segunda-feira, 18 de maio de 2009

Além de fazer entrar toda a genta na escola, o desafio é democratizar o sucesso


A sala do IPJ acolheu gente que veio construir conhecimento, ao sábado, fora da escola, sobre a Escola, sobre a Democracia e sobre a Gente que queremos ser, e sobre a Gente em que os que agora são alunos se poderão transformar. Pusemo-nos a pensar, com a ajuda dos oradores convidados e da experiência de cada um. Predominavam os profissionais da escola, de todos os níveis de ensino (docentes, mediadores, psicólogos), mas também pais/mães, investigadores. Como de costume, em cada qual até se acumulavam mais que uma destas condições...

Diogo Fazenda debateu conceitos (exclusão vs inclusão, prevenção vs acção e limites da intervenção; teoria vs práticas), alargando o conceito de exclusão a um sentido mais amplo, que não se restringe ao trabalho com alunos com necessidades educativas especiais, ou outros normalmente identificados como carentes de estratégias de inclusão. Sublinhou que é desejável trabalhar no contexto turma, com projectos diferenciados turma a turma, cultura de escola assumida e partilhada por todos, com condições para tal, e em que se considere que o essencial na escola são as potencialidades, as necessidades e as vozes dos alunos. Precisamos de nos irmos colocando em causa para aprendermos como profissionais e melhorar a intervenção.

Maria José Simas referiu a escola que se assume como condomínio fechado, e sobre a qual muitas vezes só temos acesso a discurso realizados a partir do exterior. Destacou a presença da exclusão na mentalidade dominante, que a todos nos rodeia e inclui, atravessando gerações. Propôs a escola que se assuma enquanto comunidade, centrada nas aprendizagens e a todos acolhendo e integrando.

Isabel Guerra identificou alguns paradoxos, a partir de conclusões de estudo sobre a incivilidade e a violência como os de Sebastien Roché, reforçando o papel crucial da construção identitária nos modos de aprender, que dependem do envolvimento de cada um. Sublinhou os efeitos da massificação do ensino em toda a escola, não sobre a ciência (que não é afectada) mas sobre os modos de aprender.

Cecília Honório apontou interrogações, identificando desafios: recentrar os discursos da escola e sobre a escola nos alunos, combater o consenso/aceitação da escola dualizada, afirmar o valor de diferentes tipos de saber na escola e na construção do conhecimento, concretizar políticas de língua que modifiquem as práticas nesta matéria, que são exclusivas. Sendo facto que a crise da escola é a crise da sociedade, haverá que abordar a territorialização das diferenças e a gestão das realidades pela escola, e nela, de forma a promover a igualdade no acesso DE TODA A GENTE não apenas à escola mas também ao conhecimento, às aprendizagens. Dividir as Escolas em duas categorias, as escolas de tomar conta e escolas de aprender não é resposta, e sobretudo não permite construir democracia que a si mesma se sustente no futuro. A Escola não faz milagres, mas uma das suas missões deve ser criar uma cultura e concretizar práticas de sucesso CONTRA a exclusão - para o que há que usar conhecimento e afectos, rigor e empenhamento.

O debate alargou-se e fluiu, a mostrar ao vivo a cultura da participação. Em tarde luminosa, sentimos que a claridade foi passando das palavras às ideias, dos olhares aos gestos. Saímos a pensar. Ainda estamos a pensar. Até à próxima!

Em rodapé, a bibliografia
Roché, Sebastian(2006).
Le frisson de l’émeute : violences urbaines et banlieues. Paris: Seuil
Estudo sobre factores influentes nos comportamentos de incivilidade dos jovens: falta de supervisão parental, influência do bando, exclusão escolar precoce. Mais sobre o autor: (2009)
http://www.pacte.cnrs.fr/spip.php?article139 , (até 2006) http://webu2.upmf-grenoble.fr/cerat/Recherche/PagesPerso/Roche.html. Correio: Sebastian.Roche@upmf-grenoble.fr

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