segunda-feira, 1 de junho de 2009

Uma grande lição


(em cima foto de Ana Candeias e por baixo contra-capa do jornal público do dia 31 de Maio)

Calámos o medo!

Todos sabemos os riscos que esta manifestação comportava: calor, cansaço, desmoralização, final de ano lectivo.

Todos sabemos que, mesmo assim, o governo tinha medo desta manifestação, e apostou tudo no seu fracasso. Basta recordar o que se passou na semana que precedeu este protesto massivo: o governo suspendeu temporariamente a mudança dos vínculos dos professores para tentar eliminar um dos motivos da contestação. A ministra veio dizer que a sua reforma estava ganha e que os professores estavam derrotados, que a esmagadora maioria tinha entregue os objectivos individuais e aceitava as novas leis.

O governo apostava tudo em ir para as eleições com a propaganda oleada: tinha conseguido dividir os professores e calar as reistências, alardaria para a opinião pública que “custou mas foi”.

Só lhe faltava a cereja no topo do bolo: bastava que a manifestação tivesse poucas dezenas de milhares de professores, bastava que os títulos dos jornais, os editoriais e as imagens televisas tivessem dito que os professores desistiram, que, enfim, a reforma estava mesmo ganha. Bastava que a esmagadora maioria tivesse ficado em casa.

Mas os professores estragaram-lhe a festa. Calaram o medo e calaram o governo. 70 mil professores na rua desmentiram a propaganda e a manipulação. Provaram que, depois da odisseia dos objectivos individuais, continuam unidos em defesa da escola pública e contra uma política arrogante, persecutória e que quer fazer da escola uma repartição do Estado e uma fábrica de estatísticas, com chefes e súbditos.

O esforço de sindicatos, movimentos e blogues na convocação e mobilização para esta manifestação foi essencial para que ela fosse um sucesso e isso foi até reconhecido pelo porta-voz da plataforma sindical. Todos os que acederam ao convite do Movimento Escola Pública para o apelo “
Encontramo-nos ao Sábado”, que não apaga as muitas diferenças que existem entre nós, demonstraram grande maturidade e contribuiram para uma grande manifestação: soubémos apontar todos aos mesmo tempo contra o nosso inimigo comum e ganhámos esta batalha.

A prova disso foi a forma envergonhada com que o governo reagiu à manifestação. Teve que recorrer ao plano B e ao plano C. (O plano A era dizer: “estão a ver? Tão poucos? Está ganho!). O plano B foi dizer que havia aproveitamento partidário da oposição mesmo que a oposição tenha estado desde a primeira hora com os professores e que não fosse a maioria absoluta o parlamento já teria decidido um caminho diferente para a Educação...O plano C foi dizer que vai continuar a fazer a sua política e que os professores têm o direito de se manifestarem....ou seja, enfiar a cabeça na areia.

Foi uma grande lição que lhes demos. No próximo Domingo vem a outra lição. A maioria absoluta começa agora a desfazer-se.

São os professores que estão ao ataque e o governo à defesa. A dimensão extraordinária do 30 de Maio dá outra força para as negociações que se avizinham e condicionará a postura do próximo governo.

Não colocamos de parte novas acções de luta ainda este ano lectivo, os professores mostraram que são capazes. Mas, sem dúvida, a próxima cartada forte, a próxima acção de muitas massas, deve ser apontada para Setembro: só o facto de falarmos já nela coloca o medo do lado deles.

E nessa altura não haverá tanto calor nem tanto trabalho na escola nem o medo de sermos poucos, que afinal até fomos muitos. Nessa altura rebentamos de vez com a maioria absoluta e abrimos caminho para uma escola democrática, inclusiva, motivada, em que a força da cooperação esmagará a paranóia da competição.

Movimento Escola Pública

1 comentário:

carlos disse...

...dissemo-lo com clareza !!


PROFESSORES/AS VOLTARAM A DIZER COM CLAREZA QUE NÃO CONCORDAM NEM SE CONFORMAM COM ESTAS LEIS : ASSIM JAMAIS HAVERÁ A TRANQUILIDADE QUE TODOS DESEJAMOS E DE QUE ESCOLAS CARECEM !!

Os professores portugueses estão de parabéns!

No Sábado, demonstrando um civismo EXEMPLAR, voltaram a dizer sem margem para dúvidas, que não concordam, nem se conformam com as injustiças que o E.C.D. e os "novos" regimes de gestão e avaliação de professores trouxeram às escolas.

Ficou dito claramente e exposto aos olhos da comunicação social, da opinião pública e da opinião publicada que não aceitamos nem nos conformamos com a essência injusta do quadro legal que está a ser imposto às escolas.

Se o governo pensa vencer a nossa resistência através da teimosia, deve a esta hora estar muito desiludido, porque está visto que não nos vencerá com essa estratégia!

Aos colegas que se sentem naturalmente desgastados pela longa duração desta luta, venho exortar a que não se deixem influenciar por discursos de desistência e desânimo, cuja consequência é a subjugação dos professores, a degradação do seu estatuto e da sua dignidade, como classe profissional.

Temos que ser ouvidos e o que pensamos LEVADO EM CONSIDERAÇÃO NA ELABORAÇÃO DAS LEIS QUE REGEM AS ESCOLAS E A CARREIRA DOCENTE!!

As opiniões dos professores têm que ser consideradas nos processos de reforma do ensino.

O "SIMPLEX para a avaliação", ESTÁ FINALMENTE REPROVADO E DESACREDITADO ENQUANTO PRETENSA RESPOSTA ou "CORRECÇÃO" DO M.E., face aos protestos dos docentes, de há um ano atrás.

O epicentro da luta vai transferir-se de novo para a mesa de negociação, onde os sindicatos acabam por ganhar alguma vantagem pela grandeza da manifestação de Sábado 30/05/09 e por se ter entrado já no calendário eleitoral.

O governo já não poderá usar como trunfo eleitoral as suas "reformas na educação", pois ficou claramente exposto à opinião pública que O M.E. TRANSFORMOU A EDUCAÇÃO NUM IMENSO CAMPO DE BATALHA ! ...mostrando-se incapaz de gerar um discurso e orientações que congreguem TODOS os agentes educativos e a sociedade civil em torno de PROPOSTAS EQUILIBRADAS, SENSATAS, EXEQUÍVEIS E ACEITÁVEIS, como se esperaria de uma governação responsável.

Anunciam-se tempos diferentes: Toda a sociedade portuguesa lamenta o arrastar do clima deplorável e inadequado que se vive na educação, sendo audíveis opiniões DE TODOS OS SECTORES, a exigir tranquilidade, bom senso e entendimento para a educação, o que só será possível com a atitude FLEXÍVEL e dialogante que o M.E. nunca conseguiu ter.

Carlos silva, Cascais