quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A bolsa e a vida: concursos, avaliações e contratados

Os concursos vão mudar outra vez. Claro que a precariedade e o desemprego dos professores estão aí para ficar. Novidades? Depois de uma leitura apressada identifiquei duas centrais: a introdução da avaliação para efeitos de concurso e a criação de uma “bolsa de recrutamento”.

No primeiro caso, seremos duplamente vítimas de um sistema injusto de avaliação: vítimas porque conta na progressão da carreira (para os contratados que pensem em termos de “carreira”) e porque conta para termos de concurso. Se há que recusar em geral toda esta avaliação burocratizada que não se destina em nada a melhorar o trabalho dos professores, os contratados passarão a ter razões para a recusar duplamente. Ainda por cima, no nosso caso, levantam-se problemas bizarros: faz sentido que existam quotas de avaliação por escola para os contratados se estes não fazem parte de nenhuma escola? Assim, para além da lotaria normal dos concursos, passamos a ter a lotaria das quotas existentes na escola em que se ficar: caímos no sem sentido das nossas possibilidades de termos as avaliações mais positivas serem reduzidas devido à avaliação de uma escola em que não trabalhámos no ano anterior e, se a “ajudarmos” a “melhorar” o mais certo é já não estarmos lá no ano seguinte para termos uma quota mais “favorável”. Isto sabendo, claro, que os melhores resultados estarão reservados para os “da casa” e que para os contratados o que resta é saber a dimensão dos restos.
Aliás, em caso de empate, na nota o factor principal de desempate não é a classificação profissional mas sim a nota de uma avaliação feita por um tipo qualquer (com as devidas vénias) com as mesmas habilitações do que nós só que mais velho (na maior parte dos casos) e que nos anos passados ao concurso de titular teve mais uns cargozitos do que o outro do lado com o mesmo tempo de serviço. É que temos certamente para além da lotaria das quotas também a dos avaliadores que usarão critérios diferentes.

A segunda grande alteração é a criação de uma bolsa de recrutamento: após a primeira colocação as escolas acedem a esta bolsa “directamente” e fica colocado o primeiro que a aplicação encontre e que será avisado por e-mail. Passamos a ter também a lotaria da rapidez: o candidato A com mais graduação é colocado numa escola que não era das primeiras escolhas porque a escola acedeu às 14.01 à plataforma, o candidato B fica com a primeira escolha do candidato A, apesar de menos graduado, porque a escola acedeu à plataforma às 14.02 (consta que senhora hipotética da secretaria da segunda escola demorou-se a tomar café e causou por isso esta injustiça com repercussões graves na vida destes contratados). Compreende-se agora porque é que o ME incluiu os contratados no E-escolas: é que agora ter e-mail, consultá-lo diariamente e não deixar a caixa de correio encher tornou-se obrigatório.
Como não há bolsa que nos acuda, a partir de 31 de Dezembro esta “fecha” e, supõe-se, passa-se a contratação de escola. Ou seja, ao vale tudo.

Só uma dúvida fora da parte dos contratados neste diploma: referem-se sempre para efeitos de concurso interno os docentes de quadro com a categoria de professor, isto quer dizer que os “titulares” não podem concorrer?

Resumindo e concluindo. Queiramos ou não, a bolsa vai ser outra vez a nossa vida. A outra bolsa já nos lixa a vida o suficiente e agora ainda querem arranjar outra para nos lixar? E se fizéssemos um crash?

Carlos Carujo, Algarve

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