Quando, por altura dos exames nacionais, comecei a ouvir as acusações de facilitismo ao sistema de ensino português, senti-me, devo confessá-lo, algo confusa. Na verdade, essa acusação suscitou-me, de imediato, um largo conjunto de perplexidades, que tenho vindo a arrumar com alguma dificuldade.
É desse processo que dou conta nestas questões que aqui deixo.
Pode dizer-se facilitista um ensino com um tão amplo currículo como o português, especialmente o que se encontra em vigor para os segundo e terceiro ciclos de escolaridade?
Pode afirmar-se facilitista um ensino em que a desarticulação e dispersão curriculares são completamente visíveis, especialmente nesses mesmos níveis de escolaridade?
Pode considerar-se facilitista um sistema de ensino com as cargas horárias praticadas nas nossas escolas?
Pode achar-se facilitista uma escola que às dificuldades de aprendizagem apenas pode dar como resposta a retenção dos alunos?
Pode considerar-se ainda facilitista um sistema de ensino, em que uma terrível percentagem de alunos encontra no abandono a saída para a sua não adaptação à escola que lhes foi dado conhecer?
Podem enfim, por último, mas não de menor importância, uns exames nacionais (parece que comprovadamente mais fáceis e provavelmente pelas razões que publicamente foram atribuídas ao ME por essa maior facilidade) transformar de imediato um sistema que era exigente num sistema facilitista?
E... é afinal esse tal facilitismo que provoca as insuficientes aprendizagens portuguesas, tantas vezes comprovadas nos estudos internacionais?
Mas então e as condições que as escolas obviamente não têm, para dar outras respostas pedagógicas às dificuldades dos seus alunos, que não seja a de os reter no mesmo ano de escolaridade, não têm nisso qualquer responsabilidade?
E a dispersão curricular existente não terá as suas consequências?
E a falta de equipas multidisciplinares que acompanhem, de facto e a sério, o abandono dos alunos que não se adaptaram à escola que lhes foi dado conhecer, não terão também uma influência decisiva nas deficientes aprendizagens?
E a falta de técnicos, que na escola, tenham como função a tutoria individual e o acompanhamento dos tais dramas sociais e familiares por que alguns alunos (e a percentagem não é assim tão baixa) passam não tem consequências nos comportamentos e aprendizagens, mesmo quando estudados estatisticamente?
Estas questões, entre outras que se colocam à escola pública – e é dessa e apenas dessa que estou a falar – é que me têm suscitado as maiores preocupações, enquanto cidadã, mãe e avó.
Ora, no meio destas inúmeras preocupações, foi-me dado conhecer a tremenda burocratização da avaliação que professores e professoras estão a contestar. E, ao ver alguns dos instrumentos dessa avaliação, entendi que nos seus incontáveis items, se estão a considerar questões, que a eles não devem ser imputadas, mas sim à escola, enquanto organização.
Só que, a avaliação das escolas, para além do que se refere ao cumprimento formal da legislação, não é feita – claro! isso obrigaria a avaliar políticas e meios, coisa que parece não interessar para nada, para que se possa dizer que tudo está bem, ou para lá caminha.
Então, pergunta-se aos professores na sua avaliação, se averiguaram do porquê das faltas dos seus alunos, se acompanharam as suas dificuldades pessoais, se lhes disponibilizaram formas de as ultrapassar, se organizaram contactos com as famílias e instituições existentes (ou não) no terreno, se, quando sinalizaram todas as dificuldades dos seus alunos, também propuseram soluções e se as aplicaram, se cumpriram todas as milhentas tarefas burocráticas, etc., etc., deixando-se para um canto escuro, o saber se puderam ensinar o que os alunos têm que aprender, e que problemas encontraram nisso.
Enquanto me debatia com estas considerações, “caiu-me” na caixa do correio um manifesto promovido pela Red Iris de Espanha, que está a ser assinado por professores, alunos, mães e pais, onde tudo isto e algo mais vem analisado. Afinal, estas questões não são só portuguesas.
Deste manifesto, com o nome NÃO É VERDADE!, darei aqui conhecimento, amanhã ou depois, logo, logo que o tenha traduzido.
Helena Dias
É desse processo que dou conta nestas questões que aqui deixo.
Pode dizer-se facilitista um ensino com um tão amplo currículo como o português, especialmente o que se encontra em vigor para os segundo e terceiro ciclos de escolaridade?
Pode afirmar-se facilitista um ensino em que a desarticulação e dispersão curriculares são completamente visíveis, especialmente nesses mesmos níveis de escolaridade?
Pode considerar-se facilitista um sistema de ensino com as cargas horárias praticadas nas nossas escolas?
Pode achar-se facilitista uma escola que às dificuldades de aprendizagem apenas pode dar como resposta a retenção dos alunos?
Pode considerar-se ainda facilitista um sistema de ensino, em que uma terrível percentagem de alunos encontra no abandono a saída para a sua não adaptação à escola que lhes foi dado conhecer?
Podem enfim, por último, mas não de menor importância, uns exames nacionais (parece que comprovadamente mais fáceis e provavelmente pelas razões que publicamente foram atribuídas ao ME por essa maior facilidade) transformar de imediato um sistema que era exigente num sistema facilitista?
E... é afinal esse tal facilitismo que provoca as insuficientes aprendizagens portuguesas, tantas vezes comprovadas nos estudos internacionais?
Mas então e as condições que as escolas obviamente não têm, para dar outras respostas pedagógicas às dificuldades dos seus alunos, que não seja a de os reter no mesmo ano de escolaridade, não têm nisso qualquer responsabilidade?
E a dispersão curricular existente não terá as suas consequências?
E a falta de equipas multidisciplinares que acompanhem, de facto e a sério, o abandono dos alunos que não se adaptaram à escola que lhes foi dado conhecer, não terão também uma influência decisiva nas deficientes aprendizagens?
E a falta de técnicos, que na escola, tenham como função a tutoria individual e o acompanhamento dos tais dramas sociais e familiares por que alguns alunos (e a percentagem não é assim tão baixa) passam não tem consequências nos comportamentos e aprendizagens, mesmo quando estudados estatisticamente?
Estas questões, entre outras que se colocam à escola pública – e é dessa e apenas dessa que estou a falar – é que me têm suscitado as maiores preocupações, enquanto cidadã, mãe e avó.
Ora, no meio destas inúmeras preocupações, foi-me dado conhecer a tremenda burocratização da avaliação que professores e professoras estão a contestar. E, ao ver alguns dos instrumentos dessa avaliação, entendi que nos seus incontáveis items, se estão a considerar questões, que a eles não devem ser imputadas, mas sim à escola, enquanto organização.
Só que, a avaliação das escolas, para além do que se refere ao cumprimento formal da legislação, não é feita – claro! isso obrigaria a avaliar políticas e meios, coisa que parece não interessar para nada, para que se possa dizer que tudo está bem, ou para lá caminha.
Então, pergunta-se aos professores na sua avaliação, se averiguaram do porquê das faltas dos seus alunos, se acompanharam as suas dificuldades pessoais, se lhes disponibilizaram formas de as ultrapassar, se organizaram contactos com as famílias e instituições existentes (ou não) no terreno, se, quando sinalizaram todas as dificuldades dos seus alunos, também propuseram soluções e se as aplicaram, se cumpriram todas as milhentas tarefas burocráticas, etc., etc., deixando-se para um canto escuro, o saber se puderam ensinar o que os alunos têm que aprender, e que problemas encontraram nisso.
Enquanto me debatia com estas considerações, “caiu-me” na caixa do correio um manifesto promovido pela Red Iris de Espanha, que está a ser assinado por professores, alunos, mães e pais, onde tudo isto e algo mais vem analisado. Afinal, estas questões não são só portuguesas.
Deste manifesto, com o nome NÃO É VERDADE!, darei aqui conhecimento, amanhã ou depois, logo, logo que o tenha traduzido.
Helena Dias
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