Pais e professores de agrupamento da Damaia denunciam separação de estudantes por classificações. Ministério diz que a medida é possível,mas considera-a contra-indicada a nível pedagógico. A direcção da escola diz que vai apenas juntar aqueles com mais dificuldades em turmas especiais
Professores do agrupamento de escolas dr. Azevedo Neves da Damaia, Amadora, dizem ter recebido ordens para dividir os alunos conforme o resultado: bons, médios e maus. Uma medida que consideram discriminatória. O director do agrupamento, José Biscaia, fala antes em juntar os estudantes menos bons em turmas especiais para reforçar o apoio. O responsável explica que "o objectivo é aumentar o sucesso dos alunos com mais dificuldades", reunindo-os em turmas que têm também bons alunos. Os psicólogos alertam para o risco de se criarem sentimentos de inferioridade nos piores estudantes.
Alguns pais descontentes ponderam mesmo uma manifestação pacífica para hoje, à porta da escola onde se vai realizar o almoço de fim de ano do agrupamento. Ao todo, cerca de 500 alunos do 1º ciclo vão ser afectados pela medida.
As escolas em causa fazem parte dos Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP). José Biscaia explica ao DN que as turmas que vão acolher os alunos com mais dificuldades tem, durante algumas horas por semana, um professor titular e um de reforço, que os ajuda a perceber o que é dado a Matemática e Português. "Não temos horas, nem dinheiro para ter um professor de reforço em todas as turmas", acrescenta o responsável. Assim, a solução é a criação de turmas que concentram grupos de alunos com mais dificuldades para terem apoio, uma medida conhecida como turmas de nível, e que já é aplicada no 2.º ciclo deste agrupamento há quatro anos.
Mas pais e professores alegam que os alunos vão ser separados segundo as suas capacidades. "Foi pedido aos professores que se reunissem para dividir os alunos em bons, médios e maus", admite ao DN uma professora do agrupamento que preferiu manter o anonimato.
A mãe de um aluno que vai frequentar o segundo ano de escolaridade ficou a conhecer esta medida através da mãe de outra aluna. "A professora disse a essa mãe que ia ficar com a turma dos melhores alunos", refere a encarregada de educação que está contra a medida.
Esta separação por níveis é possível, como indica o Ministério da Educação em resposta ao DN, mas "é, regra geral, pedagogicamente contra-indicada". Também Albino Almeida da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) defende que a constituição de turmas por níveis, ou seja, aulas suplementares para os alunos com mais dificuldades, são mais aconselháveis. "Não conhecendo o caso concreto, acho que vale a pena reavaliar esta medida já que parece não contar com o apoio de todos os pais", alerta o dirigente da Confap.
O próprio responsável pelo pelouro da Educação na Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), António José Ganhão, reconhece que este "é um projecto polémico". O vice-presidente da ANMP acrescenta que pode "criar estigmas nas crianças e leituras não muito positivas por parte das famílias". E compara: "faz lembrar as carteiras dos burros que havia no meu tempo".
O grupo de pais que contesta a medida defende que é "discriminatória". "O que faz uma turma é a diversidade, em que os bons alunos puxam os maus", argumenta uma docente. A mãe do aluno da Escola José Ruy critica: "Não tarda nada estamos a dividi-los por clube, altura ou peso".
A psicóloga da adolescência Marina Carvalho lembra que "uma das formas de aprendizagem é através de modelos dos grupos de pares, imitando os comportamentos". Assim, perante a possibilidade de ficarem separados os maus alunos não podem aprender com os bons, esclarece.
Outro risco, apontado pelo psicólogo Américo Baptista é , o "abaixamento da auto--estima dos alunos que mais tarde pode levar a criar um culto dos que fazem mais asneiras". "Os jovens beneficiam de um ambiente estimulante e se estão num ambiente pouco diversificado isso pode criar um ciclo vicioso", acrescenta. (notícia DN)
Comentário:
Consideramos totalmente errada a decisão do Conselho Executivo da Azevedo Neves. O Movimento Escola Pública, desde a sua existência, tem-se pronunciado contra turmas de nível, porque elas são estigmatizantes e potenciadoras das desigualdades de partida. O estudo que divulgámos há um ano, publicado no jornal britânico Independent, mostra que, para combater o insucesso escolar, o melhor caminho são as turmas pequenas e heterogéneas. Acrescentamos que são necessários mais professores de apoio, assistentes sociais e psicólogos (quantos estão no desemprego?). São precisos meios humanos, e para isso é preciso vontade política para abrir os cordões à bolsa no que interessa. É sintomática esta citação na notícia: "Não temos horas, nem dinheiro para ter um professor de reforço em todas as turmas".
Professores do agrupamento de escolas dr. Azevedo Neves da Damaia, Amadora, dizem ter recebido ordens para dividir os alunos conforme o resultado: bons, médios e maus. Uma medida que consideram discriminatória. O director do agrupamento, José Biscaia, fala antes em juntar os estudantes menos bons em turmas especiais para reforçar o apoio. O responsável explica que "o objectivo é aumentar o sucesso dos alunos com mais dificuldades", reunindo-os em turmas que têm também bons alunos. Os psicólogos alertam para o risco de se criarem sentimentos de inferioridade nos piores estudantes.
Alguns pais descontentes ponderam mesmo uma manifestação pacífica para hoje, à porta da escola onde se vai realizar o almoço de fim de ano do agrupamento. Ao todo, cerca de 500 alunos do 1º ciclo vão ser afectados pela medida.
As escolas em causa fazem parte dos Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP). José Biscaia explica ao DN que as turmas que vão acolher os alunos com mais dificuldades tem, durante algumas horas por semana, um professor titular e um de reforço, que os ajuda a perceber o que é dado a Matemática e Português. "Não temos horas, nem dinheiro para ter um professor de reforço em todas as turmas", acrescenta o responsável. Assim, a solução é a criação de turmas que concentram grupos de alunos com mais dificuldades para terem apoio, uma medida conhecida como turmas de nível, e que já é aplicada no 2.º ciclo deste agrupamento há quatro anos.
Mas pais e professores alegam que os alunos vão ser separados segundo as suas capacidades. "Foi pedido aos professores que se reunissem para dividir os alunos em bons, médios e maus", admite ao DN uma professora do agrupamento que preferiu manter o anonimato.
A mãe de um aluno que vai frequentar o segundo ano de escolaridade ficou a conhecer esta medida através da mãe de outra aluna. "A professora disse a essa mãe que ia ficar com a turma dos melhores alunos", refere a encarregada de educação que está contra a medida.
Esta separação por níveis é possível, como indica o Ministério da Educação em resposta ao DN, mas "é, regra geral, pedagogicamente contra-indicada". Também Albino Almeida da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) defende que a constituição de turmas por níveis, ou seja, aulas suplementares para os alunos com mais dificuldades, são mais aconselháveis. "Não conhecendo o caso concreto, acho que vale a pena reavaliar esta medida já que parece não contar com o apoio de todos os pais", alerta o dirigente da Confap.
O próprio responsável pelo pelouro da Educação na Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), António José Ganhão, reconhece que este "é um projecto polémico". O vice-presidente da ANMP acrescenta que pode "criar estigmas nas crianças e leituras não muito positivas por parte das famílias". E compara: "faz lembrar as carteiras dos burros que havia no meu tempo".
O grupo de pais que contesta a medida defende que é "discriminatória". "O que faz uma turma é a diversidade, em que os bons alunos puxam os maus", argumenta uma docente. A mãe do aluno da Escola José Ruy critica: "Não tarda nada estamos a dividi-los por clube, altura ou peso".
A psicóloga da adolescência Marina Carvalho lembra que "uma das formas de aprendizagem é através de modelos dos grupos de pares, imitando os comportamentos". Assim, perante a possibilidade de ficarem separados os maus alunos não podem aprender com os bons, esclarece.
Outro risco, apontado pelo psicólogo Américo Baptista é , o "abaixamento da auto--estima dos alunos que mais tarde pode levar a criar um culto dos que fazem mais asneiras". "Os jovens beneficiam de um ambiente estimulante e se estão num ambiente pouco diversificado isso pode criar um ciclo vicioso", acrescenta. (notícia DN)
Comentário:
Consideramos totalmente errada a decisão do Conselho Executivo da Azevedo Neves. O Movimento Escola Pública, desde a sua existência, tem-se pronunciado contra turmas de nível, porque elas são estigmatizantes e potenciadoras das desigualdades de partida. O estudo que divulgámos há um ano, publicado no jornal britânico Independent, mostra que, para combater o insucesso escolar, o melhor caminho são as turmas pequenas e heterogéneas. Acrescentamos que são necessários mais professores de apoio, assistentes sociais e psicólogos (quantos estão no desemprego?). São precisos meios humanos, e para isso é preciso vontade política para abrir os cordões à bolsa no que interessa. É sintomática esta citação na notícia: "Não temos horas, nem dinheiro para ter um professor de reforço em todas as turmas".
1 comentário:
Não é que concorde com esse processo de ensino/aprendizagem. No entanto conhecendo a escola (tenho colegas que trabalham lá) sei que é uma escola muito problemática e já tentaram resolver os problemas por outros métodos, só que não resulta. Portanto temos que ponderar antes de julgar...
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