sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A montanha pariu um rato


Tanto tempo à espera do parlamento e quando o parlamento decide, decide menos do que os compromissos e recuos já anunciados pelo governo. Assistimos a uma peça de teatro sobre a reconciliação eterna, com dois péssimos actores principais.

A hora não é, obviamente, de pessimismo. Nas últimas semanas o governo enfiou o rabo entre as pernas e recuou muito. Ouvir a ministra dizer que equaciona o fim da divisão da carreira (ainda que não saibamos o que isso significa exactamente) é obra das grandes, só possível depois de uma grande luta, levada a cabo por grandes lutadores. Saber que o Ministério já não vai penalizar a desobediência civil de milhares de professores é uma vitória histórica de toda a classe e da escola pública. Ouvir a ministra dizer que vai substituir o modelo de avaliação é uma conquista do bom senso sobre quem engole em seco uma azia do tamanho da burocracia que quis impor.

É verdade que este recuo é apenas um anúncio. E que ainda sobra o que não mereceu sequer um anúncio de recuo, como a eliminação da contagem para efeitos de concurso das menções de “muito bom” e “excelente” atribuídas no âmbito deste modelo de avaliação.

Era exactamente para fazer dos anúncios de recuo um autêntico recuo e para fazer recuar onde o governo ainda não recuou, que o parlamento tinha uma importância decisiva. Mas o PSD, com a bênção do PS, esvaziou a Assembleia. Primeiro, porque o que foi aprovado é apenas um projecto de resolução, com carácter não vinculativo mas apenas “recomendativo”. Em segundo lugar, porque não suspendendo o modelo de avaliação é o governo que fica com o queijo na mão no meio da negociação. E em terceiro lugar, porque as parcas notas de excelência já atribuídas, em muitos casos de forma arbitrária ou clientelar, podem originar uma desigualdade inaceitável entre os professores que vão a concurso.

O PSD cedeu aos encantos de sereia do PS porque o seu campeonato nunca foi a luta dos professores. Limitou-se ao zigue-zague posicional caindo em cada momento para onde vão algumas modas. Porque a luta das ruas nunca comoveu quem pior nos faria se pudesse.

Mal o menos, a hora é de optimismo. Se nesta longa luta este dia não nos deu grande empurrão, os de ontem muito valeram e os de amanhã têm muita força para isso.

Miguel Reis

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