quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Perceberam?...eu não!

Começando por um resumo:


o novo modelo de avaliação do desempenho docente é composto por 39 indicadores que, segundo o Ministério da Educação, traduzem a operacionalização do desempenho docente em evidências.

Esses 39 indicadores reportam-se a 11 domínios que, por sua vez, são a operacionalização, em planos mais restritos, das 4 dimensões caracterizadoras da actuação profissional do docente.

Os 39 indicadores referem-se a 5 níveis.

Cada um destes níveis tem múltiplos descritores - no total, são 72.

A contabilidade final é: 4 dimensões, 11 domínios, 5 níveis, 39 indicadores, 72 descritores.

Além destas dimensões, destes domínios, destes níveis, destes indicadores e destes descritores, existem ainda os documentos operacionalizadores que cada escola produz para operacionalizar a operacionalização que o Ministério da Educação diz ser feita pelos 39 indicadores. O número e a variedade destes documentos varia de escola para escola.

Por fim, ainda faz parte deste modelo, o relatório de auto-avaliação. Este relatório divide-se em 6 partes, uma das quais subdivide-se em mais duas. Neste relatório, elaborado de dois em dois anos, o docente tem de:
-realizar um auto-diagnóstico relativamente a cada um dos quatro domínios de avaliação;

-fazer uma descrição da actividade profissional desenvolvida;

-revelar o contributo que deu para a prossecução dos objectivos e metas da escola;

-fazer uma análise pessoal e um balanço do trabalho que desenvolveu em função dos padrões definidos pelo Ministério da Educação e em função dos objectivos e metas do projecto educativo da escola;

-mostrar que fez formação contínua e, finalmente,

-identificar, fundamentadamente, as suas necessidades de formação para o seu desenvolvimento profissional.

Acrescenta-se que, relativamente à revelação que o professor tem de fazer acerca do contributo que deu para a prossecução dos objectivos e metas da escola, tem de apresentar evidências para cada uma das dimensões sujeitas a avaliação. Como existem 4 dimensões e como para cada dimensão podem ser apresentadas 2 a 4 evidências, o professor poderá/deverá apresentar um total de 16 evidências.

E o que é uma evidência?
Uma evidência é o seguinte conjunto de elementos:

-a identificação da actividade ou tarefa realizada,

-o enquadramento dessa actividade ou tarefa no projecto educativo e no plano anual e plurianual de escola,

-a identificação dos destinatários dessa actividade ou tarefa,

-a explicação do processo de desenvolvimento dessa actividade ou tarefa,

-a indicação das metodologias utilizadas nessa actividade ou tarefa,

-a explicação das estratégias seguidas nessa actividade ou tarefa,

-a apresentação dos resultados obtidos nessa actividade ou tarefa e a sua apreciação e, se for caso disso, diz o Ministério da Educação, deve ser incluído o respectivo grau de cumprimento dessa actividade ou tarefa, face aos objectivos individuais apresentados.

Genericamente, sem descer à análise do conteúdo de cada uma das 4 dimensões, de cada um dos 11 domínios, de cada um dos 5 níveis, de cada um dos 39 indicadores e de cada um dos 72 descritores, este é o modelo, considerado pelo Ministério da Educação, simples e claro para a avaliação do desempenho dos professores.

Vem a propósito lembrar que para levar à prática este modelo de avaliação não houve qualquer formação. 99% dos professores que vão ser avaliadores não receberam nenhuma preparação séria, não tiveram nenhuma formação de média ou de longa duração que os capacitasse minimamente para o exercício das funções que vão desempenhar.

Significa isto que, para além de se persistir num modelo de avaliação inoperacional - pela sua objectiva desadequação, pelo seu irrealismo, pela sua burocratização -, é improvisadamente que se parte para a sua concretização.

Brinca-se com o profissionalismo de milhares de docentes, brinca-se com as implicações que uma avaliação mal feita e amadoristicamente realizada tem na vida dos professores.

A leviandade domina e a farsa continua em andamento.

Mário Carneiro

E ainda não se entendeu em que isto tudo vai fazer com que se tenha melhores professores e melhor sistema de ensino. No privado esse modelo de avaliação não existe... os professores são os mesmos, formados nas mesmas escolas.

8 comentários:

Rui disse...

Boa noite.
E o que realmente me preocupa é que há professores que alinham...

Anónimo disse...

Adoro gente pragmática.
É do que o país precisa.
Não acredito que pessoas bem formadas (professores) continuem a pactuar com tanta imbecilidade.

Mafalda

imank disse...

Já repararam que os resultados e o abandono que tinham "saído pela porta" no tal "Memorando de Entendimento" entre o ME da "bruxa" Lurdes Rodrigues e os Sindicatos, "entram agora pela janela" carreados pelos Directores (mais preocupados com a sua própria avaliação") à pala das Metas neste ME da "fada" Isabel Alçada?

António José Ferreira

Maria Raquel Monteiro disse...

Mesmo com formação em Supervisão Pedagógica, esta está sempre impugnada a partir do momento em que a avaliação condiciona a progressão na carreira e que o avaliador concorre exactamente para a mesma vaga que o avaliado, ou seja é, simultaneamente, um par e um concorrente.Eu sou um exemplo vivo desta situação!

Maria Raquel Monteiro disse...

Mesmo com formação em Supervisão Pedagógica, esta está sempre impugnada a partir do momento em que a avaliação condiciona a progressão na carreira e que o avaliador concorre exactamente para a mesma vaga que o avaliado, ou seja é, simultaneamente, um par e um concorrente.Eu sou um exemplo vivo desta situação!

Anónimo disse...

Mas alguém acredita na formação em ADD para professores que já não estão em formação inicial?
Eu não.
O modelo não é exequível, com formação ou sem ela.

Precisam de se auto-avaliar?
Arranjem um orientador espiritual.

Esta "avaliatite" é doença contagiosa. Cuidem-se!

residuo disse...

Está tudo doido?
Quantas pessoas andam a perder tempo com estas imbecilidades com força de lei?
E a educação? Onde fica o espaço para o ensino?
Não sou professor nem directamente implicado no processo, mas não posso deixar de condenar mais um flagrante despredício de recursos e motor de aniquilação do ensino público.
A propaganda do PS em nada diverge do projecto do PSD.
E os professores? Vão alinhar num esquema em que se deixam inebriar com a ilusão de promoção?
Espero bem que não...

Anónimo disse...

Ai a Nossa Senhora de Fátima e arredores.
Isto é de doidos varridos... Volta
Salazar... 25 de Abril acabou
estes políticos oderam isto.