segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Aventuras do Pai Albino


Razão para perguntar: se o Pai Albino tivesse tido orientação vocacional precoce estaria hoje entre os sucateiros da educação, recusando a igualdade de oportunidades?

As propostas da Confap, de situar o início da orientação vocacional à entrada do actual 2.º ciclo, ou seja, a partir dos 10 anos, deixou de boca aberta os e as que ainda acham que, dentro e nas margens do PS, a igualdade de oportunidades pode ser um slogan mas ainda não está no lixo.

Albino entende que os/as alunos/as entram no 3.º ciclo (12 anos, portanto) para “frequentar a escola de acordo com a orientação vocacional»; ou seja, aos 12 anos já sabem se vão ser pedreiros ou professores universitários.

Infelizmente, ele tem uma certa razão: o sistema educativo português é dos que mais reproduz as desigualdades sociais e culturais de partida. Que tenha de ser com a bênção da Confap, de uma organização que se diz representar os pais e mães do país, é muito grave.

Nem aos 15 os alunos sabem, ou têm de saber, que curso do secundário escolher, quantas vezes nem aos 18, quanto mais aos 12.

O responsável da Confap aplaude que a actual retenção de mais alunos no sistema se faça à conta dos CEF, de uma oferta de 2.ª, que orienta vocações inexistentes e agrupa em turmas de, quantas vezes excluídos, todos os que, em nome dos problemas de aprendizagem são enxotados para os cursos de educação formação. Os professores esbracejam que, quantas vezes, não os conseguem aturar, cientes certamente que esta oferta junta a fome e a vontade de comer de um sistema que não foi capaz de prevenir, acompanhar, encontrar soluções para as crianças e os jovens de meios desfavorecidos.

Mas o pai Albino não só aplaude, como quer mais, e mais cedo, esquecendo tudo o que de decente se diz sobre as opções: as profissionalizantes são tão dignas quanto as outras se a sociedade assim as entender – e não é o caso – e só devem ocorrer quando o/a jovem tem a maturidade necessário para pensar e dizer: foi a minha escolha, é o meu projecto. Nestas circunstâncias, até os filhos do pai Albino podem e devem ser pedreiros…

Movimento Escola Pública

2 comentários:

Helena disse...

Nunca me teria passado pela cabeça que a Confap pudesse vir a tomar este tipo de posição.
Lembro-me muito bem das discussões tidas nos órgãos sociais da Confederação, entre um dos elementos de então, defensor do ensino 'em banda estreita' e de como, unanimemente (Albino Almeida incluído) nos indignávamos com os argumentos então usados. Para a Confap, o ensino deveria ser, obviamente, de 'banda larga' até ao secundário. E antes deste, era defendido pela Confap o acompanhamento dos alunos na escolha, devendo as vias existentes ser suficiente permeáveis entre si. Porquê? Porque era óbvio para todos nós, não só que uma grande parte dos jovens ainda não tinham, no fim do ensino básico, atingido qualquer espécie de maturidade vocacional, como ainda porque um bom acompanhamento técnico poderia travar algumas tentações de abandono, ou de integração numa via profissional, para entrada mais rápida no mercado de trabalho.
Então, na Confap, considerávamos que era nossa obrigação lutar pela igualdade de oportunidades.
Não sei o que leva agora o Presidente da Confap a tomar esta posição. Espero que não seja, à semelhança de outras vezes, o início da preparação para uma reforma curricular que, como se diz neste post, enxote para os cursos de educação formação, todos os miúdos que apresentem alguma dificuldade no seu percurso escolar e/ou que tenham famílias de vidas difíceis e consequentes baixas expectativas.

Unknown disse...

É por este tipo argumentos que me revejo em Marx.