Tendo trabalhado no sector bancário durante cerca de 20 anos, vim mais tarde a dedicar-me ao ensino.
E a primeira grande diferença que notei tinha a ver com o modo de gestão das escolas. Havia aí um clima de liberdade e autonomia dos professores e de tradição de tomadas de decisão em colectivo que era reconfortante encontrar e que se sentia ser estimulante para o trabalho dos profissionais do ensino.
Nada a ver com o que eu tinha deixado para atrás na banca, o contraste não podia ser maior. Recordemos que os primeiros ataques arquitectados contra formas de trabalho mais humanizadas tinham começado a ser ensaiadas precisamente na banca. Num clima de crescente intimidação e muitas vezes de assédio laboral (mobbying), com cortes de pessoal que vieram a atingir os 70%, com a programada des-solidarização dos trabalhadores, os gestores da banca passaram para postos no governo e para outras empresas, fazendo alastrar como mancha de óleo essas práticas: do Ministério das Fianças até ao autor do novo Código Laboral, essa é a origem dessa gente, foi aí que ela se treinou e apurou o estilo.
Acontece que, agora, é precisamente o modelo democrático assente nas opções colectivas que está a ser destruído.
Note-se que, esta ânsia de empresarialização vai, no caos do superior ao ponto de se permitir a entrada de representantes de empresas – e desde já se imagina que as maiores serão as candidatas – nos órgãos de gestão, com capacidade de decidir orientações gerais e até planos de estudos.
E isto faz lembrar acontecimentos recentes nos Estados Unidos. Por um lado, e há cerca de dois anos, um grupo de investigadores encetou um abaixo-assinado onde se denunciava como grandes empresas que financiavam as universidades estavam a impedir a realização de investigação sobre o efeito da poluição no aquecimento global e a financiar a de resultados opostos, precisamente porque essas empresas eram responsáveis por um parte do problema. E, mais recentemente, alguns «gurus da gestão», verdadeiros modelos de sucesso, de malas aviadas para fazer palestras em escolas de tiveram de fazer marcha atrás porque se chegou à conclusão de que, caída a máscara, se sabia agora serem os rostos responsáveis pela grande crise financeira que começava a sentir-se.
Provavelmente todos de nós temos ainda na memória aqueles professores que nos marcaram e que recordamos pelas marcas profundas que nos deixaram. Eram as professoras e professores que mostravam uma verdadeira entrega ao seu trabalho e uma grande dedicação e carinho pelos alunos.
Hoje a que assistimos? À destruição desse modelo artesanal de ensinar pelo dum ensino industrializado e formatador, contrário à criação dum espírito participativo e crítico de quem está a aprender e a crescer. Se o ensino é negócio é este o modelo que interessa generalizar.
E às ortigas com as assembleias e as decisões debatidas e tomadas abertamente e em colectivo. Já que estamos a falar de ensino poder-lhes-íamos chamar operações, não intelectuais, mas cidadãs de nível superior.
E a sua destruição tem implicações a dois níveis, entendo eu. O problema é que delas ficarão privados não só os professores, como caldo da sua vida profissional, como os alunos que não terão agora oportunidade de crescer e aprender com esse exemplo quotidiano de democracia.
Paula Sequeiros, Movimento Escola Pública
(comunicação apresentada no debate de Penafiel, a 28/02/2009)
E a primeira grande diferença que notei tinha a ver com o modo de gestão das escolas. Havia aí um clima de liberdade e autonomia dos professores e de tradição de tomadas de decisão em colectivo que era reconfortante encontrar e que se sentia ser estimulante para o trabalho dos profissionais do ensino.
Nada a ver com o que eu tinha deixado para atrás na banca, o contraste não podia ser maior. Recordemos que os primeiros ataques arquitectados contra formas de trabalho mais humanizadas tinham começado a ser ensaiadas precisamente na banca. Num clima de crescente intimidação e muitas vezes de assédio laboral (mobbying), com cortes de pessoal que vieram a atingir os 70%, com a programada des-solidarização dos trabalhadores, os gestores da banca passaram para postos no governo e para outras empresas, fazendo alastrar como mancha de óleo essas práticas: do Ministério das Fianças até ao autor do novo Código Laboral, essa é a origem dessa gente, foi aí que ela se treinou e apurou o estilo.
Acontece que, agora, é precisamente o modelo democrático assente nas opções colectivas que está a ser destruído.
Note-se que, esta ânsia de empresarialização vai, no caos do superior ao ponto de se permitir a entrada de representantes de empresas – e desde já se imagina que as maiores serão as candidatas – nos órgãos de gestão, com capacidade de decidir orientações gerais e até planos de estudos.
E isto faz lembrar acontecimentos recentes nos Estados Unidos. Por um lado, e há cerca de dois anos, um grupo de investigadores encetou um abaixo-assinado onde se denunciava como grandes empresas que financiavam as universidades estavam a impedir a realização de investigação sobre o efeito da poluição no aquecimento global e a financiar a de resultados opostos, precisamente porque essas empresas eram responsáveis por um parte do problema. E, mais recentemente, alguns «gurus da gestão», verdadeiros modelos de sucesso, de malas aviadas para fazer palestras em escolas de tiveram de fazer marcha atrás porque se chegou à conclusão de que, caída a máscara, se sabia agora serem os rostos responsáveis pela grande crise financeira que começava a sentir-se.
Provavelmente todos de nós temos ainda na memória aqueles professores que nos marcaram e que recordamos pelas marcas profundas que nos deixaram. Eram as professoras e professores que mostravam uma verdadeira entrega ao seu trabalho e uma grande dedicação e carinho pelos alunos.
Hoje a que assistimos? À destruição desse modelo artesanal de ensinar pelo dum ensino industrializado e formatador, contrário à criação dum espírito participativo e crítico de quem está a aprender e a crescer. Se o ensino é negócio é este o modelo que interessa generalizar.
E às ortigas com as assembleias e as decisões debatidas e tomadas abertamente e em colectivo. Já que estamos a falar de ensino poder-lhes-íamos chamar operações, não intelectuais, mas cidadãs de nível superior.
E a sua destruição tem implicações a dois níveis, entendo eu. O problema é que delas ficarão privados não só os professores, como caldo da sua vida profissional, como os alunos que não terão agora oportunidade de crescer e aprender com esse exemplo quotidiano de democracia.
Paula Sequeiros, Movimento Escola Pública
(comunicação apresentada no debate de Penafiel, a 28/02/2009)
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