sexta-feira, 25 de julho de 2008


No blogue anterozóide.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Pais contra aulas em contentores


Os pais de 16 crianças da escola do primeiro ciclo de Ribeira de Pedrulhos, no concelho de Torres Vedras, manifestaram-se contra o encerramento do estabelecimento e a transferência dos alunos para contentores.

Os encarregados de educação estão descontentes com a solução da autarquia de encerrar a escola e transferir os alunos para contentores, na sede do agrupamento, uma vez que as obras da nova escola ainda decorrem até Dezembro.

Lê a notícia no JN

terça-feira, 22 de julho de 2008

Número de professores por turma: Que tal começar pelo princípio?


Os alunos do 2º ciclo do ensino básico deverão ter menos professores por turma a partir do próximo ano lectivo, de acordo com um despacho, publicado esta segunda-feira em Diário da República, que define novas regras para a distribuição de serviço aos docentes. O documento estabelece que cada professor deve leccionar à mesma turma mais do que uma disciplina, assegurando o ensino das áreas associadas ao seu grupo de recrutamento como Matemática e Ciências da Natureza ou Português e História.

Na verdade, se as boas práticas parecem recomendar que é prejudicial um número excessivo de professores no 2º ciclo, também é verdade que a monodocência no 1º ciclo é redutora e amiga da privatização de vastas áreas do currículo. E é de pequenino que se torce o pepino. Pelo princípio é que se começa....Estranha sensação esta que as boas medidas pedagógicas do ministério só são tomadas quando se conjugam com uma redução de custos.

A este propósito leia um post anterior, que inclui a opinião de Ramiro Marques:

Quantos professores deve ter um aluno?

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Autoridade para as Condições do Trabalho não se mete com a Ministra


Em Maio deste ano a Fenprof enviou uma exposição à Autoridade para as Condições do Trabalho exigindo a regularização da situação laboral dos cerca de 15 mil docentes que trabalham (ou trabalhararam...porque entretanto muitos foram despedidos) nas Actividades de Enriquecimento Curricular. Na resposta, a referida entidade diz que o seu âmbito de competências cinge-se apenas ao sector privado e que como tal, qualquer esclarecimento terá de ser solicitado pelos interessados directamente ao Ministério da Educação. É caso para dizer: Ninguém pára a Ministra!

Vê a notícia toda no
site do SPGL

(imagem do blogue anterozóide)

sábado, 19 de julho de 2008

Contratados e desempregados em luta

Os professores contratados e desempregados do distrito de Portalegre marcaram o último dia dos concursos com um plenário organizado pelo SPZS. Neste plenário foi aprovada a seguinte moção que depois foi entregue por uma delegação ao Governador Civil.


MOÇÃO

No final deste ano lectivo os docente constatam que a precariedade aumentou, que as condições de trabalho pioraram, que o custo de vida aumentou e que os vencimentos não acompanharam esses aumentos. Estamos a entrar num período de férias que deveria ser de descanso, mas que é o período que o governo pretende que seja o de análise das propostas de revisão do código do trabalho que irão também afectar para pior os professores e educadores contratados.
Ano após ano os concursos são o ritual de precariedade e de desemprego a que não nos habituamos. A cada ano as novidades parecem não nos aproximar da vinculação: as formas de instabilidade aumentam e aprofundam-se. Temos a fase normal do concurso, as cíclicas, as ofertas de escola. Temos o contrato administrativo de provimento, o contrato a termo resolutivo e os recibos verdes.
Estamos tão longe do discurso de que “os professores iam ficar três ou quatro anos na mesma escola”. Quantas vezes tiveram, muitos de nós, de responder que queríamos ficar aqui mas não nos deixam? O que podemos fazer para alterar isto? Sabemos também que cada vez há mais de entre nós que não ficam de todo, que são excluídos do ensino.
E se a aposta na precariedade parece ser para ficar, será que podemos permitir-nos a ser mais teimosos que ela? E no entanto, nós continuamos. Ano após ano. Ficamos. Insistimos que é possível ensinar no distrito de Portalegre.
Este ano paira mais uma nuvem no horizonte: a prova de ingresso na profissão docente. Por isso denunciamos a sujeição de milhares de docente a esta "prova de avaliação de conhecimentos e competências" mais não visa do que, através de um procedimento artificial, diminuir o número dos que o Ministério da Educação reconhece como professores, ocultando o altíssimo desemprego que atinge este grupo profissional. Desta forma, com uma "manipulação" dos números do desemprego, reduziria a pressão política e social que provoca.
Falamos de milhares de jovens que completaram com êxito cursos do ensino superior, a esmagadora maioria em áreas dedicadas precisamente à formação inicial de professores e educadores.
Candidataram-se e matricularam-se nesses cursos porque são reconhecidos e certificados como cursos de formação para a docência.
São jovens (e suas famílias) que investiram esforço pessoal e meios na frequência de cursos que os preparavam para serem professores ou educadores.
Tiveram êxito nas provas exigidas, demonstrando que estavam à altura do oficialmente requerido para o exercício da profissão, o que incluiu, até, a realização de estágio pedagógico.
São detentores de qualificações profissionais, de acordo com o que é determinado pela própria Lei de Bases do Sistema Educativo. Milhares destes docentes já têm até serviço prestado como professores e correm agora o risco de serem apanhados na armadilha que o Ministério da Educação (ME) concebeu.
Se um dia conseguirem ingressar na carreira, apesar de todas as barreiras que estão criadas, serão sujeitos a um período probatório de duração mínima de um ano escolar que, segundo o próprio ME, "destina-se a verificar a capacidade de adequação do docente ao perfil de desempenho profissional exigível" (Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de Janeiro).

Num país em que o insucesso e o abandono escolares persistem e em que, por exemplo, as baixas qualificações continuam a ser um gravíssimo problema, existem cerca de trinta e cinco mil docentes no desemprego ou que têm de recorrer a outras ocupações em que as suas qualificações profissionais acabam por ser desperdiçadas. É um enorme problema que se arrasta e se agrava com as medidas tomadas pelo actual governo que quer, agora, introduzir um "dispositivo" de ocultação da sua verdadeira dimensão.
Muito preocupante é, ainda, o facto de existirem estudos (Universidade de Aveiro) que evidenciam que a situação que hoje o ME considera de excesso de professores se inverterá, num futuro não muito distante, para uma situação de carência de recursos docentes. Com medidas penalizadoras como a da "prova de ingresso", o Governo mais não faz do que antecipar o cenário, comprometendo o futuro do País. E, no presente, nega também o futuro dos jovens professores e educadores.

A consciência desta situação leva os docentes reunidos em plenário, em Portalegre a 18 de Julho, a:
- insistir na necessidade de revogação imediata do Decreto Regulamentar n.º 3/2008, de 21 de Janeiro, bem como na alteração da redacção dos artigos 2º e 22º do Estatuto da Carreira Docente, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de Janeiro, que lhe deram origem. Esta é também a exigência de milhares de professores e educadores de infância dos quais seis mil subscreveram a "Carta Contra a Prova de Avaliação de Conhecimentos e Competências", maioritariamente visados pela citada prova. É feita também em uníssono com os mais de cem mil professores e educadores portugueses que, no dia 8 de Março, na Marcha da Indignação, exigiram a renegociação do ECD também com este propósito.;
- exigir que num próximo concurso haja uma vinculação dinâmica dos professores contratados, para satisfazer as necessidades permanentes do sistema com professores em lugares de quadro;
- não seja aprovada a revisão do código do trabalho proposta pelo governo e se negoceie uma revisão do código do trabalho que sirva os interesses dos professores e de todos os trabalhadores e que traga estabilidade e dignidade a todos.

Portalegre 18 de Julho de 2008

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Professores devem assumir o papel de “novos agentes da esperança”


Nascido em Toronto, no Canadá, em 1948, Peter McLaren é considerado por muitos autores não só como o mais conceituado professor de ciências sociais da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), mas também como o mais polémico. Tem sido conferencista convidado em inúmeras universidades norte-americanas, latino-americanas e europeias, onde aborda de uma perspectiva transdisciplinar quatro áreas pelas quais ficou conhecido internacionalmente: a pedagogia crítica, a educação multicultural, a etnografia crítica e a teoria crítica.

Transcrevemos aqui um excerto da longa entrevista conduzida por Ricardo Jorge Costa, na Página da Educação


De que forma podem os professores tornar-se os “novos agentes da esperança”, para utilizar uma expressão sua?

Eu não estou optimista acerca do futuro, mas tenho esperança. A diferença entre o optimismo e a esperança é que o primeiro não se conjuga com luta, a esperança sim. A luta é um aspecto constitutivo da esperança. Nós lutamos por uma oportunidade de construir um mundo melhor e alguns de nós têm uma visão utópica abstracta do mundo que poucas ou nenhumas semelhanças tem com o mundo confuso das relações sociais em que vivemos. Para mim, a esperança está estreitamente relacionada com aquilo que designo por uma utopia concreta, com lutas reais que
ocorrem um pouco por todo o mundo, nomeadamente pela garantia do acesso público a bens básicos universais, como a água.

Mas como podem os professores no seu quotidiano serem agentes dessa esperança?

Eles têm necessariamente de sê-lo, porque têm de se envolver naquilo que se passa no mundo. Na minha universidade sou visto como um extremista. Todos os meus colegas são bons liberais, acreditam na justiça social. A maior parte dos professores que leccionam em escolas de educação acreditam habitualmente nesses valores. Querem um mundo menos racista, sem sexismo, onde as pessoas tenham acesso universal aos bens básicos. São todas boas pessoas nesse sentido. Mas ao mesmo tempo vivem uma espécie de amnésia social, uma grande recusa em interiorizar a relação entre os privilégios de que usufruímos nos Estados Unidos e o sofrimento de milhões de pessoas por esse mundo fora, que está na base de boa parte do nosso modo de vida, do nosso consumo exacerbado. Esquece-se facilmente como as grandes corporações, os nossos exércitos da noite, as nossas guerras imperialistas saquearam os recursos de outros países. Há uma grande recusa em olhar para a nossa história de sangue, fundada em violência, de extermínio dos povos indígenas, de conflito com as classes trabalhadoras, de privilégios para as classes dominantes à custa dos desfavorecidos nas escolas e nas universidades. E esta é uma perspectiva que precisamos de interiorizar se queremos ser cidadãos críticos. A pedagogia crítica procura precisamente criar as bases para a emergência de cidadãos críticos, que confrontam essa História de uma forma realista e honesta de forma a mudar o rumo do país, fazendo dos Estados Unidos um agente global para a paz e prosperidade por oposição ao seu papel de anjo da morte.

Metade dos professores tem mais de 100 alunos


Caros autores do blogue Movimento Escola Pública Democracia e Igualdade,
Escrevo-lhes aproveitando o contacto do vosso blog Movimento Escola Pública, que se tem destacado como espaço de debate das questões de política educativa e do estado da educação.

Gostaria por isso de aproveitar para divulgar os resultados de Os Desafios da Escola Pública – Inquérito a educadores e professores sobre as condições de exercício da actividade docente, que o Bloco de Esquerda promoveu neste primeiro semestre, e que contou com a colaboração de mais de 3 mil docentes.

Envio-lhes, pois, o documento final (em anexo), bem como o link onde ele pode ser consultado: http://beparlamento.esquerda.net/media/inqescola.pdf


Os dados apurados permitem ter uma imagem bastante elucidativa do que são hoje as dificuldades actuais no exercício da docência: 5 em cada 10 professores tem a seu cargo mais 100 alunos; cerca de um quarto dos professores que responderam ao inquérito lecciona a três ou mais anos de escolaridade. Por outro lado, as respostas indicam que os professores gastam em média 46 horas semanais na sua actividade profissional – muito mais, portanto, do que as 35 horas “oficiais”.

Porque acreditamos que estes dados mostram dimensões centrais da vida quotidiana da escola pública que tendem a nunca ser abordadas no debate político, estamos a tentar divulgá-los, tanto quanto possível. Saber como trabalham hoje os professores da escola pública – conhecer as dificuldades e os estrangulamentos da organização do trabalho docente – pode e deve servir de base à discussão das diferentes soluções e propostas políticas. Aqui fica, pois, o convite para que, se assim entenderem, disponibilizem estes dados aos leitores do vosso blog.

Espero também as vossas sugestões, ou os comentários que este inquérito e o “estado da educação” lhes possam suscitar.

Grata pela vossa atenção,
Ana Drago
Deputada do Bloco de Esquerda

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Actividades de Enriquecimento Curricular


O Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL) elaborou um estudo sobre as Actividades de Enriquecimento Curricular no 1º Ciclo do Ensino Básico. Neste estudo foram tratados inquéritos de 248 respondentes, docentes destas actividades, e 28 Câmaras Municipais (de um total de 49 existentes na área de actuação do SPGL – grosso modo as regiões de Lisboa, Setúbal, Santarém e Oeste).

Da informação recolhida junto dos docentes destas Actividades destaca-se:

A esmagadora maioria dos docentes das AEC trabalha em condições de extrema precariedade:

93% está numa situação de, na sua maioria, falsos “recibos verdes” – contratos de prestação de serviços;

Têm horário de trabalho bem definido, numa base semanal, embora, na maioria dos casos, com poucas horas:
Só 34% trabalham 15 ou mais horas;
20% trabalham de 12 a 15 horas;
28% trabalham entre 9 e 12 horas;
14% trabalham de 6 a 9 horas;

As entidades contratantes são:
Em 62% dos casos empresas
Em 18% Câmaras Municipais
Em 13% Associações de Pais
Em 7% outras entidades (IPSSs, Juntas de Freguesia, ESEs)

Os vencimentos são calculados, regra geral, numa base horária e situam-se, em 58% dos casos entre os 10 e os 12€.
20% Aufere menos de 10€ / hora
22% Aufere mais de 12€ / hora.

Estes monitores são ainda obrigados a leccionar muitas vezes em mais do que um local de trabalho e sempre com mais do que uma turma:
Só 38% destes profissionais têm um único local de trabalho
62% Trabalham em duas ou mais escolas.
De salientar que 19% trabalham em mais de 3 locais, sendo que 95% dos docentes não recebe qualquer contrapartida pelas deslocações que são obrigados a efectuar.

O estudo completo pode ser visto aqui e aqui

O Sindicato dos Professores do Centro também elaborou um estudo que chega a conclusões muito semelhantes: pode ser visto aqui e aqui

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Professores e rankings escolares


"Confrontados com a necessidade de "desenvolverem plenamente os estudantes num mundo social e profissional fortemente hierarquizado e dominado pela ideia de performance" (Valentim, 1997, p.75), os docentes do ensino secundário têm, na verdade, de gerir diariamente no seu ofício várias imposições contraditórias: por um lado, promoverem o desenvolvimento integral dos discentes, dado que esta norma oficial é dirigida a todos os professores, independentemente dos ciclos de escolaridade que leccionam; por outro, avaliar «objectivamente» os estudantes através dos testes e provas escolares. Ora, se a primeira tarefa apela para a função não hierarquizadora da escola, as avaliações dos alunos conduzem inevitavelmente à hierarquização e selecção escolar (Perrenoud, 1999). "

Leia o artigo de Maria Benedita Portugal e Melo - "Representações dos professores do ensino secundário a propósito dos rankings escolares" - publicado na revista Vírus de Julho/Agosto.

Proposta para derrotar este modelo de avaliação


Nota Introdutória
Colegas, ao longo da marcha da humanidade, desde a antiguidade, ficou demonstrado que a inteligência vence sempre a força bruta, a arrogância e a prepotência. Mesmo quando esta força bruta consegue alguma pretensa vitória, ela é sempre efémera e os valores de justiça e solidariedade acabam por se impor.
100 000 professores manifestaram-se no dia 08 de Março de 2008, numa "marcha da indignação" contra um governo e uma equipa ministerial que, desde 2005, nada mais tem feito que desvalorizá-los, humilhá-los, desautorizá-los e manipular a opinião pública contra eles.
Nunca os verdadeiros interesses do Ensino Público, da qualificação, da formação e da valorização dos recursos humanos foram o principal objectivo desta equipa ministerial e deste governo.
É hoje notório que este ministério da educação foi empossado com dois objectivos políticos prioritários: o primeiro, era o de criar mecanismos administrativos que impedissem a maior parte dos professores de progredir na carreira, e, portanto, poupar milhões e milhões de euros aos cofres do estado; o segundo, era o de criar uma máquina propagandística que fizesse crer à opinião pública que o insucesso estava a diminuir drasticamente devido à sua acção, o número de alunos estava a aumentar nas escolas e por último que se apostava em grande na qualificação dos recursos humanos.
Nada mais falso… O insucesso não diminui por decreto. Assim como os acidentes rodoviários nunca diminuirão por decreto, mas antes pelo aumento da educação e civismo dos cidadãos, aliados a medidas de prevenção rodoviária ao longo de dezenas de anos. Também o insucesso escolar é fruto entre outros, do tipo de formação cultural e da estrutura socioeconómica da nossa população. Querer resolver o insucesso escolar em três ou quatro anos é mera questão propagandística que se baseia numa pressão intolerável sobre os professores, para que estes, administrativamente, acabem com ele.
As estatísticas podem dizer que o insucesso está a diminuir, mas o conhecimento, a educação, os valores e a civilidade estão claramente num plano inclinado descendente, nas nossas escolas e na sociedade, porque essas não são as prioridades deste ministério nem deste governo.
Relativamente ao aumento do número de alunos nas escolas, ele é meramente conjuntural, e, se bem que muito positivo, ele não representa uma vaga de fundo que contrarie o abandono escolar por motivos económicos e educacionais, cujas causas não estão na escola, mas na sociedade e nos seus graves problemas.
Quanto à qualificação dos recursos humanos, o exemplo de toda a falsidade da política deste governo e deste ministério são as "Novas Oportunidades". Não há, nem nunca houve, maior traficância de habilitações literárias em Portugal, do que o programa "Novas Oportunidades".
Dezenas de milhares de portugueses com a antiga "quarta classe" ou pouco mais do que isso, são habilitados com o nono ano, em apenas três meses. Nada de transcendente aprendem que verdadeiramente os qualifique, mas preenchem as estatísticas que em 2009 serão exibidas em época de eleições, como um passo fundamental no progresso futuro do país… Ó Portugal que tão mal vais…
Mas o que se passa nas "Novas Oportunidades" a nível do secundário é muito mais grave. Dezenas ou centenas de milhar de candidatos provenientes das "Novas Oportunidades" do terceiro ciclo, lançam-se na aventura de conseguirem o diploma do décimo segundo ano. É legítimo. Pois se fazer o terceiro ciclo foi tão fácil porque não continuar?
O problema reside, mais uma vez, em que nada de importante e qualificante (excepto nos de dupla certificação) é fornecido a estes candidatos, e eles lá vão escrevendo as suas histórias de vida, onde, muito a custo, os formadores vão descortinando as mais bizarras competências que lhes atribuirão o 12º ano.
São estas as coroas de glória desta ministra e deste governo ???
Nós que estamos por dentro deste processo dizemos… "que DEUS nos acuda".
A actual legislação sobre a avaliação dos professores não é um fim em si mesma, ela é, apenas, um elo de uma cadeia legislativa que começou com o estatuto da carreira docente e tem por fim último, como dissemos atrás, impedir a maioria dos professores de progredir na carreira.
Depois da marcha da indignação, Sócrates assustou-se e reorganizou a estratégia. A ministra politicamente está morta, no entanto, enquanto cadáver político, ela está incumbida de levar até ao fim a missão de aplicar, na prática, estes diplomas, depois … irá à sua vida….
As instruções foram para que o discurso fosse "adocicado", parassem os insultos públicos à classe docente (havia que calar Valter Lemos), ceder em questões pontuais de pouca importância e manter inalterável o núcleo duro da avaliação, custe o que custar.
Nós, professores, consideramos fundamental a avaliação. Fazemos ponto de honra disso. Ela é um instrumento crucial de valorização e de reafirmação da qualidade do nosso trabalho.
Somos os primeiros a exigir uma avaliação digna, isenta, rigorosa, valorativa e formativa na perspectiva da ultrapassagem de dificuldades.
Mas como todos já percebemos… a ministra não cede…nem cederá…(???)
A sua estratégia é simples… e pretensamente eficaz!!! Atribuir ás escolas e aos professores a responsabilidade de se auto e hetero-avaliarem (diria talvez, se auto e hetero-crucificarem).
A estratégia é velha e já foi aplicada no estatuto da carreira docente. Dividir para reinar. Ela ficará de fora, cantando e rindo e, em 2009, com uma classe profissional, das mais qualificadas que existe no país, completamente esfrangalhada, dirá "…estão a ver que afinal não custou nada, eu afinal é que tinha razão!!!"
Como aliás diz das aulas de substituição, com a sua infindável demagogia, que só não engana quem está dentro do sistema e sabe bem o que por cá se passa.
Os sindicatos, forças importantes na condução da luta dos professores, estão a chegar a um beco sem saída, onde as alternativas escasseiam.
Resta-nos a nós, professores, num quadro de unidade continuar a luta que iniciámos com as manifestações e que podemos levar mais longe duma forma eficaz.

QUE ESTRATÉGIA ADOPTAR ?
A mesma que Gandhi adoptou contra o todo poderoso Império Britânico, aplicando o célebre princípio… "contra a força… haja resistência… passiva".
Ou seja:
1º. A ministra quer que sejam as escolas a criar os seus próprios instrumentos de avaliação…
2º. Que sejam as escolas a adoptar os seus próprios calendários…
3º. Que sejam professores a avaliar outros professores…

ESTRATÉGIA:
1º . Braços caídos… nada fazer…
2º . Protelar indefinidamente a elaboração dos materiais
3º . Negar-se a avaliar…
4º . Negar-se a ser avaliado desta forma…
5º Criar um ambiente de calma nas escolas… Deixar que seja a ministra a enervar-se…
6º. Deixar que tudo vá correndo sem que nada seja feito…
7º . Resistência passiva…sempre… sempre…sempre…
Que pode a ministra fazer fazer-nos ?
Instaurar processos disciplinares a 140 000 professores ? Assim seja !!!
Esta é a minha proposta.
Aplicar os princípios de Gandhi a esta avaliação.

NOTA FINAL
Chamaria a atenção para aqueles "colegas" que "mais papistas que o papa" querem mostrar serviço, desejosos que reparem neles, provavelmente esperançados em benesses em futuras directorias das escolas, ou quem sabe, em futuros cargos políticos, sabe-se lá... O seu entusiasmo em fazer cumprir aquilo que está errado e que afronta toda a classe, não é um bom exemplo pedagógico e, já agora, lembrar-lhes-ia o episódio da História das Guerras Lusitanas, quando aqueles que, por meia dúzia de moedas, assassinaram Viriato à traição, as foram receber junto do Senado Romano, lhes foi dito que "…Roma não paga a traidores". Para bom entendedor…

Francisco da Silva
Professor
francis1000.silva@gmail.com

Não há cosmética que mascare a crua realidade


"Portugal é dos países europeus com piores resultados em abandono escolar e onde menos alunos completam o secundário, revela um relatório da União Europeia sobre os objectivos para a Educação até 2010, definidos na Estratégia de Lisboa.

O relatório de 2008 sobre os sistemas de educação da União Europeia é baseado num conjunto de dezasseis indicadores e cinco valores de referência e «confirma passos lentos mas consistentes» no conjunto da UE através da comparação de 18 países em áreas consideradas chave, como a conclusão do ensino secundário, o abandono escolar, a falta de competências de literacia, formação em matemática, ciências e tecnologias e participação de adultos em programas de aprendizagem ao longo da vida.

De acordo com o documento divulgado, Portugal e Malta são os piores no que refere ao abandono escolar, com taxas de 36,3 por cento e 37,6 por cento, respectivamente, em 2007. Neste campo, os melhores resultados foram obtidos pela República Checa, Polónia e Eslováquia, todos com taxas abaixo dos 10 por cento.

Também na conclusão do ensino secundário Portugal e Malta são os países com menos resultados, numa lista em que os melhores são, de novo, República Checa, Polónia, Eslováquia e Eslovénia.

Segundo o relatório, só 53,4 por cento da população portuguesa entre os 20 e os 24 anos completou o secundário."

Lê no site do Sol a notícia completa

terça-feira, 8 de julho de 2008

A gente lê e dá por nós a pensar

Professores e professoras terão de fazer do próximo ano um ano de luta pela preservação da escola pública e não poderão permitir que aquilo que é responsabilidade do Estado, das famílias, da escola, assente sobre a sua pele.

O insucesso e o abandono não são responsabilidade individual de nenhum professor ou professora. A avaliação só pode recair nas escolas como um todo, inserido num contexto. Elas devem ser responsabilizadas, na parte que lhes cabe, depois de terem levantado a realidade das crianças e jovens para as quais trabalham e depois de terem exigido aos poderes os meios de que carecem para ultrapassar os problemas. Só aí é que cada escola será responsabilizável pelo que não fez e podia ter feito pela qualidade do sucesso dos seus alunos e alunas.

Cecília Honório aqui

comentando a entrevista da Ministra, aqui

Galeria de Ministros de Educação de Portugal desde 1962 aqui

domingo, 6 de julho de 2008

Fim dos qzp? A precariedade certamente não acaba

O Ministério da Educação anunciou que os professores dos quadros de zona pedagógica (qzp) ficarão como quadros dos agrupamentos de escolas em que ficarem colocados. Aguardo para ver se isto abrangerá mesmo todos os qzp colocados e que armadilhas pode esconder a nova legislação. Aguardo para ver se os efectivos não colocados irão, mais tarde ou mais cedo, parar aos sistemas de mobilidade especial. As opiniões aqui colocadas são apenas baseadas em declarações de intenções dentro das quais pode caber muita coisa.
Ainda assim, poder-se-à dizer que, a concretizar-se esta medida nos moldes mais positivos possíveis, pode estar a chegar ao fim uma semi-precariedade totalmente injustificada. Dá-se assim razão a todos os que sempre afirmaram o óbvio: que estes professores tinham lugar definitivo dentro das escolas por onde passavam e que os quadros de escola estavam sub-dimensionados.
Saliente-se que este final dos qzp significa também que os quadros de escola parecem ter os dias contados. Daqui em diante as vinculações serão para os quadros de agrupamento. O que poderá ainda esconder outras consequências. Se têm lugar nas escolas porque não inclui-los nos quadros de escola? E com a municipalização crescente do ensino, quem criará/modificará no futuro agrupamentos? Serão os municípios a decidir? Com que leis serão geridos?
Saliente-se ainda que este tipo de vinculação pode gerar mais descontentamento, uma vez que muitos dos quadros de escola desterrados poderão sentir-se ultrapassados. A ver vamos.
Esta manobra justifica-se por razões eleitorais? Pode-se olhar para ela como fazendo parte das cedências desesperadas de final de mandato a que um governo desgastado foi obrigado. Mesmo deste ponto de vista, descontando o oportunismo eleitoralista, a medida só se compreende se olharmos para o que foram os intensos meses de luta dos professores. O governo cede a quem o obriga a ceder. E os professores provaram pelo número e pela razão poder obrigar o ME a ceder. E podem continuar.
Mas ainda que não estivéssemos em período pré-eleitoral, teríamos de olhar estas medidas do ponto de vista da luta dos professores sobre a questão concreta do ECD e da avaliação. Neste sentido trata-se de uma medida preventiva, apostada em esvaziar a conflituosidade que pudesse existir no próximo ano. É que se trocar esta semi-estabilização, sem dúvida com impacto imenso em muitas vidas, pelos meios suficientes para travar as progressões na carreira com o estatuto da carreira docente e pelas regras de avaliação dos professores, o ME ficará a ganhar no seu deve e haver. Esperemos que as contas que apostam na diminuição da luta dos professores saiam furadas. Penso que todos os professores têm consciência que ninguém lhes deu nada. Que tudo o que possam conquistar depende da força da sua luta contra este ME. E que o próximo ano lectivo será fundamental para definir o futuro a médio prazo do que será a profissão docente.
E convém não esquecer que, longe desta medida e dos discursos de estabilização, ficam como sempre os professores contratados. Necessários como sempre à escola. Excluídos desde sempre. Ao acabarem os qzp fica mais longe a promessa de alguma forma de estabilidade. Este anúncio soa como uma porta a fechar-se. E esta porta fecha-se no mesmo momento em que o governo escancarou as portas da escola a novas formas de precariedade incluindo mesmo os recibos verdes. E a ministra vai dizendo nas suas entrevistas que não gosta do concurso centralizado e deixando escapar que o futuro serão as autarquias…
A precariedade permanente e o desemprego de milhares de professores é para continuar. O fantasma das colocações sem regras claras e do amiguismo volta a cada momento.
Daqui a um mês e pouco voltamos à fila do desemprego. Depois disso não se sabe.

Carlos Carujo, Elvas.