quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Uma escola portuguesa no século XXI






(vê os vídeos, principalmente os dois de baixo)


O edifício da Escola Secundária de Sebastião da Gama, em Setúbal, está fisicamente dividida em três blocos: o bloco central, composto por três pisos, onde se concentram as salas de aula generalistas, laboratórios, Secretaria, Conselho Executivo, Biblioteca e Sala de Professores, entre outros espaços de menores dimensões; o bloco das oficinas, de onde se destacam as desprezadas oficinas de Carpintaria e de Mecânica, as Oficinas e Laboratório de Electricidade, a Oficina de Artes Visuais e o Bufete dos Alunos; o bloco do ginásio, composto por um ginásio grande e outro pequeno com respectivos balneários, além do refeitório.

Trata-se de um edifício com mais de cinquenta anos, que apresenta graves problemas no seu estado de conservação, sobretudo no bloco das oficinas. O bloco do ginásio recebeu recentemente obras que o renovaram por completo. O bloco central foi recebendo obras pontuais ao longo dos tempos, apresentado umas salas boas, outras assim-assim e outras que se apresentam medíocres, sobretudo algumas do rés-do-chão, muito frias e com os originais soalhos de madeiras muito degradados. O bloco das oficinas foi sempre desprezado e deixado para o fim das prioridades, e é aí que se apresentam os casos mais gritantes.

Em matéria de degradação, desse bloco destacam-se o Bufete, a Oficina de Electricidade 2 e a Oficina de Artes Visuais. São espaços muito quentes quando faz calor e muito frios e húmidos no inverno, onde se chegam a registar temperaturas inferiores a 10 graus. Também neles pinga água dos tectos e escorre pelas paredes sempre que chove abundantemente; água essa que passa por cima de fios, lâmpadas, caixas e tomadas de electricidade, acumulando-se em autênticos lagos pelo chão, ou caindo dentro de baldes e alguidares que se colocam um pouco por todo o lado. Nos tectos desses espaços, por diversas vezes encharcados devido ao facto de haver algerozes entupidos e telhas partidas, espalham-se imensas manchas de fungos, e deles chegam a cair bocados de estuque devido à água acumulada.

Quando o Bufete está inundado, as funcionárias chapinham na água, que se acumula mais por trás do balcão, intercalando a venda das sandes com umas varredelas e esfregonadas valentes, entre lamúrias e lamentações. Da Oficina de Electricidade 2, onde funcionam aulas de Educação Tecnológica, ressalta ainda a muita água que cai sobre mesas e bancadas e se acumula no chão. Mas o pior destes espaços é a Oficina de Artes Visuais, onde se dão aulas de Desenho, de Oficina de Artes e de Educação Visual.

Nesta sala, que tem os problemas das outras, mas a dobrar, sai também água através de tampas de esgoto pluvial que existem no chão. Por vezes, a água acumulada no chão é tanta que chega a cair em cascata pelo peal da porta. Além disso, paira quase sempre no ar um cheiro insuportável, que é uma mistura de humidade, bolor, estuque podre, madeira em putrefacção e urina de ratos, que por ali habitam e circulam. Imagine-se o bem que isto deve fazer à saúde!

Sempre que se entra na Oficina de Artes Visuais, aquela salada de cheiros leva professores e alunos a tossir, a sentir comichão no nariz e um mal-estar generalizado nas vias respiratórias. Isto a juntar ao frio, que dois ridículos aquecedores não conseguem minimamente combater. Os professores que ali dão aulas vão trocando, sempre que podem, esse espaço por alguma sala vaga, o que raramente acontece, ou pelo Bufete, que não é um espaço condigno para se leccionar, mesmo tratando-se disciplinas de cariz essencialmente prático, dado tratar-se de um local por onde passam muitos alunos que, obviamente, estão ali para comer, conversar e conviver.

Os espaços referidos deviam ser alvo de uma inspecção séria e fazerem-se estudos sobre a segurança e os perigos para a saúde que eles apresentam, por parte de entidades competentes: bombeiros, protecção civil, técnicos especializados, delegado de saúde... Deviam ser feitas análises à qualidade do ar para sabermos de facto o que é que ali estamos a respirar. Há professores e turmas que têm ali mais de 10 horas de aulas por semana. Como se trata de espaços que estão à espera de "obras a sério" há pelo menos 20 anos, pouco ou nada se faz para os remediar.

Entretanto, as falsas campanhas em prol do Ensino vão sendo espalhadas pela Ministra da Educação e pelo Primeiro-Ministro, enquanto em muitas noutras escolas não há aquecedores, nem vidros para substituir os partidos, nem funcionárias para garantir as bibliotecas abertas, nem refeitórios decentes, nem ginásios, nem fechaduras nas portas. Nalgumas escolas e salas de aula quase se navega de barco quando chove, mas dá-se prioridade aos Magalhães... para se navegar no mar turvo das ilusões e das mentiras.

Os vídeos que aqui se mostram (no total são 11, por economia de uploads publicamos apenas quatro) foram feitos no dia 15 de Janeiro, nos espaços atrás referidos. Não se trata de um acontecimento pontual, pelo contrário, as situações retratadas são comuns sempre que chove com alguma intensidade. Aliás, dias houve em que as situações se apresentaram mais graves do que aquelas que aqui se mostram. De qualquer modo, os vídeos são bastante elucidativos. Pena é que faltem os cheiros.

27/Janeiro/2009
António Galrinho

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