quarta-feira, 24 de junho de 2009

Uma escola que seja nossa


(...) Mas se o Estado interfere demais, não queremos menos Estado, queremos é que se organize de forma diferente. Sublinho que é radicalmente diferente lutar pelo cheque ensino e pela privatização do sistema ou por escolas públicas autónomas, com um orçamento próprio, inseridas nas suas comunidades, aptas a traçar um projecto que seja realmente seu, desde o currículo até à avaliação de professores. Escolas que por serem "públicas" assumirão a função de serem para todos, não vedando o acesso em função do estatuto socioeconómico, etnia, nacionalidade ou género.

Estive há poucos dias com professores oriundos de uma dessas escolas, que a coberto de um programa específico, iniciou um caminho mais autónomo. Queriam, no seu programa de formação, inserir uma bolsa de professores voluntários para assistir a aulas e outros que a ela recorriam, dinamizando o processo como formação inter-pares. Achei uma medida difícil, pois nos tempos que correm é difícil desligá-la da avaliação dos professores, mas ainda assim interessante e corajosa.

E lembrei-me como num projecto de investigação-acção em que participei havia disponibilidade de um conjunto de sociólogos para assistir a aulas e, ao contrário do se poderia esperar, foram muitos os professores que abriram as portas. E nenhum deixou de querer saber depois qual tinha sido a opinião dos sociólogos. Foi, aliás, quase sempre uma iniciativa de professores.

Penso que em sistemas de liberdade, as pessoas funcionam de forma diferente, do que quando sentem sobre elas um controlo apertado, um sistema asfixiante. Se as normas gerais, baseadas sobretudo em princípios, forem iguais, as escolas poderão fazer diferente, tanto no que diz respeito ao currículo, como às formas de organização do tempo e do espaço escolar, como à avaliação dos professores.

Acredito que é preciso investir na qualidade da profissão de professor, conferindo poder de acção aos melhores, e desejando que os melhores não tenham receio de se evidenciar e tomar em mãos o trabalho de construir a escola. E isto constitui também um novo desafio aos sindicatos e associações profissionais. É talvez bem possível que o centro das decisões não esteja apenas no Ministério da Educação como se ele fosse um patrão e consequentemente nele residissem todos os defeitos. (...)

Excerto do artigo de Carla Cibele, publicado em Escola.info

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