segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Defender a Escola Pública


Vi, há uns dias, num canal de televisão, uma reportagem sobre a educação especial. O secretário de estado da educação lá aparecia, compungido, a querer debitar o habitual discurso dos números. A jornalista confrontava-o com as realidades que tinha visto nas escolas a que o próprio secretário de estado tinha autorizado a ir. “Que não, quem autorizava eram as próprias escolas”, balbuciava, intimidado. A réplica foi no entanto lapidar – “Não. Foi o senhor que nos autorizou a ir a estas escolas”.

E a realidade não colava com o discurso dos números. Em escolas de referências para cegos, em Lisboa, o atendimento aparecia a ser feito numa arrecadação com materiais feitos pela própria professora, por ausência de quaisquer outros. O contraponto era feito com o Centro Helen Keller, claro, que é só o centro de referência nesta área de intervenção. O desequilíbrio foi brutal.

Depois da “reforma” da educação especial feita por este governo (o anterior também não tinha feito nada de melhor) a realidade aparece-nos, arrepiante, pela casa dentro, nesta reportagem da televisão. Escola pública versus escola privada era, claro, o objectivo da reportagem. É assim que se destrói a imagem de qualidade da escola pública. E quem pode culpar aqueles pais que querem o melhor para os seus filhos e não o encontram na escola pública?

Naquele dia, o secretário de estado ficou sem argumentos face à crueza e à verdade da reportagem. Mas não era de argumentos que os cidadãos portugueses estavam à espera. Depois daquela reportagem os cidadãos tinham direito a um pedido de desculpas! O que o secretário de estado responsável por esta reforma (e aqui a palavra certa teria sido não reforma mas aniquilação) deveria ter percebido é que os cidadãos têm direito a encontrar na escola pública a qualidade do Centro Helen Keller. E este governo não só não o conseguiu como conseguiu piorar, e de que maneira, o que havia.

Quando falamos de ataque à escola pública estamos de facto a falar do que aconteceu e está a acontecer todos os dias no ensino especial como noutras áreas da educação. Mas na educação especial, que trata dos que estão numa situação de desvantagem, é particularmente grave este ataque, esta tentativa de destruição da escola pública. É que para os ricos sempre haverá o recurso ao particular. Mas para os filhos dos trabalhadores a escola pública é a única alternativa. E tem de ser de qualidade.

É por estas coisas que os professores têm de continuar a defender a escola pública. Defender a escola pública tem este significado bem concreto, não é um mero slogan, é construir a qualidade em todos os segmentos do sistema de ensino. E exigir que o governo não destrua o que existe antes promova a melhoria real do sistema.

Uma última palavra para as autorizações. Que raio de país é este em que um secretário de estado tenta esconder que foi ele quem deu autorização a uma estação de televisão para ir fazer uma reportagem a uma escola pública? Lamentável!

É tempo de luta contra este ministério da educação (assim mesmo, com letra minúscula). Em nome da defesa da escola pública e também dos profissionais que nela trabalham. Professores, claro, que têm sido enxovalhados por estes senhores e senhora, mas também porque nas nossas escolas pedimos o necessário (que soa, quantas vezes a pedir o impossível) a outros profissionais que aí dão o seu melhor por um salário mínimo e têm passado invisíveis nestas lutas. Os auxiliares de acção educativa, que ao fim de vinte e muitos anos de trabalho auferem salários baixíssimos e que têm um papel importantíssimo nas nossas escolas, têm sido esquecidos por muitos. A começar pelo governo.

É por isto que vou estar no dia 13 de Março na manifestação, promovida pela CGTP. E na semana anterior, a 7 de Março no gigantesco cordão humano que vai ligar a sede do ME à Assembleia da República e à residência oficial do primeiro-ministro.
Querem melhores motivos?

Manuel Grilo, em escolainfo.net

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