segunda-feira, 15 de março de 2010

Os novos vampiros da educação


Enquanto se acelera a pauperização do país, de milhões de pessoas!, através do emagrecimento das reformas, dos salários, dos despedimentos, há já quem espreite a possibilidade de agravar as feridas para retirar dividendos. É o caso de Paulo Portas.

O que se passa dentro das escolas dos 10 aos 15 anos é um reflexo da sociedade. Pobreza reflectida nos livros que são caríssimos. Livros que não se têm. Pequenos-almoços duvidosos. Jantares imprevisíveis. Fome.

O que se passa dentro das escolas, às vezes ninguém sabe. Só a luta de viver permite disfarçar os pais e mães desempregadas, a dependência no limite relativamente aos avós, os horários desencontrados com os familiares, que muitas vezes não existem, a impossibilidade de a mãe, o pai, poderem ajudar. Por não terem tido direito à escolaridade básica. Por não deterem essa cultura que julgávamos ser um direito humano e por isso nem se aperceberem da falta que fazem.

O que se passa o ministério não quer saber. A rede pública de infantários está na lógica dos privados e os preços competem com o que se paga na universidade. Os 12 ou 13% de meninos e meninas que, segundo os cálculos, precisam de apoio especializado, desde o infantário, continuando por aí fora, estão fora dos planos. Foi o anterior governo de Sócrates que retirou os poucos apoios, reduzindo-os aos casos visivelmente mais graves.

O que a escola precisa é de meios. Para promover a resolução dos problemas e não os deixar “apodrecer”. Precisa de equipas de apoio, que incluam várias valências: social, psicológica, terapia da fala, mediadores e dinamizadores comunitários. Precisa de agilidade e reconhecimento. Precisa da cooperação efectiva e em tempo útil, em vez do labirinto burocrático com que se castiga os professores. A incapacidade de resolver os problemas mais prementes e sinalizados tem que ser atribuída aos responsáveis governamentais. Os organismos dos vários ministérios não conseguem, os apoios demoram meses, mas sobretudo anos.

O que a escola precisa é de turmas ricas em diversidade.

Do que uma escola não precisa é de criar dezenas, centenas de revoltados, os que estão nos últimos lugares da escala social e que são afastados do seu grupo de idade, da sua turma: o escândalo dos chumbados que se arrasta à vista de toda a gente parece não comover o governo.

Paulo Portas não exige mais meios e modos para ajudar a prevenir os problemas, ou para os resolver. Exige mais autoritarismo, multas, castigo aos pais que não podem, inclusivamente retirando-lhes o que apenas dá para a sobrevivência. Que às vezes têm de ser substituídos por avós ou irmãos mais velhos. Ou que pura e simplesmente estão incontactáveis por mil e uma razão e a escola não tem meios.

A luta pela escola pública é um desafio. Uma incessante necessidade para lidar com a violência social que se abate sobre a população adulta.

Paulo Portas é um vampiro à espera. Tem que ser desmascarado.

Jaime Pinho

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