quinta-feira, 17 de abril de 2008

O referendo que não existiu e o debate que continua a ser urgente

Se 89,2% das escolas manifestaram “apoio à acção dos sindicatos” (segundo a plataforma sindical) e 10,8% se manifestaram contra o entendimento, onde se encaixa a minha escola?
Apesar destes números não dizerem muito sobre o número de professores que participaram no dia D e os que participaram em cada escola, nem sobre o teor das críticas e sugestões apresentadas, funcionaram, para vários efeitos, sobretudo os mediáticos, como remate do dia D. Sobre o número apresentado o caso particular da escola em que lecciono este ano faz-me pensar e ficar a aguardar a lista das escolas que manifestaram “apoio à acção dos sindicatos”. É que na Escola Secundária D. Sancho II de Elvas a reunião teve quatro professores da escola mais dois dirigentes sindicais. Segundo o que percebi da conversa tida, três destes professores manifestaram apreciações críticas relativamente ao “entendimento” e um colega não se pronunciou sobre este assunto, colocando questões de pormenor sobre o processo de avaliação. Não terá sido certamente o dia D típico mas talvez nem tenha sido situação única: aqui não se votou qualquer moção e em quantas escolas não terão ocorrido situações semelhantes? Onde cabem nesta estatística a que se pretendeu reduzir este processo?
Mas, descontando de barato que estas situações tenham sido tão pontuais que nem sequer tratamento estatístico mereciam. O problema central está em se ter transformado este dia num referendo não declarado ao “entendimento que não é um acordo”, menorizando tudo o resto e tornando as reuniões quase em meras assembleias legitimadoras.
Alguns terão pensado que estas reuniões, tidas pouco dias depois do “entendimento que não é acordo” serviriam apenas para a pedagogia do acordo, para um processo morto este ano (e porque não o deveriam pensar quando até os dirigentes sindicais parecem hesitar e oscilar entre a ideia de que as acções calendarizadas são formas de luta contra o governo ou sessões de esclarecimento sobre o acordo?)
E o próprio processo prestava-se a muitos equívocos, deixando a desejar como processo participativo ficando entre o auscultar de forma difusa e não vinculativa e a votação de uma moção única quase ao género das que são habituais no final das manifestações (que deve ter sido aprovada mesmo por muitos dos que apresentaram críticas).
Mas se fosse um referendo não deveria ter havido uma questão clara, apresentada com alternativas, debatidas igualmente em todo o lado?
Aliás a este debate terão faltado discussões importantíssimas: o que vai ser negociado em período de férias? Que propostas positivas os professores querem construir sobre o estatuto da sua carreira, a sua avaliação e a gestão das escolas? Arriscaremos passar de uma frente de recusa ou de uma coligação negativa para a proposta construída por todos/as?

Carlos Carujo, Elvas

Sem comentários: