Circula pela blogosfera um texto muito interessante ainda a propósito dos acontecimentos recentes de Paredes de Coura. Foi redigido por um Professor que também é pai de um aluno que frequenta um estabelecimento de ensino desse território educativo.
A Gestão da Democracia
O desfile de carnaval em Paredes de Coura é apenas a face visível e mediática de uma questão muito mais negra e que nos traz de volta fantasmas que julgávamos exorcizados das nossas vivências. Trata-se de uma questão de poder e, como qualquer questão de poder, implica algumas tomadas de posição extremadas e à margem daquilo que seriam as normais práticas da democracia e da cidadania.
As Escola estão organizadas de forma a incluírem, nos seus órgãos decisórios, elementos representativos dos seus interesses e organizadoresdas suas políticas. Essa representatividade é determinada hierarquicamente e aceite pelos constituintes de cada órgão. O Conselho Pedagógico é, por excelência, o órgão decisório na organização de cada Escola. É, acima do Conselho Executivo, responsável pelas actividades a realizar, pelas políticas a instituir e pela agenda da Escola.
As decisões emanadas dos Conselhos Pedagógicos das Escolas são fruto da autonomia de que gozam e legitimadas pela democracia que regula o seu funcionamento… mas não em todas as Escolas. No Minho, em Paredes de Coura há uma Escola onde o Conselho Pedagógico não rege efectivamente a sua própria Escola… não rege não porque não esteja mandatado para isso, não rege não porque não esteja composto de elementos competentes para o fazer, não rege não porque não tenha reconhecimento institucional e social para o fazer…
A democracia tem coisas aborrecidas… tem nuances que incomodam… não serve o interesse de todos ao mesmo tempo… obriga a compromissos em vista de um bem maior… por vezes obriga-nos a aceitar decisões que não nos agradam mas que são fruto de interesses mais representativos que os nossos… não é um sistema organizacional perfeito mas, tendo em conta as opções, é o melhor que temos…A democracia tem regras definidas, algumas delas tão básicas que nem faria falta recordar – a legitimidade da maioria, por exemplo.
Um Conselho Pedagógico com 15 representantes decide, democraticamente, rever e fazer uma gestão mais ajustada do seu Plano de Actividades retirando aquelas que não considera nucleares ao desenvolvimento pedagógico dos alunos. A votação, democrática, não é unânime (o tal empeno da democraciaque nem sempre agrada a todos) mas é aceite pelos presentes. Até aqui a democracia prestou um serviço a todos porque, melhor ou pior, todas as partes interessadas estavam representadas e tiveram direito à expressão da sua opinião.
Onde a democracia começou a desfalecer foi no momento em que o Representante dos Pais considerou que esta solução, apesar de maioritária e democrática, não servia os seus interesses. O representante dos Pais (a mim não me representa) tem o direito a lutar pelos interesses daqueles que o nomearam e deve fazê-lo em Sede própria e socorrendo-se dos procedimentos instituídos e aceites por todos dentro da organização hierárquica. Deve fazê-lo também imbuído de um espírito crítico, frontal e honesto para com os seus pares… e não o fez… pondo-se completamente à margem do compromisso funcional do órgão onde tem assento, numa atitude ressabiada de menino a quem não fazem a vontadinha, foi fazer queixinhas à comunicação social… e fugiu à verdade nassuas declarações… exagerou, deturpou, atrapalhou. Ao bom estilo dacomunicação social actual, o Representante dos Pais foi "um prato cheio"para os "jornalistas".
Não estou com isto a dizer que a sua atitude não foi de esperteza… até foi… a democracia não serviu os seus interesses, não foi capaz de aceitar uma decisão que não lhe era favorável… então toca de arranjar subterfúgios que fizessem vingar a sua derrota – que dos fracos não reza a História.
Não tardava muito que o Ministério da Educação não se fizesse mexer, a bem da educação do povo, fazendo todo o tipo de pressão para que se realizasse o\Desfile… "the swow must go on". Como referi no início, o Desfile é o fiel da balança… obrigar os professores a participar é a prova acabada de que, neste caso, a democracia é "maleável" e "adaptável" em função de interesses que passam muito além da realidade escolar e da hierarquia estabelecida… é um indicador da força de quem manda... e quem manda assim, atropelando os trâmites determinados e as resoluções anteriormente assumidas em Sede legítima, mata a democracia.
Mal de nós (todos) quando a democracia pode ser determinada pela imprensa e pelos interesses de 1 contra a vontade de 14. Os professores participam obrigados neste cortejo e infelizmente este acto vai ser visto como um vergar dos professores à estratégia do Representante de Pais.
Aos mais fracos de espírito não faltará o ímpeto mesquinho de julgar: – Obrigámos os Professores a participar no Desfile.
Aos professores sobra a consolação de o fazer porque coagidos;
Sobra a tristeza de ver a democracia assim manipulada; Sobra a consciência de que os órgãos de gestão só servem quando as suas decisões são favoráveis a certos interesses; Sobra a ideia de que toda a gente tem opiniões a dar na Educação e que todas são consideradas, menos as dos professores;
E a mim em particular acresce a indignação: quero os meus filhos educados por professores com capacidade de decisão; quero os meus filhos educados por professores livres, respeitadores e respeitados pela democracia; quero os meus filhos educados num ambiente onde as decisões se tomem deforma consciente, salutar e solidária; quero os meus filhos educados por PESSOAS na verdadeira acepção da palavra; sem estarem manietadas nem serem obrigadas a ir contra as decisões dos seus pares, forçadas por estratégias interesseiras quero que os meus filhos aprendam o conceito de Fascismo nos livros de História e não nos livros de Mundo Actual;
A Gestão da Democracia
O desfile de carnaval em Paredes de Coura é apenas a face visível e mediática de uma questão muito mais negra e que nos traz de volta fantasmas que julgávamos exorcizados das nossas vivências. Trata-se de uma questão de poder e, como qualquer questão de poder, implica algumas tomadas de posição extremadas e à margem daquilo que seriam as normais práticas da democracia e da cidadania.
As Escola estão organizadas de forma a incluírem, nos seus órgãos decisórios, elementos representativos dos seus interesses e organizadoresdas suas políticas. Essa representatividade é determinada hierarquicamente e aceite pelos constituintes de cada órgão. O Conselho Pedagógico é, por excelência, o órgão decisório na organização de cada Escola. É, acima do Conselho Executivo, responsável pelas actividades a realizar, pelas políticas a instituir e pela agenda da Escola.
As decisões emanadas dos Conselhos Pedagógicos das Escolas são fruto da autonomia de que gozam e legitimadas pela democracia que regula o seu funcionamento… mas não em todas as Escolas. No Minho, em Paredes de Coura há uma Escola onde o Conselho Pedagógico não rege efectivamente a sua própria Escola… não rege não porque não esteja mandatado para isso, não rege não porque não esteja composto de elementos competentes para o fazer, não rege não porque não tenha reconhecimento institucional e social para o fazer…
A democracia tem coisas aborrecidas… tem nuances que incomodam… não serve o interesse de todos ao mesmo tempo… obriga a compromissos em vista de um bem maior… por vezes obriga-nos a aceitar decisões que não nos agradam mas que são fruto de interesses mais representativos que os nossos… não é um sistema organizacional perfeito mas, tendo em conta as opções, é o melhor que temos…A democracia tem regras definidas, algumas delas tão básicas que nem faria falta recordar – a legitimidade da maioria, por exemplo.
Um Conselho Pedagógico com 15 representantes decide, democraticamente, rever e fazer uma gestão mais ajustada do seu Plano de Actividades retirando aquelas que não considera nucleares ao desenvolvimento pedagógico dos alunos. A votação, democrática, não é unânime (o tal empeno da democraciaque nem sempre agrada a todos) mas é aceite pelos presentes. Até aqui a democracia prestou um serviço a todos porque, melhor ou pior, todas as partes interessadas estavam representadas e tiveram direito à expressão da sua opinião.
Onde a democracia começou a desfalecer foi no momento em que o Representante dos Pais considerou que esta solução, apesar de maioritária e democrática, não servia os seus interesses. O representante dos Pais (a mim não me representa) tem o direito a lutar pelos interesses daqueles que o nomearam e deve fazê-lo em Sede própria e socorrendo-se dos procedimentos instituídos e aceites por todos dentro da organização hierárquica. Deve fazê-lo também imbuído de um espírito crítico, frontal e honesto para com os seus pares… e não o fez… pondo-se completamente à margem do compromisso funcional do órgão onde tem assento, numa atitude ressabiada de menino a quem não fazem a vontadinha, foi fazer queixinhas à comunicação social… e fugiu à verdade nassuas declarações… exagerou, deturpou, atrapalhou. Ao bom estilo dacomunicação social actual, o Representante dos Pais foi "um prato cheio"para os "jornalistas".
Não estou com isto a dizer que a sua atitude não foi de esperteza… até foi… a democracia não serviu os seus interesses, não foi capaz de aceitar uma decisão que não lhe era favorável… então toca de arranjar subterfúgios que fizessem vingar a sua derrota – que dos fracos não reza a História.
Não tardava muito que o Ministério da Educação não se fizesse mexer, a bem da educação do povo, fazendo todo o tipo de pressão para que se realizasse o\Desfile… "the swow must go on". Como referi no início, o Desfile é o fiel da balança… obrigar os professores a participar é a prova acabada de que, neste caso, a democracia é "maleável" e "adaptável" em função de interesses que passam muito além da realidade escolar e da hierarquia estabelecida… é um indicador da força de quem manda... e quem manda assim, atropelando os trâmites determinados e as resoluções anteriormente assumidas em Sede legítima, mata a democracia.
Mal de nós (todos) quando a democracia pode ser determinada pela imprensa e pelos interesses de 1 contra a vontade de 14. Os professores participam obrigados neste cortejo e infelizmente este acto vai ser visto como um vergar dos professores à estratégia do Representante de Pais.
Aos mais fracos de espírito não faltará o ímpeto mesquinho de julgar: – Obrigámos os Professores a participar no Desfile.
Aos professores sobra a consolação de o fazer porque coagidos;
Sobra a tristeza de ver a democracia assim manipulada; Sobra a consciência de que os órgãos de gestão só servem quando as suas decisões são favoráveis a certos interesses; Sobra a ideia de que toda a gente tem opiniões a dar na Educação e que todas são consideradas, menos as dos professores;
E a mim em particular acresce a indignação: quero os meus filhos educados por professores com capacidade de decisão; quero os meus filhos educados por professores livres, respeitadores e respeitados pela democracia; quero os meus filhos educados num ambiente onde as decisões se tomem deforma consciente, salutar e solidária; quero os meus filhos educados por PESSOAS na verdadeira acepção da palavra; sem estarem manietadas nem serem obrigadas a ir contra as decisões dos seus pares, forçadas por estratégias interesseiras quero que os meus filhos aprendam o conceito de Fascismo nos livros de História e não nos livros de Mundo Actual;
Luís Filipe Ribeiro Borges
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