domingo, 12 de setembro de 2010

Uma das coisas que mais me incomoda é a desonestidade intelectual!

Num artigo que ainda não está disponível online, o sr. Rodrigo Queiroz de Melo, Director executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, escreve despudoradamente que, se em vez do Estado gastar os cerca de 5000 euros por aluno/ano, financiasse directamente os pais, dando-lhes a possibilidade de escolha de um estabelecimento de ensino particular, se pouparia imenso dinheiro. Este não é um lugar para fazer uma análise exaustiva deste desplante, mas é um bom sítio para mostrar a minha indignação.

O senhor em causa não diz que o investimento que o Estado português faz em educação é inferior à média dos países da OCDE, conclusão que faz parte do mesmo estudo, onde o dito senhor foi buscar os números de que fala (Education at a glance). Também não diz, nem lhe convém que se pense, que o investimento na educação é sempre redistributivo dos nossos impostos, devendo ser aplicado de uma forma que nunca pode nivelar todos os cidadãos pela mesma bitola de custos. Só a título de exemplo, se eu tenho um filho portador de qualquer deficiência, tenho o direito que o Estado lhe garanta uma educação de tanta qualidade quanto a de qualquer outra criança, sem quaiquer considerações sobre os custos maiores a que uma deficiência obriga.

O Estado tem de garantir igualdade de oportunidades e uma escola que mobilize a cooperação contra a competição, a inclusão contra a exclusão e o preconceito.

E, já agora, os nossos impostos não são para ser aplicados a pagar os lucros que os estabelecimentos privados de educação têm que ter, precisamente porque é para os ter que eles foram criados!
Afinal, a "subsidiodependência", um termo inventado por esta mesma gente, é só para aplicar à cultura ou ao movimento associativo?
Querem lucros? Pois que os vão buscar ao sacrossanto mercado, submetendo-se à lei da oferta e da procura e que não façam de nós estúpidos!

Helena Dias, Movimento Escola Pública

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