quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Carta dirigida aos Parlamentares do PS

Trata-se de um documento muito bem escrito e interessante. Se ELES ainda não entenderam... palavras para quê?
Ex. Mos Senhores Deputados da Bancada Parlamentar do PS
Sou professora no ensino privado. Tirei o curso de Eng. Física com média de 14 e recusei uma bolsa de investigação para ir dar aulas. Fiz a profissionalização em serviço com nota de 17 valores no estágio pedagógico. Estou há 10 anos na mesma escola. Considero-me o que agora se chama uma "professora por vocação ". No privado, os professores estão sujeitos à avaliação prevista no actual Contrato Colectivo de Trabalho do Ensino Particular e Cooperativo assinado entre a FENPROF ea AEEP, um modelo de avaliação exequível e que não tem levantado celeuma. Tirando o regime de faltas dos alunos do novo Estatuto do Aluno, que, por laxista, é responsável este ano por um decréscimo acentuado na assiduidade e, por consequência, no aproveitamento dos alunos, o sector está em relativa paz.
Já a minha mãe é professora, agora titular, no ensino público. Tenho-a acompanhado na leitura da legislação que tem saído e até na concepção das tais grelhas de avaliação que são diferentes de escola para escola. Desde que li o decreto 2/2008, que afirmei que o modelo proposto era sumariamente inexequível. Qualquer pessoa de boa fé (e se houve ainda algum deputado que ainda não o fez, aconselho vivamente a experiência), ao ler o texto do decreto percebe que nunca poderia ser posto em prática. Dito isto, pergunto-mequem faz as leis no Ministério da Educação e quem é responsabilizado por lançar para o mundo real uma lei que cria o caos e não é concretizável. Como eu, terão perguntado dezenas de milhares de professores a quem foi atirada a tarefa de concretizar na prática aquilo que não é possível realizar. Horas e horas de trabalho para o lixo.
Como era de esperar, surgiu o simplex, através do decreto regulamentar 11/2008, onde os professores contratados foram avaliados através de auto-avaliação e avaliação por parte da direcção executiva, avaliação essa que compreendia a assiduidade, o cumprimento do serviço atribuído e as acções de formação contínua. Naturalmente aceitável e o sector pacificou. Quando o ministério diz que já foram milhares de professores avaliados, foi através deste decreto. O actual modelo nunca foi aplicado. Afirmá-lo é mentir. Novo ano, nova tentativa de aplicar o mal nascido 2/2008. Que deu no que deu. Agora já há o simplex que tenta remendar o irremendável, por tão mal fabricado que foi. É aqui que estamos. O mau estar na educação não se esgota na avaliação dos professores. Passa pelo Estatuto da Carreira Docente, que criou injustiças gritantes, pelo Estatuto dos Alunos, que abriu portas para o maior nível de absentismo de que há memória na história na educação· (mas evita que os números oficiais o revelem), pela desconsideração de que os professores têm sido alvo desde que esta equipa ministerial entrou em funções. Os bons professores não temem a avaliação (e não há 140 000 mil maus professores no país...), mas pedem uma avaliação clara, justa e concretizável. Não um faz de conta. Conheço uma escola em que o Conselho Executivo já só pediu aos professores que entregassem os tais objectivos individuais, comprometendo-se desde já a não os ler e dar Bom no final do ano a todos os professores. E não seria isso que incomodaria o Ministério da Educação, que actualmente já só quer quese diga que avaliou os professores no final do ano. Como e em que condições, já é irrelevante. Mas não para os professores que, estando no terreno, estão saturados de más leis que tentam a custo implementar, levando ainda o recado, quando a pressão vem da parte dos alunos e dos pais, que é a escola que não interpreta convenientemente o espírito das leis, das portarias, dos decretos, das circulares e demais legislação que caem diariamente do ministério.
Muito mais haveria por dizer, mas a missiva já vai longa. Escrevo-lhes porque têm uma oportunidade, dia 23, de travar o caos e profundo descontentamento que se vive nas escolas. De fazer um reset e obrigar todos os envolvidos a reflectir. Com certeza que os problemas da educação não se esgotariam, mas a pacificação do momento poderia inverter o rumo de ingovernabilidade que se vive hoje na escola pública.
Com consideração,

(professora devidamente identificada)

1 comentário:

Maria José Vitorino disse...

reset
ora aí está uma palavra interessante

boa carta!
assim haja destinatários com "teclado" adequado à operação sugerida