Li o livro de Nuno Crato (O “eduquês” em Discurso Directo...) em 2006. Aquilo era uma desconstrução maligna, uma análise cruel que atingia a soco a feliz professora do ensino primário que eu era, no início da minha carreira profissional. Não entendi muito bem aquele malquerer aos professores e à escola que Abril nos trazia...
Erros, exageros, insegurança, certamente. Aquela escola “experimental” (refiro fins anos 70, meados 80?...) fez bons e bem letrados cidadãos.
A escola pública estava, na verdade, a aprender. A aprender a ensinar e a aprender (e não há redundância nisto). Estava a descentrar-se do professor, do sistema, do velho Estado. Estava a caminhar para o aluno, para o cidadão; para o texto e o contexto. A minha escola era uma festa de saber, de conhecimento, de alegria e de preparação para a solidariedade que não conhecíamos.
A minha escola era isso. A escola, a pedagogia a que Nuno Crato chamou de escola do “eduquês”.
Assim sendo, eu era uma “eduquêsiana”.
Com muito gosto, senhor matemático. E saiba que os meus alunos decoravam a tabuada. Aprendiam-na, em contexto...
Ora, o “eduquês” (essa crítica desonrosa, que se ia fazendo ideia) não se expôs muito mais, a sua presumível função era atalhar caminho e instalar-se nos corredores do poder educativo. Perdi-lhe o rasto. Mas, Marçal Grilo ficou...
Ora, o “eduquês” (essa crítica desonrosa, que se ia fazendo ideia) não se expôs muito mais, a sua presumível função era atalhar caminho e instalar-se nos corredores do poder educativo. Perdi-lhe o rasto. Mas, Marçal Grilo ficou...
Para atormentar a minha boa memória e confundir, no presente, a nossa batalha pela educação, aí está, de novo, o assombroso “eduquês” (crítica de Crato) com entusiasmados ou acanhados adeptos.
Ramiro Marques, refere, no seu texto (sem dúvidas) que essa prática “da chamada pedagogia progressista abriu caminho aos desmandos burocráticos do ME e à desfiguração da profissão docente”.
Ramiro Marques, refere, no seu texto (sem dúvidas) que essa prática “da chamada pedagogia progressista abriu caminho aos desmandos burocráticos do ME e à desfiguração da profissão docente”.
Instala-se a dúvida: então a “minha” escola, a nossa pioneira ideia de escola, de conhecimento, de liberdade, de democracia é responsável pela entidade Mª De Lurdes Rodrigues? Ainda. Serei eu uma docente desfigurada?
Marques anima-se com a acusação “cratiana” (“eduquês”) para fazer desencolher ideias.
Talvez numa entente psico-linguística, RMarques deixa cair o verbo com “disparates pseudopedagógicos que têm vindo a infernizar a escola...” e “sendo uma roupagem que pretende esconder o vazio e a ignorância, o eduquês é também uma ideologia que abre o caminho à expulsão da dimensão cultural do currículo...”
Marques anima-se com a acusação “cratiana” (“eduquês”) para fazer desencolher ideias.
Talvez numa entente psico-linguística, RMarques deixa cair o verbo com “disparates pseudopedagógicos que têm vindo a infernizar a escola...” e “sendo uma roupagem que pretende esconder o vazio e a ignorância, o eduquês é também uma ideologia que abre o caminho à expulsão da dimensão cultural do currículo...”
Com isto, Marques desbarata a professora do ensino primário “romântica” e “construtiva”(?) e abate-se sobre uma geração (que) dura e perdura (estiolando) pugnando, não só pela dimensão cultural no currículo, mas por toda a dimensão do conhecimento.
É sobre esta geração, sobre esta ideia política de escola que se engendra uma crítica, um combate - o “eduquês”. Ou seja, o “eduquês” é uma tentativa de construção de um ideário para combater o que foram experiências, aprendizagens, ensaios, com imaturidade, claro, mas que deveriam ser aperfeiçoadas, para a construção de uma boa escola pública, no nosso país.
Mais uma vez se testemunha a urgência para uma séria reflexão. É absolutamente necessário sabermos qual é a escola que queremos, hoje.
Mais uma vez se testemunha a urgência para uma séria reflexão. É absolutamente necessário sabermos qual é a escola que queremos, hoje.
Assumir o debate entre nós e para a sociedade, não o deixando apenas do outro lado. E o outro lado sabemos qual é. O da defesa de uma escola cada vez menos pública, mais barata, mais residual. Onde se desbarata a pedagogia em prol de competências (atenção ao discurso das competências, assim como ao das matemáticas e outros saberes sem contexto) mínimas para alimentar o mercado e a empregabilidade efémera.
As políticas educativas, não é demais reafirmá-lo, decorrem da lógica empresarial que transforma a educação num bem de consumo, numa fonte de lucro. Uma nova ordem para a educação vem-se desenhando, onde o novo conceito de conhecimento, como diz Bernestein, não é apenas como o dinheiro, o novo conhecimento é dinheiro.
A título de exemplo e para que conste que esse mandato se vem configurando nas ultimas décadas:
Em 1997 o Conselho Europeu era pródigo em dar a conhecer as prioridades para os sistemas educativos - a competitividade para melhor adaptação ao mercado de trabalho, em nome da redução dos programas de ensino e do desvio do discurso pedagógico para o conceito, ainda, difuso da empregabilidade. (v actas)
Num encontro do GATE (1998) patrocinado pela IBM e Coca - Cola, o seu Presidente R. Jones declarava “ do ponto de vista do empresário, o ensino constitui um dos mercados mais vastos e com mais crescimento (...) os empresários consideram que o ensino é um extenso mercado para conquistar”.
Há mais...
Então, distorcer, difamar, destruir experiencias pedagógicas (Nuno Crato, Graça Moura...) que investem no acesso democrático ao conhecimento é estratégia devastadora que submete o progresso e reduz ao fracasso cultural e histórico das comunidades.
Há mais...
Então, distorcer, difamar, destruir experiencias pedagógicas (Nuno Crato, Graça Moura...) que investem no acesso democrático ao conhecimento é estratégia devastadora que submete o progresso e reduz ao fracasso cultural e histórico das comunidades.
FQ do MEP