quarta-feira, 25 de março de 2009

Escola e precariedade


Escola. É fácil conotar a vida deste espaço com as ideias de aprendizagem, construção (individual e colectiva), transformação, diversidade, discussão… É aqui que vivemos um dos mais importantes capítulos das nossas vidas, é aqui que vamos alimentando uma ambição que é comum a todos e a todas, atravessando toda a diversidade que há entre nós, a ambição de ser independente, de conseguir viver do nosso próprio trabalho, pelo seu valor, e sair da alçada dos nossos pais. Enquanto actores da Escola queremos vivê-la com toda a sua diversidade e intensidade, aproveitando as oportunidades que esta nos oferece, construindo uma bagagem, a mesma bagagem que nos alimenta as ambições. Queremos viver uma Escola que é viva, porque é feita por pessoas que a transformam, uma Escola que é sempre diferente no espaço e no tempo.

O Ensino Superior é para muitos o culminar da vida estudantil. É certo que este não é o único caminho, mas é sem dúvida o caminho mais rico de todo o percurso escolar, sendo geralmente interpretado como uma possibilidade para alcançar uma vida melhor. É também neste momento que nos dão as voltas à vida. Hoje, acabar o Ensino Superior não é garantia de nada, estamos todos entregues a um mercado de trabalho selvagem, que nos vende a precariedade como uma inevitabilidade, pois esta “é melhor do que o desemprego” dizem alguns interessados na exploração. As pessoas são hoje meros objectos, descartáveis pelos patrões a qualquer momento. É fácil perceber isto pela quantidade de pessoas que trabalham a falsos recibos verdes (sendo o Estado o principal empregador dos mesmos), pela proliferação das empresas de trabalho temporário (a que o Estado também já aderiu) e pelo número crescente de desempregados. Por outro lado, as grandes fortunas são cada vez maiores.

Mas a condição precária começa muitas vezes (cada vez mais) ainda antes de acabar o Ensino Superior... Todas as reformas que este tem sofrido – começando com o aparecimento e crescimento das propinas, passando pelo processo de Bolonha e acabando no novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) – tinham e têm um rumo bem traçado: a desresponsabilização do Estado pelo financiamento do ensino. A transferência deste encargo passa para as famílias, transformando-se o ensino numa mercadoria de luxo ao alcance de quem a puder comprar.

Assistimos assim à privatização do ensino e à exclusão das classes mais baixas da sociedade. São cada vez mais aqueles que ambicionam entrar na faculdade e têm de conciliar o estudo com um qualquer trabalho temporário, ou que têm de recorrer a empréstimos, para que tal seja possível. Vivendo assim permanentemente numa condição precária ainda antes de acabar o seu curso. Além disto, a grande mudança, e talvez a mais importante, que Bolonha trouxe, foi a completa reconfiguração dos cursos para uma formatação do ensino que leva à criação de licenciados precários no seu conhecimento. O conhecimento deixa de ser global e passa a ser condicionado pelo que interessa ao mercado.

Este percurso atropela também a vida de muitos investigadores e professores universitários.
Assim, vamos vendo as nossas vidas a ser atropeladas por quem nos explora e nos quer manter numa condição social de instabilidade. E sabemos que estamos perante um governo que responde todos os dias a estas questões e faz uma escolha clara, situando-se do lado da exploração.

Contra a exploração, e para dar voz aos precários, fazemos o MayDay.

Ricardo Vicente

Nota do MEP: São tantos os professores atingidos pela precariedade, contratados e explorados que andam a saltar de escola em escola, que é justo que os professores engrossem este protesto

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