quarta-feira, 3 de março de 2010

Ensino privado: algum merece repulsa


(A propósito das notícias informando que o ensino está em expansão e o público em retracção)

No ensino privado há realidades muito distintas. Há colégios e instituições que prestam inequivocamente um serviço público superando assim algumas debilidades do sistema público. É o caso de numerosas IPSS com as suas creches e infantários, é o caso de colégios em zonas onde não foram construídas escolas públicas, algumas escolas profissionais e algumas universidades. Cumprem um papel social, há que agradecer-lhes por isso, sem deixar de exigir ao sector público que assuma futuramente o seu dever.

Mas esta minha compreensão não a estendo às centenas de grandes colégios, boa parte dos quais ligados á igreja católica. Jesuítas, salesianos, inacistas, do Sagrado Coração, S.João de Deus, Opus Dei, enfim, um rol de casas quase sempre luxuosas, destinadas a uma elite (financeira), através da qual a igreja católica pretende construir os quadros que venham a assegurar, no governo do país, os benefícios e privilégios não só da própria igreja, mas também da oligarquia que nela se apoia. Os ricos alimentam a igreja pagando os seus colégios; a igreja paga aos ricos procurando garantir-lhes o controlo do país para que os seus dinheiros se multipliquem…mutuamente.

Mais do que formação religiosa, o que estas escolas procuram é criar elites políticas, ideologicamente formatadas, formalmente democráticas quando tal convier, mas de facto profundamente aristocráticas e antipopulares. E antidemocráticas se for necessário.

E não se argumente que também há a igreja para os pobres – a igreja dos centros paroquiais, das misericórdias, do apoio aos mais pobres. Há e essa gente merece ser respeitada. Mas esta arte de mexer bem os cordelinhos que movem a sociedade, de modo a tê-la sempre sob controlo é bem a marca desta triste igreja católica portuguesa. Tenho 37 anos de serviço sempre em escolas públicas, por opção. É aí que estão os “iguais”. É nessa escola que temos de investir – essa é a batalha que vamos ganhar. Contra as oligarquias financeiras e religiosas.

Publicado por António Avelãs, no blogue Circo lusitano

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