terça-feira, 29 de setembro de 2009

Que valorização da politica na educação?


Só mesmo ironicamente pode ser lido o artigo de opinião da Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, publicado no JN de 18 de Setembro, com o titulo “Valorizar a política”, quando, sem uma única referência à educação, afirma que “O medo de hipotecar o futuro revela uma incapacidade para concretizar que prejudicará tanto as actuais como as futuras gerações, uma vez que nada construindo no presente, nada deixaremos como herança”.

É claro que a ministra quis desta forma manifestar publicamente a sua gratidão ao 1.º Ministro José Sócrates, que não a deixou cair, apesar de toda a gigantesca indignação à sua politica de desvalorização da escola pública. Mas que exemplo se pode rever na prática politica de Maria de Lurdes Rodrigues, para a valorização da politica, quando a obra que deixa na área da educação, é uma herança deveras inquietante para as futuras gerações, que irão ser as mais fragilizadas vitimas das consequências das sucessivas politicas em alternância democrática, que vêm contribuindo para descaracterizar a qualidade da escola e do ensino.

A actual ministra, que chegou ao final do seu mandato, graças aos tiques da arrogância politica ditada pela lógica das maiorias absolutas, assumiu encarar com particular empenho, o ataque neoliberal que caracteriza o ambiente em meio escolar, marcado essencialmente na base do fabrico de estatísticas e do pseudo sucesso.

O caminho imposto à escola a que estão cada vez mais resignados os docentes com vínculos demasiado precários, só pode resultar em viciar os alunos no facilitismo, cultivando consequentemente a preguiça e a ignorância, como um condenável atentado pedagógico já que aos profissionais do ensino resta a tarefa repetitiva, não de ensinar e treinar os alunos a pensar, mas de os levar a não pensar, privilegiando a aquisição de aprendizagens e competências, tendo em vista o mercado de trabalho e tantas vezes de forma desajustada.

A toda a politica de adulteração do papel milenar da escola, de preparação para a vida, junta-se todo o ataque que veio sendo feito contra os seus profissionais e as comunidades educativas em geral. O medo apoderou-se da escola, a precariedade é a marca dos mais novos professores, a instabilidade profissional é cada vez mais regra, a divisão da carreira acentua-se de forma nefasta, a sua dignidade foi atingida de forma impiedosa e intolerante, a gestão democrática das escolas retrocede. Eis os ingredientes que resultam de toda a estratégia do novo e contestado estatuto da carreira docente, que escancarou portas a monstruosidades como o rejeitado modelo de avaliação de desempenho dos docentes, que se viria a transformar num embuste. Perante tudo isto cinicamente a ministra, ainda acrescenta “Ambição e confiança são dois dos valores colectivos de que mais precisamos” ou seja insiste, ”A ambição, para ir mais longe na identificação de novos desafios para o nosso desenvolvimento colectivo. A confiança, para consolidar a convicção de que resolver esses desafios é possível, de que está ao nosso alcance construir e fazer avançar Portugal”.

Esqueceu-se estranhamente Maria de Lurdes Rodrigues, de referir neste texto, que a educação é fundamental para tal ambição e necessidade de confiança para fazer avançar o país, porque como é obvio o seu contributo só pode ficar na história ao lado dos sectores mais conservadores, contra o avanço e desenvolvimento de uma escola pública democrática, caminho que pouco valoriza a politica.

José Lopes (Ovar)

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