sábado, 5 de fevereiro de 2011

Avaliação - Uma questão difícil

Desde sempre que a avaliação do desempenho pelos pares foi uma questão difícil. Tão difícil que alguns professores preferiam que fosse realizada por agentes externos ligados à inspeção e/ou ao Ensino Superior.

Há uma legião de argumentos de diversa natureza: os critérios de nomeação dos relatores não são claros; há relatores menos qualificados academicamente do que os professores observados; há falta de formação específica para o exercício dessa complexa atividade; os instrumentos de registo não são válidos nem fiáveis; o demónio da subjetividade e do amiguismo inquinam o processo. Numa palavra, a avaliação tende a não ser justa e a provocar males maiores nos modos de viver a profissão.

E é neste quadro argumentativo que se vai registando um ambiente que tende a tornar-se, segundo alguns, explosivo, caótico, perverso. O Ministério, como era de esperar, afirma que o processo decorre normalmente. Mas a norma do Ministério é, por regra, também ela perversa, díptica e caótica.

Importa ir um pouco mais além na análise desta magna questão-problema. E enunciar a razão central: este clima é gerado porque os professores, de um modo geral, foram socializados numa cultura profissional de débil confiança mútua. E esta debilidade tem a ver com o facto de o modelo escolar não ter proporcionado espaços e tempos de trabalho comum e ter enclausurado os professores numa triste solidão profissional. E sem isto não há conhecimento do outro. E sem este conhecimento mútuo não pode haver confiança. E sem confiança não há modelo de avaliação que resista.

Num tempo em que os professores só podem ter aliados no interior da sua própria profissão, era bom que se caminhasse numa outra direção e sentido: o de uma comunidade profissional mais exigente e mais solidária.

José Matias Alves in Correio da Educação

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