domingo, 30 de novembro de 2008

As condições prévias


Sobre estas declarações:

"O secretário de Estado da Educação reafirmou esta noite que o Governo está disponível para negociar o modelo de avaliação dos professores, caso os sindicatos o queiram, mas sem condições prévias.A nossa disponibilidade em negociar é total. É preciso é que seja sem condições prévias e que os sindicatos não continuem a exigir a imediata suspensão do modelo” de avaliação, afirmou Jorge Pedreira, no final de uma reunião entre os responsáveis do Ministério da Educação e professores filiados no PS, durante toda a tarde, na sede do partido, em Lisboa. O secretário de Estado referiu ainda que a “esperança” do Governo é que “os sindicatos se sentem à mesa e negoceiem sem condições prévias”.

Uma resposta avisada:

Dando de barato que esta não é, por si, também uma condição prévia ao reinício de uma verdadeira negociação de um modelo alternativo de avaliação de desempenho dos professores, convém assinalar e recordar:

1. Não soa bem ouvir o Secretário de Estado Jorge Pedreira (agora indigitado como novo porta-voz do ME) vir dizer isto quando, numa semana marcada pela audiência das partes, inclusive dos sindicatos da Plataforma Sindical na passada sexta-feira, e em que se recomendaria alguma contenção nas tentativas de implementação a todo o custo do processo avaliativo, se desdobrou em acções por todo o país para impor o avanço da versão Simplex 2, ainda antes de esta ter suporte legislativo.

Referimo-nos à convocação para reuniões “informativas” dos Conselhos Executivos e coordenadores de departamento feita pelas Direcções Regionais de Educação de todo o país que começam a ter efeito em alguns órgãos de gestão mais adesivos e mais papistas que o papa (vá-se lá saber porquê?!) que se apressaram a marcar novas datas de apresentação de objectivos individuais ou reuniões gerais para as vésperas da greve geral dos professores do dia 3 de Dezembro; referimo-nos, também, aos múltiplos e-mails da DGRHE e do ME tentando explicar as benfeitorias deste “novo” seu modelo.
Tudo isto sem antes ouvir as organizações representativas dos professores, não será também uma forma de colocar uma condição prévia?

2 Imaginemos que as escolas, por via dos seus órgãos de gestão mais adesivos colocam o processo Simplex 2 em movimento, o que até já está a acontecer; imaginemos que as negociações prosseguem e trazem alterações à situação presente.

O que fica do trabalho entretanto desenvolvido? O mesmo que ficará dos objectivos individuais entretanto entregues por alguns, dos calendários de aulas assistidas já estabelecidos por alguns, das fichas e grelhas já aprovadas… Nada!
Por isso, e enquanto ninguém quiser saber qual é o modelo alternativo de avaliação de desempenho pelos professores proposto, enquanto continuarem a - mentirosa e demagogicamente - afirmar que nenhum professor foi avaliado nestes últimos trinta anos, só há uma forma de trabalhar uma solução sem condição prévia: suspendendo o modelo (qual modelo, começa a ser pertinente perguntar?!) que o ME se esforça em dizer que está em funcionamento e a esmagadora maioria dos professores nas escolas já rejeitou.

Para além desta sensata e preventiva medida, que por si desbloquearia muitas boas vontades e alguns canais de diálogo, ficam as condições prévias que este ME há muito colocou: a avaliação é para avançar já com o nosso modelo, com o nosso modelo, com o nosso modelo…

Se isto não é condição prévia?....

Manuel F. Castelo Ramos
Professor "titular" no 10º escalão e avaliador na E.B. 2,3 Dr. Garcia Domingues, Silves

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