domingo, 10 de maio de 2009

E Se Passar Tudo Para as Autarquias?

Um Professor é afastado do seu cargo de Coordenador porque não esteve gente suficiente na inauguração de uma biblioteca escolar. Outro professor é suspenso porque o filho de um Autarca se magoou numa actividade escolar dinamizada por este. Coisa perfeitamente normal, acontece, e não teria tido quaisquer outras consequências se se tratasse do filho de um outro qualquer pai.

São episódios que permitem levantar um pouco o véu do que vai ser o futuro nas escolas, quando o ensino estiver totalmente entregue aos Directores Escolares e aos Dirigentes Políticos. Quer Autarcas quer Ministério, com poder para admitir e demitir Directores ao seu bel-prazer e interesses pessoais ou políticos.

A Democracia está a escapar-se-nos por entre os dedos. Com uma agravante de que não é facto assumido explicitamente, como o era antes do 25 de Abril.

Cidadãos, professores e não professores, urge abrir os olhos e lutar contra este sistema que nos afasta cada vez mais de uma sociedade igualitária e justa.

Na rua, em manifestações, nas eleições, nas lutas sindicais, pois isso ainda não nos roubaram. Na denúncia de acontecimentos como estes. De outra qualquer forma aceitável.

A cantiga é uma arma, canta José Mário Branco…não resisti a deixar aqui os versos de uma outra, escrita há muito tempo. Infelizmente muito actual.

Trova do vento que passa

Pergunto ao vento que passa
Notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
Tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
Levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
Ai rios do meu país
Minha pátria à flor das águas
Para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
Pede notícias e diz
Ao trevo de quatro folhas
Que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
Por que vai de olhos no chão.
Silêncio - é tudo o que tem
Quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
Direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
Vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
Ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
Nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
Dos rios que vão pró mar
Como quem ama a viagem
Mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
Vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
Só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
Se notícias vou pedindo
Nas mãos vazias do povo
Vi minha pátria florindo.
Manuel Alegre


Silvana Paulino do MEP

2 comentários:

Carla Baptista disse...

Como podemos trabalhar em consciência, se temos de estar atentos a tudo e a todos, pois já não sabemos em quem confiar?
José Mário Branco está (infelizmente)actual... e nós?

Unknown disse...

Silvana,

Tens razão no essencial; é porém necessário ter em conta que os períodos eleitorais são pretexto para uma barragem de propaganda, de criação de «factos políticos», de promessas, de «análises» que falseiam os dados... demagogia, enfim!
Por isso, digo que nunca devemos pensar que um problema social profundo, como seja o combate pela escola pública, se resolve na arena eleitoral: não resolve! é mesmo uma forma de nos desarmarmos anímica e moralmente, fazer-se crer que a «chave» das questões está numa mudança de composição no hemiciclo. Não está! A luta é social, deve ser travada no plano da cidadania, do sindicalismo e na política partidária não devemos envolver-nos! Quem se quer envolver na política partidária, que o faça, mas que não venha «colonizar» questões e lutas muito mais abrangentes.
Basta pensares que - a serem verdadeiras as sondagens - não havendo uma mudança muito radical do eleitorado, no espaço de 6 meses, coisa que nunca se viu - e dada a orientação política concreta das diferentes forças no xadrez político, o mais provável é ter-se uma continuidade do ataque à escola pública, por um governo PS minoritário, mas com apoio do PSD para as questões decisivas da escola.
Desde já, podemos ter a certeza que ambos irão promover a municipalização completa do ensino, o que implica a destruição do concurso nacional de professores e - a prazo - a destruição pura e simples da escola pública.
Isto mostra quão perigoso é pôr «fé» nos resultados eleitorais; devemos sim ter confiança em nós próprios/as e lutar no campo cívico e sindical.

Manuel Baptista