sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Cartões electrónicos: big brother is watching you?


Lendo toda a notícia do Público percebe-se que há escolas cujos cartões dos alunos permitem registar tudo o que fazem ou deixam de fazer, informação que fica totalmente acessível aos pais. Não contesto a existência de razões de segurança mínimas que devem permitir um acompanhamento responsável dos pais. Mas parece-me que caminhamos para uma situação em que o exagero é a regra. Destaco, na mesma notícia, as afirmações da professora Helena Marujo:

As transgressões são importantes no processo de aprendizagem e corre-se aqui o risco de deixar de haver espaço para a privacidade e para o não cumprimento das regras, que também faz parte do desenvolvimento das crianças e dos jovens

No mínimo, as escolas deviam acompanhar a adopção destas tecnologias de alguma formação aos encarregados de educação, porque há o risco de estas retirarem aos miúdos a capacidade de auto-regulação.

E nesta matéria dos exageros, veio-me logo à cabeça o que fizeram na última escola onde leccionei. Colocaram torniquetes mecânicos na entrada da escola, como se fosse uma estação de metro mas à superfície. E se o cartão diz que naquela hora o aluno não pode sair então não sai. Mas o mais caricato pode vir a acontecer no momento da entrada. Um aluno reclamava: “E quando estiver a chover? Apanhamos molha na fila?”.

Enfim, para lá do acessório, esta é uma discussão muito necessária. Sem autonomia não há responsabilidade.

Miguel Reis

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