terça-feira, 30 de setembro de 2008

E à quarta semana descansou


Na primeira semana o governo percorreu as escolas que tiveram a boa sorte de ter obras de reabilitação ou remodelação e maravilhou os portugueses com o renascimento de salas arejadas, funcionais, adaptadas às exigências da modernidade. O contentamento foi grande e até parecia mal lembrar-se a gente das escolas que ainda têm amianto, das salas onde os tectos são negros de humidade, as fichas de electricidade fazem curto-circuito e as cadeiras são bambas de tantas gerações de meninos e meninas que por lá passaram.

À segunda semana o governo voltou à escola para reconhecer o mérito de estudantes que mais se destacaram pela sua inteligência e vontade de aprender. Foi bonito ver o governo a reconhecer o valor destes jovens. Estranho é o montante do prometido prémio de 500 €. Quase parecia uma piada de mau gosto, se é que a alguma mente maldosa ocorresse imaginar que a Ministra da Educação pudesse algum dia ser dada a alguma forma de ironia, por perversa que seja. Na verdade estes são os jovens da geração 500€ que hão-de terminar cursos que os hão-de levar a empregos precários, a falsos contratos de prestação de serviços, quem sabe se para ensinar inglês às crianças do primeiro ciclo.

Mas a cerimónia foi bonita, apesar de tudo. Tão bonita que até parece um atrevimento lembrar-se a gente das crianças que saem de casa pela madrugada para apanhar um autocarro que os há-de levar a uma escola do lado de lá da geada do inverno e voltar a trazer à noitinha, lembrar-se a gente do desencanto das crianças que mal compreendem a língua que falam os professores, do cansaço das meninas e meninos derrotados diante da imensa tarefa de compreender uma escola que pertence a um mundo que não é o seu, do desnorte de rapazes e raparigas que não atinam que utilidade pode ter a escola que lhes dão.

À terceira semana o governo desceu de novo às escolas. Desta vez levava "Magalhães" para distribuir pelas crianças. E à quarta semana descansou, olhou para a sua criação a agradou-se da imagem que tinha dado de si mesmo.

Ficou bem distribuir computadores às crianças. Tudo o que possa corresponder a um reequilíbrio na desigualdade de oportunidades só pode merecer aplauso. Tudo o que sirva para apontar caminhos de inovação merece reconhecimento. Mas às vezes o deslumbramento é tanto que até parece mal, fica uma pessoa um bocado constrangida de se lembrar quanto pagaram a mais as famílias este ano por esses outros instrumentos arcaicos – os livros. Além da prestação da casa – os livros; além da prestação do carro – as mochilas, mais as canetas, o fato de treino, as sapatilhas…

Agora isso são miudezas da vida de cada um e cada uma, importa mesmo é que os "Magalhães" chegaram – e bem – às escolas e, com eles completa-se a trilogia constitutiva dessa ideia de que a escola reproduz a empresa: prémio de produção, edifício, equipamento. Esta ideia redutora de que a escola se mede pelo que produz em matéria de conhecimento é a que a coloca mais perto da ideia de escola empresa.

Na complexidade do processo educativo reside a sua extraordinária importância e não se pode reduzir a uma mera contabilidade de competências, também é isso mas é muito mais, é criatividade e inventividade, é mobilização de interacções sociais, é valorização dos equilíbrios com a natureza, é o reconhecimento da diferença de cada uma e cada um face aos outros, é percepção do mundo, é amor à arte na sua imensidade de expressões, é conhecimento e exploração de si mesmo do seu corpo, das suas limitações e excelências, é racionalidade e afecto. Sem afecto não há educação possível.

Crónica de Alda Macedo em EscolaInfo

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Não dá para esconder


"O Conselho [científico para a Avaliação dos Professores] considera que, a par das oportunidade que se abrem, como é próprio dos processos de mudança, se corre o risco de a avaliação se constituir num acto irrelevante para o desenvolvimento profissional dos docentes, sem impacto na melhoria das aprendizagens dos alunos que conviria evitar desde o início".

O alerta não consta de um comunicado emitido por um sindicato de professores, mas dos "Princípios orientadores sobre a organização do processo de avaliação do desempenho docente", documento produzido pelo Conselho Científico para a Avaliação de Professores (CCAP), criado e tutelado pelo Ministério da Educação.

O Conselho alerta para os riscos da burocratização excessiva e recomenda às escolas que organizem "um dispositivo de avaliação congruente com o projecto educativo e o plano de actividades das escolas".

Vê a notícia completa do JN

Comentário:

Se este órgão, tutelado pelo ME, deixa escapar estas opiniões, é porque a situação deve estar bem feia.

Seis meses ao serviço da escola pública


Relatório de actividades do Movimento Escola Pública, apresentado no Encontro de 27 de Setembro:

1) Debates e sessões públicas

Lisboa

- 16 de Fevereiro, Associação 25 de Abril
Lançamento do Manifesto Escola Pública Pela Igualdade e Democracia
Com as/os convidadas/os Ana Benavente, Luísa Cortesão e Sérgio Niza

- 29 de Abril, Benfica“Escola Pública em Debate” com Cecília Honório, Rui Canário, Inácia Santana e Helena Dias

- 21 de Junho, Associação 25 de AbrilSessão pública “Avaliação de professores: Esta não. Mas qual?” com Olga Pombo, Paulo Guinote, Manuel António Silva e João Paulo Videira

- 4 de Abril, Largo do ChiadoLeitura de poemas pela Escola PúblicaSetúbal- 3 de AbrilAssembleia pela Escola Pública.Com Liseta Barbosa (SPGL), António Sousa Martins (FNE), António Castela (FERLAP) e Cecília Honório (MEP)

Santo André
- 30 de Abril
Tertúlia pela escola pública, com poesia, música e debate (João Madeira, Felizarda Barradas e Cecília Honório)

Almada
- 18 de Abril, Sessão em defesa da Escola Pública na escola secundária Cacilhas/Tejo

Faro
- 1 de Março: Apresentação do Manifesto Escola Pública Pela Igualdade e Democracia

Coimbra
- 10 de Abril
Sessão Pública “crise social/crise escolar: que saídas?”, com Ana Drago, José João Lucas e Maria Rosário Gama

Porto
- 8 de Maio
Escola Pública em Debate com João Antunes, Manuel Sarmento, José Alberto Correia e José Paulo Serralheiro

Viseu- 9 de Abril
Debate com Maria José Viseu e Maria da Graça Pinto

2) Tomadas de posição

- 9 de Março: Comunicado de congratulação pela grande manifestação de 8 de Março e apelo à participação de toda a população nos protestos, em defesa da escola pública

- 31 de Março: Comunicado de apelo à suspensão da avaliação em cada escola

- 14 de Abril: Comunicado sobre o entendimento entre Ministério e Sindicatos (“Houve recuo do governo mas a luta não pode parar”)

- 4 de Junho: tomada de posição conjunta (MEP, APEDE e MUP) apelando a todas as formas de resistência dos professores aos ataques à escola pública

- 15 de Junho: tomada de posição contra o novo modelo de gestão das escolas

- 4 de Setembro: comunicado “o ano de todas as lutas” para a abertura do ano lectivo

3) Outras iniciativas

Participação em dezenas de manifestações, com faixas, pancartas e panfletos do Movimento Escola Pública. Edição do famoso autocolante “Ministra Chumbada” para a manifestação de 8 de Março. Intervenção nas tomadas de posições de órgãos das esoclas no sentido da suspensão do processo de avaliação.

4) blogue/site
Manutenção de um blogue/site com bom ritmo de acutalização e que chegou às 350 visitas diárias durante o período mais quente da luta dos professores. Actualmente, apresenta uma média de 100 visitas diárias, com conteúdos diversificados sobre a escola pública que não se resumem a lutas profissionais dos professores.

domingo, 28 de setembro de 2008

Somar energias para mudar a escola


O I Encontro do Movimento Escola Pública Igualdade e Democracia juntou cerca de 50 cidadãos (professores, outros profissionais de edcuação e pais) de Lisboa, Porto, Coimbra, Castelo Branco, Setúbal, Viseu e Algarve. Desmontou-se a propaganda governamental em torno da educação, debateram-se formas de bloquear o actual sistema de avaliação de professores, e reafirmou-se a urgência de políticas que combatam a sério o insucesso escolar para lá de malabarismos estatísticos.

Em cima da mesa estiveram também as formas de consolidar em todo o país um Movimento com seis meses de existência. Foram constituídos dois grupos de trabalho (um sobre avaliação de professores e outro sobre o diploma de gestão) e assentámos em reunir núcleos regionais regularmente. Além disso, ficou também decidida a constituição do grupo promotor do Movimento Escola Pública que assegurará a sua coordenação a nível nacional.

1º Encontro Nacional do Movimento Escola Pública
Declaração

1) O governo vê a escola pública como um jogo de “lego” em que as peças vão caindo em cadeia para produzir resultados a qualquer custo: o ME cai sobre os directores, que caem sobre os coordenadores e titulares, que caem sobre os professores não titulares e, todos juntos, caem sobre os alunos que têm de ter sucesso custe o que custar.

2) Estas são exigências do mercado de educação europeu, é a lógica da empresarialização da escola pública: resultados a baixos custos, assentes em cadeias de comando afinadas.

3) Ao contrário do discurso e de algumas medidas mediáticas, esta estratégia esvazia a autonomia, reforça a governamentalização das escolas e a desresponsabilização do investimento e das políticas públicas.

4)Esta escola não é uma escola para e pelas pessoas, é a escola dos produtos. Para esta escola o sucesso é um produto, não é uma meta, nem um processo.

5) Não se estranha assim que as medidas frenéticas deste governo mais não tenham do que contribuído para: a desprotecção de crianças e jovens mais desfavorecidos; a liquidação de quaisquer resquícios de participação democrática; o aumento do horário de trabalho de professores (com redução real do tempo de preparação do trabalho para os alunos); a crescente precarização de todos os profissionais de educação em todos os níveis de ensino; uma avaliação de professores burocrática, auto-reguladora e incompetente.

6) O nosso compromisso assenta no combate pela igualdade, pela participação de pais, alunos e profissionais da educação, pela democracia, pela qualidade da escola pública.

Assumimos:
- colocar no centro das nossas preocupações o sucesso efectivo e a emancipação dos alunos, com uma cultura de participação e democracia dentro e fora da sala de aula- lutar por condições dignas nas escolas, humanas e materiais, que assegurem a aprendizagem real para todos/as os/as alunos/as e que entre outras coisas torne desnecessário o recurso a explicações privadas
- exigir a plena cobertura da rede pública do pré-escolar, a gratuitidade dos livros escolares, das refeições e dos transportes, a redução do número de alunos por turma, e a constituição de equipas multidisciplinares nas escolas e centros educativos.
- denunciar e combater todas as formas de discriminação das crianças e jovens: desde as turmas de nível que algumas escolas constituem, à desprotecção de milhares de crianças com necessidades educativas especiais
- denunciar as consequências altamente negativas para a escola pública que este modelo de avaliação de desempenho de professores está a produzir, e que justificam a sua revogação
- apostar numa cultura de participação democrática e decisão responsável, furando a tecnocracia

Concluindo:
- divulgaremos publicamente as decisões deste encontro
- realizaremos ainda em 2008 um fórum alargado, com professores e outros profissionais de educação, pais, alunos e demais interessados, subordinado à promoção da igualdade, do sucesso e do combate às discriminações na escola;
Movimento Escola Pública/ Igualdade e Democracia, 27/09/2008


Grupo Promotor do Movimento Escola Pública, Igualdade e Democracia

José João Lucas (Coimbra)
Cecília Honório (Lisboa)
Manuel Grilo (Lisboa)
Maria José Vitorino (Lisboa)
João Madeira (Sines)
Miguel Reis (Lisboa)
Fernanda Queiroz (Lisboa)
Jaime Pinho (Setúbal)
Beatriz Dias (Lisboa)
João Antunes (Porto)
Carlos Carujo (Algarve/contratado)
Vítor Sarmento (Lisboa)
Helena Dias (Lisboa)
Silvana Paulino (Setúbal)
Maria da Graça Pinto (Viseu)
José Manuel do Carmo (Algarve)
Florbela Gomes (Porto)
Artemisa Coimbra (Porto)

sábado, 27 de setembro de 2008

Encontrando-nos

Já cá estamos, a conversar ao vivo e a cores. Sem esquecer quem que não pôde vir té Lisboa, à sala boa da Academia de Santo Amaro.
Depois damos notícias!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

É já este sábado!


I Encontro Nacional do Movimento Escola Pública

Sábado, 27 de Setembro, 14h30, Academia de Santo Amaro (Lisboa)

Aberto a todos/as os/as interessados/as

(Para quem se inscreveu no almoço, pedimos para que chegue às 12h30)

Vê aqui mais informações

Mail Verde da Fenprof recebeu mais de 500 denúncias


O Mail Verde da Fenprof para acompanhamento do processo de avaliação de desempenho dos professores, recebeu mais de meio milhar de queixas em apenas 4 meses.

A sujeição de docentes a dois processos de avaliação na mesma escola, a intenção de serem observadas cinco aulas em vez de três, a imposição de metas de "sucesso escolar" estabelecidas para a escola nos objectivos individuais dos docentes, a tentativa de penalizar docentes que faltaram ao serviço por razões devidamente justificadas, são algumas das muitas aberrações identificadas.

Fica em evidência o carácter burocrático e inoperacional deste modelo de avaliação.

Vê aqui toda a notícia no site da Fenprof

OVNI - Objectivos Variados Não Identificáveis?


Importa ainda ter presente que os objectivos individu
ais só devem ser apresentados depois de o CGT ter aprovado as metas e objectivos da escola.

É ilegal a apresentação de objectivos individuais sem que, antes, tenham sido aprovadas as alterações ao Projecto Educativo e ao Plano Anual de Actividades.(Profavaliação, Setembro 2008)

Sigamos os comentários a este post no blogue Profavaliação, aqui

Imagem daqui

Realidade, Rogai Por Nós


imagem daqui (2008)

Do livro negro da educação

Pela manhã, ouvi a Senhora Ministra da Educação falar entusiasticamente sobre o ensino da música em Portugal e sobre as magníficas reformas em curso no ensino em geral.
Quinze minutos mais tarde, ouvi António Wagner Diniz dizer que, no ano de 2005, retiraram 12 mil euros ao orçamento do Conservatório e que, desde então até à data, não houve qualquer actualização. Mais, o Conservatório não tem cadeiras e secretárias suficientes para sentar todos os alunos e muito menos verba para as comprar e que o salão nobre ameaça derrocada.
A latere, na 2ª feira, a minha secretária pediu-me que lhe adiantasse o subsídio de Natal para poder comprar os livros e material escolar para os 2 filhos.
A semana passada, a minha melhor amiga, que decidiu colocar o filho no ensino público, ficou a saber que algures, ao longo do ano lectivo, os putos estarão, no mínimo, 15 dias sem ter aulas em duas disciplinas específicas, porque os professores que as leccionam entram na reforma durante o decurso do ano lectivo e embora já se saiba isso de antemão, só depois de sairem é que podem ser substituídos.
(...) creio bem que podemos também começar fazer um Livro Negro da Educação.

recolhido no blogue Amor e outros desastres, hoje

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A avaliação punitiva funciona?


"A imposição de esquemas punitivos de avaliação a todos é como utilizar uma marreta para esmagar uma noz. Tal imposição reduz a “avaliação” ao mínimo denominador comum. Os esquemas de avaliação que implicam 100% do pessoal docente, tendo em vista detectar uma pequena percentagem de incompetentes, constituem uma perda de tempo considerável. Ironicamente, a ansiedade que provocam também pode desincentivar a excelência de muitos que se tomam relutantes em correr riscos, devido ao receio da punição."

Michael Fullan e Andy Hargreaves, Por que é que vale a pena lutar?, Porto Editora, Porto, 2001 (p. 30).

Retirado do blogue Mobilização e Unidade dos Professores.

100% de aprovações


A imagem é do blogue anterozóide e o post que se segue é do blogue (Re)Flexões:

A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, afirmou ontem, em Lousada, que um dos objectivos da sua equipa é alcançar nos próximos anos cem por cento de aprovações no final do nono ano de escolaridade.

“Os nossos alunos não são menos inteligentes, os nossos professores não são menos preparados, as nossas escolas eram piores, mas estão a ficar melhores. Portanto, com todas as condições, não é uma utopia, é mesmo uma meta para cumprir.”

Quando eu era um rapazinho, de bibe e calções, a minha professora primária (era assim que eram tratados os professores do 1º ciclo) ensinou-me que somar batatas com cebolas e tomates só era bom para fazer uma bela de uma caldeirada. Era aquilo a que se costumava chamar de “misturar alhos com bugalhos”.

Talvez porque a ministra da educação é um tudo nada mais nova do que eu, talvez porque não teve a felicidade de ter conhecido a minha professora primária (era assim que eram tratados os professores do 1º ciclo), a senhora não sabe que quando se misturam alhos com bugalhos sai “caldeirada” na certa.
Por isso não se coíbe de fazer comparações entre realidades que não são comparáveis.

É que o motivo porque os jovens portugueses não têm tanto sucesso académico como os jovens de outros países, tem muito pouco a ver com a Escola e tem quase tudo a ver com a sociedade e com as políticas públicas, que os respectivos governos põem em prática.

Tomemos como exemplo a questão dos filhos dos imigrantes:
Por cá, em muitas situações, é como se nem existissem. Sem qualquer apoio de integração, vivem em situação semi-clandestina, nos limites da marginalidade. Na escola, são obrigados a cumprir um currículo extenso, leccionado numa língua que não dominam, sem que a escola disponha de recursos materiais e humanos para dar efectivo cumprimento a um programa de língua portuguesa para não falantes.

Nos países de sucesso de que fala a ministra, os mesmos filhos de imigrantes têm um período inicial de aprendizagem da língua em que é ministrado o currículo, e só depois são plenamente integrados no sistema escolar. Ou em alternativa frequentam escolas bilingues, permitindo-lhes uma integração plena no sistema.

E no que respeita às condições de trabalho das famílias e ao tempo que têm para acompanhar as suas crianças?
Quando temos nas nossas escolas percentagens elevadas de alunos cujos pais labutam diariamente pela sobrevivência, como é que podemos esperar que os jovens cumpram com sucesso as exigências de um currículo de figurino único?

A menos que o sucesso a 100% tenha por base a falsificação e a fraude, não é possível decretar a aprovação da totalidade dos alunos no final de um ciclo de escolaridade.

Comentário nosso:

Chegará o tempo em que será possível aprovar todos os alunos. Não por decreto mas porque realmente todos aprenderam.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Protesto dos Professores do Ensino Especial


O protesto dos Professores de Ed. Especial excluídos está marcado para dia 30/9 (terça-feira) às 15 horas, no Ministério da Educação. Já entregámos a comunicação ao Governo Civil de Lisboa!

A presença de cada um de nós é fundamental! Contamos com a solidariedade de todos os colegas também!

Passem a palavra!
Obrigada!

(e-mail recebido de uma professora do ensino especial)

Veja no blogue de Ramiro Marques as razões desta luta

Escolaridade obrigatória



2005, Programa do Governo:
«Tornar obrigatória a frequência de ensino ou formação profissional para todos os jovens até aos 18 anos»

2007, Maria de Lurdes Rodrigues:
«Estamos a criar condições para que, em dois anos, os alunos permaneçam na escola até aos 18 anos, prolongando o ensino obrigatório até ao 12º ano.»

12 de Setembro de 2008, Maria de Lurdes Rodrigues:
«Se a resposta das escolas for tão boa como está a ser, provavelmente nem será necessário tornar obrigatório o 12º ano.»

12 de Setembro de 2008, José Sócrates:
«[O Dia do Diploma] é um sinal de que a conclusão do secundário é indispensável para se entrar no mercado de trabalho. Hoje é preciso saber-se muito.»

14 de Setembro de 2008, Maria de Lurdes Rodrigues:
«[Neste momento tornar obrigatório o 12º ano] seria um erro, prejudicaria as famílias, os alunos, e não se conseguiria concretizar.»

15 de Setembro de 2008, Cavaco Silva:
«É preciso mobilizar todos em torno de uma meta para o futuro, que estou convencido irá ser definida não daqui a muito tempo: 12 anos de escolaridade.»

16 de Setembro de 2008, Maria de Lurdes Rodrigues:
«Há uma convergência [entre as ideias do Presidente e do Governo]. Tanto o PSD como o PS têm como objectivo alargar a escolaridade ao nível do 12º ano.»

Fonte: Diário de Notícias.

A seguir aos ziguezagues do Governo sobre o Referendo ao Tratado de Lisboa, aos ziguezagues sobre o aeroporto de Lisboa, aos ziguezagues quanto à terceira ponte sobre o Tejo, vêm, agora, os ziguezagues sobre o alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12º ano.
Contudo, a propaganda e o marketing continuam a dizer que este é um Governo com um rumo bem definido e pleno de determinação.

Post de Mário Carneiro publicado em O Estado da Educação

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Prolongamento do prazo de inscrição

O I Encontro Nacional do Movimento Escola Pública / Igualdade e Democracia é já no próximo sábado em Lisboa.

Em relação ao almoço (12h30), que será antes da reunião (14h30), informamos que o prazo de inscrição foi prolongado para até quarta-feira às 10h da manhã. Ao final da manhã desse dia temos que saber o número total de refeições.

Vê aqui mais informação sobre o Encontro

Presentes envenenados


Sabonetes de sabedoria, prémios para os mais sabichões, fichas e grelhas para preencher, objectivos a alcançar, reuniões intermináveis de administrativos. Uma das prendas mais inovadoras deste governo à escola pública não foram os computadores mas sim a burocracia.

Cartoon do blogue anterozóide.

O Mercado das Explicações e as Explicações da Ministra


Uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro concluiu que as famílias portuguesas gastam pelo menos 118 euros por mês em explicações para que os seus filhos recuperem das más notas ou consigam melhores resultados para entrar no Ensino Superior. O facto foi noticiado pelo Correio da Manhã

Por outro lado o Público online lembra outra das conclusões do estudo: “O mercado das explicações representa em Portugal um fenómeno comercial em crescimento, com o explicador doméstico a perder terreno para os cada vez mais numerosos centros de explicações, muitos deles “franchising” de multinacionais.”

O estudo diz também que “os professores em início de carreira que não encontram colocação no sistema escolar optam pelas explicações para fazerem face ao desemprego e simultaneamente não se desligarem da sua área do saber.”

Perante estes dados a Ministra da Educação disse que a situação é característica de países do Terceiro Mundo e que “o país não se pode conformar com a dependência que as famílias têm do mercado de explicações para o êxito escolar”, acrescentando que “o estudo acompanhado, as aulas de recuperação e de substituição” devem permitir que os jovens façam a sua aprendizagem dentro da escola.

Comentário:

Pois, a Ministra da Educação que atira jovens professores para o desemprego e não garante condições de trabalho materiais e humanas às escolas, vem tristemente dizer que as medidas que implementou deviam evitar o recursos às explicações. Só que a evidência é que não evitam. E da boca da ministra não veio nenhuma proposta séria para evitar esta realidade, responsável pelas maiores desigualdades ao nível da educação. É que, reparem, se como diz o estudo, as famílias que mais recorrem às explicações são de classes média e média alta (compreende-se, são as que podem pagar) isto só quer dizer que mesmo para o famoso “aluno médio” os meios da escola são insuficientes. Imagine-se o que não será para muitos dos alunos das classes baixas.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

RANKINGS E XANAX

Texto de Daniel Oliveira, no Expresso (15 Set 2008)


Esta semana evite a companhia de professores. Falar com qualquer um deles pode deixá-lo em mau estado. Vivem, nos dias que correm, em depressão colectiva. A sucessão de reformas, contra-reformas e contra-contra-reformas, a destruição do que se foi fazendo de bom - do ensino especial ao ensino artístico -, a incompetência desta equipa ministerial e o linchamento público de uma classe inteira tem os resultados à vista: as aulas recomeçam com professores tão motivados como um vegetariano perante um bife na pedra.

Sabem que os espera apenas uma novidade: a avaliação do seu desempenho. E é, ao que parece, tudo o que interessa a toda a gente: a avaliação dos professores, a avaliação dos alunos, a avaliação das escolas, a avaliação do sistema educativo português.

Tenho uma coisa um pouco fora do comum para dizer sobre o assunto: a escola serve para ensinar e aprender. Se isto falha, os exames, as avaliações e os "rankings" são irrelevantes.
Talvez não fosse má ideia, enquanto se avaliam os professores, dar-lhes tempo para eles fazerem aquilo para que lhes pagamos em vez de os soterrar em burocracia. Enquanto se exigem mais e mais exames, garantir que os miúdos aprendem com algum gosto qualquer coisa entre cada um deles.

Enquanto se fazem "rankings", conseguir que a escola seja um lugar de onde não se quer fugir. E enquanto se culpam os professores pelo atraso cultural do país, perder um segundo a ouvir o que eles têm para dizer. Agora que já os deixámos agarrados ao Xanax, acham que é possível gastar algumas energias a dar-lhes razões para gostarem do que fazem? Se não for por melhor razão, só para desanuviar o ambiente nos edifícios onde os nossos filhos passam uma boa parte do dia.

Todo o texto aqui. E comentários - a esta hora já são uns tantos...

Imagem: Estrutura do Xanax, 3D aqui

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Credibilidade


Mais um belíssiomo cartoon do blogue anterozóide. Sócrates critica o bota-abaixo, mas o seu governo foi o primeiro a fazê-lo em relação aos professores. Lembram-se do Valter Lemos assanhado? E das bocas rasteiras da ministra contra professores e sindicatos? E da última do Sócrates a dizer que se acabaram as facilidades, encarando com desprezo/bota-abaixo os 40 mil candidatos que ficaram de fora do ensino?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

I Encontro do Movimento Escola Pública


I Encontro do Movimento Escola Pública/ Igualdade e Democracia

Sábado, dia 27 de Setembro, às 12h30 na Academia de Santo Amaro, em Lisboa (Alcântara)

O Movimento Escola Pública Igualdade e Democracia leva pouco mais do que seis meses de existência. A sua sessão fundadora foi em Fevereiro de 2008, com o lançamento do Manifesto Escola Pública pela Igualdade e Democracia.

Estivémos presentes nas manifestações regionais e nacionais de professores que ocorreram no passado ano lectivo, apoiando a luta da classe docente contra a burocratização que este governo lhe quer impor. Recusámos sempre uma abordagem corporativa dos problemas da educação e continuamos a privilegiar a acção e o pensamento a favor de uma escola sem exclusões, democrática, e centrada nos direitos de alunos, pais e professores.Foi sempre esta a filosofia implícita nas diversas sessões que organizámos por todo o país, incentivando a discussão e a procura de propostas alternativas.

É assim que chegamos ao início de um novo ano lectivo. E queremos, de forma democrática, debater com todos os inscritos e simpatizantes do Movimento Escola Pública, estratégias para continuar uma luta que está longe de terminar. Além disso, é também urgente responsabilizarmos pessoas no seio deste movimento, conhecermos as caras de todos e todas, e encontrar as melhores formas de legitimar a acção pública quotidiana de um movimento que veio para ficar.

Por tudo isto, convidamos todos os interessados em participar no nosso primeiro encontro. O programa começa com um almoço/convívio às 12h30 em Lisboa e prossegue com uma reunião às 14h30, onde os pontos atrás referidos serão debatidos.

Logística:

Para almoçares connosco no dia 27, basta enviar um e-mail para movimentoescolapublica@gmail.com, referindo o nome completo, o contacto telefónico, e indicar se és vegetariano/a.

O preço da refeição completa são 12,5 euros e o prazo para inscrição é o dia 22 de Setembro.

Se não puderes vir almoçar connosco, poderás sempre participar na reunião com início às 14h30.

Local do almoço e do encontro:


Academia de Santo Amaro
Rua da Academia Recreativa de Santo Amaro, 9
1300-001 Lisboa

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Regresso às lutas


Depois de um ano em que a luta dos professores atingiu um cume de mobilização nunca antes visto, o início do ano lectivo, salvo honrosas excepções, parece querer tomar ares de regresso à normalidade. Só que, para defender a escola pública, será necessário muito mais do que um ano normal. Este é um ano decisivo e a mobilização decisiva deveria começar logo desde o início.
Nesta altura, os movimentos de professores dão ainda poucos sinais de mobilização e os sindicatos parecem voltar às suas rotinas. Rotinas que, com um desfile impressionante de reuniões (das direcções centrais, regionais, executivas, de zona, as assembleias-gerais e de delegados sindicais, os conselhos gerais, os conselhos e os secretariados nacionais), parecem remeter os nossos descontentamentos para horas marcadas, para ritmos lentos, para instâncias sempre mais estratosféricas e longe das escolas.
Acreditamos que mobilização, participação e combatividade só podem ter o mesmo nome e que são urgentes. Acreditamos que a burocracia é um labirinto que atrasa e arrasa vontades de mobilização. Acreditamos que o sindicalismo deve ser mais aberto e participativo e que esse é o caminho para transformar apatias em combatividade, conformismos na energia capaz de derrotar os podres poderes que atacam os alicerces da escola pública. Acreditamos que os professores poderão voltar a construir novamente este ano lectivo a unidade e a força necessárias para defender a escola pública. O tempo urge.

António Rodrigues
Carlos Carujo

Mais um alerta contra a burocratização docente


E por fim há um outro paradoxo entre a retórica do professor reflexivo e, ao mesmo tempo, a inexistência de condições de trabalho concretas – desde condições de tempo, a matéria-prima mais importante da reflexão – e desenvolvimento profissional que possam, de facto, alimentar a idéia do professor reflexivo. São paradoxos que precisamos saber ultrapassar e, para isso, é importante a mobilização, o combate coletivo dos professores.
(...)

Hoje em dia há dois conceitos sociológicos. Um que fala de um processo de proletarização dos professores que está diretamente ligado à intensificação do trabalho docente, isto é, um trabalho que é cada vez mais pautado por inúmeros afazeres, inúmeros relatórios, inúmeras coisas. E isso dificulta muito o trabalho dos professores. Eu acho que isso é verdade. Mas sendo verdade, o contrário também é verdade. Os professores não podem viver numa lógica isolada, fechados na sua sala de aula, sem prestarem contas a ninguém, sem ter uma parte dessa reflexão mais colectiva.

Cito um exemplo. Quando começou a haver cursos de formação contínua em Portugal, os professores sentiram esses cursos como mais uma exigência para seu trabalho. Achavam que eles não lhes traziam nada. Havia imensa relutância em ir a esses cursos. Ao mesmo tempo, esses mesmos professores que se recusavam a fazer esses cursos, alguns deles criaram comigo, no quadro do movimento que chamamos de movimento da escola moderna, "os sábados de reflexão", quando nos encontrávamos para trabalhar em conjunto, em que não havia créditos, cursos, não havia formação contínua, não havia relatórios. Praticamente nenhum professor faltava naqueles sábados. No primeiro caso, as tarefas eram consideradas constrangedoras, e [as] tarefas que eles definiam conosco, tarefas que facilitavam seu trabalho.

O ponto é esse. Como conseguirmos fazer dessas tarefas não tarefas burocráticas mas tarefas facilitadoras, que ajudem em suas aulas a lidar com alunos. Essa é a volta que ainda não conseguimos dar. É central para a credibilidade da profissão. Podemos não gostar muito. Que os trabalhos universitários, por exemplo, sejam medidos muitas vezes pelo número de trabalhos científicos publicados, pelo número de artigos citados etc. Mas isso é uma componente importante para a credibilidade dos cientistas. Precisamos encontrar elementos do mesmo tipo para dar credibilidade ao trabalho docente. Ou fazemos nós, a partir de uma reflexão da profissão, ou alguém vai fazer por nós.

António Nóvoa (2007) Desafios do trabalho do professor no mundo contemporâneo

Ritual de distribuição de diplomas é do século XIX


A opinião de Sérgio Niza:

"O ritual de distribuição de diplomas é do século XIX, das escolas republicanas do século XIX. Um momento solene empertigado com a presença das autoridades sociais, significando o término de um ciclo com êxito. Um ritual apropriado pela cultura anglo-saxónica, pelos Estados Unidos da América, sendo que Portugal foi apropriar-se desse antigo ritual e pretende aplicá-lo a jovens do século XXI."

"Revela uma orientação de política do Governo, contrária ao ideário socialista, de onde emerge o Governo."

"Tratam-se de rituais antiquados o que prova a falta de originalidade das políticas em curso."

"A distribuição de dinheiro aos alunos que se distinguiram, é coisa que os republicanos não ousariam. Nunca comprariam os alunos com prémios. Isso é contemporâneo e pertence a uma visão mercantilista e empresarial da escola, em que os prémios correspondem aos prémios de produção, atribuídos aos trabalhadores."

“É que os prémios prendem-se com outras artimanhas de gestão do sistema, como os sociólogos do governo sabem bem. Premeiam os alunos do secundário que não precisam de dinheiro. Aguarde-se e confirmar-se-á como o feitiço se virará contra o feiticeiro."

"Aliás, esta contradição aplica-se a outras áreas na Educação, como com a profissão docente, em que o controlo extensivo do trabalho dos professores acentuará a proletarização da função docente, numa altura em que devíamos construir a profissionalidade docente.”

"Este tipo de avaliação de desempenho tem uma lógica de vigilância. Para ser barato entregou-se aos professores todo o processo burocrático, o que vai provocar tensões internas desagregando a profissão."

Lê mais no site da Fenprof

domingo, 14 de setembro de 2008


A acção de propaganda foi triste para a Escola Pública. O governo desdobrou-se na entrega de diplomas e prémios de 500 euros aos melhores alunos. Foi uma misto de mercadorização do ensino e de regresso aos quadros de honra do fascismo. Péssima ementa.

(imagem do blogue anterozóide)

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Ensino Especial


A Ministra insiste que só há 55 mil alunos com necessidades educativas especiais sinalizados. Mas, Miranda Correia, coordenador da área de educação especial da Universidade do Minho, e um dos mais reconhecidos especialistas na matéria, na edição impressa do Diário de Notícias de hoje, afirma que:

1)Estudos credíveis internacionais dizem que oito a doze por cento da população estudantil serão alunos com necessidades educativas especiais e há 1,5 milhões de estudantes em Portugal. Logo, há 120 mil alunos com necessidades educativas especiais em Portugal

2) Dos 120 mil alunos 50 ou 60 mil não terão qualquer apoio educativo que permita responder às suas necessidades académicas e socio-económicas.

Obviamente tudo depende da grelha que é usada. A Ministra decidiu usar uma, a Classificação Internacional de Funcionalidade, que mais ninguém lá fora usa para o sector da educação. E recusa a grelha usada por todos os outros e que abrange mais alunos. Fica mais cara. Mas daria outra dignidade à vida de muitos alunos e famílias.

Leia também o depoimento de uma professora do Ensino Especial

Não vale a pena disfarçar


O Movimento Escola Pública já alertou várias vezes para esta situação que se verifica em algumas escolas. Há estudos que o comprovam. Isto existe e deve ser denunciado e corrigido, sem atirar areia para os olhos.

"Escolas continuam a separar os maus dos bons alunos
E se os "maus alunos" forem arrumados numa turma para não perturbarem os "bons"? A Confap refere e lamenta um rol de denúncias "anónimas" e os sindicatos dizem que os casos resultam das condições de trabalho dos docentes.” Vê aqui a notícia

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A semana dos números


Esta é a semana das estatísticas. E a máquina de propaganda do Ministério da Educação ligou todos os motores para se fazer ouvir mais que os dados da OCDE. Já aqui dissémos e repetimos que a diminuição dos chumbos é um objectivo importante. Aliás, idealmente, ninguém devia chumbar porque todos deviam aprender.

E já toda a gente percebeu que nem por isso se aprendeu mais ou melhor neste ano que passou. Não há cosmética que mascare a crua realidade. A Ministra, com a grande lata que a caracteriza, veio dizer que tudo isto se deve ao trabalho de professores e alunos. Não há dúvida que os professores e alunos trabalham e muito, mas isso não chega. E todos sabem que não chega sem bolsas de professores de apoio, sem equipas multidisciplinares de combate ao insucesso escolar, sem um investimento de monta no ensino especial, sem meios financeiros para as escolas elaborarem projectos e envolverem todos os alunos.

São necessárias condições humanas e materiais para que todos aprendam verdadeiramente e um investimento honesto nessas condições. O império crescernte das empresas de explicações mostra como esse investimento não existe.

Os malabarismos estatísticos do governo português foram divulgados para fazer cortina de fumo aos dados mais arrepiantes que nos apareceram ontem por via da OCDE, neste estudo. Algumas conclusões:

57% dos trabalhadores não têm mais do que o 6º ano e só 28% tem mais do que o 9º ano

95% dos gastos em Educação são em salários, mas os professores portugueses não são dos que ganham melhor na Europa. Ou seja, falta investimento a sério em equipamentos e projectos nas escolas.

Há um professor por cada 9 alunos no ensino secundário e um por cada 11 no básico, o melhor rácio da OCDE. Mas esconde que os alunos têm mais carga horária, e que o ratio de 20 alunos por turma (um dos maiores da OCDE) só é mantido à custa de turmas muito pequenas e turmas muito grandes. Além disso, metade dos professores lida directamente com mais de 100 alunos.

Os desempregados com curso superior aumentaram de 2,8% em 1998 para 5,4% em 2008. Ao contrário da média da OCDE que desceu de 4% para 3,5% (edicação impressa do Jornal de Negócios)

A lógica da bolacha

O regresso à escola de Helena Matos, no Público, faz-se através de uma costumeira crónica liberal, quase canónica. Utiliza como mote uma portaria de 1974, sobre a fixação de um preço máximo para a bolacha maria por razões sociais. Atrás deste exemplo, apresentam-se três motivos habituais do liberalismo: a sobre-regulamentação estatal contra a liberdade do mercado (com o exemplo anedótico colado), a oposição às medidas de apoio aos mais pobres e a irrelevância de muitas destas medidas.
A lógica da bolacha soma depois dois exemplos díspares a este quadro. Em primeiro lugar, a legislação sobre o aborto e a eutanásia que o governo do estado espanhol se “entretém”, nas palavras da autora, a fazer. Parece caricato colocar ao mesmo nível de análise a bolacha maria e o aborto mas é mesmo isso que a cronista faz. Sem qualquer ligação lógica explícita: aqui não há irrelevância, a não ser que se meça toda vida com os olhos da crise financeira; não se pode falar em sobre-regulamentação estatal porque tanto as leis proíbam o aborto e a eutanásia como as que o permitam são regulamentos estatais sobre a vida particular (e veja-se de que ponto de vista se vir, no caso da proibição da eutanásia por exemplo, trata-se sempre de um regulamento de estado proibir ou não alguém de exercer a sua vontade sobre a sua vida); aqui nem sequer existe a justificação social. A lógica da bolacha parece recheada de um amargo preconceito contra o “progressismo”. O liberalismo do mercado vive muitas vezes em união de facto com o conservadorismo moral.
Em segundo lugar, os apoios escolares do estado aos “que agora se chamam carenciados”. Aqui o problema não é a ligação forçada. É mesmo o conteúdo. Aposta-se na generalização abusiva da ideia de que o que é pago é que é valorizado. Se quisermos replicar o exemplo da bolacha com um contra-exemplo absurdo poderíamos afirmar: no caso do sexo, a maior parte das pessoas valorizam mais o sexo não pago do que o pago. Isto para dizer simplesmente que obviamente nem tudo o que é pago é mais valorizado do que o que não é pago.
Segue-se a suspeita (“seria interessante, por exemplo, avaliar a meio do ano escolar, o estado de conservação e utilização de muitos destes livros e material”) também baseada na generalização abusiva. No fundo, o mesmo argumento que se pode encontrar sobre o rendimento social de inserção ou sobre o subsídio de desemprego como subsídios à preguiça, com os mesmos intuitos: virar o “contribuinte” contra o pobre, que seria culpado de lhe roubar os seus impostos.
Faltaria ainda o corolário da cartilha liberal: “a livre escolha da escola”, ou seja, noutros termos, a destruição da escola pública, usando o pretexto do combate a um suposto monopólio de um negócio como desculpa para exigir o financiamento público dos negócios privados. Uma receita curiosa de liberalismo que vive contra o estado mas pede alvíssaras para algo mais do que bolachas.

Carlos Carujo, São Brás de Alportel
(enviado para as Cartas do Jornal Público)

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Manuais escolares mais caros



Exmº Senhores,
Foi com perplexidade que li e ouvi em vários órgãos de comunicação social, que os livros escolares aumentaram cerca de 6%, sem que o Governo através do responsável por esta área tenha tomada qualquer posição pública sobre tal aumento.

Assim sendo, solicito a V. Ex.ª que os seus colaboradores averiguem e procurem esclarecer a opinião publica sobre a posição dominante do grupo Leya e as praticas concertadas levadas a cabo pelos dois grupos económicos, ou seja, a Porto Editora e o Grupo Leya que dominam o mercado em cerca de 90,8%.

É do conhecimento pleno de todos os membros deste Governo, designadamente dos responsáveis máximos do Ministério da Educação, que antes do anuncio deste aumento ocorreram varias reuniões e troca de correspondência entre os dois grupos económicos para definirem e adoptarem posições em uníssono e de força junto do Ministério Educação tendo em vista entre outras:

1. Impedir um regime de empréstimo dos manuais que seja prejudicial a Editores.
2. Impedir um regime de gratuitidade que seja prejudicial a Editores
3. Impedir uma operacionalização da avaliação e certificação de manuais que contenha perversidades prejudiciais a Editores;
4. Impedir uma definição de características materiais dos livros que elimine a diversidade e competitividade do mercado;
5. Impedir limitações na divulgação dos produtos em espaço escola;
6. Impedir alterações nas matrizes curriculares e nos programas fora dos prazos previstos na Lei 47/2006
7. Impedir decisões extemporâneas sobre a não adopção
8. Impedir calendário de fixação de anos de adopção indesejável para os Editores

Como prova de que existe uma politica concertada entre estes dois grupos económicos que dominam o mercado em cerca de 90,8% e o próprio Governo são os anúncios da entrega de livros novos gratuitos feito por varias Autarquias, designadamente de Odivelas (Câmara ganha pelo PS) a famílias mais carenciadas.

Os órgãos de comunicação social vão dar todo o relevo a estas acções e os dois grupos económicos – Porto Editora e Leya - agradecem porque desviam a atenção da opinião pública do aumento dos livros escolares e contribuem para o aumento das vendas dos Editores.

Não deixa de ser estranho que o anuncio da distribuição de livros gratuitos no dia em que é dada a informação do aumento dos LIVROS ESCOLARES?
Se não existe trafico de influência e/ou corrupção nesta área, então o que se chama a estes comportamentos?

Onde andam os Ministros de Educação e Economia que permitem de forma descarada que dois grupos económicos dominem o mercado do livro escolar e possam impor os aumentos que querem sem que qualquer Autoridade Publica tenha a mínima interferência nesta violação da lei.

Para que serve a Autoridade da Concorrência que não actua neste mercado, sendo certo que tem pleno conhecimento de que das varias reuniões e troca de correspondência entre os responsáveis máximo dos dois grupos ficou acordado a adopção entre outros os seguintes comportamentos, para poderem controlar e dominar o mercado:

1. Não fazerem oferta de Cadernos de Actividades/Exercícios, para defesa do mercado;
2. Deixarem de oferecer materiais áudio aos alunos, para poderem criar um mercado paralelo para comercialização do áudio;
3. Diminuir o número de ofertas a Professores com os projectos;
4. Passar a vender determinados materiais de oferta, como Guiões do Professor, para criação de um mercado;
5. Desenvolvimento de projectos de venda de conteúdos multimédia a escolas (como a B-Escolar);
6. Criação de um mercado de venda de conteúdos educativos on-line (professores e educadores) nos sites dos Editores (planificações de aulas, testes, fichas, …);
7. Rever (baixando) percentagens de direitos de autor (atribuindo escalões de acordo com patamares de vendas ou outro critério adequado)
8. Estabelecer valores/regras padrão para pagamento de direitos (a editores / a autores) de reprodução de excertos de textos, de imagens e de registos áudio

Estes são apenas algumas das praticas levadas a cabo pelos dois grupos económicos que dominam este mercado e que a Autoridade da Concorrência conhece mas nada faz para que possa existir uma concorrência livre e saudável de forma a que não existam estas praticas concertadas na formação do preço do livro escolar.

Porque razão ainda não houve qualquer intervenção da Autoridade da Concorrência na defesa do consumidor e na aplicação da Lei?
Neste mercado cabe também ao Estado pugnar e zelar pelas políticas de determinação de preço dos livros escolares e assegurar, pelos meios que sejam considerados mais adequados, que não sejam adoptadas praticas concertadas que prejudiquem o orçamento das famílias portuguesas, bem como a utilização de dinheiros públicos em negócios pouco transparentes.

Não restam duvidas que estes dois grupos económicos – PORTO EDITORA e LEYA, dominam o mercado, e por tal razão é que certamente as famílias portuguesas gastam mais na Educação do que a media obtida entre os 27 países da União Europeia.

Um negócio que envolve 80 milhões de euros, justifica que a comunicação social não dê apenas relevo à distribuição gratuita de livros escolares por parte das entidades públicas, mas às práticas adoptadas pelas Editoras para procederem ao aumento dos manuais escolares. Os editores dos órgãos de comunicação deverão pensar maduramente no modo de enfrentar as realidades modernas de trafico de influências e/ou corrupção investigando e solicitando esclarecimentos ás entidades responsáveis, designadamente Autoridade da Concorrência e entidades governamentais competentes nesta área, sendo certo que as entidades publicas que oferecem os livros, oferecem os mesmos à custa dos dinheiros públicos e também satisfazem uma das condições das EDITORAS (Impedir um regime de gratuitidade que seja prejudicial a Editores).

É estranho que as entidades públicas – Autarquias – não tenham até agora dado qualquer relevo a projectos desenvolvidos por entidades que preocupadas com o meio ambiente fomentam a reutilização dos manuais escolares, praticas desenvolvidas e levadas a cabo em muitas países da União Europeia.

O objectivo desta exposição é levar ao conhecimento de V.Exª praticas desleais para com o consumidor principalmente para com as famílias portuguesas que só este mês tem que adquirir cerca de dez milhões de manuais escolares obrigatórios.

Ciente de que este tema suscitará a atenção dessa Revista, como aconteceu com muitos outros temas de interesse publico, e que V. Ex.ª tudo fará para que a opinião publica seja esclarecida sobre as praticas levadas a cabo por estes dois grupos económicos para que de forma objectiva e transparente se fique a conhecer os pressupostos que dão origem à formação dos preços dos manuais escolares.

Com os melhores cumprimentos
Maria Dulce Figueiredo

Aulas de substituição não deixam tempo para socializar


As aulas de substituição para ocupar os «furos» dos alunos não deixam espaço para a socialização, alerta um especialista em Educação, que considera esta medida uma das «grandes falhas» da política do Ministério da Educação.

Lê aqui a notícia

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

A saga dos professores precários

Boçal


Este é o termo mais generoso que me ocorre para qualificar o comentário público que o desemprego dos professores mereceu ao primeiro-ministro. Só um inculto, um insensível, um despojado de humanidade pode ser tão rudemente primário, tão desrespeitador do drama alheio. Arrumemos porém, em sede de crónica, este ângulo de abordagem, que nenhuma nova oportunidade pode remediar: o homem não consegue ir além do chinelo que lhe calça a alma.

Lê toda a Crónica de Santana Castilho em http://www.escolainfo.net/

A brincar também se aprende


"Jogos de "playstation" [há bons jogos de vídeo] nas escolas para as crianças brincarem e descansarem do trabalho da "sala de aula" é uma proposta para as Actividades de Enriquecimento Curricular de uma especialista em Educação para evitar o "risco de acabar com a infância"

"É urgente respeitar o brincar das crianças e reabilitar o sentido da actividade lúdica" na Escola a Tempo Inteiro, disse à agência Lusa Maria José Araújo, investigadora do Centro de Investigação e Intervenção Educativa da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto."

Vê aqui a notícia completa

Grande lata!


"Há maneiras de dizer que tornam verdades piores do que as mais condenáveis mentiras. Falando-se da colocação de professores que ocorre anualmente neste final de Agosto, enquanto os sindicatos sublinhavam o elevadíssimo número de professores candidatos que não obtiveram colocação ficando portanto no desemprego (a Fenprof fala de 42 mil, mas a FNE aponta para os 60 mil), o Ministério da Educação informava a comunicação social que…já estavam colocados nas escolas 125 mil! E nos ecrãs televisivos este número corria, impávido e sereno. O que é verdade é que destes alegados 125 mil colocados, mais de 120 mil não estavam a concurso: são professores dos quadros ou contratados reconduzidos! Ou seja, do universo dos candidatos (60 a 70 mil) ficaram colocados menos de 5 mil. O Ministério mentiu? Claro que não. Mas a falta de pudor deste modo de comunicar é bem pior que a pior das mentiras. "

António Avelãs, em escola.info

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Proibido engravidar

O Jornal de Notícias dá-nos conta de uma circular do Ministério das Finanças que limita a renovação de contratos das mulheres que estejam a usufruir de licenças de maternidade. Esta limitação foi aplicada às professoras em situação de renovação de contrato que assim foram discriminadas. É um daqueles momentos em que o governo se mostra sem máscaras. E é repugnante.

Carlos Carujo

Do Blogue Anterozóide

O ano de todas as lutas


O ano lectivo que se aproxima vai pôr a escola pública a prémio e o cutelo sobre os professores, que são o seu rosto.Assobiando para o lado aos principais problemas (quarenta mil professores no desemprego, abandono escolar, insucesso, condições deficientes de trabalho e de estudo, falta de recursos humanos especializados, programas e organização dos tempos na escola, défice de participação), o governo de Sócrates vai fazer de conta que é moderno à conta da avaliação e da gestão.

A escola sem pessoas e dos resultados a pontapé e à martelada é a avaliação moderna de Sócrates. A escola barata e refém dos poderzinhos locais é a sublime modernidade socrática.
Mas há escolas que resistiram e resistem. Há professores e professoras dentro de escolas alinhadas que resistem. Há professores e professoras que recusaram os novos poderes. Há outros que constituíram equipas fortes e que estarão nos conselhos gerais transitórios, certos de que esta é a sua aposta na resistência e na alternativa.

O Movimento Escola Pública solidariza-se com todos e todas os que resistiram e resistem e mantém as portas abertas à divulgação e à discussão de todas as formas de luta.
Sem a continuidade da resistência, do desmascarar da pantominice do modelo de avaliação, da procura de alternativas, o próximo ano lectivo pode representar uma machadada sem retorno na Escola Pública.

Quando cada professor ou professora for obrigad@ a preencher o quadradinho da percentagem de sucesso, ou o quadradinho da percentagem de alunos que não abandonaram a escola, e deixar que alguém lhe dê, pela percentagem, uma classificação, está a dizer ao governo, "mea culpa".

Quando cada escola aceitar, ou fechar os olhos à pressão para o sucesso burocrático, está a dar uma boa razão ao PP e várias ao PS. Quando cada professor ou professora for obrigad@ a ser fiscalizad@ e classificad@ por colegas que, nem são mais competentes, nem tiveram direito a formação adequada e suficiente para o efeito, está a dizer aos seus alunos que a avaliação é uma fantochada.

Mas se Sócrates, sem gastar nada, e poupando muito, conseguir que cada professor(a) assuma individualmente que o insucesso e o abandono são problemas seus, e que apenas por si mesmo (a) os pode resolver, bem pode o Primeiro agarrar a Ministra, e pô-la a papaguear: é tudo culpa dos professores, faltosos e incompetentes.

2008-2009 vai ser o ano de todas as lutas, mas esta é a linha de fronteira entre a dignidade da Escola Pública e d@s professor@s e a total falta dela. Entre a confiança que todos(as) podemos e precisamos ter na Escola Pública e a falta de garantias dos poderes públicos na qualidade da educação a que toda a gente tem direito, pela Constituição que ainda vigora.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Quando começou o tempo das facilidades?


Um prémio para quem conseguir encontrar o dia em que o tempo das facilidades começou para os professores:

«O primeiro-ministro, José Sócrates, criticou hoje a polémica sobre o número de professores excluídos dos concursos do Ministério da Educação (...)

"Muitos gostariam que o Estado contratasse mesmo que não precisasse deles, mas não é essa a nossa visão. O tempo da facilidade acabou", disse o primeiro-ministro. (...)

"Isso está fora de causa", acrescentou, lamentando que o início do ano escolar "seja vivido" com a discussão, "que não é novidade", do número de professores não colocados pelo ministério da Educação.

Antes, questionada sobre o mesmo assunto, a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, recusou prestar qualquer declaração.» (notícia daqui)

Comentário

1) A ministra cala-se. (“Para quê falar se José Sócrates foi tão demolidor?”). Mas as palavras do Primeiro Ministro são de uma insensiblilidade arrepiante. E só podem esconder um enorme rancor. Rancor com os professores que estão nas escolas e que resistem às suas injustiças e insensibilidade para com todos os professores desempregados ou precários. Mas também falta de visão. Ignorar que as escolas precisam de mais professores é meter a cabeça na areia (vê o post anterior).

2) Curioso mesmo é dizer que “o tempo da facilidade acabou” para acrescentar a seguir que a situação “não é novidade”.....ooops......Em que é que ficamos? Todos sabem.

Agência do Insucesso


40 mil professores no desemprego, metade dos quais não tem direito a subsídio de desemprego, porque não trabalhou de forma contínua nos últimos anos ou esteve a recibos verdes. A denúncia foi feita esta segunda-feira pela Fenprof.

Diz o governo que não é uma agência de emprego nem tem que ser. E tem razão. O Ministério da Educação deve ser uma agência de sucesso, de verdadeiro sucesso para lá da cosmética estatística.

Só que este governo, na ânsia de não ser uma agência de emprego, torna-se numa verdadeira agência do insucesso e nada apaga esta verdade: 38% dos jovens abandonam precocemente a escola, o valor mais alto da Europa, só ultrapassado por Malta (40%).

E combater o insucesso escolar, ou seja, fazer do Ministério da Educação uma agência de verdadeiro sucesso não implica a contratação e entrada no quadro das escolas de mais professores?

Sim. De acordo com a Federação Nacional de Educação, as turmas com um número excessivo de alunos (24 a 28) eram 38% no 9º ano, 22% no 7º ano 57% no 10º ano. Outro estudo recente diz-nos que cada professor tem por ano mais de 100 alunos. Por outro lado, faltam professores de apoio aos milhares (quantos são os que recorrem a explicações pagas porque o ensino público não as faculta?), e falta investimento ao nível do ensino especial.

Não há dúvida que um grande salto na escola pública inclusiva com sucesso escolar a quase 100% implica a vinda de mais professores. Haja coragem!