Ontem fomos surpreendidos em todos os órgãos de comunicação social, com a trágica notícia da morte do Leandro Filipe, uma criança de 12 anos, aluno do 6.º ano de uma escola básica do Norte. A situação é tão chocante, que só agora consegui o discernimento necessário para olhar, ainda sem distanciamento, mas já com mais serenidade, para as circunstâncias que as notícias nos dão a conhecer:
- há relatos de agressões sistemáticas de jovens mais velhos às crianças mais novas da escola que o Leandro frequentava;
- há notas sobre um internamento do Leandro, há cerca de um ano, no hospital de Mirandela, em resultado de uma agressão, sendo este internamento do conhecimento da escola e da associação de pais da mesma;
- há manifestações continuadas de desespero da parte do Leandro;
- há conhecimento público de que um grupo de alunos mais velhos o perseguia, fora da escola, em lugares como a central de camionagem;
- os amigos do Leandro, obviamente, conheciam a situação;
no entanto, ninguém agiu, ninguém ajudou o Leandro, que só encontrou como remédio para o seu sofrimento matar-se. E agora, todos os que não deveriam nunca desresponsabilizar-se desta lamentável situação o fazem.
Na verdade eu nunca conseguirei qualquer espécie de dsitanciamento em relação a esta notícia. É uma daquelas coisas que ficam a magoar-nos para sempre. Podia ter sido um filho ou filha minha? Impossível não seria, mas dificilmente poderia ter acontecido, porque eu fui uma mãe atenta a todos os sinais de alarme, porque tive e tenho as competências suficientes para adquirir informação. E eu tinha a informação necessária sobre os sinais de alarme que deveria valorizar durante a infância e a adolescência dos meus filhos. Mas isso não foi, obviamente, pelo que resulta das notícias, o que se passou com a família do Leandro. (*) Por isso, teriam que ser as instituições que o acolhiam a agir.
A escola, a dar-se conta de que não chega ter um relatório a dizer que naquela escola não existem casos de violência - as crianças não são números em relatórios compostos para o bom retrato das instituições.
O hospital a contactar, como era seu dever, a Comissão de Proteção de crianças e Jovens local.
A associação de pais, a pedir ajuda técnica para defender os filhos dos que a compunham e de todos os outros, que é uma das suas elementares competências.
Mas nada disto aconteceu.
Ontem, em completo estado de choque, deixei uma nota no mural da minha página do facebook, que transcrevo, com os comentários respectivos, depois de pedida autorização às suas subscritoras:
“ ao sofrimento de uma criança.
Sou mãe - uma coisa assim poderia ter acontecido com os meus filhos, se não tivesse estado sempre tão presente e atenta.
Sou avó e tenho medo pelos meus netos.
Hoje estou de luto.”
Nesta nota, a Mariana Avelãs e a Universina Coutinho, amiga e antiga companheira do movimento associativo de pais, na federação regional de lisboa e na concelhia da Amadora, colocaram os seguintes comentários:
“fez-me impressão a declaração do senhor da associação de pais, a dizer peremptoriamente que não havia casos de bullying na escola, apesar de tudo indicar o contrário. é como se estivessem mais preocupados a garantir o prestígio da escola do que em prevenir o problema. fica um sabor amargo a uma espécie de encobrimento que alimenta a ideia de que só os fracos são bullyed, e que essa é uma vergonha que interessa a todos esconder. também tenho medo.
(Mariana Avelãs)
2 comentários:
Obrigada pelo texto Helena, e pelas pistas. Linkei, claro, quem sabe se começam a juntar ideias e a mudar formas de agir.
Sei de alguns casos que se passam ao nível de este novo fenómeno, acompanho os meios de comunicação social e vejo algumas noticias relaconadas.
Penso que todos nós como cidadão e formadores de crianças que serão os adultos de amanhã temos nossa quota parte neste assunto. Não podemos nem devemos abstrair-nos das nossas funções enquanto pais, familiares, amigos e vizinhos destas crianças.
A escola existe sobretudo para dar cultura, e na minha opinião existem muitas vezes pais que descuram nas suas obrigações de educadores, deixando esse papel também ás escolas. Temos a obrigação de acompanhar as crianças e tentar defende-las e educa-las para que tanto elas como nós possam estar alerta para estes acontecimentos.
Mário Oliveira (nick name Kako)
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