O mercado de explicações cresce sem regulação, acentuando desigualdades entre alunos, já que uns pagam para subir uma décima que pode ser decisiva para o ingresso na universidade, considerou um especialista em Ciências da Educação. O quadro foi traçado com preocupação por Jorge Adelino Costa, do Departamento de Ciências da Educação da Universidade de Aveiro, no V Simpósio de Organização e Gestão Escolar, que durante dois dias reuniu docentes e investigadores naquela universidade.
Durante seis anos, uma equipa de investigadores que Jorge Adelino Costa integrou recolheu dados em escolas de uma cidade média do centro do país, cujos resultados não serão muito diferentes da realidade nacional: 60 por cento dos alunos do 12º ano frequentam explicações e os pais gastam entre 70 e 240 euros mensais, conforme o número de disciplinas. Matemática, Física, Química e Geometria Descritiva são as principais áreas.
«É quase um terceiro sistema de ensino e provavelmente os gastos com as explicações em Portugal são já superiores aos do ensino privado. O volume é tal, que o fenómeno tem de ser estudado», comentou à Lusa.
O investigador adverte para as questões de igualdade de oportunidades que o fenómeno levanta, quer em função das possibilidades económicas das famílias, porque nem todos os pais têm dinheiro para os filhos frequentarem as explicações, quer geográficas, já que no interior do país a oferta de explicações não é a mesma.
Parte desse mercado está escondido. São os «explicadores domésticos» que tiram dúvidas na garagem, no hall da casa, até na cozinha, e raramente declaram a actividade ao fisco.
Mas há também cada vez mais empresas organizadas a competir, com estratégias de captação de clientes, e algumas multinacionais a operar no mercado português.
Jorge Costa acentua a urgência de um maior investimento nas escolas, não necessariamente financeiro, para que os alunos não precisem de recorrer a esses serviços e da regulação que tarda.
«Os políticos não querem falar disso e os professores e as escolas não discutem muito estas questões», observa.
A «Educação na sombra» progride sem regras e gera distorções: qualquer pessoa pode dar explicações, as horas e às disciplinas que quiser e nas condições que tiver.
O fenómeno influencia as performances das diferentes escolas e muitas vezes introduz elementos de perturbação na sala de aulas.
«Fazem-se rankings das escolas com base no 12º ano e constatamos que em muitas das melhores escolas os alunos são apoiados por explicações. Estamos a avaliar o quê? As escolas ou os explicadores?», questiona o investigador.
As implicações fazem-se sentir também na «gestão da sala de aulas», em que os professores são confrontados com um grupo de alunos que domina a matéria, porque anda nas explicações, enquanto os outros não.
Chegam a ser contrariados por alunos quando estão a ensinar porque o explicador 'ensinou' de outra maneira.
«Não podemos contrariar esse mercado, mas falta a articulação com as escolas. Há países onde os estabelecimentos de ensino fazem protocolos com centros de explicações para haver essa articulação», explica.
Numa década, o panorama mudou radicalmente. Enquanto há 10 ou 15 anos, os alunos «escondiam que andavam em explicações» porque estas eram frequentadas sobretudo por estudantes que tinham dificuldades às respectivas disciplinas, hoje as explicações são encaradas como mais um trunfo na competição pelo ingresso no ensino superior e chegam a ser uma moda.
«Cada vez mais são alunos com classificações elevadas e bons desempenhos académicos que frequentam as explicações, por causa do acesso ao ensino superior, mas também andar na explicação é moda e não tanto uma necessidade. Hoje parece bem e é chique», ironiza Jorge Costa.
O investigador dá conta de que «há escolas que oferecem um processo de explicações fora das aulas, mas os alunos preferem tê-las no exterior, onde se aplicam mais e sentem maiores obrigações porque os pais estão a pagar».
Lusa/SOL
Durante seis anos, uma equipa de investigadores que Jorge Adelino Costa integrou recolheu dados em escolas de uma cidade média do centro do país, cujos resultados não serão muito diferentes da realidade nacional: 60 por cento dos alunos do 12º ano frequentam explicações e os pais gastam entre 70 e 240 euros mensais, conforme o número de disciplinas. Matemática, Física, Química e Geometria Descritiva são as principais áreas.
«É quase um terceiro sistema de ensino e provavelmente os gastos com as explicações em Portugal são já superiores aos do ensino privado. O volume é tal, que o fenómeno tem de ser estudado», comentou à Lusa.
O investigador adverte para as questões de igualdade de oportunidades que o fenómeno levanta, quer em função das possibilidades económicas das famílias, porque nem todos os pais têm dinheiro para os filhos frequentarem as explicações, quer geográficas, já que no interior do país a oferta de explicações não é a mesma.
Parte desse mercado está escondido. São os «explicadores domésticos» que tiram dúvidas na garagem, no hall da casa, até na cozinha, e raramente declaram a actividade ao fisco.
Mas há também cada vez mais empresas organizadas a competir, com estratégias de captação de clientes, e algumas multinacionais a operar no mercado português.
Jorge Costa acentua a urgência de um maior investimento nas escolas, não necessariamente financeiro, para que os alunos não precisem de recorrer a esses serviços e da regulação que tarda.
«Os políticos não querem falar disso e os professores e as escolas não discutem muito estas questões», observa.
A «Educação na sombra» progride sem regras e gera distorções: qualquer pessoa pode dar explicações, as horas e às disciplinas que quiser e nas condições que tiver.
O fenómeno influencia as performances das diferentes escolas e muitas vezes introduz elementos de perturbação na sala de aulas.
«Fazem-se rankings das escolas com base no 12º ano e constatamos que em muitas das melhores escolas os alunos são apoiados por explicações. Estamos a avaliar o quê? As escolas ou os explicadores?», questiona o investigador.
As implicações fazem-se sentir também na «gestão da sala de aulas», em que os professores são confrontados com um grupo de alunos que domina a matéria, porque anda nas explicações, enquanto os outros não.
Chegam a ser contrariados por alunos quando estão a ensinar porque o explicador 'ensinou' de outra maneira.
«Não podemos contrariar esse mercado, mas falta a articulação com as escolas. Há países onde os estabelecimentos de ensino fazem protocolos com centros de explicações para haver essa articulação», explica.
Numa década, o panorama mudou radicalmente. Enquanto há 10 ou 15 anos, os alunos «escondiam que andavam em explicações» porque estas eram frequentadas sobretudo por estudantes que tinham dificuldades às respectivas disciplinas, hoje as explicações são encaradas como mais um trunfo na competição pelo ingresso no ensino superior e chegam a ser uma moda.
«Cada vez mais são alunos com classificações elevadas e bons desempenhos académicos que frequentam as explicações, por causa do acesso ao ensino superior, mas também andar na explicação é moda e não tanto uma necessidade. Hoje parece bem e é chique», ironiza Jorge Costa.
O investigador dá conta de que «há escolas que oferecem um processo de explicações fora das aulas, mas os alunos preferem tê-las no exterior, onde se aplicam mais e sentem maiores obrigações porque os pais estão a pagar».
Lusa/SOL
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