domingo, 9 de novembro de 2008

Então vamos a isso, com todas as nossas forças!


Poucos acreditavam que era possível repetir o 8 de Março. Não só foi possível como foi superado: 120 mil professores é obra. Uma festa, uma grande luta, uma enorme vontade de ganhar!

Claro que a ministra foi igual a si própria: arrogante, insensível, mesquinha, sinistra.Diz que não muda nada. Nada de novo aqui.

O que parece haver de novo é a mudança de estrategia dos sindicatos. Nunca os sindicatos acreditaram que fosse possível uma manifestação destas dimensões a não ser a menos de uma semana da data. Agora que o sonho se tornou realidade outra vez, eis que parece haver vontade de ganhar esta luta.

E, correspondendo ao desafio que aqui fizémos há uma semana, a plataforma sindical avança para a única estratégia que pode rebentar com este processo de avaliação kafkiano. É logo o primeiro ponto da moção aprovada na manifestação:

“Agir para que, em cada uma das suas escolas, todos os professores se comprometam com a decisão de suspender a avaliação de desempenho e recusem concretizar qualquer actividade que conduza à instalação ou desenvolvimento do modelo imposto pelo ME, tornando pública a sua decisão”

E é um dos temas do discurso de Mário Nogueira:

Em nome da Plataforma Sindical dos Professores, quero, em primeiro lugar, felicitar, todas as escolas e todos os professores que já suspenderam, de facto, a avaliação. Aos Professores, a todos os Professores das escolas que ainda não suspenderam, apelo, também em nome da Plataforma: vamos parar a avaliação nas escolas! Não tenham medo, Colegas, e suspendam esta avaliação de desempenho ou será ela a suspender-nos a todos nós. E de uma coisa poderão os professores e as escolas estar certos: neste processo de suspensão contarão sempre, e tendo o infinito como horizonte, com o apoio inequívoco dos Sindicatos de Professores! Sejamos coerentes e corajosos: paremos este autêntico disparate. Se os professores o fizerem, o Governo não terá alternativa à suspensão!

Só falta passar das belas palavras aos actos, acreditamos que haja essa vontade. Da parte dos professores, claro, mas também da parte dos sindicatos. Que tal, por exemplo, um modelo de requerimento para os professores entregarem em substituição dos objectivos individuais? Principalmente é preciso que cada delegado sindical seja, em cada escola, um executor/apoiante incondicional da mensagem que sai da manifestação. E, sem dúvida, que todos os professores sigam este apelo.

O Movimento Escola Pública renova o apelo:

SOMOS MUITOS, SOMOS FORTES!
ESTA AVALIAÇÃO É PARA SUSPENDER EM CADA ESCOLA!

2 comentários:

Psikus disse...

A avaliação e os professores - 1: Porque é que se desconfia dos professores sempre que eles falam em avaliação?
Indo direito ao assunto: desconfia-se dos professores porque ninguém gosta de ser avaliado. O que quer dizer que quando alguém, da "opinião pública" ouve os professores a dizerem que não contestam a avaliação, o que contestam é este modelo de avaliação, pois esse "alguém" pensa logo que os professores estão a mentir, porque, na verdade, o que eles querem é não serem avaliados! E isto é verdade!... Só que, como diria Marcelo Rebelo de Sousa parodiado pelo Ricardo Araújo Pereira, "É verdade, mas isto não é bem verdade..."
Vou tentar explicar.
Ninguém gosta de ser avaliado. Ponto. Só gosta de ser avaliado quem gosta e precisa de receber um elogio e acredita que merece e vai recebê-lo.
O ser humano, enquanto tal, e qualquer ser - humano e não humano - não existe para ser avaliado. Qualquer ser existe para agir, para fazer coisas, uma após a outra e, em função dos resultados que obtém, volta a fazer igual, ou faz diferente. Ora, isto, se tem alguma coisa de avaliação, é de "auto"-avaliação, não é de "hetero"-avaliação.
O ser (humano ou não) quando avalia não é para penalizar, é para melhorar, é para "afinar a pontaria".
O problema da avaliação, hoje em dia, em geral - e, se calhar, nas sociedades humanas cheias de superegos - é que é sempre penalizadora.
A natureza quando põe a leoa a falhar a vitória sobre a presa - essencial para alimentar os seus filhotes - não castiga a leoa (já é "castigo" suficiente ela ficar sem o alimento), mas obriga-a, só pela simples falha do seu labor, a ser melhor da vez seguinte.
Sejamos claros, a natureza hedonista do ser humano não aprecia a avaliação: nem a natureza humana dos professores, nem a natureza humana dos que dizem que os professores (quando dizem que não recusam a avaliação, mas apenas este modelo de avaliação) o que na verdade querem é não serem avaliados.
E porquê? Porque nas nossas cabeças, na nossa tradição judaico-cristã (pelo menos nesta), a avaliação é sempre penalizadora. A avaliação tem sempre a ver com o castigo do pecado.
O reconhecimento da necessidade da avaliação é, sem rodeios e para simplificar o assunto, do domínio da ética. Por isso todos dizemos que a avaliação é uma necessidade... mas todos detestamos a avaliação... Esclareça-se: a nossa avaliação... feita pelos outros.
Fundamentalmente, o que é a avaliação? A avaliação é isto: é alguém que chega ao pé de nós e nos diz: "Ora muito bem, aqui estou eu, que tenho mais poder do que tu (note-se, poder; não competência), e venho ver se tu estás a fazer bem o que devias fazer bem; e, eu, que tenho o poder que tu não tens, se achar que tu não estás a fazer bem, pois vou ter de dizer a quem tem mais poder do que eu, que tu não estás a fazer exactamente como deverias."
Eu poderia discorrer sobre outras implicações desta perspectiva, de segunda e terceira ordem, até sobre a avaliação que recai sobre quem avalia, mas não me quero desviar do essencial e por isso não o vou fazer... agora! Talvez noutro apontamento, noutro dia.
Quem é que gosta de ter na sua frente alguém com poder para dizer que não está a fazer bem o que devia estar a fazer bem e assim ficar sujeito a uma qualquer forma de castigo?... Ninguém!
As pessoas da "opinião pública" não gostam e sabem que os professores também não gostam, porque têm a mesma natureza hedonista que os da "opinião pública"! E todos "suportam" a mesma ética.

Psikus disse...

É por pensar assim que considero que quando se diz "os professores querem ser avaliados, não querem é este modelo de avaliação", há qualquer coisa que para os outros soa a falso... Na verdade, se se aceitar como verdadeira a natureza humana como expus neste apontamento, nós, os professores, não queremos ser avaliados. Ninguém quer, ninguém gosta de ser avaliado.
Sejamos claros e digamos: "Nós, os professores, certamente aceitamos e compreendemos que nos queiram avaliar. Mas reclamamos uma avaliação justa, equitativa e viável. Que a avaliação não seja, na complexa multiplicidade de funções do professor, o elemento absorvente, que suga todas as energias e acções dos professores".