Cerca de 40 pessoas marcaram presença na Biblioteca Municipal de Santo André, para uma animada tertúlia sobre escola pública. Poemas de António Gedeão e José Gomes Ferreira intercalaram com músicas de Zeca Afonso, Carlos Paião, Ala dos Namorados ou Cesária Évora. João Madeira moderou toda a sessão, que contou com a participação de Cecília Honório (MEP), Felizarda Barradas (SPGL) e dos músicos Paulo Rangel, Vítor Furtado, Fernando Cunha e Paulo Barba.
Felizarda Barradas denunciou o fraco investimento estatal na escola pública, bem visível na rede insuficiente de infantários públicos, e nas escolas degradadas e dependentes do dinheiro que as autarquias (não) têm. E sublinhou a necessidade de lutar por uma escola pública inclusiva e que ao mesmo tempo seja de qualidade, permitindo assim a igualdade no acesso e no sucesso real dos alunos, que não pode ser meramente estatístico.
Criticou a Ministra da Educação por considerar os professores “calaceiros”. “É uma Ministra de um campo que odeia e por isso não o sabe semear”, acrescentou, acusando-a ainda de promover entre os professores comportamentos do reino animal, orientados para a competição cega. Isto em vez de incentivar a solidariedade e a cooperação, com sentido de humanidade.
Sobre o modelo de avaliação de desempenho dos professores, considerou-o burocratizado, funcionalizado, como se tivesse sido retirado de “uma qualquer empresa americana”. “É um modelo que desconfia dos professores”, esclareceu.
Felizarda Barradas frisou ainda que “a escola pública que temos não é aquela que queremos” porque ainda é pouco democrática e pouco pública.
Por sua vez, Cecília Honório sublinhou que o Movimento Escola Pública não se centra apenas nas questões de carreira dos professores mas que procura incentivar uma abordagem mais ampla sobre a Escola Pública. Neste sentido, sobre as medidas tomadas em três anos de governo do Partido Socialista, afirmou que quase todas elas não passaram de “maçãs à primeira vista apetitosas” mas que rapidamente “passaram à fase do veneno”. E exemplificou com o alargamento do horário das escolas que acabou por implicar a privatização do currículo e a precariedade da mão-de-obra, além da modernização do Parque Escolar, igualmente entregue a empresas privadas.
Na lógica da maçã envenenada enquadra-se também a avaliação dos professores. Em princípio, parece uma medida aceitável – dado que todos os serviços públicos devem prestar contas – mas, na verdade, “qual é o exemplo que o Ministério dá do que é um bom professor?”. E a resposta veio de imediato: “Até agora, a imagem de bom professor que nos dão é aquele que ocupou cargos nos últimos sete anos”. Contra este paradigma, frisou que o próximo ano lectivo deve servir para “testar a ineficácia da procaria destes modelos de avaliação e gestão”.
Cecília Honório denunciou ainda a “escola de sargentos” que o governo quer impor, com o Director no topo da pirâmide e os alunos na base. Mas valorizou enfaticamente a manifestação de 8 de Março - “um momento histórico de indignação e protesto” - que, muito longe de ter sido corporativo, deu visibilidade a diversas causas pela escola pública. E acrescentou: “Isto já ganhámos: há um espaço novo mais democrático, plural e aberto, de participação e democracia”
Num debate muito participado foram ainda feitas críticas ao excesso de alunos por turma, à redução dos apoios educativos (tendo-se transformado o conceito de necessidades educativas especiais em deficiência), e ao facto dos professores, consumidos por reuniões e mais reuniões sobre a aplicação da avaliação, não terem nem tempo nem disponibilidade para se dedicarem a projectos que envolvam os alunos.
Neste sentido, ouviram-se muitas críticas às fichas de avaliação que o Ministério ainda nem sequer conseguiu publicar, devido aos sucessivos erros. E foi feito um desafio: “Faça-se um concurso ou uma feira de fichas de avaliação, quem vencer tem direito a uma viagem com a Ministra!”
1 comentário:
Bolas, bolas. Não desejava sequer uma hora com a Ministra ao meu pior inimigo.
A Tertúlia parece ter sido bastante interessante.
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