quinta-feira, 16 de julho de 2009

“A Ministra”: uma leitura recomendada


Recentemente editado, o livro “A Ministra” escrito pelo professor de Filosofia na Escola Secundária de Mem Martins, Luís Martins, com pseudónimo Miguel Real, foi certamente, neste período de férias, uma das obras escolhidas por muitos portugueses, desde logo os professores que se revêem na sibilina crítica à politica de educação do actual governo, “corporizada numa mulher fria, calculista e maquiavélica” como escreve o jornalista Pedro Almeida Vieira na introdução da entrevista à Noticias Sábado (NS) do autor da obra literária que promete dar polémica.

Admitindo haver uma ligação à actualidade da politica de educação em Portugal, Miguel Real, afirma que “A política de educação seguida por este governo, pelo primeiro-ministro e pela ministra, foi feita de maneira ostensiva, burocrática e sem diálogo (…) O governo pretende que os professores façam do aluno exclusivamente um homem tecnológico e num prazo de quatro anos ou cinco anos” acrescentando este professor / escritor, tratar-se de “uma politica pombalina” que admite, que José Sócrates quer seguir e por isso, “quer ferozmente, desenhar um homem tecnológico, vazio de alma, não investindo na cultura”. Mas como tão bem identifica este conhecedor da matéria, “A educação é o coração da cultura, a alma cívica. E estamos simplesmente a dar matéria e com os níveis de exigência a baixar. Ou seja, a preparar um aluno a ser apenas apto para executar uma profissão”.

À pergunta se é necessariamente mau preparar um aluno para executar uma profissão, Miguel Real, não desarma e insiste na denúncia do caminho que está a ser trilhado, afirmando, “É mau porque estamos a criar pessoas como se fossem robots” ou seja, conclui sem hesitações, “Na escola pensada por José Sócrates não se quer dar valores nem cultura, apenas o mínimo de princípios cívicos que fazem parte do politicamente correcto tecnológico” e acrescenta, que “A escola deve dar um ensino humanista”.

Interessante é a definição das diferenças das duas formas de ensino, que levam o entrevistado a dar como exemplo, que “Tanto a educação tecnológica como a humanista dão valor aos bons alunos. Mas a educação tecnológica até dá mais: dinheiro. Nos últimos anos, o Ministério da Educação entrega cheques aos alunos em função das notas” por isso, como adianta “Em termos de mensagem, significa que todo o esforço mental e de raciocínio é transformável em dinheiro. Numa escola humanista dar-se-ia, por exemplo, férias culturais, um cartão de entrada para museus, livros, isenção futura em propinas. Dar dinheiro vivo é algo abjecto, feito por quem apenas vê dinheiro à frente. É conspurcar a educação. E isso define, em absoluto, a senhora ministra da Educação: só vê números, só vê objectos e estatísticas” fantástico, até pela coragem neste tempo que considera, que o primeiro-ministro quer seguir o “sonho pombalino”, com todos os riscos que isso contem.

O que espera então este professor de Filosofia que venha a suceder no futuro da educação e do ensino em Portugal? A resposta é peremptória ao assumir que “A actual ministra da educação é a pior desde o 25 de Abril” e assim sendo só admite que depois dela venha um ministro humanista.

José Lopes (Ovar)

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