terça-feira, 25 de novembro de 2008

A vocação taylorista do Ministério da Educação


O Taylorismo expressa uma orientação administrativa protagonizada por muitas empresas dos finais do século XIX, princípios do século XX. Focaliza-se no controlo inflexível e mecanicista da realização das tarefas para melhorar a eficiência e a eficácia operacional, partindo do princípio de que o ser humano é apenas motivado por recompensas económicas e materiais. Criou situações de ruptura social decorrente do entendimento do ser humano/trabalhador enquanto máquina que realiza tarefas sob grande tensão e stresse.

Pois bem, actualmente o Ministério da Educação (ME) parece revelar um forte pendor taylorista subjacente às suas directivas e ao modus operandi com os participantes que tutela. Vejamos:

- Procedeu a um reforço do papel desempenhado pelos ‘chefes’ em detrimento da dinâmica cooperativa das equipas, como é indicador o novo modelo de gestão assente na figura centralizada de um director que substitui um conselho executivo, de acordo com uma marcada hierarquia vertical, com níveis intermédios até chegar aos participantes/docentes;

- Impôs a sistematização da tarefa avaliativa de docentes a docentes tendo esta predominado na vida das escolas sob a explicação do tem que ser este o caminho porque não há outro que o chefe indique e o que o chefe determina é lei a ser cumprida e não a ser discutida, numa perspectiva determinista e centralizadora das decisões que regulam as escolas;

- Proporcionou a afirmação do conceito de tarefa – especialmente a de avaliação em detrimento da de ensinar e aprender – na denominada cultura de escola, através da acção fiscalizadora do chefe-titular que avalia a eficiência e a eficácia dos subordinados hierárquicos professores não titulares;

- Atribuiu um sistema de pontuação para a ascensão à categoria de professor-titular baseado essencialmente na valorização do trabalho dos ‘chefes’, independentemente da avaliação desse desempenho – três anos de chefia de um departamento valeram mais pontos (18) do que um mestrado (15);

- Mantém os conceitos tradicionais da centralização de decisões e um sistema rígido repleto de normativos para controlar profissionais que têm que cumprir a lei executando tarefas independentemente da pertinência que lhes subjaz;

- Obstinadamente invoca o interesse nacional para melhorar resultados estatísticos em direcção à produção interminável (de diplomas até atingirmos os 100% de sucesso), tão bem ilustrada por Charlie Chaplin no filme “Tempos Modernos”, como se as competências dos alunos fossem agora convertidas em meros números que podem servir guerras políticas.

Mas mais importantes do que os resultados são os processos que as dinâmicas sociais implicam. Uma escola não é uma linha de montagem de conhecimentos ou de massa cinzenta que possa converter-se em resultados numéricos – é questionável a ‘medição’ do desempenho do cérebro. Os docentes devem debruçar-se, isso sim, sobre as problemáticas sociais e individuais dos alunos sem serem sujeitos às pressões dos resultados estatísticos – já têm que se confrontar com uma profissão de elevado desgaste psicológico!

Os riscos deste determinismo mecanicista, centralizador, rígido e burocrático que o ME pretende impor anuncia uma nefasta incompatibilidade com modelos administrativos de matriz orgânica, flexível e adaptável às mudanças, valorizadora da relação grupal e do bom relacionamento entre os profissionais que executam as tarefas.

As decisões unilaterais e deterministas ao afectarem milhares de organizações escolares, podem pôr em risco a inovação e a mudança que devem caracterizar as nossas escolas. Currículos rígidos, decisões centralizadas, atitude autista perante o clima organizacional e a des/motivação dos participantes/professores, visão economicista, planeamento em função da rentabilização das tarefas (quando a actuação se centra no pressuposto de que os professores são pouco produtivos aumenta-se a carga horária através dos ditos “tempos de escola”), traduzem uma actuação taylorista do ME.

A maior nobreza de ensinar ascende à humilde essência de saber aprender… e os professores precisam de tempo para saber aprender num desempenho que tem de escapar à utopia do mensurável, num clima favorável e isento. Precisamos de líderes e não de chefes; precisamos de discutir em conjunto, com um espírito participativo e consultivo, que escolas queremos nós para o país. Que se repense a vocação taylorista do ME!

Maria Dias Antunes

Publicado originamente no Esquerda.net, aqui

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