sexta-feira, 31 de julho de 2009
quinta-feira, 30 de julho de 2009
quarta-feira, 29 de julho de 2009
A reforma de muitos e a precariedade de tantos
Comentário:
É de facto um número impressionante e mostra bem a crueza (e crueldade) das políticas deste governo. Mas o que também é curioso é o número de professores que foram colocados nos quadros no último concurso: apenas 417 professores contratados/precários conseguiram passar para os quadros. Ou seja, menos de 10% das vagas deixadas pelos professores que se aposentaram foram preenchidas. Só mesmo um governo tecnocrata e insensível ao insucesso escolar é que pode proceder desta forma, como se tivéssemos professores a mais nas escolas. Uma vergonha.
terça-feira, 28 de julho de 2009
O que vai acontecer no início do ano lectivo?
É preciso pensar bem que protestos podem os professores realizar no início do ano lectivo.
O MUP sugere uma manifestação a 12 de Setembro. Mas a as aulas só começam a 14 de Setembro. Bem sabemos que o trabalho dos professores nas escolas começa mais cedo...mas é necessário mais tempo de mobilização para conseguirmos uma manifestação expressiva.
Seria óptimo uma nova manifestação gigante antes das eleições legislativas. Não há nenhum impedimento legal para fazê-la em período de campanha eleitoral como aliás aconteceu com a manifestação de 31 de Maio. Aliás, é uma das formas que os professores têm de se expressar nessa campanha, lembrando o poder político e os diversos partidos que a sua luta é longa, justa, dura e que estaremos dispostos a continuá-la e a ganhá-la.
Assim, por que não realizar a dita manifestação a 19 de Setembro? E será que uma greve nacional na primeira ou segunda semana de aulas constitui uma alternativa melhor? Ou será que os sindicatos preferem guardar as grandes energias para o período seguinte, aguardando as novidades que trará um novo governo?
São questões importantes e para as quais começa a ser urgente uma resposta. E que um debate sério e franco permita chegar a uma posição conjunta entre sindicatos e movimentos porque já vimos que é dessa forma que os professores ganham mais força.
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Professores sujeitos à lei da selva
A 31 de Agosto, muitos serão os professores das mais de 20 escolas e colégios do Grupo GPS Educação e Formação, com sede no Louriçal, concelho de Pombal, que poderão cessar o contrato. Não por serem dispensados, mas porque os próprios foram obrigados a assinar uma carta de despedimento no início do ano lectivo, ao mesmo tempo que assinavam ou renovavam contrato, mesmo quando já lá leccionam há anos suficientes para fazerem parte dos quadros das escolas.
Lê aqui toda a notícia do JN
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Lembram-se dele?
Lembram-se de quem é João Rendeiro?
Rendeiro é também o porta-voz da EPIS (Empresários Pela Inclusão Social), estrutura que em concertação com o Ministério da Educação desenvolve actividades nas escolas, de carácter mais do que duvidoso. Para perceber lê o post:
A escola empresa dos banqueiros e da ministra
Homofobia na escola no Brasil e em Portugal ou mais uma razão para uma Educação Sexual que respeite as diferenças
Quando assumiu sua homossexualidade, Hernanny Queiroz tinha 16 anos e cursava o 2° ano do ensino médio. As piadas e xingamentos que ele ouvia frequentemente acabaram fazendo com que fosse reprovado aquele ano. "Eu comecei a não ir mais para o colégio, faltei tanto que repeti. Quando eu ia as pessoas falavam mal de mim e sempre acabava dando confusão", lembra. Vê aqui
E em Portugal....
Pelo menos seis jovens agredidos por causa da sua orientação sexual abandonaram precocemente a escola, segundo o relatório de 2008 da Rede Ex Aequo - Associação de Jovens Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgéneros e Simpatizantes. A associação recebeu um total de 92 denúncias de discriminação - 19 das quais relatam agressões físicas - e exige do governo medidas urgentes para mudar esta realidade. Vê aqui
A luta não acabou
Excerto do Post de Miguel Pinto em OutrÒÓlhar
quinta-feira, 23 de julho de 2009
A histeria das nove
Vale a pena lembrar que, diversamente dos ex-governantes na barra dos tribunais, os professores e a escola que avaliaram este aluno não cometeram nenhuma ilegalidade.
No frenesim, e porque é fraca e preconceituosa a relação entre práticas nas escolas e investigação, de pouco serve o que a segunda tem trazido à luz do dia sobre a retenção: na maioria das vezes, um prejuízo para todos, a começar pelos próprios alunos e alunas. As razões são simples: o que a escola oferece ao “chumbado” é mais do mesmo. Aliás, mente-se, o aluno foi transitado para ser enfiado num Curso de Educação e Formação. Calam-se as bocas, esquece-se o aluno.
Por que é que não se discute esta forma airosa de resolver as dificuldades de aprendizagem quando, mais uma vez, a situação se reporta a um caso “sociofamiliar grave”? Não os escandaliza abrir os olhos e ver para o que serve, e a quem serve, a oferta profissionalizante da Sra. Ministra? Escândalo é os filhos e filhas dos graves casos sociofamiliares, e outros tantos quadros graves, serem despachados para uma oferta de ensino de segunda, perdendo a igualdade de sucesso a que têm, pela lei, direito.
No entanto, de toda a verborreia escrita sobre o assunto justifica-se algum respeito pela que vem de professores e professoras, do canto da solidão. Falam e escrevem sabendo muito bem que o sistema de ensino está dividido em ciclos e a sua base de sustentação não é anual, é plurianual. Sabem muito bem que prestam contas pelos seus alunos e alunas na base de um perfil de desempenho de ciclo, e não de ano. Porém também sabem que falta o psicólogo ou a assistente social ou o tutor ou o mediador ou tempo, ou meios e condições para a flexibilização do currículo, ou… Sabem, bem demais, que estão demasiado sós e muitas vezes impotentes.
É esta angústia que merece respeito. Porque a demais verborreia salazarenta que continua a associar insucesso a chumbo não vale nada, menos ainda face às exigências de qualidade da escola pública.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Teimosia reprovada passa para novo ano
Trabalho de que resultou mais uma vez, e pese embora todos os meios informáticos disponíveis, toneladas de papel imprimido com relatórios e mais relatórios, que se acumulam nas escolas a uma velocidade vertiginosa nos últimos anos, derivada deste tipo de produção de escrita, resultante da política seguida, que parece de forma cínica, “castigar” os docentes, obrigando-os a fazer uma espécie de TPC antes do seu direito ao gozo de férias, retemperadoras de energias para mais um ano, que se adivinha começar a ser ainda marcado pela teimosia da actual Ministra da Educação no que toca, nomeadamente ao modelo de avaliação, que apesar de reprovada pelos professores passa para novo ano.
Também neste capítulo da avaliação, que mais ensombrou o último ano lectivo, os responsáveis pela educação em Portugal, negam-se a retirar lições de um processo que provocou a maior e gigantesca indignação dos docentes. Politica que humilhou e desmoralizou grande parte deste grupo profissional, que era muito da alma da escola portuguesa, em que só a sua postura responsável, empenhada e de aprofundamento pedagógico através da investigação, tantas vezes por conta própria, por amor à arte de ensinar, tornou possível atrasar o cenário deprimente que os governantes foram traçando para a escola pública.
Neste quadro não será de estranhar que as diferentes organizações sindicais de professores, manifestem inquietação e contestação às intenções do Ministério da Educação, que insiste no caminho do afrontamento através da continuação do actual modelo de avaliação simplex, através da prorrogação do regime simplificado. Modelo que de forma significativa os docentes contestaram por diferentes formas até ao final do ano lectivo e só deve ter um destino, a suspensão. Decisão que o Ministério e o Governo de Sócrates, insiste em não querer compreender, mesmo vindo reconhecer o adiamento para a próxima legislatura, da aprovação de alterações ao modelo que viu ser na prática derrotado pelas extraordinárias e inovadoras formas de protesto dos professores, dos seus sindicatos e movimentos que proporcionaram um novo colorido e estimulo à luta dos docentes em Portugal.
Se os vários intervenientes na educação se debruçassem seriamente sobre as consequências nefastas que resultaram para as comunidade escolares da politica seguida pelo Ministério no que toca ao tipo de avaliação imposta, certamente que nesta altura, se estaria a negociar responsavelmente um modelo de avaliação adequado, coerente e eficaz, que não tivesse como objectivo dividir este grupo profissional e sobretudo reduzir custos com congelamento de carreiras, cuja progressão está completamente limitada, com evidentes sacrifícios para os jovens professores cada vez mais proletarizados.
Assim na mesma linha da arrogância que tem caracterizado a governação, às comunidades educativas resta partilhar e vivenciar naturais focos de indignação que tal politica fomenta, transportando para o novo ano, os problemas e as razões que deram origem a grandiosas manifestações, que podem ter sido decisivas para as mudanças que todos anseiam nas próximas legislativas. Uma oportunidade que as principais vitimas de tanta humilhação não deixaram de perder a oportunidade de ter uma palavra a dizer, neste caso através do voto.
José Lopes (Ovar)
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Educação sexual: dados e opiniões
Excerto de um artigo do JN sobre a Educação Sexual, que merece ser lido.
Leia também outros posts do MEP sobre este assunto:
Abaixo o Obscurantismo
O país do “Faz de Conta”
Morreu Adriano Teixeira de Sousa
Ao Adriano, que conheci no secretariado nacional da Fenprof, chamava eu “o homem mais bonito do Norte” : o homem do sorriso verdadeiro, o homem a quem recorríamos quando era necessário fazer as pontes entre opiniões ou propostas contraditórias. O homem calmo mas de convicções fortes.
A morte é sempre um absurdo necessário. Mas não é justo que os deuses, certamente por ciúmes, nos tenham levado tão cedo um dos melhores de entre nós: o Adriano – o homem mais bonito do norte.
António Avelãs”
Adriano Teixeira de Sousa era Membro do Secretariado e do Conselho Nacional da FENPROF e da Direcção do Sindicato dos Professores do Norte (SPN).
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Avaliação: quatro anos de farsa
E é em nome desta farsa que alguns Directores, paus-mandados, cães de fila, ou outros nomes piores, querem prejudicar os colegas, não aceitando a ficha de avaliação dos que não entregaram objectivos individuais. É a fuga para a frente dos que enchem a barriga com novos poderes...mas tanta altivez vai concerteza estatelar-se no chão mais cedo do que tarde.
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Santo Onofre: a arrogância burocrática não funcionou
Comecei a receber esta informação ontem e o facto foi hoje renovado. Informaram-me que foi o próprio coordenador da CAP que o divulgou hoje numa reunião realizada numa das escolas do agrupamento.”
Paulo Prudêncio, in Correntes
Comentário:
O governo quis impor uma Comissão Administrativa contra os professores e contra os alunos, quando o anterior Conselho Executivo vinha fazendo uma gestão de sucesso que fez do Agrupamento de Santo Onofre uma escola modelo. Pelos vistos, a Comissão Administrativa não aguentou a pressão ou não foi capaz de fazer frente à decência de quem exigia justiça. A confirmar-se esta notícia, é a arrogância e a burocracia que saem derrotadas. E ganham a escola e a democracia
Recibos verdes nas AECs: Será desta que acabam? E o que fica?
Vê a notícia da TSF e a do Público
A confirmar-se é uma boa notícia, embora deixe muitas coisas por resolver:
E a intermediação das empresas de trabalho temporário ou de serviços? As câmaras ficam proibidas de recorrer a estas empresas e são obrigadas a estabelecer os contratos directamente com os professores?
Por outro lado, considera este Ministério que contratos de um ano significa estabilidade profissional? Se os técnicos/professores são necessários, por que motivo não entram nos quadros?
E sobra ainda a outra questão: a música e o inglês não deviam ser integrados no currículo normal? Com mais professores e técnicos especializados nos quadros das escolas? Não seria melhor fazer dos horários das AECs verdadeiros tempos livres, com ATLs gratuitos?
“A Ministra”: uma leitura recomendada
Admitindo haver uma ligação à actualidade da politica de educação em Portugal, Miguel Real, afirma que “A política de educação seguida por este governo, pelo primeiro-ministro e pela ministra, foi feita de maneira ostensiva, burocrática e sem diálogo (…) O governo pretende que os professores façam do aluno exclusivamente um homem tecnológico e num prazo de quatro anos ou cinco anos” acrescentando este professor / escritor, tratar-se de “uma politica pombalina” que admite, que José Sócrates quer seguir e por isso, “quer ferozmente, desenhar um homem tecnológico, vazio de alma, não investindo na cultura”. Mas como tão bem identifica este conhecedor da matéria, “A educação é o coração da cultura, a alma cívica. E estamos simplesmente a dar matéria e com os níveis de exigência a baixar. Ou seja, a preparar um aluno a ser apenas apto para executar uma profissão”.
À pergunta se é necessariamente mau preparar um aluno para executar uma profissão, Miguel Real, não desarma e insiste na denúncia do caminho que está a ser trilhado, afirmando, “É mau porque estamos a criar pessoas como se fossem robots” ou seja, conclui sem hesitações, “Na escola pensada por José Sócrates não se quer dar valores nem cultura, apenas o mínimo de princípios cívicos que fazem parte do politicamente correcto tecnológico” e acrescenta, que “A escola deve dar um ensino humanista”.
Interessante é a definição das diferenças das duas formas de ensino, que levam o entrevistado a dar como exemplo, que “Tanto a educação tecnológica como a humanista dão valor aos bons alunos. Mas a educação tecnológica até dá mais: dinheiro. Nos últimos anos, o Ministério da Educação entrega cheques aos alunos em função das notas” por isso, como adianta “Em termos de mensagem, significa que todo o esforço mental e de raciocínio é transformável em dinheiro. Numa escola humanista dar-se-ia, por exemplo, férias culturais, um cartão de entrada para museus, livros, isenção futura em propinas. Dar dinheiro vivo é algo abjecto, feito por quem apenas vê dinheiro à frente. É conspurcar a educação. E isso define, em absoluto, a senhora ministra da Educação: só vê números, só vê objectos e estatísticas” fantástico, até pela coragem neste tempo que considera, que o primeiro-ministro quer seguir o “sonho pombalino”, com todos os riscos que isso contem.
O que espera então este professor de Filosofia que venha a suceder no futuro da educação e do ensino em Portugal? A resposta é peremptória ao assumir que “A actual ministra da educação é a pior desde o 25 de Abril” e assim sendo só admite que depois dela venha um ministro humanista.
José Lopes (Ovar)
Concentração de professores não colocados é na 5 de Outubro
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Até a OCDE lhes falha
Depois da trapalhada dos números e dos discursos acerca dos exames nacionais, agora é outro dos pilares da encenação de rigor do Ministério da Educação que está a ruir. A OCDE, que também foi instrumentalizada no discurso do Ministério com o objectivo de colocá-la a sancionar as suas políticas, vem agora “considerar que o actual modelo causa focos de tensão e deve funcionar como futura base de trabalho” segundo a TSF.
E, mais uma vez, a Ministra tenta tapar o sol com a peneira agora dizendo que é apenas “um contributo técnico para a melhoria do modelo de avaliação”. O tipo de contributos que ela recusou até agora e que mais parece ser uma crítica que compromete ainda mais o modelo esburaco de avaliação que se tenta impor às escolas.
terça-feira, 14 de julho de 2009
A concentração itinerante
O Ministério da Educação vai mudar outra vez o local da reunião com a FENPROF. Desta feita a indicação é que é na DGRHE, na 24 de Julho, à mesma hora.
Parece que o Ministério da Educação anda a fugir porque tem medo da concentração de professores/as. Depois disto, só temos que lhe dar razões para ter medo e aparecer onde quer que seja. Porque por mais que deslocalize as suas reuniões não vai demover quem tem mais do que razões para protestar. É que, senhora ministra, nós, contratados/as e qzp, já estamos habituados a andar com a trouxa às costas e não é assim tão fácil escapar-nos. E vá reunir para onde for, não consegue fugir à triste realidade que criou na educação em Portugal.
Carlos CarujoDo uso político dos exames nacionais
A capa do Jornal “Público” de hoje salienta a inconsistência das posições da Ministra da Educação relativamente aos exames de Matemática. Os/as os professores/as já tinham reparado nela. Maria de Lurdes fica presa entre a apropriação dos resultados positivos para a finalidade política de defender que a melhoria se deve ao trabalho do seu Ministério (e dos professores e das escolas também, vá lá…) e a desculpabilização do Ministério dos resultados negativos, culpando a falta de trabalho dos alunos e sobretudo a comunicação social que teria influenciado esta falta de trabalho dando a entender que seria tudo muito fácil em ano eleitoral. Se tudo correu bem fui eu, se tudo correr mal foram eles, isto no espaço de semanas.
Percebe-se a aflição de um Ministério que vê os seus dogmas de suposto rigor postos em causa: quando o rigor são números desgarrados lidos de forma leviana e quando ao qualidade de ensino se reduz à existência de exames, estes resultados devem doer muito. Com o seu orgulho burocrático ferido de morte, Maria de Lurdes, mesmo tendo amigos bem colocados no topo da hierarquia, terá muita dificuldade em ter avaliação final positiva. Isto a menos que construa uma grelha bonita ou um portefólio catita justificar isso, que o rigor do seu sistema de avaliação é suficientemente flexível para que tudo se resolva pela aparência de seriedade e que se envolva de um paleio engana-tolos. Ou não.
Carlos Carujo, São Brás de Alportel (até ao fim do mês que depois logo se vê)
Concentração de professores alterada
O Ministério da Educação alterou a hora e o local da reunião com a FENPROF que coincidia com a concentração de Professores descolocados no concurso. Assim, a concentração passa para as 14,30 horas na sede do CNE, Rua Florbela Espanca, em Alvalade, bairro dos Coruchéus.
A urgência de participar e de lutar contra a precariedade mantém-se.
segunda-feira, 13 de julho de 2009
A ilusão da ciência ou a exactidão dos sonhos entre exames e concursos
Os resultados dos exames servem para tudo. Há um ano os resultados de matemática tinham subido em média. Dizia o governo que isso era o resultado da eficácia do plano nacional da matemática, da dedicação dos professores e da competência do governo. Este ano os resultados desceram e o inefável secretário de estado Valter Lemos lestamente veio anunciar que a responsabilidade era dos comentadores políticos, da Sociedade Portuguesa de Matemática e dos partidos.
O jogo de ilusões que o governo procura fazer passar é indescritível. Descarta responsabilidades quando convém, distribui culpas com a mesma leveza de quem distribui pétalas de flores, tenta adoçar a boca dos professores num dia e agride as suas associações profissionais no dia seguinte, ao sabor do vento e da conveniência. A exactidão do erro deste ministério é a única constante com que podemos contar.
Todos os anos, também mais ou menos por esta altura somos confrontados com os resultados da colocação de professores. Há três anos que não se realizava qualquer concurso para ingresso nos quadros. A expectativa dos 111 mil candidatos era enorme. Para muitos tratava-se de finalmente obter um vínculo profissional mais estável ao fim de muitos anos de serviço e para muitos outros tratava-se de conseguir obter colocação numa escola mais perto do seu local de residência que lhes permitisse recuperar o direito à sua vida privada.
A importância do resultado para a vida destas pessoas é gigante. Não é portanto compatível com a insignificância, a pequenez do pensamento de quem argumenta com o número bruto de professores colocados. A ilusão da ciência vem deste número: 30 mil professores colocados.
Mas é preciso dizer que estes são menos de um terço dos candidatos. E é preciso dizer mais. É preciso dizer com clareza quantos foram colocados no quadro pela primeira vez: apenas 417. Isto é, apenas 0,3 por cento dos candidatos. Mas é preciso ir mais longe e constatar que não entrou no quadro nenhum professor do ensino pré-escolar, nem do 1.º ciclo nem nenhum professor de matemática ou de português do 2.º ciclo.
Não é desta forma que se resolve o défice de oportunidade da aprendizagem. Resolver os problemas de uma escola desigual que, ano após ano reproduz desigualdade precisa de uma orientação coerente que invista na oferta educativa precoce e melhore a vinculação dos docentes aos projectos de educação dos locais. Que os comprometa e reconheça. Esse efeito não se obtém com uma relação precária. Contra a exactidão dos sonhos dos professores que esperam ver o seu trabalho reconhecido, o seu percurso profissional estabilizado, o governo só tem a manipulação da ilusão dos números para oferecer e o adiamento das expectativas. Em nome da ilusão de uma ciência falsificada que toma a parte pelo todo e promove os resultados de exame como o indicador da evolução da educação, o governo vai surfando a onda do momento e só contribui para agravar o equívoco.
Texto de Alda Macedo, em escola.info
Professores desterrados
Post de Miguel Pinto, em OutrÒÓlhar
domingo, 12 de julho de 2009
Precariado docente x 3
A precariedade docente não é uma sina é uma política. Só que, sendo a política de todos os partidos do arco do poder, parecerá sina enquanto a actual situação política se mantiver.
1- Os/as eternos/as contratados/as
Este problema é crónico e já quase não é notícia. A opinião pública recebe já dessensibilizada a informação desta semana de que 99% dos/as candidatos/as à vinculação ficaram de fora, depois de já ter recebido a notícia da corrida às reformas dos/as professores/as e educadores/as. Ao recebê-la assim, talvez não tenha ficado claro que o seu prazo de validade, a manter-se esta política educativa, é de quatro anos. Ou seja, do ponto de vista do governo o facto dos concursos para entrada nos quadros se realizarem de quatro em quatro anos é uma estabilização, do ponto de vista dos/as contratados/as significa, no mínimo, mais quatro anos de uma angústia precária vivida com a certeza de que as escolas precisam permanentemente de mais professores/as.
2- AEC, precários/as a tempo inteiro
Mas se parte do problema se arrasta há muitos anos, este governo inventou também novas situações de precariedade. A "escola a tempo inteiro" correspondeu à formação de um novo corpo de precários a tempo inteiro: os/as professores/as e monitores/as das Actividades de Enriquecimento Curricular.
E se o grande argumento para manter os/as contratados/as numa situação de precariedade permanente é, no primeiro caso, a poupança orçamental, esta segunda condição precária de muitos/as professores/as parece ser contra-intuitiva do ponto de vista desta argumentação. Se o objectivo da precariedade é poupar, como se justifica que a invenção das AEC seja um mau negócio a tempo inteiro em que o Estado paga às autarquias para pagarem a empresas privadas (sem grande supervisão da sua qualidade e sem que se conheçam muitos concursos públicos para este efeito) que por sua vez pagarão, a recibos verdes, tarde e a más horas aos/às professores/as?
3- Novas oportunidades/novas precariedades
O programa das "Novas Oportunidades" constituiu, para além de uma obsessão de certificar à pressa e com uma finalidade meramente estatística, uma nova oportunidade de precarização do sector docente. Sendo também uma nova oportunidade de negócio, dados os apoios que entram nas entidades formadoras, as "novas oportunidades" são também elas um programa que se percebe precário e de vistas curtas que apenas criará empregos precários e em condições difíceis permitindo mais uma vez que os grandes ganhadores sejam os intermediários. O que menos interessa é a qualidade do ensino ministrado nas "novas oportunidades", apenas que seja de certificação rápida para que se possa agradar a quem procura um grau mais elevado de formação e se possam mostrar um acréscimo de habilitações para inglês ver.
Artigo de Carlos Carujo, publicado em Esquerda.net
Protesto contra a precariedade docente
Vê aqui mais informação
sexta-feira, 10 de julho de 2009
Um estudo para medir o impacto da propaganda
Ora aqui está uma evolução criativa deste governo. Já não basta fazer propaganda, agora fazem-se estudos sobre a eficácia dessa propaganda junto das pessoas. Na verdade, para saber se vale a pena insistir na mesma cosmética ou se mais vale mudar o tom das cores. Quanto à substância do programa, recusa discuti-la ou avaliá-la. Lamentável.
Quando vai haver condições para trabalhar na escola?
Pois não bastam todos estes novos meios ao dispor do vazio de perspectivas, a componente humana, a necessidade de valorização das pessoas era bem mais necessária e estimulante, até para as aprendizagens e os consequentes resultados sem artificialismos para as estatísticas. Bem pelo contrário, o Ministério da Educação prefere profissionais sem motivação, sem estímulo, sem perspectivas, sem estabilidade. Vai daí, como temos assistido, torna este período de férias, no caso dos docentes, um autêntico pesadelo, um dia a dia de ansiedade e tantas vezes de desilusão e angústia.
Afinal os resultados dos concursos de professores confirmam ser os piores de sempre. A manipulação de números para fazer crer o que não é verdade, volta a repetir-se nitidamente com o intuito de enganar a opinião pública, tal como já anteriormente aconteceu com a “novela” da avaliação do desempenho dos docentes, cuja continuação dos próximos capítulos está pendente deste ano eleitoral.
A precariedade laboral que está a agravar-se na escola pública, é tanto mais evidente, quando, dos mais de 100 mil participantes no concurso, 50 mil são professores precários, muitos há vários anos e outros que concorrem pela primeira vez, dos quais apenas quatro centenas conseguiu um lugar no Quadro.
O Ministério da Educação na sua diferente interpretação da realidade, anunciou que, dos mais de 100 mil participantes no concurso de professores, válido para quatro anos, foram colocados 30 mil professores.
Mas como as actuais gerações de docentes ainda vão resistindo a deixarem de pensar e ter opinião, só podem concluir, que analisando estes 30 mil, percebe-se que cerca de 18 mil são professores que apenas pediram transferência de Quadro de Escola, perto de 12 mil são docentes que estavam num Quadro de Zona Pedagógica e entraram nos Quadros de Agrupamento e apenas 417 dos candidatos precários obtiveram colocação nos quadros.
Não conseguindo disfarçar a demagogia dos números e o desrespeito cínico pelos professores, cujas expectativas para este ano eram compreensivelmente maiores devido aos milhares de professores que se aposentaram. Perante mais esta afronta, que tranquilidade, que estabilidade para a escola pública e seus profissionais, que respeito pelas comunidades escolares. Este é o desafio que temos na véspera de mais um ano lectivo, que não parece trazer grandes mensagens de paz.
José Lopes (Ovar)
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Divisão na carreira é "veneno" para a educação
O curto circuito do Poder
Uma petição que só agradou à Direita
Lê também o post “Uma petição injusta”
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Uma petição injusta
Percebe-se o impacto e a adesão que teve. Quando há problemas é sempre mais fácil encontrar um bode expiatório, com cabeça tronco e membros. Se há alunos indisciplinados ou absentistas então castigue-se os pais, indiscriminadamente. É a idea da solução fácil, imediata, como se o problema fosse simples e não existissem causas mais complexas a montante que necessitam de ser combatidas.
A indignação com esta petição atinge o seu auge quando lemos a única proposta concreta que ela carrega: “medidas sancionatórias às famílias negligentes como multas, retirada de prestações sociais e, no limite, efeitos sobre o exercício das responsabilidades parentais”.
Pois, as multas e a retirada de prestações sociais punem precisamente quem mais sofre e quem tem menos possibilidades de acompanhar os seus filhos. Não prejudicam a família rica e negligente. Castigam sim a família em que muitas vezes ambos os pais têm vários trabalhos precários, mal dormem e esforçam-se ao máximo por pagar os materiais escolares dos filhos. Prejudicam as famílias que já têm privações e que por muito boa vontade que tenham, não têm as mesmas possibilidades de acompanhar os seus filhos. São medidas injustas e que só pioram o problema.
Num mundo e num país em que a precariedade aumenta, em que as dificuldades são cada vez maiores para cada vez mais famílias, faz sentido apontar baterias contra os pais que querem acompanhar os seus filhos mas não podem? Faz sentido fazer julgamentos morais sobre a vontade de cada família quando não se conhecem os contextos?
É por isso que esta petição acerta ao lado. Para combater o insucesso, o abandono e a indisciplina, as medidas certas são outras e são de dois tipos:
1) Apoios sociais dignos para as famílias mais necessitadas, combate ao desemprego e à precariedade com medidas concretas, e redução do horário de trabalho.
2) Potenciar as escolas de meios humanos e materiais (não sobrecarregando sobre os mesmos) que lhe permitam um combate sério ao abandono e insucesso escolar, com turmas mais pequenas, psicólogos, assistentes sociais e tutorias.
Miguel Reis, Movimento Escola Pública
terça-feira, 7 de julho de 2009
O concurso precário e o barato que sai caro
- 11.836 docentes que já pertencem aos quadros (40,9% do total de docentes dos QZP) não obtiveram colocação no novo quadro criado (Quadro de Agrupamento).
São decepcionantes os resultados deste concurso, principalmente quando nos concursos anuais eram colocados nos quadros em média cerca de três mil professores, e, pior ainda, quando este ano assistimos a uma vaga tão grande de aposentações.
A escola que temos é em grande parte assegurada por profissionais precários e na corda bamba, muitos deles alternando essa situação com o desemprego. Isto num país em que muitas escolas têm turmas demasiado grandes, onde o abandono e insucesso escolares são dos maiores da Europa, onde faltam professores de apoio, onde milhares de alunos e famílias recorrem às explicações privadas porque a escola não oferece recursos humanos suficientes.
Mas, para este governo como para os anteriores, as escolas não precisam de mais professores. Só que o barato, neste caso sai muito caro.
Nenhum professor ficará desempregado?
O ME divulga na imprensa de hoje “projecções” segundo as quais cerca de quarenta mil candidatos/as aos concursos de professores/as não serão colocados. Mas, adianta logo Valter Lemos, de certeza que com o objectivo de tranquilizar, “nenhum dos que ficarão de fora teve ligação às escolas públicas nos últimos dois anos, disse ao Público o secretário de Estado da Educação (…). Ou nunca leccionaram, ou estão no ensino particular ou nas actividades de enriquecimento curricular e candidataram-se agora ao ensino público. A maioria tem um emprego.”
Não se sabe a partir de que dados estas projecções foram feitas, uma vez que as Escolas ainda não declararam vagas para as fases seguintes do concurso. Não se sabe quais são as fontes sobre o tipo de candidatos que ficarão de fora. O que se sabe com certeza é que este discurso é o mesmo de sempre: quantas vezes não ouvimos que os desempregados não são professores são “candidatos a professores”?
A lenga-lenga é mais que conhecida. A acreditar nos sucessivos Ministérios da Educação nenhum/a professor/a teria ficado desempregado/a nos últimos anos. São sempre apenas os/as “candidatos/as a professores” que não conseguem colocação. E a acreditar neste discurso ser professor deverá ser a actividade mais atractiva do país, com várias pessoas com outras profissões a querer entrar para ela. Ou então com muita gente alheia à educação com um estranho fetiche por incluir o seu nome na lista de candidatos a professor. Talvez se comprove mesmo um dia a estranha mania dos marcianos concorrerem a professores… Uma experiência única na vida de qualquer um.
O discurso é mentiroso e insultuoso. Mentiroso porque milhares de professores foram sendo obrigados a deixar a profissão devido às medidas que colocam as contas de mercearia acima da qualidade da educação. Insultuoso porque insiste em desqualificar todos/as os/as que concorrem mas principalmente aqueles que dedicaram vários anos da sua vida a esta profissão e que segundo os responsáveis ministeriais nem merecem ser qualificados/as como professores/as e educadores/as. E quem infelizmente ficar desempregado/a no próximo concurso deverá ir lembrar a Valter Lemos a sua mentira.
Carlos Carujo, São Brás de Alportel
Porta fechada
Ontem fechou-se outra vez por quatro anos a porta da vinculação para milhares de professores/as e educadores/as. Este facto deve fazer-nos lembrar que os sucessivos governos apostam tanto em ter professores e educadores precários quanto em precarizar e humilhar os professores/as que já estão no quadro. A precarização da actividade docente é um dos consensos mais perenes dos poderes que têm governado a educação.
No discurso oficial, o facto dos concursos se realizarem de quatro em quatro anos corresponde a uma “estabilização” do corpo docente. Na realidade significa que, mesmo que entretanto exista aquilo que o Ministério reconhece como “necessidades permanentes do sistema”, nenhum professor/a ou educador/a entrará nos seus quadros com todas as consequências que isso tem na vida das pessoas. Na realidade deixa os quadros de zona numa espécie de limbo em que este pertencem a um quadro que já não existe, em que são excedentários ou supernumerários apesar de serem necessários às escolas.
E, daqui a quatro anos, as portas que voltarem a abrir talvez não sejam as mesmas. Tudo se prepara para que a transparência de listas nacionais deixe de existir. Tudo se prepara para que directores plenipotenciários ou executivos municipais desconhecedores da realidade das escolas sejam os novos actores principais da contratação de professores. Tudo se prepara para que os governos seguintes inventem novas formas de precariedade e limitem ainda mais a verdadeira estabilização do corpo. Tudo se prepara a menos que nós nos preparemos antes. E lutemos com todas as forças que tivermos pelo direito à vinculação.
Carlos Carujo, São Brás de Alportel
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Tanto disparate numa só resposta
MLR - Foi benéfico, porque permitiu ultrapassar as dificuldades, técnicas e outras, à criação nas escolas de condições para a realização de uma avaliação que permite diferenciar e premiar os melhores.
Vê toda a entrevista a Mário Nogueira e Maria de Lurdes Rodrigues
Bastou dar a primeira resposta para Maria de Lurdes se espalhar ao comprido. Diz que foi benéfico para o país e para o ensino manter esta avaliação de professores, sem “mas” nem “meio mas”. Ou seja, revela todo o seu auto-centramento, toda a sua teimosia alheada do mundo exterior. Como um robôt. E, claro, as dificuldades foram ultrapassadas....em que país vive MLR?
Mas estas três linhas revelam muito mais do que arrogância e alheamento. Mostram bem o pensamento desta equipa ministerial quanto à avaliação: ela deve servir para “diferenciar e premiar os melhores”. Ou seja, para Maria de Lurdes, um sistema de avaliação de professores não serve para melhorar a qualidade pedagógica e científica das aulas, não serve para ajudar os professores com mais dificuldades, não serve para resolver problemas nem para formar, serve tão só para distinguir os melhores, como se o ensino fosse uma competição desportiva onde se atribuem medalhas no final. A isto chama-se tecnocracia neoliberal imbecil.
Finalmente, o último disparate. Há uns dias, a Ministra veio dizer que, se calhar, as quotas para as notas mais elevadas já não farão sentido, digamos que era só para experimentar. Mas nesta curta resposta que agora deu, por que raio decidiu definir o essencial do seu modelo de avaliação por aquilo que diz que vai rejeitar no futuro? É caso pa ra dizer que aquela gente anda muito baralhada....
domingo, 5 de julho de 2009
Escolas rejeitam alunos mais pobres
Comentário:
1) Estes dados confirmam, que, infelizmente, há escolas que discriminam e rejeitam alunos de classes sociais mais baixas. O estudo do sociólogo João Sebastião já havia levantado este problema. Há escolas que estão à frente nos rankings porque têm alunos mais favorecidos e outras que ficam com os mais pobres e se afundam nos rankings. Tal como com as turmas de nível, estas práticas, que o Movimento Escola Pública rejeita e combate, são reprodutoras das desigualdades de partida.
2) Há um dado importante relatado na notícia: as escolas com cursos profissionais têm tendência a ter mais beneficiários da Acção Social Escolar, confirmando o que vínhamos dizendo: com as suas políticas, este governo ajuda a criar uma escola para ricos e outra para pobres.
Passa-Palavra
José Carlos Jacinto, Movimento Escola Pública
sábado, 4 de julho de 2009
Escola separa alunos "bons" de alunos "maus"
Professores do agrupamento de escolas dr. Azevedo Neves da Damaia, Amadora, dizem ter recebido ordens para dividir os alunos conforme o resultado: bons, médios e maus. Uma medida que consideram discriminatória. O director do agrupamento, José Biscaia, fala antes em juntar os estudantes menos bons em turmas especiais para reforçar o apoio. O responsável explica que "o objectivo é aumentar o sucesso dos alunos com mais dificuldades", reunindo-os em turmas que têm também bons alunos. Os psicólogos alertam para o risco de se criarem sentimentos de inferioridade nos piores estudantes.
Alguns pais descontentes ponderam mesmo uma manifestação pacífica para hoje, à porta da escola onde se vai realizar o almoço de fim de ano do agrupamento. Ao todo, cerca de 500 alunos do 1º ciclo vão ser afectados pela medida.
As escolas em causa fazem parte dos Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP). José Biscaia explica ao DN que as turmas que vão acolher os alunos com mais dificuldades tem, durante algumas horas por semana, um professor titular e um de reforço, que os ajuda a perceber o que é dado a Matemática e Português. "Não temos horas, nem dinheiro para ter um professor de reforço em todas as turmas", acrescenta o responsável. Assim, a solução é a criação de turmas que concentram grupos de alunos com mais dificuldades para terem apoio, uma medida conhecida como turmas de nível, e que já é aplicada no 2.º ciclo deste agrupamento há quatro anos.
Mas pais e professores alegam que os alunos vão ser separados segundo as suas capacidades. "Foi pedido aos professores que se reunissem para dividir os alunos em bons, médios e maus", admite ao DN uma professora do agrupamento que preferiu manter o anonimato.
A mãe de um aluno que vai frequentar o segundo ano de escolaridade ficou a conhecer esta medida através da mãe de outra aluna. "A professora disse a essa mãe que ia ficar com a turma dos melhores alunos", refere a encarregada de educação que está contra a medida.
Esta separação por níveis é possível, como indica o Ministério da Educação em resposta ao DN, mas "é, regra geral, pedagogicamente contra-indicada". Também Albino Almeida da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) defende que a constituição de turmas por níveis, ou seja, aulas suplementares para os alunos com mais dificuldades, são mais aconselháveis. "Não conhecendo o caso concreto, acho que vale a pena reavaliar esta medida já que parece não contar com o apoio de todos os pais", alerta o dirigente da Confap.
O próprio responsável pelo pelouro da Educação na Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), António José Ganhão, reconhece que este "é um projecto polémico". O vice-presidente da ANMP acrescenta que pode "criar estigmas nas crianças e leituras não muito positivas por parte das famílias". E compara: "faz lembrar as carteiras dos burros que havia no meu tempo".
O grupo de pais que contesta a medida defende que é "discriminatória". "O que faz uma turma é a diversidade, em que os bons alunos puxam os maus", argumenta uma docente. A mãe do aluno da Escola José Ruy critica: "Não tarda nada estamos a dividi-los por clube, altura ou peso".
A psicóloga da adolescência Marina Carvalho lembra que "uma das formas de aprendizagem é através de modelos dos grupos de pares, imitando os comportamentos". Assim, perante a possibilidade de ficarem separados os maus alunos não podem aprender com os bons, esclarece.
Outro risco, apontado pelo psicólogo Américo Baptista é , o "abaixamento da auto--estima dos alunos que mais tarde pode levar a criar um culto dos que fazem mais asneiras". "Os jovens beneficiam de um ambiente estimulante e se estão num ambiente pouco diversificado isso pode criar um ciclo vicioso", acrescenta. (notícia DN)
Comentário:
Consideramos totalmente errada a decisão do Conselho Executivo da Azevedo Neves. O Movimento Escola Pública, desde a sua existência, tem-se pronunciado contra turmas de nível, porque elas são estigmatizantes e potenciadoras das desigualdades de partida. O estudo que divulgámos há um ano, publicado no jornal britânico Independent, mostra que, para combater o insucesso escolar, o melhor caminho são as turmas pequenas e heterogéneas. Acrescentamos que são necessários mais professores de apoio, assistentes sociais e psicólogos (quantos estão no desemprego?). São precisos meios humanos, e para isso é preciso vontade política para abrir os cordões à bolsa no que interessa. É sintomática esta citação na notícia: "Não temos horas, nem dinheiro para ter um professor de reforço em todas as turmas".
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Abriu a caça aos votos dos professores
Rapidamente, a revolta alastrou nas escolas, na blogosfera, nas ruas. A arrogância e insensibildiade do governo despoletaram inevitavelmente este slogan: “Sou professor, não voto PS”. Ou, numa versão ainda mais desesperada: “Vota à Esquerda ou à Direita, mas não votes PS”.
Não há dúvida de que o PS não merece os votos dos professores nem de todos os que defendem a qualidade da escola pública. Mas o dito slogan abre portas a todos os oportunismos, precisamente porque é vazio de conteúdo político. E bastarão assim umas palavras agradáveis, umas promessas vagas, umas falinhas mansas, para que certos partidos se posicionem como grandes defensores da escola pública e dos direitos dos professores.
O caso mais emblemático é o de Manuela Ferreira Leite. Num ápice veio dizer que rasgava as políticas educativas deste governo e que, se chegar ao poder, vai suspender o actual modelo de avaliação, vai revogar o actual estatuto do aluno, vai rever o estatuto da carreira docente e acabar com as burocracias.
Ferreira Leite sabe que precisa dos votos dos professores e vai tentar caçá-los a qualquer preço. Mas vejamos: Ferreira Leite não tem uma única ideia sobre o modelo de avaliação que defende, Ferreira Leite não se compromete em revogar o actual modelo de gestão das escolas e, principalmente, Ferreira Leite recusa dizer que vai acabar com a divisão da carreira em professores de primeira e professores de segunda. E não o faz porque esse osso é o ex-libris de qualquer centrão.
Manuela Ferreira Leite foi a ministra da educação que apelidou uma geração de rasca e não hesitou em patrocinar cargas policiais a estudantes. Manuela Ferreira Leite defendeu com unhas e dentes o aumento das propinas e a ideia de que a universidade quando é para todos tem que ser paga, porque quando era apenas para os filhos dos ricos era gratuita.
Pior ainda: Manuela Ferreira Leite, há pouco mais de um ano, disse-o com todas as letras: É preciso privatizar a Educação. Foi em Abril de 2008, ora comprovem a notícia:
Questionada depois pelos deputados do PSD sobre as funções do Estado, Manuela Ferreira Leite respondeu que começaria por privatizar «aqueles sectores em que os privados já estão, como a saúde a educação». «São dois sectores em que não vejo porque é que o Estado não se retira» (...)
Este é o esqueleto de Manuela Ferreira Leite: para ela, tudo o resto são rebuçados e assessórios. Com ou sem avaliação de professores, com ou sem modelo de gestão, com ou sem estatuto do aluno, o que ela quer é retirar o Estado da Educação. E abri-la à iniciativa privada, ou não defendesse o primado do mercado sobre a igualdade de oportunidades.
Os professores que se cuidem e a escola pública também. E cuidarem-se é continuarem a lutar, todos os dias. E, antes do voto, ler os programas de todos os partidos. Votar em consciência, e não em desespero.
quinta-feira, 2 de julho de 2009
A Escola Pública e o fordismo
A verdadeira função desta espécie de mal engendrada e desalmada linha de montagem é produzir, automaticamente, em massa, de forma acelerada, e a baixos custos, duvidosos produtos estandardizados. Esta nova escola é, afinal, um hino ao velho fordismo. O tal sistema aplicado por Henry Ford em 1908 que venerou o dinheiro como deus supremo do Homo sapiens sapiens e que projectou um mundo sublime, onde o Homem é castrado da sua capacidade cognitiva e coagido a demitir-se das suas quotidianas obrigações familiares bem como de outros cívicos desígnios sociais em nome do lucro desenfreado (de uns poucos), da sobrevivência, do consumismo e do hedonismo desregrados.
Aquele sistema perfeito superiormente ironizado por Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo) ou por Charlie Chaplin (Tempos Modernos), nos anos 30 do século XX, que está agora no epicentro de mais um superlativo "tsunami" económico e financeiro de consequências imprevisíveis para a humanidade; "tsunami" esse cujas causas são reincidentes e estão bem diagnosticadas.
Enfim, aquele implacável sistema materialista mecanicista e "darwinista", que hoje transcende o sector secundário para atingir muitos serviços do sector terciário, e cujo modo de vida o escritor americano de ascendência portuguesa John dos Passos também satirizou, numa obra datada dos mesmos anos 30 (O Grande Capital), com estas antológicas palavras: "quinze minutos para almoçar, três para ir à casa de banho; por toda a parte a aceleração taylorizada: baixar, ajustar o berbequim, acertar a porca, apertar o parafuso. Baixar-ajustar o berbequim-acertar a porca-apertar o parafuso.
Baixarajustaroberbequimacertaraporcaapertaroparafuso, até que a última parcela de vida tenha sido aspirada pela produção e que os operários voltem à noite a casa, trémulos, lívidos e completamente extenuados".
"Porreiro pá!" Mas, pá, será esta a escola e o mundo que nós desejamos para os nossos alunos, para os nossos filhos?
Este excerto, que aqui publicamos para reflexão, é de um artigo de Luís Filipe Torgal e foi publicado aqui
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Governo não larga o osso
Comentário:
Nada de espantar: este governo até pode vir a recuar aqui e ali no seu modelo de avaliação de professores. Precisa de dar esses sinais para ver se adocica alguma coisa. Mas quer ficar agarrado ao seu osso. E o osso é a divisão da carreira docente, para garantir a hierarquia, a cadeia de comando, e para bloquear a subida na carreira e poupar milhões em salários.