terça-feira, 30 de junho de 2009

Ministério Deseducativo


O Ministério da Educação está transformado numa máquina de propaganda deseducativa. Não tem princípios, não reconhece erros, recorre todos os dias à manipulação, faz péssimas figuras. Não há forma de aprenderem.

Estão num beco sem saída e batem com a cabeça nas paredes. Mas de lá não querem saír. A sua teimosia cresce na mesma proporção que a sua estupidez.

As últimas palhaçadas: a divulgação do
calendário escolar do próximo ano lectivo, e o estudo que encomendam a uma empresa que deixa muito a desejar, e que apesar de tudo controladinho à partida deixa saír cá para fora o que não convinha, obrigando à filtragem imediata feita pelos burocratas do costume. Lamentável

Cuidado com os osbcurantistas da idade média


Elementos da Plataforma Resistência Nacional começam hoje a distribuir cartas para que, na matrícula dos filhos, os pais não autorizem a frequência das aulas de educação sexual.

“As crianças portuguesas não podem ser cobaias de uma experiência educativa sobre aulas de educação sexual”, refere Artur Mesquita Guimarães, membro da comissão executiva da recém-criada Plataforma Resistência Nacional (PRN).

Vale a pena reler o que já dissémos em post anterior, aqui fica um cheirinho:

Os osbcurantistas, que usam agora o epíteto de Plataforma Resistência Nacional, são os mesmos que recusaram a legalização do aborto. São os mesmo que nessa altura diziam que o que era preciso era prevenir, era investir na educação dos jovens, para evitar o recurso ao aborto. Tamanha hipocrisia: agora que o aborto está legalizado, não querem a educação sexual. São charlatões.
Lê aqui tudo

segunda-feira, 29 de junho de 2009

"Quando a Tróia era do Povo"


Arriscar projectos ambiciosos e fazer da escola um espaço de intervenção e cidadania é um esforço meritório e que deve ser valorizado. O professor Jaime Pinho, do Movimento Escola Pública, juntamente com muitos outros professores e alunos, meteram as mãos à obra, e deu nisto:

O livro "Quando a Tróia era do Povo", que recolhe dezenas de testemunhos sobre as vivências populares naquela península nos anos 50, 60 e 70, esgotou três edições em um mês, só na cidade de Setúbal. Para Jaime Pinho e Maria José Simas, que participam no projecto com outros cinco professores e com um colectivo de alunos do 9º ano da Escola Secundária D. João II, em Setúbal, o livro captou a frustração da população da cidade, que se sente excluída face ao empreendimento Tróia Resort, da Sonae Turismo.

"O livro chegou num momento particularmente sentido pela população de Setúbal, que finalmente vê o que aconteceu em Tróia neste último ano", contou Jaime Pinho, professor de História, à agência Lusa, recordando que, em meados do século XX, "o espaço era um autêntico paraíso para a comunidade setubalense e não só, também para a comunidade da região e do país".

"Sobretudo nos anos 50, 60 e 70, Tróia acolhia dezenas de milhar de pessoas que, em grande percentagem, acampavam ali durante os três meses de Verão. Mesmo quando iam para as aulas ou para o trabalho, mantinham as suas tendas e barracas e voltavam para dormir", contou.
Referindo-se à transformação da península pelo projecto Tróia Resort como "uma viragem muito grave" e "brutal", o docente explicou que a população sente "um misto de nostalgia e de revolta" pela "humilhação" que Setúbal está a viver.

Ao verem o livro, há nas pessoas "um brilho nos olhos, o prazer de reverem os tempos que lá passaram e, por outro lado, uma revolta por serem praticamente impedidas de voltar", afirmou, assinalando "uma grande comoção na comunidade setubalense" face a uma mudança que acontece "perante os nossos olhos e a nossa impotência".

"Tróia está aqui mesmo à nossa frente mas, simultaneamente, longe. E as pessoas, agora, só podem ver Tróia por um canudo", declarou à Lusa, descrevendo uma visita recente à praia.
"Na quarta-feira, seis elementos da equipa - dois entrevistados, dois alunos e dois professores - foram a Tróia e o que vimos é triste: uma autêntica cidade mas sem pessoas. Nada da azáfama, da intensidade, das brincadeiras das crianças, do ambiente de libertação e de prazer de outrora", declarou.

Uma impressão partilhada por Maria José Simas, professora de Inglês e Alemão e também participante no livro, publicado com chancela da Escola D. João II a 25 de Maio e que, desde então, esgotou três edições (3.200 exemplares) na cidade de Setúbal, único local onde está à venda.

"Quem é de Setúbal, quem aqui vive, sabe que as filas para Tróia eram imensas. As famílias iam para a praia a pé, com os seus farnéis e sombrinhas", recordou, falando numa mudança de cenário "agora que o cais de desembarque dos 'ferry-boats' foi deslocado para lá da Caldeira e os bilhetes custam dois euros por viagem".

Face a esta alteração com que a população de Setúbal se viu confrontada, a docente diz não estar surpreendida com o sucesso do livro, que esta semana terá a sua quarta edição.
"Frequento os locais populares: vou à mercearia, ando de autocarro e oiço as pessoas. Por isso, sabia que existe, em Setúbal, uma frustração latente em relação ao destino de Tróia. Não sabia é que essa frustração era uma saudade tão sentida e tão comovida", reconheceu.

Maria José Simas espantou-se, contudo, por o livro "transmitir esse sentimento de forma tão vívida" e por pessoas de diversas idades e zonas da cidade utilizarem "um discurso tão próximo para falarem das suas memórias".

De acordo com a professora, o livro "não é uma obra literária" mas "um registo de memórias, de vivências colectivas, comunitárias" e qualquer pessoa pode lê-lo e compreendê-lo.

O projecto de "Quando a Tróia era do Povo" teve início em Setembro de 2008 e decorreu até Maio passado, mobilizando os estudantes para a preparação das entrevistas e a recolha dos testemunhos junto de "avós, tios e vizinhos, que ficaram encantados por poderem partilhar as suas memórias".

Em relação ao nome do livro, a professora assegurou que "não é nenhum recado, apenas dá voz a um sentimento colectivo", tendo sido escolhido pelos alunos entre outras propostas de título colocadas à sua consideração.

Na sua opinião, ao início, as pessoas não estavam contra o Tróia Resort, "mas ficaram desiludidas ao ver a construção em altura, que é um tipo de ocupação do espaço que destrói a sua história", havendo muita gente "que até tem medo de lá ir, tem medo do que vai encontrar".

No âmbito desta iniciativa, os docentes manifestaram-se ainda orgulhosos com o trabalho desenvolvido pelos alunos, "que mostraram ser capazes de produzir algo muito válido para o público", nas palavras de Jaime Pinho.

Por seu lado, Maria José Simas destacou que este tipo de projectos "valoriza o saber e a cultura familiares e devolve aos miúdos um certo orgulho pelas famílias, pelo seu valor documental, mesmo quando são iletradas".

"Quando a Tróia era do Povo" aborda as vivências, divertimentos e convívios em Tróia e detém-se em aspectos como as características do vestuário, as práticas alimentares e de higiene ou as festividades religiosas, traçando uma espécie de quadro sociológico animado por dúzia e meia de fotos da época, algumas provenientes do Arquivo Fotográfico Américo Ribeiro e outras de colecções particulares.

O volume, vendido a cinco euros, é o quarto de uma colecção que integra "A Vida e o Trabalho em Setúbal no Tempo dos Nossos Avós", de 1986, "Mano Preto Mano Branco - Direitos Humanos em Angola e Moçambique (1950-1974)", publicado em 2003, com prefácio do autor angolano Pepetela, e "De Sol a Sol - O Alentejo dos Nossos Avós", lançado em 2006, com prefácio do jovem escritor José Luís Peixoto. Os dois últimos tiveram três edições.

Fonte: Lusa

Provas de aferição: fim ou meio?


Para mim, não é um espanto ler o que a nossa ministra da educação diz sobre os resultados das provas de aferição. Não se admirem vocês, os que estão a ler este comentário, do estado em que se encontra o ensino e a aprendizagem no nosso país.

Para os que não são professores, informo que a experimentação das provas aferidas teve início em 1990/1991. Encontrava-me, nesses anos, no Instituto de Inovação Educacional, organismo que funcionava "quase à parte" do Ministério da Educação. Ali, trabalhava-se por projecto e não por "horário a cumprir". Por isso, havia entusiasmo, dedicação, vontade de aprender, de analisar, de saber (quando necessário, verificava-se a nossa presença também aos domingos). A equipa (5 pessoas) era "novata" em investigação mas havia uma coordenadora excelente, honesta e investigadora experiente. O objectivo principal - nessa altura - era, de facto, ver o que necessitava de melhorar no sistema educativo.

Passados estes anos todos, não sei - como professora "normal" - o que tem sido estudado. Era também o início da aplicação dos novos programas de Língua Portuguesa e de Matemática (em 2010, haverá a substituição dos mesmos, repare-se!). Poderia/deveria ter sido feito um estudo longitudinal, nomeadamente. Se existe, desconheço. Alíás, é vulgar não haver divulgação de dados aos que de facto estão nos locais de ensino - professores/escolas.

Neste momento, não são os resultados que me interessam, se quero melhorar o que faço. O que gostaria de ver era uma análise de dados. Onde está??? Para a ministra, como as diferenças não são significativas, certamente não lhe interessa saber se o "fosso" (em linguagem popular) entre os "alunos excelentes" e os "piores" é maior ou menor, por exemplo. E, para além disso, analisar a origem desses "excelentes" e "piores" alunos, o método de ensino-aprendizagem que tiveram nas escolas que frequentaram e, especialmente, o método utilizado pelos professores que os leccionaram. Talvez assim, dirigindo todo o trabalho às causas do problema, pudesse até ter dados para uma verdadeira AVALIAÇÃO DE PROFESSORES E DE ESCOLAS, e em seguida, proporcionar a formação necessária que faz parte de qualquer avaliação. Só que, assim, não poderia considerar os números como um fim a atingir, mas antes, como um meio de melhorar.

Fátima Homem Cristo

Onde está a avaliação contínua?


A questão dos exames nacionais tem tanto de velho como de injusto. Todos os anos, milhares de estudantes realizam uma série de provas de âmbito nacional, com vista à conclusão do ensino secundário. Contrariando todos os modelos de avaliação contínua (propagandeados, na teoria, pelo próprio Ministério da Educação) e desafiando os critérios pedagógicos, a nota do exame tem o mesmo valor que a da frequência do secundário. Simplificando, quer isto dizer que o desempenho de um aluno durante as duas horas e meia que dura a prova é posto em pé de igualdade com o trabalho que um aluno fez durante três anos. O melhor que se pode dizer é que os exames nacionais potenciam situações injustas.

Dizem os defensores dos exames nacionais que estes se caracterizam pela sua homogeneidade em todo o país, em nome da "igualdade de oportunidades" e da "imparcialidade das várias escolas”. Esquecem-se, porém, de que o país não é homogéneo. Ou seja, temos uma mesma prova de exame – que, recorde-se, vale metade da nota de entrada na faculdade – para realidades sociais, culturais e económicas completamente diferentes. Vejamos um exemplo: no último ranking oficial do Ministério, uma das escolas que ficou pior posicionada foi a Azevedo Neves, na Cova da Moura (Damaia). Nesta escola, a esmagadora maioria dos alunos são imigrantes ou filhos de imigrantes, que não têm o português como língua materna. Mais uma vez, aqui se nota que aquilo que era supostamente uma prova uniformizadora acaba, ela mesma, por criar, veicular e agravar desigualdades sociais de partida.

A lei da concorrência, pilar fundamental do neoliberalismo, faz-se sentir também na educação. Esta exclui qualquer possibilidade de opinião crítica e desviante da considerada correcta e privilegia o “sucesso escolar” – obtido a qualquer custo –, em detrimento dos conhecimentos e das competências pessoais e pedagógicas adquiridas. Não basta ir à escola; é preciso ter "sucesso escolar". Para isso, contribuem uma série de factores socioeconómicos e culturais. As aprendizagens que as crianças e jovens fazem fora da escola, na rua, não são valorizadas pelo sistema de ensino. As crianças da Azevedo Neves são, muito provavelmente, sobredotadas para a luta pela sobrevivência em condições adversas, mas subdotadas para as competências exigidas na sala de aula. Ou será o sistema de ensino subdotado de métodos e conteúdos que se adeqúem à vida daqueles estudantes?

E, se dúvidas houvessem sobre a urgência das mudanças estruturais na nossa escola pública, os resultados desfazem qualquer eventual equívoco. Ano após ano, as desigualdades estão bem presentes nos resultados dos exames – com uma clara superioridade do ensino privado sobre o ensino público, das escolas do litoral sobre as escolas do interior, das escolas dos grandes centros urbanos sobre as escolas das zonas rurais... Para comprovar isto, basta dizer que em Portugal 75% dos filhos de pobres são, também eles, pobres. A juntar a isto, há que referir que a taxa de abandono escolar é de 39% (contra os 15% da média da União Europeia). A primeira conclusão a tirar destes números é a de que o sistema de ensino falha naquela que deveria ser a sua prioridade: abrir espaços de formação para os alunos, combatendo os problemas sociais de raiz.

Verdade seja dita, os rankings nacionais das escolas têm também a sua utilidade: mais não seja, a de mostrar que importantes mudanças estruturais são necessárias... e urgentes. Não podem é apenas servir para ser notícia de abertura de telejornais, num processo de punição e culpabilização de professores e alunos. Hoje, mais do que nunca, dizemos que uma escola democrática tem que assumir os alunos como prioridade. Sem excepções.

João Curvêlo

domingo, 28 de junho de 2009

Sinais de marcha-atrás


Quando avançou contra tudo e todos na implementação do seu modelo de avaliação, o governo dizia que das quotas não prescindia, porque elas eram a substância do seu modelo, porque elas permitiam distinguir os melhores dos piores e assim garantir o mérito na avaliação dos professores (basta até ler o primeiro parágrafo do texto do PS para defender este modelo de avaliação).

Esta tese foi sempre contestada pelos professores. O sistema de quotas é absurdo, injusto e não garante melhores desempenhos. O governo só o implementou por motivos economicistas. Sobre isso leia-se este texto do blogue De Rerum Natura

Agora, o governo vem dizer que as quotas são apenas importantes “numa primeira fase em que o processo está em fase de implementação”. Ou seja, admite recuar (leia também esta notícia).

Obviamente, não sabemos se se trata ou não apenas de uma manobra em tempos de campanha eleitoral. É muito provável. Mas duas coisas sabemos de certeza:

1) Começam a existir sinais de que a longa luta dos professores pode estar prestes a alcançar algumas vitórias significativas. São apenas sinais e não passarão disso se não mantivermos a firmeza dos protestos.

2) Fica mais uma vez demonstrada a arrogância e lata descomunal deste governo. Quando percebe que não tem condições para avançar com uma medida, quando percebe que tem que fazer cedências para não se estatelar no chão, inventa sempre a desculpa de que afinal até nunca pensou em ir verdadeiramente para a frente com essas medidas. Tem mau perder.

A precariedade dos professores portugueses


Ora cá temos mais um estudo realizado pela OCDE e não por qualquer outra desacreditada entidade ou instituição, ainda que mesmo assim o Ministério da Educação possa tentar mais uma vez desmentir. Mas as verdadeiras conclusões e o veredicto final cabe sempre ás próprias vitimas das consequências da precariedade, neste caso os professores, mas naturalmente também todo o meio envolvente resultante do seu trabalho marcado por condições de trabalho que segundo a OCDE são os mais precários.

Trata-se do primeiro estudo realizado pela OCDE sobre as condições de trabalho dos docentes portugueses e as conclusões são preocupantes. Ou seja, 32,4% não têm contratado permanente, o dobro da média dos 23 países analisados. O estudo revela também que 17,4% dos professores portugueses têm contratos inferiores a um ano. Os sindicatos confirmam que muitos docentes estão há mais de 15 anos em situação precária.

Portugal é assim o campeão da precariedade docente, mesmo atrás de países como a Eslováquia, Turquia, Estónia, Brasil, Malásia e Polónia, sendo o único com valores inferiores aos 70% de estabilidade contratual (67,6%), contrastando com a média dos restantes países, que é de 84,5%.

Com a avalanche de docentes a “fugirem” deste inferno em que se transformou o ambiente em meio escolar, será que os recursos humanos que ficam ao dispor dos Directores, como “lideranças fortes” nas escolas, são um exercito de mão de obra descartável, precariezada, como prova este estudo, sujeito a politicas educativas mais preocupadas com estatísticas e em função de números? Muito pobre vai ficar a escola pública e a democracia e sobretudo o exercício de cidadania tão propagandeado, mas cada vez menos exercido, talvez por realidades já vividas nos dias de hoje, mesmo em democracia.

São pois estudos como este, que devem merecer atenção das próprias comunidades educativas, para que a escola não se transforme numa “empresa” de infelicidade e de falta de referenciais marcantes pela positiva para o futuro das próximas gerações.

José Lopes (Ovar)

Também damos as boas notícias


A partir do ano lectivo de 2009-2010 a organização e gestão das bibliotecas escolares estará a cargo de professores bibliotecários a tempo inteiro que devem desenvolver estratégias e políticas que garantam a rentabilização de recursos e investimentos e a(s) coloquem ao serviço da escola, do processo formativo e das aprendizagens dos alunos.

“Mais de 1500 horários a tempo inteiro é bom, e a portaria que os cria (professores bibliotecários + coordenadores interbibliotecas) ajuda a melhorar as bibliotecas escolares e a escola pública. Do meu ponto de vista, claro. E ainda traz mais vagas de docentes nas escolas/agrupamentos, em todo país. Longa luta de mais de 13 anos.”
Maria José Vitorino

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sábado, 27 de junho de 2009

FENPROF e ME, o estado das coisas...



Face a todos os acontecimentos recentes, seria de esperar uma verdadeira mudança de atitude por parte do Ministério da Educação, em relação ao Estatuto da Carreira Docente e ao Modelo de Avaliação: a admissão pública do nosso Primeiro-ministro de que esta avaliação foi um erro; o Conselho Científico da Avaliação de Professores, criado pelo próprio ME, a questionar os efeitos da cotização; o Relatório Benchmark de Avaliação de Desempenho que nos informa que Portugal é o único país, de um conjunto de países importantes da União Europeia, que tem um sistema desses – onde não é feita a distinção entre o mérito pelo mérito e uma tomada de decisão por razões políticas e económicas, reduzindo a avaliação e a progressão da carreira docente a um acto meramente administrativo.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Modelo de avaliação do governo outra vez desacreditado


O relatório "Benchmark (Padrões) de Avaliação de Desempenho", datado de 2009, foi pedido à consultora Deloitte pelo Ministério da Educação, no âmbito do processo de implementação do Modelo de Avaliação de Desempenho dos Educadores e Professores. Nas suas conclusões é curioso que têm a necessidade de frisar que "não deve ser entendido como uma avaliação ao modelo de avaliação dos docentes do ensino público", uma vez que não foi assumida uma "posição crítica", mas antes uma "análise factual e objectiva" de comparação. Porquê jogar tão à defesa? Percebe-se, é que há duas conclusões objectivas muito interessantes:

- Dos cinco países analisados, o modelo português de avaliação dos professores é o único que prevê quotas para as melhores classificações.

- Portugal é o único país em que predomina claramente a esoclha por um modelo de avaliação individual. Nos outros países, predominam os processos centrados na avaliação das escolas. Ou seja, por cá persegue-se cada professor, por lá valoriza-se o trabalho em equipa.

Estas conclusões foram extraídas
daqui e daqui

O debate continua em todo o país









Promovido pelo Movimento Escola Pública (MEP) realizou-se em Barcelos, no passado sábado dia 20, um debate sobre igualdade e emancipação da escola pública. Esta sessão que decorreu no polivalente de uma escola pública – Secundária Alcaides de Faria, contou com a participação de mais de uma centena de pessoas e teve como oradoras: Cecília Honório (Co-fundadora do MEP), Ana Drago (deputada do BE na AR) e Júlia Vale (Dirigente do SPN e Secretariado da FENPROF).

José Maria Cardoso, em nome da comissão de professores que organizou este evento, deu inicio à sessão com a apresentação de um filme sobre a Manifestação dos Professores de 8 de Novembro, realizado pelo colega João Lemos da ESAF, que fez questão de participar nesta manifestação e de deixar este seu tributo como legado para a continuação da luta profissional, dado que se aposentou passados quinze dias da data da manifestação. A apresentação do filme serviu como um reconhecimento e agradecimento à sua digna postura.

Da exposição reflexiva apresentada pelas oradoras destaca-se a veemente critica às políticas governamentais para a educação que têm sido praticadas no nosso país, muito especialmente a grande “machadada” aos princípios e valores da escola pública que o actual ministério tem infligido pondo em causa a democraticidade do sistema de ensino.

Cecília Honório começou por dizer que “a ministra veio pôr pó de arroz no ensejo e fúria reformista. O seu sistema de avaliação docente, que defendeu rasgando a camisola, fica adiado e reduzido a uma caricatura em nome das eleições”. O MEP defende a igualdade, democracia e dignidade da comunidade escolar, “contra o clima de intimidação e medo” da tutela, e visa “abrir o diálogo entre todos os activismos, incluindo sindicatos e partidos”.

Júlia Vale centrou a sua intervenção na luta sindical que tem sido travada em nome dos professores mas também em nome da escola pública inclusiva assim como de todo o mundo laboral dizendo que “esta luta é a de todos os trabalhadores independentemente de quem ganhar o governo, o sistema de avaliação e a carreira docente terão de mudar”.

Por sua vez, Ana Drago afirmou que “ o governo PS quis remediar o atraso educativo face à UE mais rápido e baratinho. Quer-se que a escola eduque para todas as competências sem lhe dar meios”. A deputada do BE referiu que para além da revogação do ECD também se deve exigir o fim do novo modelo de gestão das escolas que como já é do conhecimento público está a levar á partidarização. “ O partido que estiver na Câmara Municipal vai querer ter uma palavra a dizer”.

Seguiu-se um debate bastante participado com um conjunto de intervenções da plateia que abordaram temáticas relacionadas com o processo de luta dos professores e do papel dos sindicatos em todo este processo, entendível que assim fosse, dado que a maior parte dos presentes eram professores, mas também foram discutidas questões relacionadas com o conceito de escola pública.

Sem qualquer réstia de dúvida, comprovada pelas auscultações de pós-debate, esta inédita iniciativa em Barcelos foi um êxito, tanto em termos de participação, numa noite em que a elevada temperatura convidava a outras vontades, quanto em termos de discussão contribuindo decisivamente para o acumular de consciências de que a educação tem de ser encarada como um direito e um bem social e não como um produto comercial.

A educação tem de ser pensada como ferramenta com alto potencial de redistribuição, de correcção de assimetrias, de igualdade de oportunidades, no fundo do exercício da democracia. Por isso o ensino público tem de ser prioridade de qualquer governo democrático porque só ele é garante destes desígnios.

Texto de José Maria Cardoso

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Precisam de prova de recuperação?


José Sócrates assumiu finalmente que errou. Na Educação, lá concedeu que também errou. A avaliação dos professores foi demasiado exigente e burocrática, embora tivessem corrigido o erro com a adopção sucessiva dos simplex 1 e 2, disse.

Na Educação estiveram em causa muitos votos. Uma análise minimamente séria do resultado das eleições do passado 7 de Junho não podia deixar de assinalar tal facto. José Sócrates compreendeu que muita gente deixou de votar nele por causa dos ataques que desferiu à Educação e, em particular, aos professores. Acontece que ao assinalar, em assombroso acesso de humildade, que errou, tornou a insultar os professores. Não é verdade que a avaliação tivesse pecado por ser exigente. Ao contrário, de exigente não tem nada. Tem mais de verdadeira farsa de mau teatro do que de verdadeira avaliação. E foi isto que enfureceu os professores. Não o reconhecer e atirar as culpas (novamente) para os professores, que, supostamente, se dariam mal com a exigência é novamente insultar os professores. Mais valia ter ficado calado!

Ao invés de um processo negocial sério com os sindicatos, como se tinha comprometido, a ministra pede opinião sobre o que fazer à Comissão Científica da Avaliação. Está hesitante, percebe-se. Mais simplex? Alargar os períodos em avaliação? Afinal o relatório que recebeu da referida comissão atreveu-se a ser crítico. Até eles!

Definitivamente ainda não perceberam que em matéria de avaliação os avaliados foram eles, ministra e primeiro-ministro, e a avaliação foi extremamente negativa. Precisam de prova de recuperação? Tenham bom senso e acabem com a farsa, pode ser que possam ainda aligeirar a péssima impressão que deixaram ao povo português.

Manuel Grilo, Editorial do Escola.informação, no site do SPGL

A pressa da propaganda dá nisto


Pais de Viseu negam que atraso na entrega de Magalhães se deva a erros nas inscrições

A Federação Regional das Associações de Pais (FRAP) de Viseu acusa o Ministério da Educação de ter falhado na distribuição dos computadores Magalhães, rejeitando que estes não tenham sido entregues por incorrecção nos dados de inscrição.

Vê aqui a notícia

Uma escola que seja nossa


(...) Mas se o Estado interfere demais, não queremos menos Estado, queremos é que se organize de forma diferente. Sublinho que é radicalmente diferente lutar pelo cheque ensino e pela privatização do sistema ou por escolas públicas autónomas, com um orçamento próprio, inseridas nas suas comunidades, aptas a traçar um projecto que seja realmente seu, desde o currículo até à avaliação de professores. Escolas que por serem "públicas" assumirão a função de serem para todos, não vedando o acesso em função do estatuto socioeconómico, etnia, nacionalidade ou género.

Estive há poucos dias com professores oriundos de uma dessas escolas, que a coberto de um programa específico, iniciou um caminho mais autónomo. Queriam, no seu programa de formação, inserir uma bolsa de professores voluntários para assistir a aulas e outros que a ela recorriam, dinamizando o processo como formação inter-pares. Achei uma medida difícil, pois nos tempos que correm é difícil desligá-la da avaliação dos professores, mas ainda assim interessante e corajosa.

E lembrei-me como num projecto de investigação-acção em que participei havia disponibilidade de um conjunto de sociólogos para assistir a aulas e, ao contrário do se poderia esperar, foram muitos os professores que abriram as portas. E nenhum deixou de querer saber depois qual tinha sido a opinião dos sociólogos. Foi, aliás, quase sempre uma iniciativa de professores.

Penso que em sistemas de liberdade, as pessoas funcionam de forma diferente, do que quando sentem sobre elas um controlo apertado, um sistema asfixiante. Se as normas gerais, baseadas sobretudo em princípios, forem iguais, as escolas poderão fazer diferente, tanto no que diz respeito ao currículo, como às formas de organização do tempo e do espaço escolar, como à avaliação dos professores.

Acredito que é preciso investir na qualidade da profissão de professor, conferindo poder de acção aos melhores, e desejando que os melhores não tenham receio de se evidenciar e tomar em mãos o trabalho de construir a escola. E isto constitui também um novo desafio aos sindicatos e associações profissionais. É talvez bem possível que o centro das decisões não esteja apenas no Ministério da Educação como se ele fosse um patrão e consequentemente nele residissem todos os defeitos. (...)

Excerto do artigo de Carla Cibele, publicado em Escola.info

terça-feira, 23 de junho de 2009

Cacifos precisam-se...


"Os alunos levam às costas cerca de cinco quilos em livros e material escolar. Quase dois terços queixam-se de dores decorrentes da sobrecarga nas mochilas, revela um estudo apresentado na Universidade do Minho. A generalização dos cacifos nas escolas é uma das soluções apresentadas.

O trabalho de Regina Barros demonstrou que a maioria dos alunos analisados apresentava alterações posturais relacionadas com o excesso de peso nas mochilas. As alterações à coluna afectavam 69 por cento dos alunos, a protusão dos ombros (ombros para a frente) 59 por cento e a anteriorização do pescoço, 49 por cento. O estudo envolveu 136 alunos de vários ciclos de ensino de escolas públicas e privadas. A autora verificou que, tendencialmente, os alunos dos primeiros anos transportam mais do que dez por cento do seu peso nas mochilas, ao contrário do que recomendam especialistas. A tendência só se inverte nos 9º e 12º anos.

O peso médio dos sacos escolares apresentava valores entre os 4,1 quilos e os 5,4 quilos. Cerca de 77 por cento dos estudantes preferem usar mochila, 12 por cento optam pelos sacos com uma alça e seis por cento pelo carrinho. Menos de metade dos que usam mochilas colocam as duas alças nos ombros.

Uma das soluções apresentadas para evitar os problemas de saúde é a instalação de cacifos. "A maioria das escolas não tem condições para que os materiais permaneçam na instituição de ensino, pois não existem armários individuais ou então são em número insuficiente", explicou a investigadora.

Regina Barros apelou a professores e a editoras para que exijam manuais mais leves. "É imperativa a cooperação de todos os envolvidos para ultrapassar os problemas do uso incorrecto e peso inapropriado do saco escolar", considerou. " (
notícia do Correio da Manhã)

Comentário:

É de facto daquelas coisas mundanas que se tornam problemas bem grandes e visíveis, que todos teimam em não resolver. É mais do que óbvio que deviam existir cacifos nas escolas para todos os alunos. Custa dinheiro, mas é dinheiro bem gasto. O facto de existirem “Trabalhos Para Casa”, que obrigariam os alunos a transportar os manuais, não pode ser vir de desculpa. Afinal, serão assim tão úteis os TPCs? Sobre essa temática, releia
este post.

Lavagem


Desenho de Antero Valério

Bloco quer "ponto final" na avaliação dos professores


O Governo deve "pôr um ponto final" no actual sistema de avaliação de professores, defende o Bloco de Esquerda (BE). Em conferência de imprensa, em Lisboa, Ana Drago, deputada do BE, considerou hoje que seria "um erro" insistir, nos próximos anos lectivos, no mesmo modelo de avaliação de professores já que este "não responde a nenhum dos problemas centrais do sistema educativo".

A posição do BE surge dias depois do Ministério da Educação ter pedido ao Conselho Científico para a Avaliação de Professores um parecer sobre o tema. A tutela quer saber se o conselho considera que no próximo ano deve ser adoptado o modelo de avaliação dos docentes aprovado em 2008, com as alterações necessárias, ou se deve ser mantido o regime simplificado aplicado em 2008/2009.

Em alternativa, Ana Drago defende que o Governo ponha "um ponto final" no modelo para que seja possível "regressar à estaca zero" e iniciar uma "discussão pública alargada".

O BE defende, de resto, que seja criado um "conselho representativo dos actores" do sistema de avaliação para "discutir e construir um outro modelo" que avalie "as escolas no seu contexto".
"Não podemos avaliar da mesma forma professores que estão numa escola do centro da cidade, [que dão aulas a] filhos de pais com profissões liberais e formação académica elevada e uma escola que está num contexto mais desfavorecido como acontece na periferia de Lisboa", exemplificou.

A deputada considerou ainda urgente responder de forma mais acelerada ao problema do abandono escolar, defendendo a criação de "equipas multidisciplinares nas escolas".

(notícia do jornal público)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sala cheia em Barcelos para debater a Escola Pública


Na Escola Secundária Alcaides de Faria, em Barcelos, mais de cem pessoas participaram no debate sobre igualdade e emancipação na escola, promovido pelo Movimento Escola Pública. Ana Drago, Cecília Honório e Júlia Vale abriram a conversa. Em breve, divulgaremos algumas conclusões e mais fotografias.

O rumo com pó de arroz


O rumo, a direcção, o ângulo da quilha do governo, não vai mudar até às legislativas. Sócrates é outro timoneiro de convicções, e naufrágios. Mas os berloques retóricos das últimas entrevistas e os retoques de pó de arroz nos ministros que mais água meteram são evidentes.

E poderá a "humildade democrática" abafar a palavra que mais consenso gerou o absolutismo da maioria, a arrogância? Se a arrogância não tivesse números e nomes, os do desemprego, da precariedade, do medo que se instalou nas relações laborais, das clientelas, dos apetites privatistas e gerencialistas dos serviços públicos, seria tudo mais fácil.

Humilde, porventura, Sócrates diz que errou na avaliação demasiado burocrática dos professores. Maria de Lurdes Rodrigues reaparece no palco. O governo abre-se para a manutenção do simplex dos simplex. Razão para perguntar: deixaram de querer ser desesperadamente modernos à conta da avaliação dos professores ou aceitam que, farsa por farsa, o melhor é deixar andar?

Estas são questões menores, e por o serem é que estes políticos são tão pouco credíveis, e tanto menos credíveis quanto mais maquilham as absolutas convicções de ontem. As razões de Sócrates são muitas: precisa dos "votozinhos" para as próximas eleições, precisa de segurar Maria de Lurdes Rodrigues, se o futuro o permitir, e precisa de fazer da avaliação de desempenho o único fundamento da indignação de todos/as os/as professores/as, convencido que em política a memória é curta.

E enquanto o governo assobiar com o simplexíssimo não precisa de levar a sério o que até o Conselho Científico para a Avaliação dos Professores conseguiu concluir: que as escolas vivem climas de intimidação e de medo, que as relações entre pares se deterioraram, que nada disto fez bem à escola pública.

E enquanto armadilharem com pó de arroz o que fizeram à escola pública, e àqueles e aquelas que são o seu rosto, podem branquear as questões de fundo: a autocracia da nova gestão, a divisão arbitrária e incompetente entre professores de primeira e de segunda, a precariedade humilhante de milhares de profissionais, etc. Dá-lhes jeito, portanto, mas nem à escola pública nem aos alunos/as, nem às famílias, nem aos profissionais de educação "deu jeito" a política educativa deste governo. E porque nada disto se pode esquecer, estará tudo em cima da mesa no arranque do próximo ano lectivo.

Artigo de Cecília Honório, no Esquerda.net

domingo, 21 de junho de 2009

Parece que o ME ainda não compreendeu...



Professores portugueses perdem muito tempo a manter disciplina na aula - Bárbara Wong

Os professores portugueses perdem muito tempo na sala de aula até conseguir o ambiente de aprendizagem ideal, confessam num inquérito feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), realizado no ano lectivo de 2007/2008. O estudo Criar Ambientes Eficazes de Ensino e Aprendizagem feito em 23 países através de questionários a docentes do 3.º ciclo do ensino básico foi divulgado ontem, no México.

Segundo o relatório, três em cada cinco escolas dizem que o mau comportamento dos alunos perturba o bom funcionamento da aula. Portugal não é excepção e os docentes confessam que 25 por cento do tempo lectivo é para manter a disciplina ou é gasto em questões administrativas. É o quinto valor mais baixo entre os países analisados, no entanto, a média geral é de 20 por cento. Este é um problema com que os professores, todos, se debatem.

Em Portugal, os professores são cumpridores, não chegam atrasados, faltam pouco e têm boa preparação pedagógica, declaram os 200 conselhos executivos que responderam. O problema são os alunos, dizem os professores. Quatro em cada dez admite que as interrupções dos alunos quebram o ritmo da aula.

É o comportamento dos estudantes que prejudica a aprendizagem, sublinham. Para 69,1 por cento dos professores o problema são os distúrbios na sala de aula (a média internacional é de 60,2 por cento); o absentismo e o chegar atrasado corresponde a 50,8 e a 40,8 por cento das respostas. Os profissionais preocupam-se ainda com o facto de os alunos dizerem asneiras (42,8 por cento) ou intimidarem os colegas (28,4 por cento). Os roubos (23,3), vandalismo (20,5) e agressões (19,2) também fazem parte das suas preocupações.

Faltam incentivos

A nível internacional, três em cada quatro professores sente que não têm incentivos suficientes para melhorar a qualidade do seu ensino. Os portugueses, ao lado dos espanhóis e dos húngaros, estão entre os que admitem que não conseguem ser bem sucedidos com os alunos com maiores dificuldades de aprendizagem ou pouco motivados. Ao passo que nove em cada dez italianos, noruegueses ou eslovacos declaram que, com persistência, conseguem o sucesso dos alunos.

Um ambiente positivo está associado a mais aquisições e a mais aprendizagem, reconhecem os docentes. "O êxito das políticas de educação depende fortemente da existência de professores de elevada qualidade", defende Angel Gurría, secretário-geral da OCDE. Por isso, o relatório recomenda que se aposte na formação contínua; aliás, os inquiridos admitem que quanto mais formação têm, melhor sabem gerir os problemas na aula e na escola. Nove em cada dez professores, a nível internacional, apostam na sua formação, nem que seja um dia, por ano lectivo. Contudo, a grande maioria, professores portugueses incluídos, não se sente reconhecido. Aliás, os nacionais fazem parte dos poucos profissionais que declaram que nos últimos cinco anos, anteriores ao inquérito, não foram avaliados externamente.

A OCDE defende que "a principal lição política" a retirar deste estudo é que os ministérios têm que prever incentivos "mais eficazes" para os professores, recompensando-os e reconhecendo o seu trabalho. Além disso, devem olhar menos para o controlo dos recursos e conteúdos educativos e mais para os resultados da aprendizagem. Em comunicado, o Ministério da Educação congratula-se com a avaliação do desempenho dos professores e a gestão escolar e considera que as recomendações da OCDE confirmam "a centralidade e a premência das reformas introduzidas".
Fonte: Público


Esta equipa ministerial foi uma anedota completa... e ainda não pararam. Tudo o que fizeram nestes 4 anos contraria precisamente as recomendações da OCDE... mais palavras para que? Só eles ainda não perceberam ou não quiseram perceber.


Retirou a autoridade aos professores, foi fonte de grandes perturbações e desmotivação. Denegriu a sua imagem, tendo por base factos que não correspondiam sequer à verdade, entre muitas outras coisas negativas. Todas elas nos afastaram do caminho de um bom ensino público e...destas recomendações.


Preservar os escombros


A Ministra não tem força para defender o seu modelo de avaliação. Admite manter a versão simplificada até 2011. O Conselho Científico para a Avaliação admite inúmeras fragilidades no modelo do governo e na sua implementação, apesar de o continuar a defender. O desastre é tão grande que até um órgão domesticado pelo governo não conseguiu deixar escapar cá para fora tantos erros graves.

Na verdade, provavelmente a casa já veio mesmo abaixo e do que se trata agora é apenas de manter os escombros. O governo prefere manter a farsa – uma avaliação baseada na assiduidade e totalmente desligada da pedagogia e da formação – do que esquecer o seu modelo e partir para a construção dialogada de algo novo, sério e capaz de servir a escola pública. Disso, há muito que desistiu.

A burocracia autoritária outra vez


"São 9h e o cenário ocorre numa escola secundária da influência DREN. Os exames começam, sendo um deles de uma lingua estrangeira. Está presente o inspector para confirmar os procedimentos correctos que devem ser adoptados.
São 9h30m e numa das salas de exame de lingua estrangeira, um dos vigilantes passeia pela sala 'apinhada' com 3 alunos, folheando o enunciado da prova. O inspector que no momento passava, entra na sala e questiona que documento transporta na mão; o professor mostra o enunciado. O inspector, ainda dentro da sala e á frente dos alunos, admoesta o docente por ter a prova na mão; o docente questiona sobre qual o erro cometido e obtém a resposta de que está a quebrar o sigilo da prova...!

A gravidade da situação reside na falta de sensibilidade do inspector em não perceber que estava a transtornar os alunos num momento critico da sua vida escolar, com minudências burocráticas que em nada afectavam o normal funcionamento do sistema, e que se queria admoestar deveria fazê-lo fora da sala ou no fim do exame. Ou seja, deu mais importância a uma acção repressiva do que à criação de um ambiente tranquilo para os alunos.Será que o estilo socrático autoritário também já chegou à inspecção da educação?"

Agora explique isto...

Kandinsky

Este ano houve mais negativas nas Provas de Aferição que no ano passado, com excepção para a Língua Portuguesa do 4º ano, onde se verificou uma percentagem inferio de níveis negativos.

Recordo agora os comentários da Sra Ministra da Educação, face aos resultados das provas de aferição do ano passado, onde se tinha registado melhorias significativas em relação a anos anteriores. Segundo esta, tinham havido melhorias nos resultados devido às medidas do seu Ministério.

Pois então, Sra. Ministra, justifique estes agora…

Para reflectir:

Mais de metade das escolas (56 por cento) acompanhadas pelo CCAP reportaram clima de perturbação e tensão provocado pelo processo de avaliação de desempenho docente, enquanto outras acrescentaram "um clima geral de medo", provocado pela tutela ou colegas.

Esta é uma das "implicações" do processo de avaliação no clima dos estabelecimentos de ensino, constante no relatório de acompanhamento e monitorização do Conselho Científico para a Avaliação dos Professores (CCAP), realizado através de visitas e estudos a 30 escolas.

Também metade das escolas aponta os conflitos internos, nomeadamente a "deterioração da relação entre colegas" ou a divisão entre avaliadores e avaliados, o que provocou situações de "animosidade". Em vários relatórios é apontada a indignação dos professores face às decisões da tutela e em metade é referido o "desgaste" provocado pelo processo.

Fonte: Lusa
Provas de Aferição dos anos 2008 e 2009.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Um dia a casa vai abaixo


Na recta final do ano lectivo, o Ministério informou as escolas que vai dar formação aos avaliadores e enviar novas fichas de auto-avaliação para os professores. Há estabalecimentos onde a auto-avaliação já esta feita, e os sindicatos estão "estupefactos". Mas o Ministério diz que está a cumprir prazos e que avaliação não terá "qualquer efeito" no próximo ano. Vê a notícia aqui.

A notícia de primeira página do Diário de Notícias desta sexta-feira mostra bem a aberração que constitui o actual modelo de avaliação docente. Os materias para construir a casa são de péssima qualidade e, ainda por cima, a casa começou a ser feita pelo telhado. Mais grave ainda, muda-se a qualidade de alguns materias já no final da obra e em apenas metade da casa. Quem acredita que ela se manterá de pé?

Um dia a casa vai abaixo e esperemos que seja mais cedo do que tarde. A divisão arbitrária da carreira nunca podia garantir um corpo de avaliadores preparados. O objectivo, também, nunca foi esse. De facto, o objectivo nunca foi sequer construir um modelo de avaliação sério, eficaz, e capaz de melhorar a qualidade pedagógica e científica dos professores. O objectivo foi apenas criar uma fractura para poupar dinheiro e estabelecer hierarquias.

Construir uma casa barata e com fundamentos débeis foi a opção do governo. Um sistema de avaliação rasteiro, superficial, baseado em reuniões, grelhas, fichas e parâmetros. Na verdade, ele é uma casarão de papel construído à borla e à custa do trabalho burocrático dos professores. Para quê? Para no futuro dificultar a progressão na carreira e assim poupar ainda mais nos salários. Ou seja, com um sistema barato se pretende tornar ainda mais barato o sistema global. A pedagogia e a qualidade do ensino ficam fora destas contas, porque, para este governo, elas simplesmente não existem.

Um dia a casa de papel vai abaixo. Somos muitos para soprar. Continuemos, pois, a encher esses pulmões, porque não falta muito para chegar o dia.

Níveis de literacia no Mundo


Fonte: United Nations Human Development Report 2007/2008

(Para ver em tamanho grande clique sobre a imagem)

Postado por
Pérola de Cultura

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Assumir erros para que tudo fique na mesma


Excertos da entrevista de Sócrates à SIC:

«Um dos erros que cometemos foi deixar instalar a ideia que, quando faziamos as reformas ao serviços do interesse geral, que agimos contra classes profissionais», apontou.

«O governo não age contra classes profisionais», sublinhou, assumindo depois o «erro» da avaliação de professores.

«Errámos ao propôr uma avaliação tão exigente, tão complexa e tão burocrática», admitiu, não garantindo a continuidade de Maria de Lurdes Rodrigues no executivo em caso de reeleição.

«Quanto ao futuro governo não quero comprometer-me com nada. O futuro governo será um novo governo com novas responsabilidades», declarou.

Contudo, o primeiro-ministro defendeu a obra da ministra da Educação. «As reformas na educação tornaram o país francamente melhor», sustentou, indicando o prolongamento dos horários das escolas, a colocação de professores por três anos e o Inglês, o estudo acompanhado, a música e o desporto no ensino básico: «Hoje todas as nossas crianças falam Inglês e todas as nossas crianças têm computadores Magalhães».

«Hoje aprendem-se profissões na escola. Corrigimos um erro histórico e recuperámos o ensino profissional», recordou.

Comentário:

1) Sócrates mudou a estratégia e está à defesa. Bem se vê que caso vença as eleições dificilmente manterá Maria de Lurdes Rodrigues como Ministra da Educação. Mas, ao nível das políticas concretas, parece determinado em nada mudar.

2) O único erro reconhecido já o tinha sido há muito tempo. Sócrates admitiu que “errámos ao propôr uma avaliação tão exigente, tão complexa e tão burocrática”. Mas desenganem-se os mais eufóricos por tal demonstração de humildade: esse reconhecimento já havia sido feito aquando da introdução do simplex 1 e do simplex 2. Na entrevista, Sócrates apressou-se a dizer que o erro foi corrigido “logo a seguir”. Para Sócrates, o actual modelo de avaliação, baseado na divisão artificial da carreira, continua a ser valioso. Apenas para continuar a dizer que conseguiu fazer uma reforma, mesmo que saiba que se trata de uma verdadeira farsa que em nada contribui para a melhoria concreta da qualidade pedagógica e científica do ensino ministrado nas escolas.

3) O Inglês, a música, o desporto....as famosas actividades de enriquecimento curricular, todas garantidas através da precariedade de centenas de professores...é a escola barata com o currículo privatizado e os professores explorados. Uma das maiores vergonhas deste governo sempre afirmadas com um sorriso nos lábios.

4) O investimento no ensino profissional e nos CEFs foi tão só mais uma forma de propagandear avanços no combate ao abandono escolar e ajudar ao adornamento das estatísticas. Na verdade, é o reconhecimento de que este governo desistiu da escola pública como garante de igualdade de oportunidades, preferindo dividir os alunos por gavetas que lhes toldam o futuro.

5) Hoje, o país tem menos escola pública. Menos motivação, menos qualidade, menos igualdade. Por mais que tente camuflar, Sócrates fez triunfar o mercado e a tecnocracia sobre a solidariedade e a emancipação. Os professores e os cidadãos não se deixam enganar.

Contra os Canhões Marchar....Marchar


Como profissionais do ensino não podemos, nem devemos ficar inebriados pelos “pseudo-avanços” alcançados com a definição de objectivos individuais por alguns PCE e acantonados logo a seguir, mas sim prosseguir a luta; pois só reforçando e enfrentando as situações de frente é que elas podem ser ultrapassadas e resolvidas. Dar tréguas é reconhecer o fracasso de ideias e convicções de quem nelas acredita.

Maria de Lurdes Rodrigues e restante comitiva é fria e insensível como a ‘pedra’ e não cede aos argumentos apresentados pelos intervenientes no processo educativo (professores e alunos) e distancia-se, só admitindo mesmo fazer parte do problema e nunca parte da solução! Com um governo cúmplice que lhes dá cobertura e trata aliás os seus professores como professorzecos, ratos, coitadinhos… nunca e em tempo algum pode ser credível e estar de boa-fé.

Não é adoptando um regime de avaliação meramente economicista; não é mantendo um ECD inconstitucional (porque não negociado); não é tentando precarizar a profissão docente com uma lei suspensa mas não revogada (Lei 12-A/2008); não é com um novo modelo de gestão imposto às escolas com a figura do Director que se conseguem resultados. Por muito esforço que faça, não consigo compreender a visão tecnocrática dos que se convencem que fazendo despachos as coisas avançam.

As coisas avançam mudando a realidade das escolas. É nesse sentido que devemos estar prontos e continuar a exigir em consciência e determinação a mudança radical nas políticas levadas a cabo pela actual equipa ministerial; bem como continuar a luta pela suspensão deste processo estapafúrdio chileno de ADD.

Foi preciso continuar o espírito da jornada com nova manifestação a 30 de Maio e certamente serão precisos muitos mais dias já no início do próximo ano lectivo, a cair em cima das autárquicas ou das legislativas! Sejamos pois participantes, participativos e coerentes nas nossas tomadas de posição.

Esta avaliação e este ECD não serviram, nem nunca podem servir o interesse dos docentes, da escola pública, dos alunos e da educação. Citando Brecht: “ temos de ser nós todos, o povo baixo, a dar a volta a esta trampa. Leve o tempo que levar”.

Nenhum docente que se preze e nos seus valores poderá/deverá votar nas próximas eleições legislativas (neste) PS; que envergonha os portugueses em geral e os professores em particular!

José Carlos Jacinto (zeca.abt@hotmail.com)

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Professores portugueses são os mais precários


O primeiro estudo realizado pela OCDE sobre as condições de trabalho dos docentes indica que os professores portugueses são os mais precários: 32,4% não têm contratato permanente, o dobro da média dos 23 países analisados. O estudo revela também que 17,4% dos professores portugueses têm contratos inferiores a um ano. A Fenprof confirma que muitos docentes estão há mais de 15 anos em situação precária.

Portugal é o campeão da precariedade docente, mesmo atrás de países como a Eslováquia, Turquia, Estónia, Brasil, Malásia e Polónia, sendo o único com valores inferiores aos 70% de estabilidade contratual (67,6%), contrastando com a média dos restantes países, que é de 84,5%. A tabela comparativa encontra-se na página 42 do
relatório da OCDE.

Confrontado pelo Diário Económico com estes números, o secretário de Estado da Educação Jorge Pedreira afirmou que se o estudo tivesse sido feito depois dos resultados do actual concurso de professores os indicadores seriam diferentes. "Como os concursos de professores são feitos de três em três anos, nos interregnos desses concursos só podemos contratar professores através de contratos a prazo" acrescentou Pedreira.

Uma tese contestada por Manuel Grilo. Em declarações ao Esquerda.net, o dirigente do SPGL sublinha que praticamente só conseguem colocação efectiva nos concursos nacionais os professores que já são efectivos noutras escolas. Como tal, a quase totalidade dos professores precários ou continua nessa situação ("há alguns há mais de 15 anos a saltar de escola em escola") ou pura e simplesmente "vão para o desemprego".

Além disso, as vagas de quadro abertas são sempre poucas, o que implica que imediatamente a seguir aos concursos, haja necessidade de recorrer à contratação precária. Manuel Grilo esclarece ainda que a única forma que o governo encontra para diminuir o número de professores precários é "através do aumento do desemprego docente".

O dirigente sindical adianta também que existem áreas disciplinares onde a totalidade dos professores se encontra numa situação precária, nomeadamente nas áreas artísticas, ou de electricidade e mecânica. A Fenprof defende que ao fim de seis anos de contratos a termo os professores tenham direito ao vínculo permanente.

O estudo da OCDE indica também que Portugal é dos piores países em matéria de equipamentos e recursos humanos para apoio educativo nas escolas (página 43).

Notícia do
Esquerda.net

terça-feira, 16 de junho de 2009

Este sábado debate-se a escola pública a Norte


Algumas notas sobre o Relatório da OCDE


A OCDE produziu um relatório sobre as escolas e os professores. O relatório é extenso e confuso. Sobre as questões da avaliação e gestão é uma salganhada que dificulta conclusões consistentes, desafiamos qualquer um a tentar tirá-las, o relatório pode ser esmioçado aqui.

Sobre outros pontos, destacamos as seguintes conclusões:

- As aulas com um número reduzido de alunos são os melhores instrumentos para combater o mau comportamento ou a falta de interesses dos alunos

- A formação dos professores é fundamental para a qualidade do ensino, mas os profissionais que optaram por fazer mais cursos de foprmação são os que mais pagam por isso, pois em nenhum dos países pesquisados essas formações são totalmente gratuitas.

- A OCDE considera que a situação laboral é um importante factor de estabilidade. Em Portugal mais de 30% dos docentes têm um contrato a termo.

- As escolas portuguesas são das poiores nos apoios em recursos humanos e materiais

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Já em Setembro, rebentar com estas políticas!


O Movimento Escola Pública promoveu um inquérito sobre as próximas acções de luta a serem levadas a cabo pelos professores no início do próximo ano lectivo. Participaram 176 pessoas, eis os resultados:

1) Outra greve nacional 15 votos (8%)
2) Outra manifestação nacional 71 votos (40%)
3) Uma greve nacional de vários dias 74 votos (42%)
4) Manifestações regionais/locais 16 votos (9%)

Vê aqui outras opções referidas pelos votantes

Apesar da reduzida dimensão da amostra, arriscamos tirar algumas ilações:

1) A realização de outra greve nacional de apenas um dia ou de manifestações locais/regionais não entusiasma os professores. E não é de admirar: quase todos querem subir o patamar da luta e sabemos que estas duas alternativas não são as que mais impacto produzem. As manifestações regionais, mesmo todas somadas, nunca são tão mobilizadoras quanto uma manifestação nacional. E as greves nacionais de um dia, só por si, já não acrescentam muita coisa porque não têm a mesma visibilidade e força pública e colectiva que uma grande manifestação pode alcançar.

2) As duas opções mais votadas foram a realização de uma nova grande manifestação nacional e uma greve de vários dias. Isto significa que os professores querem endurecer a luta contra este governo. E existem aqui duas percepções a considerar: por um lado, muitos acreditam que será preciso uma nova grande manifestação nacional no início de Setembro, que, mesmo antes das eleições legislativas e numa altura em que é possível mobiliizar muitos mais professores que em Maio, terá um impacto enorme. Por outro lado, existe também a percepção que isto já não vai lá só com manifestações e que é urgente enveredar por um caminho mais radical, com uma greve de vários dias.

3) Começam assim a ganhar força várias boas hipóteses para uma grande acção de mobilização dos professores no início do próximo ano lectivo e antes das eleições legislativas, por exemplo: ou uma grande manifestação a um sábado, ou uma greve de dois dias, ou mesmo uma greve de dois dias com manifestação no segundo dia de greve, ou uma greve à quinta e à sexta terminando numa manifestação ao sábado. Todas as soluções devem voltar a ser discutidas com todos os professores em reuniões nas escolas, a realizar no início do próximo ano lectivo. Para rebentar de vez com as políticas deste governo que tão mal têm feito à escola pública

Ficha de auto-avaliação: coerência, coragem e estratégia


Um grupo de professores fez publicar uma posição assumindo que não vão entregar a ficha de auto-avaliação no final deste ano lectivo. As razões e o artigo podem ser lidas aqui. Esta iniciativa merece-nos os seguintes comentários:

1) É de facto uma atitude corajosa e coerente. E possivelmente será seguida por muitos mais professores. Levar às últimas consequências a rejeição deste modelo de avaliação injusto implica, além da não entrega dos objectivos individuais, a recusa em preencher a ficha de auto-avaliação “nos moldes pré-determinados pelo Ministério da Educação”. A não entrega desta ficha de auto-avaliação não significa uma recusa da auto-avaliação mas sim o repúdio por um modelo de avaliação catastrófico e prejudicial à escola pública. Estes professores merecem pois todo o respeito e apoio, pela coerência e determinação que demonstram.

2) Os próprios subscritores do artigo em causa, deixam bem expresso que ele não se trata de um apelo. Ou seja, não constitui um repto ou uma proposta de medida de luta a ser assumida por todos os professores. E, em nosso entender, fazem muito bem em frisar esse ponto. Isto porque, depois da divisão provocada pela entrega ou não entrega dos objectivos individuais, depois de mais de metade dos professores terem cedido ao medo de desobedecer quando nem sequer é muito claro que se tratava de uma desobediência, não seria muito lógico tentar impulsionar uma medida de luta que concerteza terá ainda menos seguidores. E daria ânimo ao governo, sempre pronto para se congratular com o estrondoso número dos que vão entregar a dita ficha, mesmo sob protesto.

3) A não entrega da ficha de auto-avaliação é uma posição que deve ser ponderada por cada professor avaliando os prós e os contras da sua decisão. Os que forem capazes de enfrentar as consequências merecem um respeito redobrado, os que não fortem capazes não merecem críticas. Isto sabendo que, estrategicamente, a saída para a luta dos professores passa por uma ou várias grandes acções de mobilização no início do próximo ano lectivo, ainda antes das eleições legislativas. Daquelas acções que podem juntar toda a gente e não apenas alguns resistentes. É isso que vai contar e é isso que fará tremer o governo.

Mil alunos de Abrantes sem AEC


Cerca de mil alunos do ensino básico do concelho de Abrantes estão desde o início do mês sem duas das várias actividades de enriquecimento curricular (AEC), por alegadamente falta de “ pagamento aos professores”, disse fonte da autarquia. A vereadora Isilda Jana explicou que a situação se deve ao facto de a empresa responsável pelas AEC, a Lúdico Ideias, “ não pagar aos professores, mas o seu gerente garantiu que a Câmara Municipal não transferiu as verbas relativas aos meses de Abril e Maio”. Em causa estão as Actividades Física e Desportiva e Expressão Musical, mas segundo a autarca os agrupamentos adaptaram a situação aos horários dos alunos de forma a estes irem para casa mais cedo.

Fonte. DN

Comentário:

Aqui não bate bem a bota com a perdigota!
Então não há quem os supervisione? Quem pagará aos professores o tempo em falta? Então os alunos andaram por lá amontoados com as outras turmas dos professores que vinham? Isto é legal? Então, mas os alunos não se inscreveram para poderem frequentar essas mesmas actividades? Se havia anormalidade tinha que ser reposta quanto antes a normalidade. Ou não interessava a alguém? Essa verba não foi previamente disponibilizada pelo ME para a realização desses tempos?
E ainda querem a escola aberta 12 horas! Pobres criancinhas que são piores do que cobaias. Os pais têm de abrir os olhos e ver que os seus filhos têm direito a ter direitos:
Direito aos seus tempos livres;
Direito a correrem, a saltarem… a brincarem livremente;
Direito a serem crianças e não homúnculos;
Direito a serem felizes.
ATL; OTL… ainda existem e deverão proporcionar essas situações; pagas pelo Estado evidentemente, pois é também para isso que deverão servir o dinheiro dos nossos impostos. Exijam-no!

José Carlos Jacinto
( zeca.abt@hotmail.com)

Livros produzidos por docentes como ferramentas de trabalho


Num ano lectivo (2008/2009) marcado pela maior instabilidade nas comunidades educativas, nomeadamente, pelas manifestações mais representativas dos docentes em resposta ás politicas governativas e do Ministério da Educação, como o polémico modelo de avaliação que veio dividir os professores e mereceu uma gigantesca onda de indignação. Ainda foi possível conciliar a angustia de profissionais acossados por tanta afronta indigna, entre a componente lectiva e a produção de obras literárias auxiliares ao próprio trabalho pedagógico, como guias auxiliares na sala de aula, resultantes de várias vivências profissionais e de exemplares exercícios de cidadania activa.

Um destes exemplos, de dedicação e contributo para o enriquecimento e valorização da relação com o meio envolvente e sobretudo, despertando a comunidade escolar para causas, muitas causas, foi deixado pela passagem da professora Ana Mafalda Damião, destacada na Educação Especial no Agrupamento de Escolas de Ovar.

Promotora e animadora de vários projectos de educação para a cidadania, como Comércio Justo entre vários outros, esta docente natural do Alentejo e licenciada em História pela Universidade Nova de Lisboa, que no próximo ano lectivo continuará certamente noutra comunidade educativa o seu percurso, não só pedagógico, mas cívico e solidário, envolvendo colegas docentes, alunos e restantes elementos das comunidades escolares, deixou na sua breve passagem por Ovar, contributos, como os seus mais recentes livros publicados, “Educar para uma sexualidade harmoniosa” e “Ana Gotinha de Água – Carta de Zaragosa”.

Entre tantos outros trabalhos produzidos por profissionais da educação que representam recursos pedagógicos fundamentais na escola pública, a comunidade escolar de Ovar, teve o privilégio de poder partilhar um diferente modo de estar nesta profissão, em que a professora Ana Mafalda, mostrou o resultado em livros, da sua própria procura de meios de apoio, num caso, para a abordagem da temática da sexualidade no meio escolar, e no outro, para a temática ambiental, no caso concreto, a importância da água para a sobrevivência do ser humano e do planeta.

Através da ilustração de Diana Lérias, a autora do livro “Ana Gotinha de Água – Carta de Zaragosa” encontrou uma história acessível para as crianças e os alunos lerem, sensibilizando-os para os grandes desafios colocados à humanidade através da aprovação da Carta de Zaragosa em Setembro de 2008 sobre a imperiosa urgência de preservar a água do planeta.

Um verdadeiro apelo à necessidade de todos, desde tenra idade, estarem despertos para a importância do desenvolvimento das sociedades com base em critérios de sustentabilidade e com respeito pela natureza, bem como a ideia, de que os cidadãos participem como co-responsáveis na gestão integrada da água e da sustentabilidade. São algumas das linhas orientadoras da Carta de Zaragosa, que através de livro, Ana Mafalda, realça conclusões como a que aponta, que “a educação, cultura, comunicação e participação devem ser eixos de transformação da gestão da água em todo o mundo, ou “que o investimento em infra-estruturas da água, nos países em desenvolvimento, é essencial para a redução da pobreza e o crescimento económico” mas também, que “os investimentos actuais são insuficientes para alcançar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio”.

Estes livros produzidos por professores como ferramentas de trabalho na educação, são alguns dos contributos através da escrita, que ajudam a contrariar a tendência para não pensar, ou para o imediatismo consumista.

José Lopes (Ovar)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A Escola Pública levanta-se!


Estamos de parabéns. As políticas de Sócrates, Maria de Lurdes e Companhia foram derrotadas em toda a linha nestas eleições. Os professores e as professoras, e todos e todas os que defendem a escola pública pela igualdade e contra a discriminação, ganharam um alento valioso. Agora, temos tudo para vencer. Não se brinca nem com os professores nem com as escolas. A luta valeu e vale a pena.

O arco do “centrão”, daqueles que há muito desistiram de construir uma escola emancipadora e que a reduziram a um instrumento da sua burocracia ou do mercado, foi o mais penalizado nestas eleições. Nunca PS e PSD somados tiveram um resultado tão baixo. Paralelamente, os partidos à esquerda do PS obtiveram uma votação memorável, somando mais de 21%, um resultado único na Europa. A ideia de uma escola capaz de corrigir as desigualdades de partida sai reforçada nestas eleições.

Mas, por essa Europa fora, nem tudo são rosas: forças reaccionárias, conservadoras e neoliberais tiveram votações elevadas. Porque o todo conta mais que cada canto, importa cada vez mais defender a escola pública e mais ainda reinventá-la. Para que os valores da solidariedade vençam os do mercado.

Por cá, fica a esperança. Com estes resultados, a escola pública levanta-se.