A tarde (domingo 27 Fevereiro) era de Carnaval infantil com centenas de crianças das escolas nas ruas de Ovar, acompanhadas por diferentes elementos das comunidades escolares (professores, assistentes operacionais, pais e encarregados de educação) que desfilaram perante uma enorme multidão, que se estendeu pelo centro da cidade para ver os pequenos foliões.
Por entre a alegria, a folia e o espírito carnavalesco que vai passando de geração em geração também nesta terra, um projecto escolar se destacava na cabeça do cortejo, pelo segundo ano consecutivo, mas a viver a amargura da incerteza na sua continuidade, tais são as previsíveis consequências das medidas anunciadas pelo ministério da educação, no que diz respeito à organização das escolas no próximo ano lectivo.
Ainda que muitos dos docentes dêem sinais de contrapor às medidas já anunciadas, que não só desmotivam e desmoralizam, mas sobretudo, desorganizam as escolas no plano pedagógico e criam grandes constrangimentos. Projectos, como o que mais uma vez saiu à rua em Ovar, criado na escola sede do Agrupamento de Escolas de Ovar (EB 2,3 António Dias Simões) no ano lectivo anterior, denominado Menestréis, podem estar condenados pela mera política economicista, que aponta para deixar milhares de docentes e não docentes no desemprego.
Cenário inquietante, resultante da imposição de medidas que porão em causa respostas educativas de qualidade, com alterações curriculares, que nem o ambiente folião pode branquear, tais são os efeitos de medidas gravosas para a escola pública, cujas comunidades escolares começam a ter pouco tempo para questionar o ritmo a que os governantes querem fazer aplicar à revelia de qualquer discussão das partes envolvidas no processo educativo.
Projectos escolares, como o Menestréis, no âmbito da área da expressão musical, que vem envolvendo e estimulando um conjunto de jovens de diferentes turmas, é apenas um flagrante exemplo de trabalho produzido em meio escolar, que medidas que objectivamente o desvalorizam, entre tantos outros factores, com o aumento da precariedade, as alterações curriculares nas disciplinas de EVT, Estudo Acompanhado e Área de Projecto ou a insistência na criação de mega-agrupamentos e preocupações quanto a constituição de turmas de forma ainda mais gravosas. Começam inevitavelmente a reflectir-se no dia-a-dia de muitos dos seus entusiastas e promotores que acabam por se sentirem usados pelos responsáveis da educação, como são habitualmente professores dinâmicos que vão marcando positivamente, mas quase sempre de forma efémera, as comunidades e as escolas por onde passam na longa e dura vida de contratados sem verem reconhecimento ou dignificação da sua carreira e dedicação à paixão da educação.
José Lopes (Ovar)