domingo, 11 de maio de 2008

A FNE e os Movimentos

Em entrevista ao Público de hoje, Dias da Silva da FNE discorre acerca dos Movimentos de Professores. Falando ou do que não sabe ou do que não quer saber, faz afirmações extraordinárias. Respiguemos uma:
" há diferenças radicais entre o funcionamento dos movimentos informais de cidadãos e os sindicatos. (…) em democracia, a legitimidade da representação dos trabalhadores pertence aos sindicatos e a mais ninguém."
Ou esta:
"Não devemos criar confusões com entidades amorfas, que não têm dirigentes eleitos. Prestam contas perante quem? E de quê? Nos sindicatos as opções não resultam de conversas de café ou de encontros na sala de professores, são o resultado do funcionamento de órgãos constituídos democraticamente."
Dias da Silva excedeu-se, só pode. Foi deslizando, deslizando e lá foi dizendo o que provavelmente outros pensam, mas têm mais contenção verbal. Educados a isso, evidentemente.
A existência dos movimentos pode provocar bordoeja aos sectores mais burocratizados e empedernidos das estruturas sindicais. É também verdade que nalguns movimentos sopre uma pulsão de alguma arrogância alternativa aos sindicatos, mas, duma parte e outra, não tomemos a parte pelo todo.
E acima de tudo, não subestimemos o papel fundamental que os movimentos, na sua pluralidade, na sua diversidade, mesmo na sua efemeridade, desempenharam a caminho do 8-de-Março-da-nossa-indignação. Introduziram elementos novos, formas de comunicação novas, obrigaram a uma atenção mais detalhada por parte dos diferentes poderes instalados, deram sinais de uma cidadania activa, incómoda evidentemente.
E fazem falta apara que o debate saia da sala de professores e das reuniões sindicais e adquira maior dimensão pública.
Os seus objectivos concretos, a sua identidade, a sua legitimidade, a sua organicidade é a que aqueles que os protagonizam quiseram que tenha. Pela nossa parte, como afirmamos no nosso manifesto:
“(…) queremos fazer parte da resposta emancipatória, empenhamo-nos na construção de um Movimento que promova a escola pública pela igualdade e pela democracia. Ao subscrever este Manifesto queremos dar corpo a uma corrente que mobilize a cooperação contra a competição, a inclusão contra a exclusão e o preconceito, que dê visibilidade a práticas e projectos apostados numa escola como espaço democrático, de cidadania, de conhecimento e de felicidade, porque uma outra escola pública é possível”
É por aí que vamos.
JM

2 comentários:

Silvana Paulino disse...

Por um lado temos a Plataforma, por outro um certo descontentamento dos professores em relação ao recente entendimento. Muitos não o compreenderam muito bem. Sentiram-se enganados, tendo ou não razão para se sentirem assim, tendo sido mais ou menos informados em relação ao porquê desse entendimento.
Só posso ver esta atitude da FNE como uma tentativa de pôr o "corpo" fora. Num momento em que mais do que nunca precisamos de união.
Estejamos de acordo ou não com o que se vai fazendo, temos de ter uma posição comum, nunca perdendo de vista o objectivo principal - lutar por uma escola democrática de qualidade.

Maria José Vitorino disse...

Bordoeja, ou brotoeja?
Como se dizia antigamente das borbulhas nas crianças pequenas: são medranças, ou seja, sinais crescimento. Às vezes dão forte, mas passam. Mostram que se está a transformar o corpo, claro.
Neste caso, que a FNE assume a descoberta de que vive numa sociedade aberta e, até certo ponto, incontrolável pelas organizações convencionais.
No caso dos movimentos como o MEP, espera-se a serena urgência que evite corridas inúteis a poderes que pouco transformam, e, ao memso tempo, a capacidade de sublinhar o essencial. Se +puder ser, já agora, assumindo sempre a escola pública de qualidade como direito e assunto de toda a gente. Docentes incluídos.